O Conselho de Administração de empresas tradicionais, deve produzir diretrizes estratégicas capazes de deslocar seus principais concorrentes, inclusive os nativos digitais, e promover movimentos consistentes de disrupção - não pelas tecnologias adotadas, mas pelo Pensamento Estratégico digitalmente fluente.
Planejamento  Estratégico
O  Pensamento Estratégico arquiteta as diretrizes que guiam as organizações pelos  oceanos turbulentos e imprevisíveis do ambiente de negócios. A formulação do  planejamento estratégico corporativo envolve a análise do posicionamento competitivo,  bem como a estruturação e a implementação da estratégia. A eficácia deste  processo é aferida pela preservação e geração de valor para donos, acionistas e  sociedade. Neste contexto, as tecnologias contemporâneas facilitam a ação de  modelos de negócio inovadores e camuflam-se de Proposta de Valor. No entanto,  Conselheiros e Administradores precisam discernir entre a necessária função das  soluções tecnológicas e os pilares de uma Proposta de Valor capaz de movimentar  o mercado e deslocar incumbentes. Este olhar diligente contribui para a  mitigação dos riscos próprios do planejamento estratégico, em particular quando  empresas tradicionais abordam a pauta da transformação digital.
Evolução  científica e tecnológica
A  ciência renascentista deixou para trás a dogmática Idade Média. Filósofos do  século XII testavam hipóteses a partir da observação de fenômenos variados,  levando às conclusões que nos últimos 800 anos produziram tudo que sabemos.  Chamado Método Científico, este processo promoveu o avanço científico que nos  trouxe aos expoentes modernos da Inteligência Artificial, Realidade Aumentada,  Tecnologia 5G, Gêmeos Digitais, Computação Quântica, entre tantos outros. A  ciência não registra tecnologias que não resultem de longo e sequenciado  desenvolvimento.
Logo, não existe revolução tecnológica, apenas evolução. As soluções posicionadas na fronteira do saber, permitem aplicações impactantes em grande parte da sociedade. Diz-se que são tecnologias disruptivas... serão mesmo?
Disrupção  situacional
Quanto  tudo é disruptivo, nada é disruptivo. Tratemos de um caso concreto, a solução blockchain,  que oferece um mecanismo para armazenagem de dados – simples assim.
Seu funcionamento, com vários subsistemas, confere aos dados armazenados imutabilidade e inviolabilidade – dois atributos de grande valor para determinados setores, como o financeiro. Grandes consórcios de instituições financeiras operam em blockchains que mitigam perdas de milhões de dólares. Neste caso, a Proposta de Valor está na constituição de um ecossistema de negócios livre de fraudes.
Empresas expostas ao vazamento de dados de seus clientes encontram na blockchain uma alternativa para diferenciação e mitigação de riscos reputacionais e financeiros. O varejo omnicanal, marketplaces e os super Apps estão nesta categoria.
Por outro lado, o uso de Blockchain com dados de performance de linhas de produção não parece ter utilidade que compense o esforço pois a armazenagem de dados tradicional, oferecida pelo ERP legado, é suficiente.
Em 2017 a Samsung lançou a Nextledger, sua própria solução blockchain. Em 2022 ocorreu o lançamento da Samsung Blockchain Wallet, que leva a gestão segura de criptomoedas aos dispositivos móveis. Um movimento verdadeiramente disruptivo acontecerá se (quando?) a Samsung lançar seu sistema operacional baseado em blockchain, para concorrer com o Android e o IOS. Imagine a capacidade de deslocar os incumbentes de um sistema operacional para aparelhos celulares que garante 100% de segurança dos dados pessoais de seus usuários? Isto sim é uma Proposta de Valor disruptiva.
Agenda para o Conselho de Administração
O  ciclo virtuoso começa com a definição do cliente-alvo e avança com a  identificação da Proposta de Valor que interessa a ele. Em seguida,  estrutura-se a arquitetura de um modelo de negócios viável, capaz de entregar  esta proposta de valor. Por fim, conectamos um mix de soluções tecnológicas  necessárias para operar o modelo de negócios.
A tecnologia viabiliza uma estratégia de gestão de dados que dá vida ao modelo de negócios que entrega a Proposta de Valor ao cliente-alvo.
Dependendo da empresa, existem várias subgrupos de clientes, internos e externos, atuais e potenciais. O clico virtuoso deve ser realizado para cada subgrupo, alcançando também a identificação de riscos e suas ações mitigadoras, estratégias de implantação e controle, além das métricas de sucesso em todas as etapas.
O  Conselho de Administração assessorado por um Comitê de Transformação Digital  pode produzir diretrizes estratégicas capazes de deslocar seus principais  concorrentes, inclusive os nativos digitais, e promover movimentos consistentes  de disrupção. Não pelas tecnologias adotadas, mas pelo Pensamento Estratégico  digitalmente fluente.
Alexandre Oliveira
é  Conselheiro de Administração com foco em Estratégias e Riscos da Transformação  Digital. Membro da Comissão de Estratégia do IBGC, da Agroven (Smart Money for  AgTechs) e CEO da Cebralog Consultoria. Doutorando em IA nas Decisões  Corporativas (Unicamp), pós-graduado Negócios Digitais (MIT) e em Finanças  (Unicamp). Mestre em Supply Chain (Cranfield University). 
oliveira.a@cebralog.com