Em Pauta

MERCADO DE CAPITAIS & EMPREENDEDORISMO: A SAÍDA PARA O DESENVOLVIMENTO

Uma das condições essenciais para o desenvolvimento econômico sustentável de um país é a existência de mecanismos balizados e acessíveis para que Empreendedores com boas ideias se conectem com investidores. A captação de recursos para o financiamento às novas ideias passa por diversos estágios, mas uma coisa é certa: é preciso um Mercado de Capitais bem desenvolvido para dar saída aos investidores iniciais e garantir que as engrenagens dos empreendimentos continuem girando. A questão, aqui, é: como criar um ambiente propício ao desenvolvimento de novos negócios e estimular os investimentos de longo prazo?

Há várias condições necessárias para que o Empreendedorismo floresça. De um lado, além das boas ideias, é preciso preparo e um plano de negócios bem elaborado. Do outro, o investidor tem de ter estímulo para correr riscos, ambiente de negócios favorável e um mínimo de segurança quanto ao retorno dos investimentos. A realidade brasileira atual, entretanto, é bem diferente. O empreendedor ainda tem a cultura da necessidade e não da inovação, e o mercado de capitais parece inacessível. Não é à toa que, historicamente, o percentual de investimentos brasileiro em relação ao PIB tenha se mantido ao redor de 15% nos últimos anos.

Na agenda do Codemec (Comitê para o Desenvolvimento do Mercado de Capitais), apoiada pela Revista RI - e que será apresentada aos candidatos à presidência da República, destaca-se o papel do Mercado como agente financiador das empresas como um dos pilares fundamentais para o desenvolvimento econômico. “Em uma sociedade em constante mudança, sendo inovação um dos principais motes propulsores para a modernização, o Codemec identifica como um dos principais pilares do desenvolvimento um efetivo funcionamento do mercado e seu acesso tanto aos ofertantes quanto aos demandantes. Esse mercado deve ser livre, e não pode criar nenhum empecilho que exclua potenciais agentes qualificados de participarem”, afirma Thomás Tosta de Sá, presidente do Codemec.

Há diversos estágios anteriores para que o empreendedor consiga abrir seu capital na Bolsa de Valores. O primeiro envolve uma mudança de seu próprio perfil. “O Brasil tem recursos, mas faltam bons projetos. A palavra “empreender” está relacionada com realização e não simplesmente boas ideias. É transformar sonhos em realidade”, diz José Alberto Sampaio Aranha, presidente da Anprotec (Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores), entidade que reúne cerca de 370 associados, entre incubadoras de empresas, parques tecnológicos, aceleradoras, instituições de ensino e pesquisa, órgãos públicos e outras entidades ligadas ao empreendedorismo e à inovação.

Ao contrário de simplesmente abrir uma empresa, empreender significa encarar problemas como oportunidades, inovar e movimentar novos negócios. Empreender é também agregar valor, saber identificar oportunidades e transformá-las em um negócio lucrativo. No Brasil, entretanto, a realidade é diferente: muitos acabam por abrir seu próprio negócio não por terem uma boa ideia, mas como forma de sobreviver diante do desemprego. Ao mesmo tempo, as boas ideias acabam se perdendo pela falta de conhecimento sobre como iniciar o negócio.

Segundo o último relatório da GEM (Global Entrepreneurship Monitor, 2016), o Brasil se encontra na categoria intermediária de países cujos negócios são impulsionados pela eficiência, na qual se destacam os avanços ligados à industrialização e ao ganho de escala em negócios - uma categoria classificada como intermediária na escala de "desenvolvimento". As outras duas são a de empreendimentos impulsionados por fatores, na qual a exploração de recursos naturais e o empreendimento de subsistência são as principais atividades, o que aponta menos desenvolvimento, e a de impulsionamento com base em inovação (que aponta mais desenvolvimento). Os países mais avançados economicamente buscam empreendimentos focados e impulsionados por inovação, categoria liderada pelos Estados Unidos, Austrália e Canadá.

A motivação dos empreendedores iniciais pode ocorrer pela necessidade ou oportunidade. Os empreendedores por necessidade decidem empreender por não possuírem melhores alternativas de emprego, propondo-se criar um negócio que gere rendimentos, visando basicamente a sua subsistência e de seus familiares. Já os empreendedores por oportunidade são definidos pela GEM como capazes de identificar uma chance de negócio ou um nicho de mercado e empreendem mesmo possuindo alternativas concorrentes de emprego e renda.

A proporção de empreendedores por oportunidade é mais alta nos grupos de países impulsionados por inovação, que apresentam maiores níveis de desenvolvimento socioeconômico. No Brasil, a cada 100 empreendedores, 57 empreendem por oportunidade (dados de 2016). A proporção de empreendedores nascentes por necessidade diminuiu de 36% em 2015, para 25% em 2016. “Não se pode afirmar que a economia brasileira apresenta uma possível melhora, uma vez que a transição de empreendimentos nascentes para novos se dá de maneira mais rápida do que de novos para estabelecidos, mesmo com a taxa de empreendedores nascentes apresentando uma redução significativa”, explica o relatório.

Para o presidente da associação de investidores-anjos, a Anjos do Brasil, Cassio Spina, nos últimos anos, a realidade tem mudando. “Há um aumento dos empreendedores de oportunidades que também se mostram melhor preparados, mas ainda é necessária uma evolução grande em comparação com os países desenvolvidos”, afirma.

A organização sem fins lucrativos foi fundada em 2011, com o objetivo de fomentar o investimento-anjo e o empreendedorismo de inovação, proporcionando uma plataforma de encontro entre empreendedores em fase inicial e investidores que estão comprometidos com o financiamento de alto risco. No início da entidade, 1 a cada 50 projetos apresentados se mostrava consistente. Hoje o percentual é de 1 ou 2 a cada 10.

Falta inovação
Em relação ao potencial de inovação em empreendedores iniciais a pesquisa da GEM demonstra que o país com maior percentual de inovação em produto ou serviço é a China (76,9%), seguido pela Índia (62,6%) e pela África do Sul (47,9%). O Brasil apresenta o segundo menor percentual (20,4%) acima apenas da Rússia (17,5%). “Apesar do baixo investimento em inovação, os empreendedores iniciais brasileiros têm conseguido comercializar produtos e serviços que apresentam algum grau de diferenciação, quando comparados a outros produtores ou prestadores de serviço. Pode também ser um indicativo de que os empreendimentos iniciais atuam em nichos específicos”, informa o relatório da GEM.

As participações refletem os investimentos dos países em pesquisa e desenvolvimento. O Brasil está na 32ª posição no que diz respeito à complexidade econômica, ou seja, tem exportado mais produtos com baixo grau de capacidade e conhecimento empregados em sua produção. Quanto à tecnologia, o País fica em último lugar, com o percentual ínfimo de 4%, sendo que tanto a Índia, como a África do Sul apresentam percentuais acima dos 50%. Tal fato demonstra que os empreendedores iniciais no Brasil, estão em desvantagem com relação a competitividade global, utilizando tecnologias já tidas com obsoletas em outros países. “Minimizaria este problema, um maior investimento, tanto governamental quanto privado, em ciência, tecnologia, inovações e comunicações”, diz o estudo.

Entraves
Empreender no Brasil é tarefa difícil, diante da elevada burocratização e custos. Tal fator leva ao crescimento da informalidade. Em 2016, o percentual de empreendedores que declararam ter CNPJ e que são, portanto, formalmente reconhecidos pelo governo e órgãos reguladores era de 17,5%. Este dado demonstra que existe uma ampla gama de negócios pouco estruturados e consideravelmente pequenos, pois sem CNPJ não é possível obter empréstimos de quantias maiores e com prazos mais alongados, prestar serviços que exijam notas fiscais (especialmente às empresas), concorrer em licitações, emitir boletos de cobrança, entre outros.

Um ponto que pode ser visto tanto nas economias de grande crescimento (como Índia e China) quanto em economias desenvolvidas que apresentam crescimento econômico (como os Estados Unidos e Alemanha) é que o apoio financeiro é apontado como um fator importante para a atividade empreendedora. Os especialistas entrevistados pela pesquisa GEM apontam como limitantes ao empreendedorismo a falta de políticas governamentais (77,4%). Em segundo lugar está a ausência de apoio financeiro e a precária capacitação e educação dos empreendedores, ambas com 31,2%.

O número de investidores-anjos no país ainda é baixo, ao redor de 7 mil pessoas e o potencial, de acordo com Cássio Spina, é de 150 mil. O valor médio investido está em torno de R$ 120 mil. Em 2016, o volume de investimento-anjo no Brasil atingiu R$ 850 milhões, enquanto que em 2010 era de R$ 350 milhões, mas ainda há muito a crescer. “O aumento tem sido rápido, mas o mercado ainda é muito pequeno. No mínimo, deveria somar US$ 2 bilhões. Nos EUA é de US$ 20 bilhões”, avalia Spina.

O salto do mercado depende, em parte, de uma mudança de postura do governo. “É preciso dar mais proteção ao investidor e prover estímulos como a isenção tributária sobre os ganhos. Para o governo, uma medida como esta não significa renúncia fiscal, pois as empresas investidas crescem, contratam, compram equipamentos e recolhem impostos. Esse movimento por si só leva ao crescimento econômico e aumento da arrecadação”, declara. Em países como Inglaterra e França os investidores-anjos podem receber deduções de até 50% em seu imposto de renda.

Para as startups, o investidor-anjo é essencial para viabilizar o início dos negócios. O ciclo de um investimento-anjo é de longo prazo, cerca de dez anos. Spina lembra que o ideal é que o “anjo” invista em várias empresas ao mesmo tempo, pois as que alcançam o sucesso compensam aquelas que não obtiveram o mesmo resultado. “Essa postura reduz o risco. Os Unicórnios - empresas que atingem alta taxa de sucesso, conseguem crescer de forma sustentável e serem avaliadas em mais de US$ 1 bilhão pelo mercado global - são raros”, complementa.

Aceleradoras
Levantamento realizado pelo Centro de Estudos de Private Equity da Fundação Getulio Vargas (GVCepe), mostra que, em 2017, existiam cerca de 40 aceleradoras ativas no Brasil que investiram mais de R$ 50 milhões em 1,3 mil startups. “O mercado de startups apareceu através da atuação das aceleradoras das grandes corporações”, diz Aranha, da Anprotec.

A maior parte destas incubadoras está concentrada na região Sudeste (71%). Em segundo lugar destaca-se a região Nordeste, com 16%, seguida pela Norte (10%) e pela Sul (3%). Os segmentos preferidos das aceleradoras são: Tecnologia da Informação (83,9%), Educação (77,4%) e Serviços (67,7%). Finanças e indústria empatam com 61,3% cada. Nos processos seletivos, a preferência é por startups em fase comercial (20%) e piloto (18%). Os valores concedidos variam de R$ 45 mil a R$ 255 mil.

As grandes corporações têm se movimentado para criar suas incubadoras. Segundo a pesquisa da FGV, dentre os motivos que impulsionam este apetite, destacam-se o acesso a novas tecnologias (17%) e a aquisição de talentos (15%). Os programas permitem o desenvolvimento mais rápido das startups, como o Cubo Itaú. Fundado em 2015 pelo Itaú Unibanco, em parceria com a Redpoint e.Ventures, seu objetivo é conectar em um só lugar empreendedores, grandes empresas, investidores e universidades para discutir sobre tecnologia, inovação, novos modelos de negócios, novas formas de trabalhar e como desafiar o status quo.

Fábrica de Startups
A Fábrica de Startups, projeto nascido em Portugal em 2012 e que chega ao Brasil este ano, conta com uma metodologia própria e validada com mais de 500 startups e 1.500 empreendedores de diversos países. Já instalada no Rio de Janeiro em um espaço de 3.700m2, a incubadora será inaugurada em agosto deste ano. Seus programas de aceleração são realizados em parceria com empresas, organizações ou entidades de grandes setores de mercado.

“Eles têm como objetivo ajudar os empreendedores e startups nas diversas fases do processo de criação e desenvolvimento de novos negócios. Já contamos com a participação de empresas do setor financeiro, óleo e gás, telecom, imobiliário e tecnologia. A Fábrica busca transformar ideias em negócios e fazer suas incubadas crescerem rapidamente”, afirma o CEO da Fábrica de Startups no Brasil, Hector Gusmão. Atualmente estão sendo avaliadas 15 startups em fase mais madura.

Crowdfunding
Outra forma de ter acesso ao capital é a captação via crowdfunding. A modalidade, conhecida como "vaquinha virtual", e que permite à empresa levantar dinheiro via investimento coletivo por meio de uma plataforma online, tem crescido no Brasil ano após ano. Não há dados oficiais atualizados, porém, segundo uma pesquisa do instituto Wonder, o mercado nacional saiu de US$ 3,5 milhões em 2013 para US$ 10 milhões em 2016. Já os sites especializados do setor noticiam números bem acima disso e estima-se que o mercado capte mais R$ 100 milhões anuais. No mundo, cerca de US$ 56 bilhões foram arrecadados em crowdfunding em 2017.

No Brasil, o crowdfunding foi regulamentado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) somente em julho do ano passado, 20 anos após seu surgimento no mercado internacional, quando fãs da banda Marillion arrecadaram US$ 60 mil para financiar uma tour do grupo pelos Estados Unidos. “O crowdfunding de investimento é uma alternativa inovadora para o financiamento de empreendedores. A CVM considera que a segurança jurídica trazida pela nova norma pode alavancar a criação de novos negócios de sucesso no país, permitindo a captação de recursos de modo ágil, simplificada e com amplo alcance a investidores por meio do uso da internet”, comentou Leonardo Pereira, presidente da CVM na época.

Segundo a regulamentação, empresas com receita anual de até R$ 10 milhões podem realizar ofertas por meio de financiamento coletivo na internet com dispensa automática de registro de oferta e de emissor na CVM. “É uma espécie de novo IPO. O empreendedor pode conquistar investidores de qualquer lugar do mundo. Basta que tenha um bom plano de negócios, vídeo institucional e um pacote jurídico de documentos”, explica o advogado Carlos Augusto Junqueira, da Cescon Barrieu.

Junqueira estima que ainda há muito espaço para crescimento desta modalidade de captação. “O crowdfunding está se popularizando, mas o Brasil precisa da cultura de empreendedorismo e consciência financeira. O custo de preparação se resume ao vídeo institucional e à assessoria”, diz. A despesa maior só ocorre mesmo se a empresa conseguir captar e o percentual cobrado depende da plataforma usada.
“Tudo depende do quanto a empresa quer vender e do quanto precisa captar de dívida. O valor da empresa é determinado de acordo com o plano de negócios”, afirma. Ele recomenda que o empreendedor sempre busque dar informações realísticas da oferta. “A primeira questão é não criar expectativas falsas que devem ser frustradas. A satisfação é igual a expectativa menos realidade. É preciso entregar o que prometeu e para isso deve-se dar uma margem de erro”, complementa o advogado.

Para proteger os investidores, a CVM definiu que uma das condições é que este tipo de oferta somente ocorra por meio de plataformas que passarão pelo processo de autorização junto à autarquia. Existem somente seis plataformas eletrônicas de investimento coletivo registradas na CVM (atualização em 23/3/2018). Pela instrução 588, as propostas podem ser direcionadas a grupos específicos de investidores cadastrados, por exemplo, ou que sejam parciais caso o valor mínimo de captação pretendido seja atingido.

A maior parte das regras das rodadas de financiamento deve ser definida pelas próprias plataformas. “As plataformas conduzirão as ofertas de acordo com o balizamento estabelecido pela norma e não haverá análise e autorização prévia por parte da CVM. As plataformas são os gatekeepers (filtros) e devem garantir que os procedimentos estabelecidos sejam cumpridos. A CVM supervisionará as plataformas", explicou em nota Dov Rawet, superintendente de registro de valores mobiliários (SRE) da CVM.

Segundo a CVM, um mercado bem regulado de crowdfunding de investimento é considerado estratégico para a ampliação e a melhoria da qualidade dos instrumentos de financiamento para empresas em fase inicial e com dificuldades de acesso ao crédito e à capitalização, mas que são vitais para a geração de emprego e renda na economia.

Evolução
Além da vaquinha virtual e dos investidores-anjos, o empreendedor conta com outras formas de obter recursos para dar continuidade ao crescimento do negócio. O seed capital, ou capital semente, é a segunda etapa após a primeira captação. Enquanto o anjo aporta os recursos na casa dos milhares, o investidor ou pool de investidores desta modalidade, chega a colocar até R$ 2 milhões, porém a busca é por empresas que já estejam em operação com clientes e produtos definidos, mas que ainda necessitam de capital para dar continuidade ao crescimento.

Já os fundos de venture capital aportam recursos em empresas de maior porte com o objetivo de estimular seu rápido crescimento e saírem em uma operação de venda ou IPO. O investimento em venture capital e private equity é uma alternativa de financiamento de longo prazo em que os riscos do negócio são compartilhados, através da parceria entre gestores e empreendedores para agregar valor à empresa investida.
O gestor injeta capital e profissionaliza a companhia para, no momento certo, vender a sua participação com lucro. Os investimentos são realizados via o aporte de capital nas empresas, pela aquisição de ações ou títulos de dívida conversíveis em ações. Desta forma, os investidores tornam-se acionistas destas empresas e podem participar ativamente da estratégia e orientação dos negócios da companhia.

De acordo com os dados da Lavca (Associação Latino-Americana de Fundos de Capital de Risco), o valor investido em startups brasileiras por fundos de venture capital cresceu 207% em 2017 e atingiu o patamar recorde de US$ 860 milhões. Em 2016, os investimentos haviam somado US$ 279 milhões. No período, 113 empresas brasileiras receberam aporte, enquanto em 2016 foram 64.

A Lavca afirma que 25 investidores globais apostaram pela primeira vez na América Latina no ano passado. Nos últimos cinco anos, o interesse mais que dobrou, passando de 36, em 2013, para 80, em 2017. “Alguns dos maiores nomes do Vale do Silício estão ativos na América Latina, incluindo a Andreessen Horowitz, a Accel Partners, a Founders Fund, a Sequoia Capital e a Y Combinator. Esses players estão investindo de maneira oportunista em estágios e setores de financiamento, com preferência por negócios no Brasil, México e Colômbia”, diz o relatório divulgado pela Lavca.

Já o Relatório Trimestral da Transactional Track Record, em parceria com a LexisNexis e Tozzini Freire Advogados, destaca que os investimentos de venture capital no mercado brasileiro seguem em alta e tiveram o melhor primeiro trimestre dos últimos três anos. As 46 operações registradas no TTR, somaram R$ 1,2 bilhão, aumento de 137% em comparação ao mesmo período de 2017. No primeiro trimestre deste ano houve o crescimento de 25% dos investimentos de fundos estrangeiros em empresas nacionais. “Esses aportes tiveram forte influência no volume financeiro das operações de private equity registradas”, destaca o documento.

Os fundos de venture capital tiveram como alvos preferidos os segmentos Tecnologia, 21 operações no ano, e Internet, 11. O setor Financeiro e Seguros destacou-se graças ao apetite dos investidores pelas fintechs, como a Nubank e a RecargaPay, também do setor de meios de pagamentos, e que recebeu um aporte de R$ 71 milhões da International Finance Corporation (IFC), dos fundos TheVentureCity e Ventech, além de outros cem investidores-anjos. Atraíram investidores ainda os unicórnios 99 táxi, que recebeu um aporte de US$ 200 milhões antes de ser vendido e a Movile, dona de serviços como iFood e PlayKids, que obteve US$ 135 milhões.

Mercado de acesso
Do investimento inicial de um anjo ao crescimento dos negócios, passando pelos fundos de venture capital ou private equity, o mercado de capitais deve dar condições suficientes para que haja a porta de saída para os investidores. “O mercado de capitais é uma forma de dar saída para que o investidor-anjo consiga reinvestir em outras empresas. O ideal é que o investidor permaneça dentro da empresa até o seu IPO, mas algumas são vendidas antes para fundos de investimento. Esta é uma boa saída para o anjo, mas não a ideal”, explica Spina, que lembra o caso da Bematech. A empresa recebeu o aporte inicial de um anjo que a acompanhou até a colocação de suas ações na bolsa, em 2007. A companhia foi posteriormente adquirida pela TOTVS, em 2015.

A proposta defendida pelo Codemec, é a criação de um mercado de acesso que atraia essas empresas a abrirem seu capital. “Um dos grandes desafios para o estabelecimento de um mercado de capitais eficiente e pujante, que realmente seja um instrumento ao desenvolvimento econômico de um país, é criar condições de inserção de empresas, que não só estejam em “compliance” com as regras do mercado, mas que também que percebam o benefício da participação no mercado de capitais”, defende Tosta de Sá.

Uma condição necessária é de que as regras sejam iguais para todos os participantes, mas isso não é suficiente para permitir sua operação eficiente. “Para que seja franqueada a entrada principalmente de empresas no mercado de capitais, é importante que as exigências de conformidade sejam adequadas às categorias dos agentes, ou seja, que estas estimulem a participação de empresas de diferentes setores, composições e tamanhos e não sejam entraves ao acesso das empresas”, destaca Tosta de Sá.

O acompanhamento do desenvolvimento de vários mercados de capitais ao redor do mundo indica que este é um processo gradual e, que para um desenvolvimento adequado é necessária uma liderança firme das autoridades responsáveis e grande compromisso das entidades envolvidas neste mercado. No entanto, em um mercado regulamentado como o Brasil, é esperado um nível de exigência regulamentar alta. A questão que se impõe no momento é qual o nível adequado que permita a atração das empresas e ao mesmo tempo implemente regras que imponham a transparência e a governança como características indispensáveis para a participação das empresas neste mercado.

Outro aspecto fundamental para fomentar o acesso de novas empresas ao mercado de capitais é a necessidade de criar a consciência dos empresários sobre os benefícios a serem alcançados pelas empresas participantes do mercado. “Este é um processo que passa pela educação dos empresários e donos de empresa sobre mercado de capitais, entendimento das condições prévias para ser elegível para participar do mercado, como a implantação da governança corporativa e a importância da transparência”, explica Tosta de Sá.

Assim, a educação corporativa tem uma grande importância para viabilizar a entrada de novas empresas no mercado de capitais. Não só do ponto de vista de aumentar a consciência do benefício do mercado para os novos emissores, mas especialmente criar empresas que ao adotarem as melhores práticas de governança e gestão, não só se credenciarão a acessar o mercado de capitais, mas terá como efeito benéfico a melhoria da gestão das empresas.

Segundo o presidente do Codemec, a oportunidade para que o Mercado Brasileiro de Acesso seja criado é impulsionada por vários fatores: investidores buscando novas alternativas de aplicação devido a redução da taxa de juros; empresas buscando novas alternativas de captação devido à falta de recursos do governo para continuar uma política de juros subsidiados; alguma flexibilização no Regulamento do Bovespa Mais criando o nível dois para empresas que desejam emitir ações preferenciais; flexibilização na Regulamentação da CVM para emissões de PMEs e criação do crowdfunding.

No Brasil, a dificuldade de as empresas conseguirem acessar o mercado de capitais fica evidente pelo reduzido número de companhias com ações negociadas em bolsa. Hoje existem somente cerca de 350 empresas listadas na B3. Em economias de tamanho similar à brasileira, o número fica na casa dos milhares. A mudança do perfil empreendedor dos brasileiros, o apetite dos investidores pelas empresas e o surgimento de novos unicórnios impulsionam a mudança deste quadro e o mercado precisa estar preparado para cumprir seu papel de fomentador da economia.

BNDES vai estimular o Empreendedorismo
Em recente entrevista ao jornal O Globo, o presidente do BNDES, Dyogo Oliveira, declarou que o papel do banco é estruturar projetos importantes para o país, principalmente na área de infraestrutura, desenvolver o mercado de capitais de longo prazo, apoiar pequenas empresas, tecnologia e inovação e apoiar o comércio exterior.

Segundo o executivo, a instituição deve ampliar o estímulo à inovação, através dos produtos de venture capital e estuda também lançar outros instrumentos para estimular a fase inicial dos projetos. “Estamos estudando como o banco pode chegar naquele garoto que está na universidade e desenvolveu um aplicativo que é o novo unicórnio da tecnologia. Hoje, o BNDES está na fase final do investimento. O venture capital entra para o sujeito que precisa deslanchar seu negócio. Queremos incentivar a fase inicial desses projetos”, declarou.

Ele defendeu que o caminho correto é que as grandes empresas dependam menos do BNDES para obterem financiamento e investir. Neste sentido, o mercado de capitais é o caminho correto. “Uma empresa que pode tomar dinheiro no mercado, com balanço, com histórico, com capacidade financeira, também pode tomar dinheiro no mercado privado internacional. Diria que não vale a pena ela tomar dinheiro no BNDES. Não faz sentido. Esse sujeito não pode depender do BNDES. O que vai acontecer daqui para frente é isso, essas empresas deixando de buscar o BNDES, e o BNDES ficando nas empresas que realmente têm dificuldade para ter acesso a crédito”, explicou.

Com relação ao mercado de capitais, Oliveira explicou que está sendo estudada a possibilidade de o banco entrar em emissões de fundos de investimento na área de infraestrutura com a garantia de compra de uma parte minoritária, como investidor âncora. “Um gestor quer fazer um fundo para investir em energia eólica. O banco garante que compra 30% das cotas do fundo. O sujeito vai a mercado e, se conseguir os 70%, a gente compra 30%. O banco dá uma segurança para o investimento. Temos condição de lançar isso em 90 dias”, afirmou o presidente.

Senior Solution: do Empreendedorismo ao Novo Mercado
A Senior Solution é o primeiro case completo do mercado de acesso, passando por todas as etapas: listagem no Bovespa Mais, realização da oferta pública inicial de ações (IPO), destinação dos recursos e migração para o Novo Mercado, em agosto de 2017.

“Construímos uma história de sucesso. Com a migração, estamos preparados para seguir nossa estratégia de crescimento, expandir fronteiras e estar à frente do processo de transformação digital que acontece no setor financeiro do Brasil e do mundo”, afirma Bernardo Gomes, diretor presidente da Senior Solution.

Segundo Gomes, o Bovespa Mais cumpriu o seu papel com a Senior Solution, comprovando-se uma ótima alternativa para empresas de médio porte interessadas em acessar o mercado de capitais de forma gradual. “Sem o Bovespa Mais, a Senior Solution possivelmente não teria obtido o mesmo sucesso”, afirma. Da mesma forma, a empresa cumpriu o seu papel no mercado de acesso, tornando-se um case de crescimento, amadurecimento e valorização.

“A principal função da bolsa é propiciar recursos para que as empresas brasileiras possam crescer e gerar empregos. Quando um caso de sucesso como da Senior Solution ocorre, sua história nos motiva e nos orgulha. Ela confirma a tese de que o mercado de capitais será uma das principais fontes de financiamento das empresas brasileiras daqui por diante”, afirma o vice-presidente de Tecnologia e Segurança da Informação da B3, Rodrigo Nardoni,

A Senior Solution galgou todos os níveis de governança até chegar ao Novo Mercado. O BNDES apoia a empresa desde 2002. A partir de 2005, a BNDESPar, subsidiária de participações do BNDES, deu suporte ao plano de negócios da companhia por meio de participação acionária. “Cumprimos nosso papel de banco de desenvolvimento, que, neste caso, se expressou no apoio a uma empresa com potencial de inovação e um bom modelo de negócios. Nossa meta é, cada vez mais, apoiar empresas que possam vir a ter representatividade no mercado e forte poder de inovação. Faz parte da missão do banco apoiar, melhorar a gestão, a governança. É um orgulho ter a certeza de que podemos fazer a diferença no mercado de capitais brasileiro”, declarou diretora do BNDES, Eliane Lustosa, durante a cerimônia de migração da empresa.

Para chegar ao segmento máximo de governança corporativa, foi um longo caminho, que começou na segunda metade da década de 1990, quando o cenário demandava mais tecnologia para o setor financeiro. Na época, as empresas que forneciam essas soluções eram de pequeno porte e, sem capacidade para investirem em P&D, ofertavam sistemas obsoletos. Essa lacuna foi percebida por Bernardo Gomes e Luciano Camargo quando, em 1996, fundaram a Senior Solution.

Nos seus primeiros anos, a empresa realizou projetos para diversas instituições. A experiência gerou a inteligência necessária para desenvolver seus próprios softwares. Como o desenvolvimento do software consumiria um elevado volume de investimentos em um período relativamente curto, era necessário buscar recursos. Para isso, os sócios contataram gestoras de private equity, incluindo a Stratus. Os investidores classificaram a mudança no modelo de negócios como muito arriscada, já que envolvia o desenvolvimento e venda de softwares novos, mas passaram a acompanhar a evolução da Senior Solution para avaliar a possibilidade de investimento futuro.

Para viabilizar o lançamento de seu sistema proprietário, os sócios buscaram o BNDES Prosoft. Em 2002, a Senior Solution tornou-se a sétima empresa brasileira a ser contemplada pelo programa, o que permitiu não só desenvolvimento, mas garantiu sua atualização ao longo dos anos. Lançado em 2004, o SBS (Senior Banking Solution) marcou a mudança no modelo de negócios.

Os recursos do BNDES também possibilitaram o início da expansão por meio de aquisições. A primeira foi a Netage, que produzia software para tesouraria. Desta forma, a Senior Solution iniciou uma bem-sucedida estratégia de ampliar a oferta de produtos e serviços, expandir a carteira de clientes e acelerar seu crescimento. Após a aquisição, a Stratus tornou-se investidora em setembro de 2005 e a BNDESPar, braço de participações do BNDES, juntou-se meses depois.

Com a parceria dos investidores, que também traziam sua expertise em processos de aquisição, a companhia intensificou sua expansão. A Stratus estabeleceu práticas de governança, instituindo o Conselho de Administração, que desde o início contava com a presença de um conselheiro independente.

Em 2006, a Senior Solution adquiriu a Pulso e, o ano seguinte foi marcado por duas novas aquisições: a da Impactools e da Intellectual Capital. Em 2010, a empresa passou a oferecer consultoria estratégica e de processos para instituições financeiras com a aquisição da Controlbanc.

A Senior Solution decidiu, então, dar um passo maior e fez a listagem de suas ações no Bovespa Mais sob o código SNSL3, em maio de 2012. O IPO foi postergado algumas vezes, por conta da crise financeira. Dessa forma, os investidores tiveram acesso aos números da companhia muito antes da emissão de ações, o que favoreceu o processo. Na oferta pública de ações, em 7 de março de 2013, a Senior Solution captou R$ 39,655 milhões na oferta primária. Foi o mais bem-sucedido IPO do Bovespa Mais. O valor total da oferta, considerando as parcelas primária, secundária e o lote suplementar, foi de R$ 57,462 milhões.

Apenas três meses após o IPO, a empresa realizou a aquisição da Drive. O negócio demonstrou ao mercado que a Senior Solution cumpriria sua promessa de acelerar a estratégia de aquisições e se tornar a principal empresa de software para o setor financeiro. Em 2015, os consórcios tornaram-se uma opção mais que atraente. O ingresso na área ocorreu com duas aquisições, a da Aquarius e da Pleno. Depois de oito aquisições em sua história, a Senior Solution já possuía expertise em incorporar novas companhias. No caso da Aquarius, isso ocorreu em apenas três meses. A nona aquisição, attps, em novembro de 2016, elevou a Senior Solution à condição de maior provedora de soluções para o mercado financeiro.

Durante o ciclo de investimentos iniciado na oferta de ações da Senior Solution, a empresa adicionou mais de R$ 75 milhões em receita líquida, uma expansão de 163% desde 2012. São treze anos consecutivos de crescimento, com média anual de 29,4% e a estratégia de consolidação continua, pois ainda há centenas de oportunidades no mercado.


Continua...