Educação Financeira

O VALOR SUBSTANTIVO DO TRABALHO

Uma velha história conta que em uma comunidade rural um agricultor acordava sempre às cinco horas da manhã para tirar leite das vacas da propriedade. Ele levava uma vida difícil, o resultado financeiro do trabalho dava apenas para sustentar a família, de forma simples.

Certo dia, um senhor apareceu na casa dele e perguntou quanto custava o litro de leite. “Um real”, respondeu. “Eu lhe pago um Real e cinquenta centavos”. Posso voltar aqui todo dia pessoalmente para pegar o leite e já lhe entrego o dinheiro”, retrucou o comprador.

Surpreso, o agricultor fechou negócio com o estranho. No dia seguinte, o comprador cumpriu o prometido: pegou o leite e fez o pagamento. Em seguida, derramou tudo em um córrego à frente. Quando o agricultor perguntou por que ele tinha feito aquilo, o comprador respondeu: “como eu lhe paguei pelo leite, posso fazer o que quiser com ele. Volto amanhã para comprar mais”. Segundo a história, o agricultor, mesmo precisando muito do dinheiro, nunca mais vendeu leite àquele homem.

O prazer do trabalho bem feito
A breve história permite refletir sobre o valor do trabalho na nossa vida. O trabalho de ordenhar as vacas não é nada fácil. É necessário cuidar dos animais diariamente, dos pastos que os alimentam, da limpeza dos estábulos e da própria ordenha, que precisa ser feita nas primeiras horas do dia.

Se o produtor de leite fizesse o trabalho somente pensando no dinheiro, certamente aceitaria vender pelo melhor preço. Mas provavelmente sua vida perderia uma parte importante do significado, que é sentir que a nossa vida é útil para o outro, para a humanidade e significado é um dos componentes da felicidade. O que pensa alguém que trabalha todo dia e vê o fruto do esforço ser jogado fora?

Muitas vezes, quando tomamos um copo de leite, comemos queijo, pão com manteiga ou chocolate, nem imaginamos quantas pessoas trabalharam na fabricação de tais produtos. Mas certamente aqueles que produzem leite se orgulham ao ver o resultado de seu trabalho servindo de alimento.

Tanto quanto o agricultor da história, precisamos ver a utilidade do nosso trabalho – o que é difícil de perceber na sociedade industrial e, particularmente, na sociedade da informação. Quem não acredita que o próprio esforço também traz benefícios à sociedade, além de dinheiro, tem mais dificuldade em manter a alegria e a vitalidade.

Diferentes atitudes
Você, leitor, já refletiu sobre o valor do seu trabalho? Orgulha-se do destino do “leite” que você produz? Ele está servindo para fazer chocolate ou é diariamente desperdiçado, como o leite derramado no córrego?

Quando não se consegue ver a razão para o trabalho e algo não vai bem, o corpo dá sinais. Um exemplo é o desânimo que toma conta de muita gente quando o fim de semana vai chegando ao fim. Ficar deprimido só de ouvir a vinheta do Fantástico é um indicio de que as coisas não estão bem no campo profissional.

Se é o seu caso, reflita sobre o sentido do seu trabalho, para que ele serve. Outra história conta que uma vez perguntaram a dois homens o que eles faziam. Um deles respondeu: “eu corto estas enormes pedras e vou colocando umas sobre as outras”. Já o outro disse: “eu estou fazendo a maior e mais bela catedral do mundo!”. Ambos executavam exatamente a mesma função, mas com posturas completamente diferentes.

O sentido maior
Um bom conselho para aqueles que estão desanimados é tentar enxergar o objetivo final do próprio trabalho. Se você é funcionário de um banco e não vê sentido nas tarefas que realiza, que tal encontrar, lá na ponta final, um produtor de leite que só conseguiu comprar uma ordenhadeira mecânica graças a um financiamento? Pode ser que você também seja responsável pelo copo de leite que alimenta uma criança. Quem sabe você descubra que não está apenas empilhando pedras, mas construindo belas catedrais.

Mas se você pensar bastante e ainda assim não encontrar sentido para seu trabalho, é hora de analisar seriamente a possibilidade de buscar outra ocupação. Mesmo que precise perder um pouco de dinheiro, como ocorreu com o produtor de leite da história, não aceite trabalhar em algo em que você não vê sentido.

Se você não encontra significado no seu trabalho, mas, acredita que não tem condições de abandoná-lo, deve tentar empregar parte do seu tempo para algo que preencha esta lacuna. Certamente próximo de você existem pessoas e organizações que precisam muito do seu trabalho voluntário. Em troca você pode receber elevadas doses de significado, que seu trabalho remunerado não está lhe provendo.

Independente da idade, tanto para profissionais recém-formados como para quem está se preparando para a aposentadoria, o importante é acreditar que estamos trabalhando todos os dias para construir um mundo melhor.  

Jurandir Sell Macedo
é doutor em Finanças Comportamentais, com pós-doutorado em Psicologia Cognitiva pela Université Libre de Bruxelles (ULB) e professor de Finanças Pessoais da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
jurandir@edufinanceira.org.br


Continua...