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Governança Corporativa

GOVERNANÇA NO SÉCULO XXI: REEXAMINANDO O MODELO GERMÂNICO

Desde seu lançamento, em março desse ano, o livro “Capital in the Twenty-First Century”, do economista francês Thomas Piketty, tem gerado grande discussão na mídia internacional. O livro, publicado originalmente em francês, ao ser traduzido para o inglês se tornou a mais badalada publicação sobre economia dos últimos tempos. Com base em um trabalho empírico admirável, o autor demonstra que o capitalismo tende a gerar desigualdades cada vez maiores na distribuição da riqueza.

O livro de Piketty é a analise mais abrangente sobre o tema da desigualdade até agora. Usando registros fiscais obtidos em diversos países, Piketty criou longas séries temporais que mostram que a taxa de retorno do capital tem sido consistentemente maior do que a taxa de crescimento econômico. Ou seja, os donos do capital têm acumulado riquezas mais rapidamente do que a economia tem crescido como um todo. O resultado é uma desigualdade crescente que, segundo Piketty, mina os princípios meritocráticos tão importantes para o bom funcionamento do capitalismo.

Muitos comentaristas ainda não leram as quase 700 páginas do livro, até porque ele se esgotou rapidamente na Amazon.com. Pode-se dizer que o livro se transformou, da noite para o dia, em um clássico: um livro a respeito do qual todo mundo comenta mas ninguém leu. Para mim, Capital in the Twenty-First Century permanece sendo um “clássico”, mas pude ler inúmeros comentários sobre o livro, outros trabalhos do economista francês, e examinei os dados e tabelas disponibilizados online como um compêndio da edição impressa.

O livro não aborda a governança corporativa diretamente, mas Piketty parece insinuar que parte do problema da desigualdade econômica está arraigado na forma em que as empresas distribuem os excedentes da produção entre suas diferentes partes relacionadas (“stakeholders”). Um gráfico no Capítulo 5 do livro, disponível no compêndio online, mostra que o valor de mercado relativo ao valor contábil para empresas na Inglaterra, Canadá, e Estados Unidos, é bem superior ao de empresas alemãs e japonesas. Nos países anglo-saxões incluídos no gráfico, o valor de mercado das companhias gira em torno do valor contábil. Já na Alemanha e no Japão o valor de mercado fica próximo da metade do valor contábil.

Para alguém que se interessa por Governança Corporativa, o gráfico chama a atenção porque a Alemanha e o Japão são os exemplos típicos de um modelo de governança voltado às partes interessadas, muitas vezes chamado de modelo germânico; enquanto os países anglo-saxões são conhecidos por priorizar o interesse exclusivo do acionista.

No modelo germânico o Conselho de Administração da empresa leva em consideração o interesse não só dos acionistas mas também dos trabalhadores. Uma companhia optando entre cortar o dividendo ou despedir funcionários vai provavelmente cortar o dividendo, se for alemã ou japonesa, e vai despedir funcionários, se for anglo-saxônica. Portanto, não é surpreendente que os acionistas prefiram o modelo que os prioriza, o que ajuda a explicar a grande diferença de preços existentes entre os dois grupos de países. Não obstante, Piketty nunca aprofunda a ideia de que a governança corporativa afeta a acumulação de capital que ele considera problemática.


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