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Ponto de Vista

ADMINISTRAÇÃO X POLÍTICA

A história está cheia de empresas bem-sucedidas como Nestlé, Lufthansa, Microsoft, Harvard, Lojas Renner e tantas outras, mas também desfila incontáveis casos de retumbante fracasso como os da Kodak, Olivetti, Varig, Krupp, Grupo X, Enron, Matarazzo,.... O que diferencia esses dois grupos não é o ramo, tamanho, país, tipo societário, idade, momento histórico ou econômico, crença religiosa ou ideologia política, mas simplesmente, na sua essência, a capacidade e qualidade de sua gestão e sistema de governança.

Assim é, pois a sobrevivência e perenidade de qualquer organização dependem, em última análise, da geração positiva de caixa de sua operação. Dito de outra forma, resume-se num dos pilares milenares de finanças que é a exigência de receitas maiores do que o somatório de custos e despesas. Simples assim! O resto é balela ou ilusionismo.

Para que este cenário positivo ocorra, é preciso que haja objetivos definidos pelos sócios, estratégia traçada e capacidade de implementá-la, integrando operações adequadas, a custos viáveis, fornecedores confiáveis, mercado demandante, pessoas qualificadas e comprometidas, tecnologia atualizada, dinheiro suficiente e de fonte conveniente, controles da realidade e performance da organização, tudo devidamente regado a ingredientes de inovação, capacidade analítica e decisória, com adaptabilidade a um mundo novo e disruptivo. Administração é uma ciência, sistêmica e lógica.

Quando olhamos para a maioria dos países – os da América Latina em geral e o Brasil em particular – e suas máquinas públicas federais, estaduais e municipais, de forma geral enormes, infladas, inócuas e desnecessárias, com suas organizações assessórias de empresas públicas, fundações, autarquias, etc., veremos uma realidade falimentar, déficits crônicos, inviabilidade econômica genética, um verdadeiro caos financeiro, totalmente insustentável. A geração de déficits públicos é uma consequência natural e óbvia de uma absoluta incúria administrativa fruto de histórico desprezo aos mais elementares preceitos de gestão pelo poder público e político. Esses poderes, com exclusivo foco nos seus interesses pessoais e partidários, criam empresas e estruturas desnecessárias, para empregar pessoas inúteis, disponibilizando produtos e serviços dos quais o cidadão não precisa ou que poderia obter de forma mais eficiente, eficaz e barata.

Quando o cidadão ouve políticos e governantes chamarem isso de déficit do tesouro, não se dá conta de que eles o estão chamando por este título carinhoso por pura sacanagem, já que o déficit é dele – cidadão – único ser que trabalha, gera recursos e que paga a conta dos desatinos da máquina pública, através de uma carga tributária que lhe é imposta. E imposta por quem? Ninguém mais do que o poder político, inventor e responsável pelos custos e despesas que o favorece pessoal e partidariamente, sem que o ônus dessa excrescência caia no seu colo. Tentar cobrir déficits através de impostos, é errado e ilusório, próprio de quem não entende nada de administração e dinheiro ou então de quem é irresponsável ou mal-intencionado. É um erro similar a uma empresa privada e deficitária simplesmente pretender tornar-se superavitária pelo aumento do preço de venda do produto imposto ao consumidor, ao invés de fazê-lo através de uma técnica e isenta revisão crítica de seus métodos, processos e estrutura, promovendo correções e enxugamentos internos para reduzir custos e despesas e assim ganhar eficiência, i.e., produzir mais com menos.

Resumindo, nós, cidadãos, precisamos trocar prefeitos despreparados e focados no seu futuro político por capacitados “gerentes” de nossas cidades; trocar governadores preocupados com sua carreira pública, com seus interesses e objetivos de seus partidos por líderes capazes de serem mentores do funcionamento e fortalecimento estadual em benefício de seus habitantes; substituir presidentes inspirados por ideologias anacrônicas e capazes de qualquer ato que os torne mais poderosos e ricos, por mais ilegal ou antiético que seja, por um líder com verdadeiro olhar de longo prazo, focado em ações capazes de satisfazer o único verdadeiro “stakeholder” da nação – o cidadão – nos seus múltiplos papéis de proprietário, cliente, fornecedor, trabalhador, investidor, ou seja, merecendo total respeito e consideração para com todos os princípios e práticas de boa gestão e governança. E o ajuste dos despreparados não se restringe aos poderes executivos, uma vez que todos os legislativos, bem como toda a estrutura e funcionamento do judiciário, apresentam o mesmo quadro trágico quando vistos sob o prisma do acionista, consumidor e pagador, i.e., nós, brasileiros.

Todo ocupante de cargo público, além de sério, íntegro e ético, deveria ser obrigado a ter uma formação em planejamento, orçamento, gestão, processo analítico – decisório, finanças, mercado e pessoas, além de instruído quanto aos princípios internacionais de boa governança corporativa, tendo em vista que o país é uma “organização” que pertence a uma “sociedade”, e a ninguém mais. Por isso, a primeira e grande reforma de que o Brasil precisa é política e de mentalidade, para que possamos ser geridos, legislados e judiciados por quem entende fundamentos de gestão e regras de governança.

Só assim, deixaremos de ter estádios superdimensionados, obras inúteis e superfaturadas, ideias mirabolantes, empresas e estruturas desnecessárias, foros privilegiados e estabilidades vitalícias incompatíveis com o mundo real, gerando contas que não fecham, salvo com crescente participação pecuniária do único otário de plantão: nós, o cidadão deste país.


Telmo Schoeler
é fundador e presidente da Orchestra Soluções Empresariais.
tschoeler@orchestrasoluções.com.br 


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