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24º CONGRESSO APIMEC: O BRASIL DE HOJE... O BRASIL DE AMANHÃ

A APIMEC (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais) promoveu, a 24ª edição do Congresso APIMEC, com o tema: “O Brasil de Hoje...O Brasil de Amanhã”, nos dias 7 e 8 de agosto de 2018, no Teatro CIEE, em São Paulo. Durante os dois dias, a comunidade de analistas e profissionais de investimento discutiu temas como: o futuro da profissão, perspectivas do mercado de capitais e mudanças na regulação.

“O 24º Congresso APIMEC é oportunidade para debater tendências do mercado, agregando as novas constatações de pesquisas nas universidades. Reiteramos a defesa de um Mercado de Capitais mais atuante e resguardado pelos princípios das melhores práticas de Governança Corporativa”, declarou Ricardo Tadeu Martins, presidente da APIMEC Nacional, na abertura do evento.

“Refletir sobre a realidade atual que circunda a economia do País e prospectar o futuro para os negócios. Pensamos no tema Brasil de Hoje, Brasil de Amanhã para o nosso 24º Congresso. A reflexão está justamente no gene do analista e profissional do mercado de capitais, a capacidade ímpar de refletir e antever cenários”, destacou Lucy Sousa, presidente da APIMEC São Paulo, no início do Congresso.

Mansueto de Almeida, secretário do Tesouro Nacional, em sua palestra na abertura do 24º Congresso APIMEC, observou que o resultado do setor público consolidado pode ter um déficit R$ 25 bilhões menor do que o previsto na meta fiscal de R$ 161,3 bilhões no exercício de 2018. Segundo ele, o rombo menor viria de um melhor resultado do conjunto das estatais e nas contas dos Estados e Municípios.

A Reforma da Previdência centralizou parte importante da fala do secretário do Tesouro Nacional. Os regimes especiais de previdência do setor público comprometem as contas do governo. Segundo Mansueto de Almeida, a contabilidade também está sendo afetada pelo ingresso ainda tímido de novos jovens no mercado de trabalho formal, o que prejudica a sustentabilidade do regime previdenciário dos funcionários do setor privado.

A retomada da renda com inflação e juros domados, melhoria da produtividade, associadas ao ajuste fiscal integram um cenário mais alentador vislumbrado pelo secretário do Tesouro. Também na sua visão, outro ponto a favor do Brasil seria a economia mais diversificada com o fortalecimento de setores como o de agronegócios e petróleo.

Painel 1 – Cenário do Mercado de Capitais
Ao expressarem suas avaliações sobre o “Cenário do Mercado de Capitais”, durante o primeiro painel do evento, especialistas do segmento avançaram ao constatar variáveis que injetam novo ânimo às operações e outras que, de outra sorte, impõem obstáculos a seu amplo crescimento. Ricardo Martins, presidente da APIMEC Nacional, moderou o Painel 1 sobre “Cenário do Mercado de Capitais”.

Para Carlos Kawall, economista-chefe do Banco Safra, há elevada liquidez na economia internacional e a situação cambial brasileira está confortável, mas cresce a demanda por "hedge" (proteção).

“Os desembolsos do BNDE diminuíram nos últimos anos, mas o movimento é mais do que compensado pelo ressurgimento do mercado de capitais no Brasil”, afirma Kawall.

Felipe Salto, diretor-executivo da IFI (Instituição Fiscal Independente) do Senado Federal, observou que o teto de gastos corre sérios riscos a partir de 2019. “A meta de resultado primário não poderá mais ser ajustada para incorporar gastos”, observou. “As medidas de ajuste no gasto corrente são importantes e necessárias”, destacou. “Caso o ajuste pelo lado dos gastos não ocorra, medidas alternativas com mesmo efeito fiscal terão que ser adotadas”, concluiu.

Num misto de desafio e oportunidade, José Carlos Doherty, superintendente geral da ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), identifica o ano eleitoral como oportunidade de destacar a importância do mercado de capitais aos presidenciáveis. Com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) menos atuante no rol dos provedores de crédito o mercado de capitais experimenta retomada.

No entender de Doherty, a nova agenda do segmento deve ter no horizonte quatro pilares: financiamento de longo prazo; aprovação de modelo de concessões; governança jurídica e fortalecimento das agências reguladoras. “É preciso criar um arcabouço regulatório para o mercado de capitais, as empresas precisam, o País precisa”, frisou José Carlos Doherty.

“A Governança Corporativa vive um quadro controverso”, afirma Regis Abreu, vice-presidente da AMEC (Associação de Investidores no Mercado de Capitais). Se a crise de credibilidade na gestão de uma empresa levou a uma queda de 60% a 80% no patamar de preço das ações da companhia fica evidenciada, a urgência em se adotar um modelo de governança mais amplo. “A Governança Corporativa deve evoluir em representatividade, transparência, regras de comunicação e equilíbrio de voto entre os acionistas”, enfatizou Abreu.

Juca Andrade, vice-presidente de Produtos e Clientes da B3 (Brasil, Bolsa, Balcão), enfatizou o trabalho desenvolvido para potencializar e desenvolver o mercado. A B3 estima que o Brasil conta com cerca de 2 mil empresas com potencial para negociar ações em Bolsa e busca formas de atrair essas companhias, disse Juca Andrade.

O mercado de capitais tende a crescer de importância no financiamento das companhias com a redução da participação do BNDES. Ele observou, também, a importância de capacitação dos analistas para avaliar empresas recém-formadas e de alta expectativa de crescimento. Ao concluir sua palestra, Juca Andrade destacou, também, que “a queda das taxas de juros na economia brasileira tem incentivado os mercados de dívida e de ações”.

Painel 2 – Infraestrutura e competitividade
“Na infraestrutura brasileira, o setor elétrico é o mais bem estruturado e competitivo. É o ponto fora da curva”, avaliou Nivalde de Castro, professor do Instituto de Economia e coordenador do GESEL (Grupo de Estudos do Setor Elétrico) da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), ao participar como palestrante do “Painel 2 – Infraestrutura e competitividade”, que foi moderado por Francisco D’Orto Neto, presidente do Conselho Diretor da APIMEC SP.

De acordo com Nivalde de Castro, o setor elétrico brasileiro não necessita mais de empresas estatais, que no passado atuaram como instrumentos de política energética. A tendência é de privatização da Eletrobras e das empresas públicas estaduais, diz. A expectativa é que os financiamentos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) sejam “mais qualitativos em geração, transmissão e distribuição”. A expectativa é também de expansão nos negócios com debêntures incentivadas, observa.

A revolução tecnológica em curso é irreversível com quebra de paradigmas e inovações tecnológicas disruptivas, criando oportunidade para grupos assumirem a liderança com a inserção de novos produtos e processos, concluiu Nivalde de Castro.

André Soares Loureiro, superintendente da Área de Investimentos, Fundos e Garantias do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), discorreu em sua palestra sobre “Infraestrutura e Competitividade”, especialmente a atuação do banco no apoio à infraestrutura por meio do mercado de capitais.

Loureiro comentou que “em virtude da redução do volume de investimento, o gap atual no estoque de infraestrutura é elevado”. O valor emitido de debêntures incentivadas atingiu R$ 31,2 bilhões entre 2012 e junho de 2018, sendo que o BNDES subscreveu 6,1% desse total. “A taxa de investimento tem de acompanhar o crescimento econômico e compensar as depreciações”, observou.

Ao falar sobre a atuação do BNDES no mercado de renda fixa, Loureiro disse que apesar de as debêntures de infraestrutura possuírem remuneração atrativa e prazo longo, há baixa alocação dos ativos geridos por investidores institucionais nos papéis.

Ao falar sobre a atuação do BNDES para desenvolvimento do mercado de renda fixa, Loureiro citou vetores como investidor em emissões corporativas ou de projetos; estruturador/cotista de fundos de crédito; promotor de liquidez no mercado secundário; ofertante de mecanismos de crédito; e incentivador de novas emissões.

“O setor elétrico está imerso numa revolução industrial, com o advento de novas tecnologias a preços competitivos”, destacou Marcos Severine, especialista em Energia e CEO da Pontoon-e, no início de sua apresentação. “A liderança do BNDES na expansão recente não teve paralelo no mundo. Este ciclo se esgotou após a crise fiscal e econômica. Mais importante do que um novo agente financeiro é um novo modelo que possibilite hedge natural (PPA (Power Purchase Agreement, ou contrato de energia de longo prazo) em dólar”, enfatizou.

Segundo Severine, mantida a atual trajetória de redução de custo e ganho de eficiência, a energia eólica e solar fotovoltaica serão mais competitivas que as fontes advindas de combustíveis fósseis já em 2020. O mercado de veículos elétricos está se expandindo rapidamente, com a China liderando o caminho, seguida pela Europa e Estados Unidos, concluiu.

Palestra: Cenário Político
“Por mais incertezas políticas que tenhamos, reafirmamos o apreço pela democracia e pelo debate eleitoral”, reforçou Lucy Sousa, presidente da APIMEC SP, antes de apresentar o palestrante Rafael Cortez, analista político e sócio da Tendências Consultoria Integrada, que discorreu sobre “A corrida presidencial: determinantes e cenários”. Ao discutir o mapa analítico do processo eleitoral, Cortez fez menção a crise crônica que o Brasil atravessa desde 2013.

De acordo com Cortez, quando os governos são avaliados positivamente há tendência de elegerem o sucessor, mas para a eleição presidencial de 2018 “a tendência é que o eleitor busque projetos fora do governo, já que o presidente Temer está com baixa popularidade”. Ele fez menção à pesquisa “CNI-IBOPE: Avaliação do governo” de junho de 2018, a qual identificou a avaliação negativa do governo Michel Temer como pior em comparação ao governo de Dilma Rousseff.

Um ponto destacado por Cortez é que apesar da ampla oferta de candidatos na eleição presidencial de 2018, é alto o percentual para votos brancos e nulos (28%) e 5% não sabe.

Prêmio Qualidade APIMEC SP 2017 e Homenagens
A entrega do Prêmio Qualidade 2017 – que avalia a melhor reunião APIMEC do ano passado – foi realizada na noite de 07 de agosto de 2018. No ano de 2017, houve a participação de aproximadamente 6 mil profissionais de investimento das 76 Reuniões APIMEC SP, reforçando seu conhecimento sobre as companhias analisadas e contribuindo para que os profissionais de RI (Relações com Investidores) entendam as demandas do mercado.

Por meio de questionário, a qualidade das informações (econômico-financeiras, de governança e de sustentabilidade) apresentadas em cada reunião é aferida imediatamente após o término do evento. Encerrado cada ano, são selecionadas as dez reuniões com melhores notas e um júri qualificado escolhe a empresa vencedora do Prêmio Qualidade.

As 10 reuniões mais bem avaliadas em 2017 foram em ordem alfabética: BR Properties; Grendene; Iochpe-Maxion; ISA CTEEP; Itaú Unibanco; Itaúsa; Klabin; Multiplan; NeoEnergia; e Terra Santa. A grande vencedora foi a BR Properties. Vinícius Corrêa e Sá, vice-presidente da APIMEC SP, entregou o Prêmio Qualidade 2017 para os representantes da BR Properties: Martin Jaco, CEO (Chief Executive Officer) da BR Properties, André Bergstein, Diretor Financeiro e de Relações com Investidores, e Gabriel Barcelos, Gerente de Relações com Investidores da BR Properties.

“A reunião pública é o momento de a empresa mostrar seus projetos, e o dinamismo da BR Properties foi um dos seus diferenciais”, atestou Vinícius Corrêa e Sá. Os executivos da empresa se mostraram contentes com a premiação e afirmaram estar aprendendo cada vez mais para que assim possam se comunicar com mais transparência.

Houve também uma homenagem para dois associados de referência. Ronnie Nogueira, publisher e diretor editorial da Revista RI, recebeu placa em homenagem a seu pai, Ronaldo Nogueira, pela incansável atuação no incentivo ao mercado de capitais brasileiro. Helio Darwich, presidente da APIMEC Rio, fez a homenagem a Ronaldo Nogueira. “Estou muito honrado pela homenagem, meu pai foi um grande visionário do mercado e sempre trabalhou em prol do seu desenvolvimento”, agradeceu Ronnie Nogueira.

A viúva Marilia Elizabeth Colangelo Luz e os filhos Ricardo e Victor Colangelo Luz receberam de Francisco Petros, membro do Conselho Consultivo da APIMEC SP, homenagem a Antonio Carlos Colangelo Luz, que faleceu recentemente.

Colangelo Luz prestou relevantes serviços ao mercado de capitais e atuou na APIMEC, na regional São Paulo, como Presidente e Membro do Conselho Diretor em várias gestões e mais recentemente como membro do Conselho Consultivo da APIMEC SP, destacou Petros.

Colangelo foi professor de referência e apelidado carinhosamente pelos amigos como “Tonhão” por seu humor e bondade. A comunidade do mercado de capitais perde líder e profissional exemplar. “A gratidão deve preencher esses momentos de maneira especial”, lembrou Petros.

Antes de finalizar o primeiro dia do Congresso, Ricardo Tadeu Martins, presidente da APIMEC Nacional, comunicou o trabalho que está sendo desenvolvido para instituir o Dia Nacional dos Analistas e Profissionais de Investimentos do Mercado de Capitais a ser celebrado em 18 de maio.

Martins explicou que o deputado federal Floriano Pesaro (PSDB/SP) apresentou o Projeto de Lei 10641/2018, que institui, no dia 18 de maio, o Dia Nacional dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais. A data coincide com a da fundação da APIMEC (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais), no ano de 1970.

No 24º Congresso APIMEC, a advogada Bruna Borghetti representou o deputado federal Floriano Pesaro no evento e discorreu sobre o projeto de Lei nº 10.641/2018, observando que a iniciativa cria uma oportunidade de valorizar ainda mais a preparação de desenvolvimento dos profissionais, assegurando às pessoas que procuram formas mais atrativas de poupar suas economias, e aos investidores em geral, poder contar com um profissional comprovadamente capacitado para exercer suas funções, além de comprometido com um Código de Conduta Profissional.

Palestra Especial: Futuro do Mercado de Capitais
Roberto Teixeira da Costa, um dos fundadores da ABAMEC (Associação Brasileira dos Analistas de Mercado de Capitais) e primeiro presidente da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), realizou palestra de abertura dos trabalhos do 24º Congresso APIMEC na manhã de 8 de agosto de 2018.

“Hoje, diferentemente do passado, o analista tem excesso de informações e sua missão é filtrá-las e separar o que é importante, sem falar nas ‘fake news’ que podem ser jogadas no mercado com objetivos indefensáveis”, observou.

Ainda quanto a dificuldades atuais, o analista tem que estar "muito atento aos aspectos institucionais e também a variáveis externas que podem ter grande influência" sobre um setor da empresa avaliada, declarou. “Isso sem falar nos passivos ocultos, como ambientais e outros, que os números nem sempre revelam”, destacou. A independência da atuação do analista é um fator "que sempre será lembrado", frisou.

No que se refere ao futuro, Teixeira da Costa salientou os fatores determinantes que permitirão um desenvolvimento saudável do mercado: taxa de juros que não desincentive a renda variável; atração de investidores estrangeiros; lutar contra a cultura de investidor individual com apego ao curto prazo; aperfeiçoamento contínuo de campanhas educacionais alertando para as possibilidades e riscos que o mercado oferece; uma Governança Corporativa que olhe os interesses de qualquer classe de acionista; simplificação tributária; e diminuição da burocracia que retarda o desenvolvimento do mercado de capitais.

Ele defendeu uma reforma política, programas de educação financeira; incentivar a poupança e inovação. Ao mesmo tempo, Teixeira da Costa apontou para a importância da educação continuada dada a expectativa de crescente utilização da tecnologia, impactando em termos de fusões empresariais e utilização da robótica no atendimento a clientes.

Teixeira da Costa anunciou ao final de sua palestra o lançamento do seu livro: “Valeu a pena! Mercado de Capitais: passado, presente e futuro” (FGV Editora).

Painel 3 – Impacto das mudanças demográficas na atividade econômica
Mudança no perfil da população brasileira desenha um país, dentro de quatro décadas, que caminha para se tornar menos numeroso e idoso. Especialistas enxergam problemas na Previdência, no sistema de saúde e no emprego no futuro, caso não haja planejamento para a nova realidade. O painel 3 “Impacto das mudanças demográficas na atividade econômica” teve Eduardo Werneck, vice-presidente da APIMEC Nacional, como moderador.

A população brasileira vai atingir o máximo em 2048 (com 233,2 milhões de habitantes); esperando-se para 2060 que a população brasileira decline para 228 milhões de habitantes. O número de crianças (0 a 14 anos) declina permanentemente de 52,1 milhões em 2000 para 44,5 milhões em 2018, atingindo 33,6 milhões em 2060. O número de jovens (15 a 29 anos) atingiu o máximo 52,1 milhões em 2012 e declinará até 37 milhões em 2060. O número de idosos (65 anos e mais) amplia de 9,7 milhões em 2000 para 19,3 milhões em 2018 e chegará a 58,2 milhões em 2060. As estimativas foram apresentadas por Jorge Abrahão de Castro, economista, consultor e ex-diretor do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), ao realizar palestra sobre o tema do envelhecimento populacional.

Tudo seguiria se curso normal no que diz respeito à conjugação de fatores: maior número de idosos e ampliação na longevidade da população se as condições econômicas do País fossem outras. “A PIA (População em Idade Ativa) cresce, mas a ocupação, renda e oportunidades não estão acompanhando na mesma velocidade”, destacou Jorge Abrahão de Castro.

Fábio Coelho, diretor-superintendente da PREVIC (Superintendência Nacional de Previdência Complementar), estimou que a fatia de pessoas com mais de 65 anos chegará a um quarto da população em 2060. A redução da População em Idade Ativa a partir da década de 2030 trará necessidade de aumento de produtividade. As restrições na poupança pública e na acumulação para aposentadoria trarão ainda mais pressão na sustentabilidade econômica. São esperados impactos previdenciários relevantes no regime de repartição com redução da arrecadação tributária, necessidade de aportes financeiros adicionais e surgimento de risco de sobrevida.

“É preciso encarar a questão crítica que resultante da longevidade e seus custos adicionais”, alertou Fábio Coelho, diretor-superintendente da PREVIC. O plano de saúde é o terceiro item mais desejado pelo brasileiro, só perdendo para educação e casa própria, de acordo com pesquisas. O envelhecimento da população e custos são desafios crônicos para o setor de saúde suplementar.

Segundo Flávio Bitter, diretor da Bradesco Saúde, a baixa renda da população, associada a epidemias, reincidência de moléstias, crescente registro de doenças crônicas, vacinação ainda acometida de falhas e má alimentação geram aumento no custo para a saúde pública e privada.

O envelhecimento da população amplia a utilização do sistema de saúde e os custos médicos são impactados pela transição epidemiológica e incorporação tecnológica, observa Bitter. Além disso, a partir dos 60 anos há prevalência maior de doenças como diabetes, hipertensão arterial, artrite ou reumatismo, problemas na coluna e câncer.

Bitter apontou que algumas providências podem amenizar a situação que se mostra crítica. Entre elas, o uso mais racional do benefício, programas para a promoção da saúde, mudanças no modelo assistencial e de remuneração. “Para prover o sistema privado é preciso inovar na forma de financiamento como a criação do VGBL Saúde, que contemple a preocupação de se poupar para esse fim”, concluiu Flávio Bitter, diretor da Bradesco Saúde.

Carlos Bianconi, Co-CEO e Relações com Investidores da RNI Negócios Imobiliários, lembrou no 24º Congresso APIMEC que os empreendimentos ainda se ressentem de baixo investimento em infraestrutura, formalidade ainda baixa no emprego, transporte público precário e pouco abrangente e também falta de escolas, creches e postos de saúde nas áreas de construção mais populares nos entornos das cidades, entre outros obstáculos.

É preciso buscar alternativas para viabilizar o desenvolvimento de empreendimentos populares no período urbano; construções sustentáveis com moradias eficientes e com menor impacto possível no ambiente e retorno adequado (energia fotovoltaica; captação de águas pluviais; gestão de resíduos, circuitos elétricos setorizados e utilização de materiais sustentáveis, além da criação de linhas de financiamento que atendam ao processo de maior longevidade da população, concluiu Carlos Bianconi.

Painel 4 – O impacto das mudanças tecnológicas sobre o setor produtivo
O debate sobre o quanto a inovação demarca território foi enfatizado no Painel 4: “O impacto das mudanças tecnológicas sobre o setor produtivo“, que foi moderado por Lucy Sousa, presidente da APIMEC SP. O debate em torno da matriz energética ideal para o País e o mercado de criptoativos transita pela via da inovação e disseminação da informação.

O combustível de origem fóssil é bom ou não para o Brasil? Schreiner Parker, vice-presidente para a América Latina da Rystad Energy, defende que sim. Mas afirmou que o atraso nas decisões no Brasil, como se postergar perfuração e exploração de poços, pode afetar a oferta futura do produto em solo nacional. Parker disse que nos Estados Unidos os estoques quase dobraram nos últimos dois anos devido à política mais cadenciada no setor.

“A tomada de decisões no caso do petróleo deve acontecer, para que se reflita em efeito apenas depois de dois anos. Nesse terreno, o resultado não é imediato”, mencionou Parker.

Para Marcos Clemente, gerente de Desenvolvimento Numérico e Experimental da Mahle Metal Leve, não se deve falar em alternar e sim somar opções. Segundo observa, a indústria automobilística se defronta com a cultura do flex. Clemente sugere eliminar o “ou” e se referir à hipótese de matriz como eletrificação e, não ou, combustão. Citou o quanto os fabricantes de veículos no País têm em seu DNA a bioenergia e teceu esperança sobre os programas do governo como o Rota 2030, que estabelece as bases de uma política industrial do setor automobilístico pelos próximos 15 anos, e o RenovaBio, que reconhece o papel estratégico de todos os tipos de biocombustíveis na matriz energética brasileira.

“É possível vislumbrar êxito nos programas oficiais como o RenovaBio e o Rota 2030 com a varredura de algumas lacunas ecológicas”, destacou Clemente.

Paulo Roberto Machado Fernandes Costa, analista de Infraestrutura da Secretaria de Petróleo, Gás Natural e Combustíveis Renováveis do Ministério de Minas e Energia, afirmou que o RenovaBio está sendo articulado pela esfera oficial e a pesquisa acadêmica, e contempla etanol, biodiesel, biogás e BioQAV. Paulo Costa ressalta a importância do programa para reduzir o índice de carbono.

Mesmo com desconfiança e preconceito a pesar sobre seus ombros, o mercado de criptoativos evolui no desafio de disseminar a cultura em torno de suas aplicações e uso como moeda. Luiz Roberto Calado, economista-chefe do Mercado Bitcoin, afirmou, durante sua apresentação, que aliada da nova moeda, a tecnologia desenvolve meios de tornar menos onerosas as transferências.

Calado considerou que embora já seja uma realidade em outros países, no Brasil ainda requer regulação.

“O mercado de criptoativos requer esforço maior de educação financeira. Por isso estamos desenvolvendo uma série de ferramentas educativas e informativas”, concluiu Luiz Roberto Calado.

Painel 5 – Tarde do analista: A Instrução CVM 598 e seus desafios
O quinto painel do evento teve como foco a regulação, mais especificamente a Instrução 598, que regula a atuação do analista e profissional de investimento. Vinícius Corrêa e Sá, vice-presidente da APIMEC-SP, moderou o painel e lembrou que por meio da Instrução 483, de 2010, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) autorizou a APIMEC a se tornar entidade autorreguladora.

A Instrução CVM 598 revoga a ICVM 483 e introduz um novo marco regulatório sobre a atividade de analista de valores mobiliários.

Daniel Maeda, superintendente de Relações com Investidores Institucionais da CVM, afirma que uma das principais alterações trazidas pela nova norma foi a previsão da necessidade de credenciamento de analistas de valores mobiliários constituídos sob a forma de pessoas jurídicas. A Instrução CVM 598 também traz novas regras de conduta para as pessoas que exercem a atividade de análise de valores mobiliários, até mesmo no que diz respeito ao conteúdo das comunicações de cunho institucional e publicitário divulgadas pelas casas de análise ao mercado e a seus clientes. Há, também, a vedação a que os analistas de valores mobiliários pessoa natural obtenham ou mantenham registro como agente autônomo de investimento; e previsão de que as entidades responsáveis pelo credenciamento de analistas de valores mobiliários autorizadas pela CVM também possam determinar a retificação ou a cessação da divulgação de comunicações de cunho institucional e publicitário que apresentem incorreções ou impropriedades que possam induzir o investidor a erro.

Eduardo Boccuzzi, membro do CSA (Conselho de Supervisão do Analista de Valores Mobiliários) da APIMEC Nacional, relatou sua experiência no acompanhamento de desvios de conduta de profissionais de investimento. “Participo do CSA desde seu nascedouro e sua atuação tem sido cada vez mais interessante. No início era mais protocolar, mas aos poucos as coisas foram mudando e os analistas e o mercado passaram a conhecer mais a atuação do Conselho”, contou.

Boccuzzi observou que o acompanhamento de desvios de conduta de analistas é realizado por meio de denúncias de investidores e análise de relatórios. “Com o passar dos anos, acabaram ocorrendo autodenúncias, que são cada vez mais frequentes”, observou.

Uma questão levantada por Boccuzzi foi o crescimento das casas de análise específicas, ou seja, não ligadas a uma corretora. “Com a ICVM 598 teremos mecanismos mais eficientes para apurar as denúncias contra essas casas”, atestou.

Emerson Leite, membro do CSA (Conselho de Supervisão do Analista de Valores Mobiliários) da APIMEC Nacional, ressaltou em sua apresentação que o papel do analista está enfrentando mudanças, ampliando o repertório de ferramentas. Leite fez menção também ao aumento no volume de informação disponível para os analistas. “Obviamente temos muitos desafios como maior cobrança dos profissionais e diferenciação, ou seja, melhor visão, melhor networking e melhor conhecimento. O produto da análise deve ser útil para a tomada de decisão de investimento”, concluiu.

Pedro Galdi, membro do CCA (Comitê Consultivo do Analista) da APIMEC Nacional, disse que a Instrução CVM 483 surgiu para deixar claro que o profissional tem que se profissionalizar para não cometer erros e fazer recomendações erradas. “A Instrução CVM 598 é a evolução da ICVM 483, a nova instrução engloba o analista e a instituição financeira também. Tal evolução é norma e no futuro outras devem ocorrer”, destacou.

Painel 6 – Futuro do Profissional de Investimento
O último painel do Congresso foi moderado por Geraldo Soares, superintendente de Relações com Investidores do Itaú Unibanco; presidente do CSA (Conselho de Supervisão do Analista de Valores Mobiliários) da APIMEC; coordenador da Comissão de Comunicação e de Mercado de Capitais do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa); e coordenador do Comitê Superior de Orientação, Nominação e Ética do IBRI (Instituto Brasileiro de Relações com Investidores). Ao longo do painel, Soares fez questionamentos para os participantes sobre diversas questões relevantes para os analistas e profissionais de investimento.

Ao ser indagado por Geraldo Soares sobre a revolução no mercado independente de análise, Marco Saravalle, analista da XP Investimentos e diretor da APIMEC Nacional, informou que a pulverização da gestão de recursos já está acontecendo e até mesmo com o surgimento de novas casas de investimento. “Os analistas deverão estar preparados para o novo cenário”, enfatizou. Nesse processo, Saravalle acredita que o modelo de comunicação do analista com seu público será muito mais dinâmico, “e de novo é preciso se preparar para isso”, complementou.

Soares pediu que Roger Oey, Equity App Specialist da Bloomberg LP, comentasse a respeito dos gestores independentes e o impacto no mercado brasileiro. Segundo Roger Oey, as gestoras estão fazendo uso de dados complementares a informações contábeis como importante suporte na hora da análise.

Na visão de Humberto Casagrande Neto, superintendente geral do CIEE, a profissão de analista de valores mobiliários está cada vez mais difícil. “Hoje é preciso entender as mudanças que acontecem nas empresas. É preciso navegar por outros mares e, ao mesmo tempo, tem que ter profundo conhecimento em análise financeira, não pode ser superficial. Quem poderia supor que teríamos que analisar a sobrevivência de produtos de grandes marcas e o comportamento dos consumidores”, indagou Casagrande.

Lélio Lauretti, consultor especializado nas áreas de Ética e Governança Corporativa, foi enfático: “Nunca ouvi se falar tanto em Ética e sustentabilidade como hoje. Do ponto de vista da análise financeira, temos que acrescentar a lógica e checar se a empresa suporta alguns testes”.

Para Lauretti, “a visão do analista sobre a lógica na empresa é uma questão de sobrevivência. Se uma empresa estiver falhando em algum teste de lógica, sua vida será curta”, encerrou.

Maria Cecília Rossi, conselheira da BSM Supervisão de Mercados e diretora da Interlink, destacou o aperfeiçoamento contínuo da regulação e do compliance, como ferramentas que trazem segurança e sustentabilidade para o mercado. “O não conhecimento da norma não livra ninguém de cometer erros”, concluiu.

Encerramento 24º Congresso APIMEC 2018
“A APIMEC se compromete com a educação financeira e acompanhamento da nova regulamentação dos analistas (Instrução CVM 598”, declarou Lucy Sousa, presidente da APIMEC-SP.

Ricardo Tadeu Martins, presidente da APIMEC Nacional, disse que os analistas têm muito o que fazer dada a complexidade do cenário atual. Martins fez menção a Lei 13.303/2016 (Lei das Estatais), que representa um dos mais importantes avanços em se tratando de blindagem de empresas públicas e de sociedades de economia mista contra interferências de cunho político-partidário. A comissão especial da Câmara dos Deputados dedicada ao Projeto de Lei (PL) nº 6.621/2016 (Lei Geral das Agências Reguladoras) propôs em 11 de julho de 2018, a revogação de um dos dispositivos mais importantes dessa Lei para assegurar a qualificação e a independência dos administradores de empresas públicas e sociedades de economia mista.

“A proposta possibilita que dirigentes de partidos políticos e participantes de campanhas eleitorais, incluindo seus parentes, sejam indicados a assentos nos Conselhos de Administração e diretorias de empresas estatais”, afirmou. Segundo Ricardo Tadeu Martins, “a APIMEC repudia qualquer tentativa de supressão do que o mercado considera independência e interesse público”.

Martins ofereceu ao final do evento placa em homenagem a Lucy Sousa, presidente da APIMEC SP, pelos trabalhos desenvolvidos para a entidade na autorregulação e educação financeira. Eduardo Werneck, vice-presidente da APIMEC Nacional, também, foi homenageado como reconhecimento pelo trabalho de organização do 24º Congresso APIMEC. Ambos ficaram agradecidos com a homenagem e ressaltaram a importância do esforço coletivo.

Helio Darwich, presidente da APIMEC Rio, apresentou o 25º Congresso APIMEC que comemorará os 50 anos da APIMEC e acontecerá no Rio de Janeiro, em 2020.

O 24º Congresso APIMEC foi patrocinado pelas empresas: Bradesco; BR Properties; BTG Pactual; IRB Brasil RE; Itaú Unibanco; Luz Publicidade; Planner; e Valor Econômico. Mais informações acesse: www.congressoapimec.com.br.


Continua...