Opinião

A BOLSA É BELA...

Quando, em outubro de 2002, o comitê executivo do Plano Diretor do Mercado de Capitais - depois de ter recebido na Bovespa os candidatos a presidência - convidou a equipe econômica do PT para uma apresentação na FIESP de seu documento de apoio as reivindicações contidas no Plano, o índice Bovespa havia atingido, em 16/10/2002, o seu nível mais baixo - 8.300 pontos - desde o final de seu ciclo de alta, iniciado em 1991 e encerrado em 1997.

O número de empresas listadas em bolsa, o valor de mercado em relação ao PIB, e menos de 100.000 investidores individuais registrados na Bovespa, também indicavam a fraqueza do mercado de capitais as vésperas do segundo turno das eleições daquele ano.

A apresentação feita pelo futuro ministro da Fazenda, Antônio Palocci, surpreendeu a todos, e eu diria que foi relevante para a eleição de Lula. Ao terminar comentei com um amigo, ex-presidente da Bolsa do Rio, que estávamos presenciando um novo ciclo de alta do mercado, que em diversos artigos que publiquei posteriormente denominei de “Ciclo Lula”.

De fato em maio de 2008, pouco depois do Brasil receber o “grau de investimento” pelas agências de risco, o índice Bovespa atingiu 73.500 pontos, tínhamos encerrado o ano de 2007 com o maior numero de IPOs, o mercado de capitais havia captado para as empresas mais do que o volume de empréstimos concedidos pelo BNDES, e o número de investidores individuais tinha atingido a marca de 600 mil nos registros da Bolsa.

Em novembro de 2008, presenciamos o desastre do Lehman Brothers nos Estados Unidos e a derrubada das bolsas em todo o mundo. O Ibovespa caiu cerca de 60%, atingindo pouco mais de 29.000 pontos.

O governo brasileiro adotou uma série de medidas desastrosas para nossa economia criando um fluxo de recursos do Tesouro Nacional para o BNDES, um verdadeiro "tesouroduto", que injetou mais de R$ 450 bilhões para financiar a globalização das empresas nacionais.

Somente a partir do impeachment da presidente Dilma o novo governo buscou corrigir os erros da política que vigorou de fins de 2008 à 2016.

A atuação exemplar da Operação Lava-Jato que, pela primeira vez na história do Brasil, levou a cadeia grande número de políticos e empresários restabeleceu na sociedade brasileira a esperança da justiça para todos finalmente acatando o que padre Antônio Vieira pregava em seus sermões no inicio do século XVII.

Temos a possibilidade de avançar para corrigirmos os grilhões que aprisionaram nossa sociedade desde os tempos coloniais: "o Furor Arrecadatório, o Delírio Regulatório e a Impunidade".

A sinalização da quebra da impunidade é positiva para avançarmos com uma pauta de reformas que reduza a voracidade do Estado brasileiro, num verdadeiro seqüestro da poupança privada, quer pela tributação excessiva imposta a sociedade ou aumento da dívida financiada por seus títulos emitidos a taxas que não estimulavam a alocação da poupança nas atividades produtivas, verdadeiramente as geradoras da riqueza nacional e dos empregos na economia.

As bolsas nas economias desenvolvidas são indicadores antecedentes da recuperação econômica pois refletem as expectativas favoráveis da população com a possibilidade do aumento de empregos e de investimentos.

Desde o inicio do ano temos observado o aumento mensal do número de investidores individuais na B3 - que saíram de pouco mais de 600.000, no final do ano para 1 milhão no ultimo mês.

Também o índice Bovespa que já vinha em recuperação, desde o inicio de 2016, apresentou uma alta de cerca de 10% logo após a eleição do presidente Bolsonaro atingindo a marca dos 100.000 pontos.

O número de investidores individuais apesar do significativo crescimento recente que atingiu 0,5% da população brasileira é muito baixo quando comparado com cerca de 10% dos países desenvolvidos.

A continuidade dos números positivos, apresentados pelo mercado, depende do cumprimento das promessas feitas desde que o novo governo assumiu. Entretanto não há cenário econômico positivo se não houver um cenário político estável.

A Bolsa é bela... mas também pode ficar muito feia. 

THOMÁS TOSTA DE SÁ
é presidente do CODEMEC - Comitê para o Desenvolvimento do Mercado de Capitais, e ex-presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
thomas@codemec.org.br


Continua...