O brasileiro trabalha cerca de um mês por ano apenas para pagar a  conta da corrupção. O desvio de dinheiro público consome 8% de tudo que é  arrecadado em nosso país. São números assustadores que explicam em grande parte  as razões de nossa incapacidade de reação ao subdesenvolvimento que assola a  nação há tanto tempo. Se o Brasil deseja sair desta espiral de atraso é  fundamental que o combate à corrupção e o respeito às leis se tornem regra e  deixem de ser apenas uma utopia ilusória. 
 
Durante esta pandemia pudemos enxergar como é importante termos um  sistema de saúde confiável e eficiente. Somente em 2020, a corrupção atingiu R$  1,48 bilhão dos recursos destinados ao combate à COVID-19. Entretanto, isto não  é privilégio destes tempos estranhos. Máfia dos sanguessugas, dos vampiros,  operação fatura exposta, os exemplos são inúmeros e vem de muito tempo,  circulando por vários estados. Com tantos recursos desviados, devemos nos  perguntar quantas vidas poderiam ter sido salvas, quantos importantes  tratamentos custeados, quantas crianças vacinadas, enquanto a corrupção drenava  os recursos de sua real e mais importante finalidade. 
 
Na educação não é diferente. As áreas de saúde e educação foram  alvo de quase 70% dos esquemas de corrupção e fraude no uso de verba federal  pelos municípios no período dos governos petistas, alvo de 247 operações  policiais. No período houve fraude no uso de verbas em pelo menos 729  municípios ou 13% do total de cidades do País. O prejuízo causado pela  corrupção no período foi estimado em R$ 4 bilhões. No governo Bolsonaro, com  menor fiscalização, o controle frouxo abriu caminho para novas irregularidades,  como já investigado pelo Congresso Nacional.
 
A corrupção também distorce as prioridades do governo. Por  exemplo, entre os países de baixa renda, a parcela do orçamento destinada à  educação e à saúde é um terço menor nos países mais corruptos. Ela também afeta  a eficácia dos gastos sociais. Em países mais corruptos, os estudantes em idade  escolar tiram notas piores nas provas. Esta é uma triste realidade que assola  nosso país. 
 
No índice da Transparência Internacional, o Brasil ficou abaixo da  média da América Latina e mundial e distante da média dos países do G20 e da  OCDE no tocante ao combate à corrupção. Seguimos atrás de países como Colômbia,  Turquia e China, por exemplo. Segundo avaliação do órgão, no governo Bolsonaro,  o país passa por um processo extremamente preocupante de desmanche de sua  capacidade institucional para o enfrentamento da corrupção. A extinção da Lava  Jato é um destes elementos.
 
O caminho para colocar o Brasil nos trilhos é simples, mas exige  perseverança. Precisamos investir em níveis elevados de transparência e exame  externo independente, reformar instituições, profissionalizar o serviço  público, acompanhar o ritmo dos novos desafios à medida que a tecnologia e as  oportunidades de delitos evoluem e aumentar a cooperação.
 
Reduzir a corrupção é um desafio que exige perseverança em muitas  frentes, mas produz enormes dividendos. Começa com vontade política, o  fortalecimento constante das instituições para promover a integridade e a  responsabilidade, e a cooperação mundial. O combate à corrupção é instrumento  essencial para mudarmos a face do Brasil. O mais importante passo na direção de  um país mais justo para todos.
Márcio Coimbra 
é presidente da Fundação da Liberdade  Econômica e coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e  Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília. Cientista  Político, mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos (2007).  Ex-diretor da Apex-Brasil e do Senado Federal.
imprensa_fle@viveiros.com.br