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RESILIÊNCIA EM TEMPOS DE COVID-19: LIÇÕES DA OCDE E WEF

“Aos 99 anos, Ermando Piveta recebeu alta médica, após oito dias internado no Hospital das Forças Armadas (HFA) em virtude das complicações causadas pelo novo coronavirus e é um dos pacientes mais velhos que foram curados da doença no Brasil” - jornal Estadão, 14 de abril de 2020.

A história já seria impressionante apenas com a informação sobre a idade de Ermando, mas fica ainda melhor quando descobrimos que se trata de um ex-combatente brasileiro durante a Segunda Guerra Mundial.A virtude que pode ser adequada para descrever o ex-combatente nesta história é a Resiliência. A nível individual, a resiliência pode ser entendida por meio da habilidade de sobreviver à grandes males, se adaptando e superando-os. Este conceito pode ser entendido também à um nível coletivo, quando empresas, cidades, estados ou países se mostram mais hábeis ao lidar com crises.

Apesar da ocorrência de diversas crises no período posterior aos anos 70, foi após a Grande Recessão pós-2008 que a resiliência se tornou foco para lidar com problemas financeiros internacionais. Por exemplo, na edição de 2013 do Relatório de Riscos Globais do Fórum Econômico Mundial, a resiliência foi definida como a capacidade de "voltar mais rápido após o estresse, suportar maiores estresses e ser menos perturbada por uma determinada quantidade de estresse".

O questionamento relevante neste momento de pandemia é, quais características comuns foram observadas a entes que mostraram resiliência na saída de crises passadas. Para compreender que medidas geralmente estão associadas a este fator, e o que esperar de futuras reformas na sociedade brasileira, este trabalho buscou reunir algumas recomendações da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e do Fórum Econômico Mundial.

De acordo com OCDE (2018), a resiliência de uma cidade pode ser analisada em 4 diferentes áreas, Econômica, Social, Institucional e Ambiental. A figura 1, abaixo, demonstra algumas das características que são entendidas dentro de cada uma destas áreas.

Figura 1: Resilience Framework - OECD

Resilience Framework - OECD

Fonte: OCDE (2016) apud Siqueira et al (2018).

A análise destas características e de como aprimorá-las mesmo em momentos de crise, torna-se fundamental para cidades ou países que busquem restaurar-se com maior velocidade. A publicação OCDE (2016), apresenta discussões sobre os impactos causados por crises econômicas dos últimos 50 anos, e traz insights sobre como os governos podem lidar para reduzir sua existência e seus prejuízos. Algumas das conclusões apresentadas no estudo são:

  1. Países que possuem instituições de maior qualidade, como estabilidade política, transparência e menos corrupção, são também aqueles que apresentam menores riscos de ocorrências de crises e maior facilidade para retomada. O resultado corrobora ainda com teorias econômicas de relevância no debate atual, como em Acemoglu et al (2003), que analisa as causas institucionais de crises macroeconômicas e de maior volatilidade em determinados países. 
  2. Políticas voltadas para produtividade e de emprego, com exceções, não apresentam resultados significativos na redução do risco de ocorrência de crises financeiras e quedas no PIB. Apesar de estarem, eventualmente, relacionadas ao maior crescimento econômico.

Mas essas não são as únicas análises que podem ser apresentadas sobre o assunto, em 2017, a OCDE apresentou o estudo “Resilience in a time of high debt”, o estudo apresenta evidências que apontam para o aumento dos riscos econômicos em momentos de alto endividamento. Isso se aplica tanto para endividamento de famílias, como corporativos ou públicos acarretam vulnerabilidades na economia. Este resultado aponta para a necessidade de um plano de reforma na economia brasileira após a recuperação econômica, capaz de lidar com o alto nível de endividamento que ocorrerá após a pandemia.

Como os líderes devem agir, segundo o Fórum Econômico Mundial
A tempestade sobrecarrega vários sistemas, segundo W. Lee Howell, managing director, do Fórum Econômico Mundial. Assim, devemos aceitar dois axiomas fundamentais: “Primeiro, riscos globais como pandemias são expressos em nível nacional e local. Segundo, nenhum país sozinho pode impedir tais ocorrências ou mitigar seu impacto.” Vamos colidir de maneira imprevisível com relação “a creches, sistema educacional, emprego e transportes”.

Continua Howell (2020), para o enfrentamento de crises temos que observar a capacidade de resiliência de uma Nação e seus fundamentos. Os líderes passam a ter que se reorganizar dentro de um pensamento sistêmico e se preparar para o futuro, contando com um processo de várias camadas para determinar riscos. Riscos Globais como Pandemias exigem um esforço a mais nessa construção. A ação é local e observando características específicas de demografia, clima, precariedades socioeconômicas etc. Diferentes Países, Estados e Municípios devem sobre um determinado eixo comum de coordenação definir suas medidas de isolamento horizontal, isolamento vertical, distanciamento social e contenções, resguardados por protocolos para aglomerações, distanciamento e proximidade, com o uso de máscaras e produtos de higiene pessoal. Ao mesmo tempo, ter a leitura do alcance das medidas em suas áreas de influência e dialogar sobre formas de restrição que atendam ao sistema.

A coordenação de macrorregiões e seu alcance e influência irão refletir na recuperação sanitária e econômica. A autonomia e independência, observados regramentos constitucionais, leis e decretos precisam estar alinhados, não há possibilidade de soluções stand-alone e sim integradas. Os desafios são grandes e dependem de grandes líderes.

O relatório especial (WEF, 2013) preconiza a necessidade do uso de indicadores qualitativos e quantitativos, dar agilidade e revela fragilidades que não eram aparentes por métodos mais tradicionais de avaliação de riscos.A lição mais importante é evitar examinar esses riscos isoladamente. Em vez disso, os líderes devem adotar a mentalidade do pensamento sistêmico. “O Pensamento sistêmico é a base para se avaliar a resiliência” (WEF, 2020): robustez, redundância, recursos, resposta e recuperação de um sistema - e de um país.

Figura 2: Setor privado, setor público e sociedade civil

Setor privado, setor público e sociedade civil

O resumo de Howell (2020) e WEF (2013;2020), devemos aumentar a confiança do público. Governos precisam agir em consonância com o Setor Privado, de maneira eficaz, eficiente e efetiva, para proteger vidas e garantir a subsistência. A Resiliência está sendo testada com a “solidariedade, a compaixão e a colaboração”. (Howell, 2020)

Definições
Fonte: Global Risks, 2013 - World Economic Forum

  1. Robustez significa projetar salvaguardas contra falhas e firewalls nas redes críticas de uma nação e tornar modulares as cadeias de comando para tomada de decisões para responder às novas circunstâncias.
  2. Redundância envolve ter excesso de capacidade e sistemas de backup, para que a funcionalidade principal da infraestrutura e instituições críticas possa ser mantida durante distúrbios.
  3. Recursos é a capacidade de se adaptar de maneira flexível às crises, para que indústrias e comunidades possam criar confiança e descobrir soluções para resolver desafios imprevistos.
  4. Resposta refere-se à capacidade de mobilizar-se rapidamente diante de crises, equipada com métodos sólidos para coletar informações relevantes de todas as partes da sociedade e comunicá-las a outras pessoas.
  5. Recuperação é a capacidade de recuperar um certo grau de normalidade após uma crise ou evento.

Nota: Este artigo expressa a opinião dos autores.

Célio Fernando B. Melo
é economista, presidente Apimec-Nordeste.
celio.melo@bfa.com.br

Guilherme Paiva
é economista, mestre em Economia (UNB).
guilherme.paiva@bfa.com.br


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