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19º ENCONTRO DE RI DEBATE O FUTURO DO MERCADO DE CAPITAIS

“O RI é o profissional que precisa estar preparado para os momentos de tranquilidade e cada vez mais para os momentos de turbulência. Momentos de incerteza - como o que estamos atravessando - devem ser enfrentados com mais cautela, transparência, franqueza e acessibilidade, uma vez que somente assim os RIs e as companhias que representam serão capazes de transmitir segurança e estarão preparados para os cenários que surgirem”, declarou Edmar Prado Lopes Neto, presidente do Conselho de Administração do IBRI (Instituto Brasileiro de Relações com Investidores) na abertura da 19ª edição do Encontro Internacional de RI e Mercado de Capitais, evento promovido anualmente pelo IBRI em conjunto com a ABRASCA (Associação Brasileira das Companhias Abertas). O evento ocorreu, nos dias 21 e 22 de junho de 2017, na Fecomercio, em São Paulo.

Neste ano, o evento contou com 681 participantes entre palestrantes, público e imprensa. Foi debatido o futuro do mercado de capitais no Brasil e o papel do profissional de Relações com Investidores. De acordo com Edmar Prado Lopes Neto, “em 19 anos de evento, pudemos acompanhar as transformações e a evolução tanto do nosso mercado de capitais, como da profissão de Relações com Investidores, que a cada ano foi se tornando mais estratégica e fundamental para a perenidade das companhias”. Lopes parabenizou Leonardo Pereira por ter conduzido a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) de forma firme e transparente. Lopes fez menção ao final do mandato de Leonardo Pereira no comando da CVM em 14 de julho de 2017.

Ao falar sobre o futuro do mercado de capitais, Alfried Plöger, presidente do Conselho da ABRASCA, comentou o resultado de um trabalho conduzido pelo Centro de Estudos do IBMEC, que mostra que a permanência de juros reais elevados por períodos longos inibe o desenvolvimento do mercado de capitais local. “Isso impacta fortemente os investimentos em renda variável, onde o risco é maior”, frisou.

Para Plöger, esse é um fator que dificulta o desenvolvimento do mercado de capitais no Brasil. Ele destacou também outros fatores que afetam a decisão de abertura de capital: elevado custo de se manter uma companhia aberta e excesso de regulação.

Plöger disse ser preciso simplificar o processo de abertura de capital e reduzir os custos para que mais empresas possam se tornar companhias abertas. “É muito pouco ter apenas 350 empresas listadas em Bolsa em um universo de milhões de empresas no Brasil”, declarou.

“Precisamos ter um mercado de capitais crescendo e para isso acontecer muitas questões devem ser solucionadas”, salientou Leonardo Pereira durante seu discurso. Ele comentou que participar do mercado de capitais tem alguns custos, no entanto, lembrou que os benefícios devem ser maiores do que essas despesas. “Temos que trabalhar para os custos continuarem baixando e serem proporcionais”, declarou.

Leonardo Pereira observou que o profissional de Relações com Investidores ganha cada vez mais relevância em “fazer as coisas acontecerem”. “É um grande desafio e uma tarefa incansável”, observou. “Deixo minha mensagem de força para os RIs. O RI tem que investir na sua capacitação. O RI de amanhã só será efetivo se continuar aprendendo cada vez mais sobre a empresa e o mercado”, concluiu.

Perspectiva para o mercado de capitais é de otimismo com cautela
As perspectivas para o mercado de capitais e o papel do profissional de Relações com Investidores estiveram no centro do debate do primeiro painel do evento. O tom do painel “O futuro do mercado de capitais no Brasil” foi de otimismo cauteloso e contou com as visões de Leonardo Pereira, presidente da CVM; Gilson Finkelsztain, presidente da B3; Edmar Prado Lopes Neto, presidente do Conselho de Administração do IBRI e diretor de Relações com Investidores da Movida e José Galló, presidente da Renner, e moderação de Antonio Castro, conselheiro da ABRASCA.

“Vamos procurar apontar fatos positivos e deixar no passado algumas percepções negativas”, destacou Antonio Castro no início do painel. O primeiro tema abordado foi a retomada dos processos de abertura de capital. Gilson Finkelsztain destacou que para o mercado de capitais crescer precisa de estabilidade, “o que, no momento, não está acontecendo”. “Estamos em uma travessia para a estabilidade”, ponderou. De acordo com ele, um inibidor do desenvolvimento do mercado de capitais é a alta taxa de juros. No entanto, há perspectivas de que as taxas de juros mantenham o processo de queda. Finkelsztain acredita que para ocorrer retomada do mercado de capitais é preciso que cada agente exerça seu papel. “Não adianta achar que o esforço vem de um lado só. O trabalho deve ser coletivo, inclusive dos bancos de desenvolvimento e demais instituições”, opinou.

Além disso, Finkelsztain citou o desafio cultural de fazer com que as pequenas e médias empresas vejam o mercado de capitais como uma fonte alternativa de recursos. Em sua análise, o futuro será mais promissor visto que representantes de startups e de novas empresas que procuram o mercado já nascem com consciência de governança corporativa mais elevada e consideram o mercado de capitais uma importante fonte de recursos. “O Brasil não está parado. O mercado financeiro está mostrando que tem esperança e de que as coisas vão melhorar”, declarou Finkelsztain.

Edmar Lopes, presidente do Conselho de Administração do IBRI, reforçou a mesma visão positiva de Gilson Finkelsztain com relação ao crescimento do mercado de capitais e enfatizou a importância dos profissionais de Relações com Investidores. De acordo com ele, se as empresas brasileiras estivessem em crise certamente os investidores estrangeiros já teriam desistido de investir e teriam deixado o país.

“Há três anos, eram necessários 45 minutos para conversar com investidores estrangeiros sobre o que ia acontecer com o Brasil e pouco se falava da nossa empresa. Quando se percebeu que o país era maior que isso, essa realidade foi alterada”, exemplificou Edmar Lopes. Ao falar sobre abertura de capital, o presidente do Conselho do IBRI apontou uma questão recorrente que é falar mais dos custos do que de seus benefícios, que num primeiro momento, não são tangíveis. “É importante lembrar que a companhia terá acesso a mais fontes de recursos”, ponderou.

José Galló afirmou que quando se fala de abertura de capital é muito importante destacar que a mentalidade dos líderes da empresa deve estar preparada para essa mudança para a companhia. Haverá ônus, mas também muitas vantagens. “Independente de crises, tínhamos como objetivo agradar os clientes e representar bem seu papel no mercado de capitais”, relatou José Galló sobre a experiência da Renner.

Segundo Galló, uma crise é um teste de mercado para uma empresa. “Se há um diferencial competitivo, quem diz se a companhia passou no teste é o mercado consumidor, e os acionistas perceberão isso”, comentou. Para ele, transparência reforça o relacionamento com os acionistas. “Se a empresa tem um modelo forte e diferenciado, consegue passar pelas crises”, declarou Galló.

Leonardo Pereira, presidente da CVM, chamou atenção para o atual momento do Brasil e disse que o país tem a oportunidade de sair bem da crise. “Temos que sair mais fortes dessa crise”, frisou. Ele ressaltou a importância de se ter um plano de investimento amplo e bem elaborado, visto que as empresas devem estar preparadas para diferentes cenários.
 
Evolução dos Segmentos Especiais de Governança Corporativa 
A "Evolução dos Segmentos Especiais de Governança Corporativa" foi o tema do segundo painel do evento. Centrado nas reformas do "Novo Mercado" e do "Nível 2" (segmentos especiais de governança corporativa da B3 - Brasil, Bolsa, Balcão), o painel teve participação de Flavia Mouta, diretora de Regulação de Emissores da B3, e Monique Mavignier, sócia da área societária do escritório BMA - Barbosa Müssnich Aragão Advogados.

No final de junho de 2017, após cerca de dois anos de processo, a maioria das companhias listadas do “Novo Mercado” aprovou o regulamento proposto pela B3. Dentre as mudanças propostas está a criação de uma estrutura de fiscalização e controle, que assumiria a forma de um comitê estatutário ou não estatutário. Além disso, seria criada uma política de remuneração, indicação e gerenciamento de riscos.

Flavia Mouta destacou a importância do tema da fiscalização e do controle nas empresas, especialmente no atual cenário brasileiro. "É incontestável que nós estamos em um momento do país, em que fiscalização e controle são temas mais recorrentes e serão cada vez mais dentro das companhias", frisou.

A respeito de um possível aumento de custos a partir das alterações, ela afirmou que cabe às companhias "fazerem uma reflexão" sobre o que é custo e investimento. “Dirigentes de uma companhia pensam estrategicamente. Há como se perpetuar no tempo sem compliance e gerenciamento de riscos?", questionou a diretora de Regulação de Emissores da B3.

Na opinião de Flavia Mouta, as mudanças propostas para o “Novo Mercado” e as que fundamentaram o novo Código Brasileiro de Governança Corporativa tiveram origem semelhante, que é a preocupação com o aperfeiçoamento das práticas. “A adoção de um código aplicado às companhias significa um avanço em termos de transparência”, pontuou Flavia Mouta, que complementou: “O mercado ganha com a regulação”.
 
Pontos desafiadores da carreira de Relações com Investidores
José Roberto Pacheco, vice-presidente do Conselho de Administração do IBRI e diretor de RI da OdontoPrev, durante o painel “Carreira em RI: Desafios e Oportunidades em novo ciclo econômico” salientou: “Temos um consenso do papel estratégico do profissional de RI”. Pacheco moderou o painel e destacou que, nos Estados Unidos, o RI tem status reconhecido há décadas, diferentemente do que ocorre no Brasil, onde a profissão ainda é recente.

Na opinião de Marcelo Audi, sócio da Cardinal Partners, as principais deficiências nas integrações das áreas de RI das empresas são a falta de informações sobre a estratégia da companhia e o equívoco de fazer o RI vender a empresa para o mercado em detrimento de ter um papel de interlocução.

“Precisa ter comunicação eficiente e isso se aprimora com treinamento”, explica. Em sua opinião, ter uma boa base de Finanças e Contabilidade, saber estratégia de negócios e ambiente competitivo são qualificações que o profissional de RI deve ter. Outro ponto citado por Audi é a dificuldade dos empresários entenderem que o RI é um captador de novas ideias para a companhia.

José Rogério Luiz, conselheiro independente do Grupo Fleury Medicina e Saúde, Aché Laboratórios e sócio da ITU Partners, salientou sua visão de que a função de RI é uma das mais interessantes, uma vez que pode conhecer todas as áreas da empresa, além de ter a possibilidade de influenciar na estratégia da empresa. Para ele, é importante que o RI saiba falar dos fundamentos da empresa.

De acordo com José Rogério Luiz, um ponto que ajuda o RI a adquirir mais eficácia é ter muitas coisas para fazer, o que amplia o aprendizado. “O RI deveria participar das reuniões do Conselho de Administração e poder informar para os conselheiros sobre o que está acontecendo no mercado”, apontou.

Para Luiz Gustavo Mariano, sócio da FLOW Executive Finders, os profissionais de Relações com Investidores devem entender seu papel dentro da companhia, inclusive para contribuir na estratégia corporativa. Ele acredita que ainda há espaço de crescimento na carreira de RI. Para os próximos anos, com a retomada econômica, Mariano afirma que o mercado de Relações Investidores estará aquecido para contratações.

De acordo com Mariano, as características requisitadas dos RIs são: pessoa que pensa no longo prazo; inteligente cognitivamente; que tenha inteligência emocional; e capacidade de se comunicar tanto dentro como fora da companhia. “Existem profissionais que reúnem todas essas características”, concluiu.

National Investor Relations Institute indica que área de RI assume importância crescente nas empresas
O futuro tende a ser brilhante para profissionais da área de Relações com Investidores, afirmou Valerie Haertel, IRC (Investor Relations Charter), NIRI (National Investor Relations Institute) Board Chair e Global Head of Investor Relations do BNY Mellon durante palestra internacional. A palestra foi moderada por André Cazotto, gerente de Relações com Investidores da Cielo.

Valerie Haertel dividiu com o público sua experiência em mais de 20 anos de atuação na área e disse apreciar as mudanças que estão ocorrendo ao longo do tempo, especialmente a importância crescente dos profissionais de Relações com Investidores dentro das empresas. “Nosso papel é maximizar o valor da companhia”, resumiu.

De acordo com Valerie Haertel, a função do RI ao longo dos anos tornou-se mais abrangente. Se no início, o RI colocava foco mais no relacionamento com acionistas, hoje o profissional tem incorporado mais responsabilidades, a ponto de se tornar um “parceiro estratégico para a liderança” das empresas. “Um profissional que administra relações e ajuda lideranças a entender melhor seus acionistas para futuras tomadas de decisão”, observou.

“O papel do RI está se tornando mais valioso não somente na diretoria executiva, mas também no Conselho”, destacou. Valerie Haertel apontou, também, a importância de os profissionais estarem atualizados com as mudanças tecnológicas, sobretudo com a utilização crescente de mídias sociais. Segundo ela, é preciso estar atento para fornecer respostas quando forem exigidas e também utilizar os canais para coletar informações e dados relevantes para as companhias. “O fluxo de informação não é interrompido e nós temos que estar preparados para tudo isso”, frisou.

A presidente do NIRI lembra, porém, que o avanço tecnológico não substitui o poder das relações interpessoais e sugeriu ao público que continue investindo em encontros com investidores e profissionais da área. “Eu aprendo algo toda vez que encontro meus colegas”, destacou.

Valerie Haertel, presidente do NIRI, comentou sobre o Investor Relations Charter (IRC), a primeira credencial profissional oferecida pela entidade, que é similar ao processo de Certificação do Profissional de Relações com Investidores do IBRI. Dentre os pré-requisitos para a inscrição no exame, que já certificou cerca de cem profissionais, Valerie Haertel destacou a exigência de ao menos três anos de experiência atuando como RI. “[O IRC] foi feito para ser um exame prático, então não é um exame em que você faz um curso, lê e estuda materiais e passa”, diz. São abordadas dez disciplinas, que cobrem dez diferentes aspectos da área de atuação dos RIs, afirmou.

De acordo com Valerie Haertel, um dos objetivos do exame, oferecido em diversos centros ao redor do mundo, é auxiliar as companhias a selecionarem os profissionais mais qualificados e conhecedores das melhores práticas de RI. “Se você tiver dois indivíduos com qualificações semelhantes, um deles tem o IRC e outro não, acreditamos que talvez a companhia tenha um pouco mais de confiança na pessoa que já fez o exame e mostrou um nível de competência exigido para obter aquela qualificação”, concluiu.

Pesquisa IBRI-Deloitte aponta que 82% das empresas desconhecem procedimentos para abertura de capital
Pesquisa IBRI-Deloitte apresentada durante o 19º Encontro Internacional de Relações com Investidores e Mercado de Capitais apontou que 82% das companhias de capital fechado desconhecem - ou pouco conhecem - sobre os procedimentos necessários para abertura de capital. Já o IPO (do inglês Initial Public Offering ou oferta pública inicial de ações) foi considerado a melhor forma de captar recursos de acordo com 47% das companhias abertas que participaram da pesquisa, enquanto 46% dessas organizações identificaram aumento do valor da empresa percebido pelos stakeholders após três meses da abertura de capital.

Os dados fazem parte da 10ª edição de pesquisa IBRI-Deloitte e que em 2017 teve como tema “Jornada da Captação: Transformação financeira na busca de recursos”. O estudo aborda as estratégias das empresas na procura de alternativas de captação de recursos em um cenário de dificuldades e incertezas.

Apesar do alto índice de desconhecimento das empresas em relação ao IPO (Initial Public Offering), 32% das organizações fechadas têm interesse em abrir seu capital futuramente, de acordo com o relatório da pesquisa. Dessas, 6% pretendem realizar a abertura de capital nos próximos dois anos.

A pesquisa revelou que 64% dos profissionais de Relações com Investidores no país têm como prioridade melhorar a percepção do valor da empresa para o acionista nacional, enquanto 32% dos RIs possuem o objetivo de melhorar essa percepção para investidores fora do país. Ao apresentar os dados, Fernando Augusto, sócio da área de Capital Markets da Deloitte, explicou que a diferença está no comportamento do investidor brasileiro que, no geral, ainda tem uma visão de curto prazo.

“Para qualquer coisa que acontece no Brasil, o investidor brasileiro já pega o telefone para ligar para o RI”, disse Fernando Augusto, que classifica os estrangeiros, no geral, como investidores mais preocupados com uma visão de longo prazo. O painel também teve participação de Bruno Mastriani Simões Tucá, sócio do escritório Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr. e Quiroga Advogados, que ressaltou a necessidade de preparo dos profissionais, especialmente para compreender o pensamento do investidor. “Às vezes, por estar já vestindo a ‘camisa da empresa’, o RI pode não reconhecer riscos e dificultar a comunicação com investidores”, observou.

O moderador do painel, Diego Barreto, conselheiro do IBRI e diretor Financeiro e Legal da Ingresso Rápido, lembrou que não existe graduação em mercado de capitais, o que constitui um desafio a mais. “Há profissionais que não tem essa mentalidade”, afirmou.

A importância da comunicação com os públicos estratégicos
O profissional de RI deve estar atento aos diferentes públicos de sua companhia para estabelecer formas mais eficazes de comunicação. Essa foi a mensagem dos profissionais da área que participaram do painel “RI e Comunicação com Públicos Estratégicos”, onde foram abordadas as melhores práticas para a área e alguns dos desafios presentes na atuação dos RIs brasileiros.

Diogo Dias Gonçalves, moderador do painel e gestor de Relações com Investidores e de Planejamento Financeiro da LOG Commercial Properties (empresa do Grupo MRV), ressaltou a necessidade de atenção plena aos diversos públicos da empresa. “Quem só trabalha com analista buy side e sell side pode estar perdendo”, ponderou. Participaram, também, do debate Maurício Fernandes, director of Brazil Equity Research do Bank of America Merrill Lynch e Head of Latam TMT Equity Research, e Daniel Gewehr, Head of Latam & Brazil Equity Strategy do Santander.

Na visão dos painelistas, para além de investidores, é preciso se concentrar no diálogo com funcionários, cuja remuneração depende cada vez mais dos resultados da empresa. Segundo Fernandes, uma sugestão é que se detalhe a contabilidade da companhia para tornar os números de fácil entendimento pelos funcionários.

Outro segmento considerado estratégico é a imprensa, que continua com alto poder de influência sobre diversos públicos. Gewehr entende que “a imprensa pode esclarecer ruídos que possam sair” e propõe que a comunicação seja trimestral, com foco ainda maior na imprensa especializada. Ele destacou que o trabalho eficaz do RI depende também de seu conhecimento em relação ao setor em que a companhia atua. “Essa é uma falha de alguns RIs, sabem apenas de sua empresa quando deveriam saber mais sobre o setor e as áreas como um todo”, afirmou.

Ainda sobre a postura do profissional, Fernandes sugeriu aos RIs que se mantenham informados sobre a companhia, evitando saber de notícias por meio de jornalistas e press releases. “A administração da companhia tem que confiar no profissional de Relações com Investidores”, complementou, sugerindo também evitar o “RI que some”, em referência aos profissionais que não se comunicam com públicos externos ao surgirem problemas ou questões delicadas que afetam a empresa.

Os especialistas sugeriram ainda que as empresas criem equipes de RI com profissionais de diversas áreas, a fim de apresentar o máximo de informações possíveis aos seus públicos. Além disso, o ideal é que os RIs conheçam o perfil de seus investidores, de forma a oferecer informação específica, além de conhecer bem as estratégias de seus concorrentes. “Não vá para uma apresentação com um discurso pasteurizado, tente saber sobre o perfil de quem você vai encontrar”, afirmou Gewehr.

O Novo Código de Governança Corporativa
Lançado em novembro de 2016, o “Código de Governança Corporativa – Companhias Abertas” foi criado pelo GT (Grupo de Trabalho) Interagentes, do qual o IBRI faz parte e contou com a participação de 11 diferentes entidades do mercado (além de BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - e CVM - Comissão de Valores Mobiliários - como entidades observadoras), que elaboraram um modelo que entendem como ideal a ser seguido pelas empresas.

 “O novo Código é um norte de onde se quer chegar em termos de Governança Corporativa”, destacou Cláudia de Oliveira Hasler, gerente de Aperfeiçoamento de Normas da CVM (Comissão de Valores Mobiliários). “As empresas não devem tentar mostrar o que não são. Devem ser autênticas”, afirmou.

Cláudia Hasler fez menção ao modelo “pratique ou explique” em que as companhias abertas deverão obrigatoriamente aderir ao Código de Governança, mas com a opção de aplicar as normas estabelecidas ou, então, explicar ao mercado o motivo de não adotá-las. Para ela, o modelo é uma oportunidade de reflexão dos pontos de governança que podem ser melhorados.

Ao ser questionado pelo moderador Ricardo Florence, membro do Conselho de Administração do IBRI, para opinar sobre o Novo Código de Governança Corporativa, Moacir Salzstein, diretor de Governança Corporativa da Natura, foi enfático ao dizer que “vê com bons olhos a criação do Código”.

O modelo “pratique ou explique” é uma oportunidade “de não deixar a empresa engessada, bem como poder elucidar o motivo por não adotar determinada prática”, opinou Moacir Salzstein. Ele mencionou que há um lado trabalhoso em aderir ao modelo, mas por outro lado, demonstra uma oportunidade de dar um importante passo na evolução da governança corporativa. “O Código ficou interessante”, opinou ao relatar que a Natura tinha como referência o Código de Governança Corporativa do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa).

Carlos Augusto Junqueira, sócio das áreas de Societário e Governança Corporativa, Mercado de Capitais e Fusões e Aquisições do escritório Souza, Cescon, Barrieu & Flesch Advogados, ressaltou o consenso das entidades para elaborar o Código. Junqueira salientou a importância do novo Código, que dá continuidade a dois outros existentes: o Código de Governança Corporativa do IBGC e o Código ABRASCA de Autorregulação e Boas Práticas das Companhias Abertas.

Ricardo Florence indagou Cláudia Hasler como a CVM pretende fazer a supervisão do Código de Governança Corporativa. De acordo com ela, não se definiu ainda como será o modelo de supervisão, “provavelmente não será diferente da maneira como a autarquia faz com o Formulário de Referência”, contou. Cláudia Hasler observou, ainda, que a abordagem será educativa. “Casos diferenciados serão tratados de forma diferenciada”, frisou.

“Esse Código representa uma mudança de cultura, visto que cada capítulo tem os princípios, o fundamento, práticas recomendadas e exemplos”, enumerou Carlos Augusto Junqueira. Ele destacou que o diretor de RI tem um papel diferenciado, visto que sua função estatutária é obrigatória dentro das companhias abertas. “O RI precisa desabrochar um pouco mais como líder dentro das companhias. Ele é a pessoa mais habilitada a comentar sobre governança e riscos. E é isso que a CVM espera dele”, acrescentou.

Transformações e desafios da Petrobras
Pedro Parente, presidente da Petrobras, anunciou que avalia abrir o capital da BR Distribuidora, durante sua exposição no evento. Parente fez exposição sobre as transformações e desafios da companhia, afirmando a disposição da organização em ser “uma empresa integrada de energia com foco em óleo e gás, que evolui com a sociedade, gera valor e tem capacidade técnica única”.

Ao mencionar o período de turbulência enfrentado pela empresa, Pedro Parente disse que a corrupção, certas decisões tomadas com investimentos que não produziram resultado esperado e os preços do petróleo abaixo da paridade internacional resultaram em uma elevada dívida bruta. “Para dar conta desse problema, estamos realizando ajuste na companhia”, justificou. Em sua opinião seu maior desafio desde que assumiu a presidência da empresa foi ter alinhamento completo dos colaboradores, visto que não se tinha a visão de que a empresa foi uma vítima.

“Lidar com o nosso endividamento se tornou a maior prioridade”, destacou Parente. Para reduzir a dívida, a empresa se baseia em quatro pilares: preço competitivo, melhorar a eficácia nos investimentos, buscar eficiência nos custos e adotar programas de parcerias e desenvolvimentos. “A companhia passou a praticar ajustes de preços mais curtos (inferiores a 30 dias) para acomodar as volatilidades observadas no mercado”, observou.

Ao falar da importância de se ter uma governança corporativa estruturada, Parente salientou como as mudanças positivas se tornam perenes. Além disso, citou a garantia de transparência ao processo decisório, por meio de alterações no Estatuto Social, políticas corporativas no Sistema Petrobras e gestão da cultura corporativa para reforçar que a ética seja balizadora na tomada de decisão, sem que os processos se tornem mais lentos e onerosos. “Há expectativa de que instituições estejam evoluindo no Brasil de modo que o combate à corrupção e má gestão sejam permanentes”, concluiu.

Encerramento
O evento foi encerrado por Alfried Plöger, presidente da ABRASCA, e Rodrigo Lopes da Luz, diretor-presidente do IBRI e diretor de Relações com Investidores da Eternit, que agradeceram os patrocinadores e participantes, convidando a todos para o 20º Encontro de RI em 2018. Rodrigo Luz lembrou os 20 anos de história do IBRI, completados este ano e mencionou que a palestra de Pedro Parente é um exemplo dos desafios que os RI’s estão enfrentando atualmente na comunicação com o mercado e na busca de reduzir os custos de captação de recursos.

Alfried Plöger em seu discurso de encerramento do 19º Encontro Internacional de Relações com Investidores e Mercado de Capitais destacou que “os investidores estão mais confiantes do que estavam no primeiro semestre do ano passado”. Ele mencionou sondagem da ABRASCA realizada junto a seus associados, que aponta que 23% das companhias vão aumentar seus investimentos e 41% vão manter o patamar até o final do ano. “A sondagem também identificou que 76% das empresas pretendem fazer captação junto a banco de fomento ou utilizar linhas de captação créditos especiais”, revelou. Plöger também fez menção aos 60% que afirmaram que vão exportar mais. “A sondagem demonstra que há mais otimismo entre os entrevistados do que no ano passado”, finalizou.

O 19º Encontro Internacional de RI e Mercado de Capitais foi patrocinado pelas seguintes empresas: B3 - Brasil, Bolsa, Balcão; Banco do Brasil; Bloomberg; BNY Mellon; BMA - Barbosa Müssnich Aragão; Bradesco; Datev; Deloitte; Diligent; Donnelley; Greenberg Traurig; Itaú Unibanco; MZ Group; Oliveira Trust; Petrobras; Sabesp; S&P Global; Souza, Cescon, Barrieu & Flesch Advogados; TheMediaGroup; Thomson Reuters e Valor Econômico. Mais informações: www.encontroderi.com.br


Continua...