Ponto de Vista

EESG: O NOVO ESG

Quando John Elkington cunhou o termo “Triple Botton Line”, no seu clássico livro “Canibais com Garfo e Faca”, em 1994, trouxe para os profissionais de sustentabilidade uma referência clara do trabalho a fazer. Vejam: “Triple Bottom Line” é a expansão do modelo de negócios tradicional, que só considerava fatores econômicos na avaliação de uma empresa, para um novo modelo, que passa a considerar a performance Ambiental e Social da companhia, além da financeira”.

E nisso viemos trabalhando desde então (e mesmo antes, mas sem um termo que definisse o movimento). Os tais fatores a que ele se refere, que deviam e devem ser incorporados ao mainstream econômico, são as letras ESG (Environmental, Social e Governance) ou, em português, ASG (Ambiental, Social e Governança). Essas três letrinhas nunca foram tão famosas como neste início de ano. Na verdade, já em agosto de 2019 elas ganharam mais
holofote.

Foi quando os quase 200 CEOs que integram a “Business Roundtable”, associação americana sem fins lucrativos criada em 1972, fizeram um posicionamento público anunciando uma mudança radical de direção. Rompendo com a política mantida há mais de 20 anos, que privilegiava a maximização do lucro dos acionistas acima de tudo, informaram que o propósito de suas empresas será ampliado, favorecendo também seus funcionários, clientes e as comunidades em que atuam.

Aí chegou 2020 com a carta anual do CEO da BlackRock, Larry Fink, dizendo que esta, que é a maior gestora de recursos do globo, com US$ 7 trilhões de ativos sob gestão, colocou a sustentabilidade como centro da sua política de investimentos. Quem não sabia o que era ESG saiu correndo para entender. E, então, veio Davos, pregando o chamado “capitalismo de stakeholder”, termo mais falado nos corredores do Fórum Econômico Mundial.

Não era para menos. Após ir ganhando, ano a ano, mais posições no ranking de principais riscos apontados pelo fórum no “Global Risks Report”, o E do ESG (fatores ambientais), representou nada menos do que os cinco primeiros riscos em termos de probabilidade de acontecer e três dos cinco em termos de impacto.

E aí não teve concorrência. ESG se tornou termo falado em verso e prosa, em matérias de jornal, programas de rádio, academia, escolas. Que bom! Mas, para realmente transformarmos nosso jeito de fazer negócios, produzir, investir, consumir e nos comportar, precisamos começar a falar de EESG - Economic, Environmental, Social e Governance. Precisamos trazer o “E” do econômico para dentro, junto, incorporado aos fatores ESG. Ou vice-versa, não importa. Assim, deixaremos de correr talvez o pior risco para quem trabalha com sustentabilidade, que é ser visto como alguém de um mundo paralelo. Algo como ouvir “enquanto ganhamos dinheiro aqui (o ‘E’ do economic), vocês cuidam dessas questões aí (a agenda ESG)”.

Trabalho há 33 anos com comunicação. Acredito na força e influência das palavras e termos para definir movimentos e tendências. Quando um(a) CEO ou um(a) chairman/chairwoman começarem a usar a expressão EESG em vez de ESG, muitas mensagens estarão sendo dadas ao mesmo tempo.

Algumas: de que não há como separar o mundo; de que uma coisa sempre interfere na outra; de que questões ambientais, sociais e de governança impactam para o bem e para o mal o resultado financeiro; de que os investimentos financeiros e planejamento estratégico devem levar em conta esta agenda em sua definição. E por aí vai.

Há 15 anos, que foi quando comecei a atuar com sustentabilidade, ou quando “Canibais com Garfo e Faca” foi publicado, não tinha como ser diferente. Tínhamos que ganhar espaço e explicar que existia um mundo além do financeiro, o mundo ESG. Mas já passamos dessa fase. Inúmeros eventos mostraram que olhar o business só pela ótica econômica é uma miopia que coloca a sobrevivência da empresa em cheque. Chegamos, enfim, à fase do EESG. Agora, é acelerar o “como” implantar toda essa agenda interligada. Até porque, mais do que nunca, estamos entendendo o quão somos interligados (Coronavírus que nos diga, mas isso é tema para um outro artigo...).

Entendo que assumir a agenda da sustentabilidade ocorre em uma empresa por três caminhos: amor (quando a alta liderança entende e acredita nela), dor (quando há perda financeira, de valor de mercado, reputação ou imagem por não se ter dado atenção a ela) ou pela inteligência (quando o executivo tem a visão e entende que este é um movimento inexorável e é para lá que o mundo vai).

Torço e trabalho para que os caminhos que trilhemos nessa jornada por um mundo de fato sustentavelmente interligado, o mundo do EESG, sejam sempre o do amor e da inteligência.

Nota: artigo publicado originalmente no jornal Valor Econômico em 14 de abril de 2020.

Sonia Favaretto
é presidente do conselho consultivo da GRI Brasil, vice-presidente do conselho consultivo do CDP e pioneira dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, SDG Pioneer, pelo Pacto Global da ONU.
soniafavaretto@hotmail.com


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