Orquestra Societária

A EVOLUÇÃO DA TECNOLOGIA GERARÁ BENEFÍCIOS À SOCIEDADE E AO MEIO AMBIENTE?

O artigo anterior, publicado nesta prestigiada revista, dedicou-se ao tema Environmental, Social and Governance – ESG: Modismo, Sobrevivência ou Conscientização? Ao final deste artigo, perguntamos aos nossos leitores se estes concordam que a evolução da tecnologia gerará resultados positivos às empresas, que poderão adotar processos mais conscientes em relação à preservação do meio ambiente e à sociedade, resultando em um ciclo virtuoso para os seres humanos.

Na verdade, recebemos poucas contribuições e entendemos que isso não se deu em função da relevância do tema e, sim, devido ao tempo escasso para os leitores se dedicarem à elaboração de suas opiniões. Especialmente em um contexto agravado pela pandemia COVID-19, em que todos os esforços estão canalizados às soluções para a crise, sendo que alguns de nossos principais leitores e fervorosos contribuintes e críticos, neste momento, estão com problemas de saúde.

Compartilhamos, mesmo assim, as contribuições recebidas, que afirmaram, com muita convicção, que a evolução da tecnologia já gerou benefícios, e continuará gerando, à sociedade e ao meio ambiente. Alguns leitores enfatizaram os pontos que elencamos no artigo anterior e outros acrescentaram novos insigths.

Transcrevemos os benefícios do artigo anterior:

  • otimização dos processos, gerando condições favoráveis para produzir produtos e serviços com maior qualidade, agilidade e menor custo, o que impactou positivamente toda a cadeia de valor, inclusive a sociedade;
  • simplificação da gestão corporativa, com disponibilidade das informações estratégicas de forma automatizada e em tempo real para tomada de decisões mais eficientes;
  • redução do retrabalho, com a substituição de processos rígidos e ineficientes, pela automatização das atividades manuais, possibilitando o monitoramento e acompanhamento contínuo de cada atividade do negócio;
  • transformação (jornada) digital, com um cenário de maior autonomia, produtividade e inteligência na gestão de processos, transformando as relações com os consumidores, que prontamente aderiram às novas tecnologias de consumo; e
  • benefícios significativos alcançados pela área de saúde, através de diagnósticos mais precisos, aprimoramento do atendimento, gestão mais eficiente, integração das informações, exatidão nas técnicas cirúrgicas, foco na prevenção e redução de erros.

E destacamos as contribuições dos leitores, que foram:

  • comunicação em real time, através de ferramentas que revolucionaram seus processos – soluções interativas através de vídeos para treinamento, disponibilização de material técnico, comunicados, reuniões com a participação de profissionais do mundo inteiro e também de clientes, no mesmo momento. Isso facilitou e continua facilitando muito o alinhamento dos objetivos e estratégias das organizações, entre os conselhos de administração, diretoria executiva e profissionais responsáveis pela materialização dos mesmos em resultados sustentáveis;
  • mobilidade, permitindo a adoção do home office e, com isso,a redução de custos (não discorremos aqui sobre os fatores negativos aos profissionais e respectivas famílias), divulgação das atualizações de métodos e estratégias de vendas a todos os envolvidos no mesmo momento, independentemente de onde estejam localizados, com a disponibilidade de informações em cloud computing. E com isso extinguindo a necessidade de deslocamento dos profissionais para terem acesso às atualizações e material técnico; desta forma, otimizando seu tempo;
  • criação de modelos de negócios mais flexíveis, ágeis, o que facilitou a captura das opiniões, críticas e demandas não atendidas de clientes, incorporação de novas metodologias de produção e respostas eficientes às solicitações dos mesmos, em tempo reduzido, com o objetivo de fidelização, satisfação e, por consequência, aumento do net promoter score; e,
  • ferramentas, adotadas pelas empresas e sociedade, que possibilitaram a geração desses benefícios, data & analytics, cloud computing, inteligência artificial, robotic process automation, softwares mais sofisticados de comunicação e impressão 3D entre outras.

Ainda que tenham sido poucas contribuições recebidas, estas foram abrangentes e reforçaram os benefícios possibilitados pela evolução tecnológica.

De acordo com o que foi afirmado em nosso artigo anterior, somado às contribuições dos leitores, sobre os benefícios e os resultados para a sociedade e meio ambiente trazidos pela evolução tecnológica, podemos afirmar que a resposta à pergunta desse artigo parece ser sim.

A evolução tecnológica e seus benefícios são debatidos na academia e no mundo corporativo e sua importância pode ser observada através do crescimento significativo das empresas de desenvolvimento de novas tecnologias, das consultorias, que analisam a viabilidade e os resultados da implantação dessas soluções em seus clientes – inclusive, estão criando soluções próprias, através de seus centros de excelência de desenvolvimento de tecnologias, com parcerias com IBM, Microsoft e Google (citando apenas alguns players estratégicos).

A relevância do tema pode ser observada também através dos investimentos públicos e privados. Como exemplo, citamos, a criação de cidades inteligentes – smart cities que são mais criativas e utilizam estrategicamente a tecnologia, visando a melhoria da infraestrutura, otimização da mobilidade urbana, implantação de soluções sustentáveis, que geram mais qualidade de vida a seus moradores.

É impensável viver sem celular, internet, smart TV, Google, WhatsApp; isso, sem contar outras soluções, que estão difundidas no mundo inteiro.

Desde 2010, identifica-se a geração alfa, 100% digital, que não imagina o mundo analógico. Tal geração tem o conhecimento internalizado pelo acesso a múltiplas tecnologias desde o nascimento e tratam as soluções de modo muito intuitivo. Ajudam, inclusive, as gerações anteriores a solucionarem problemas e dúvidas sobre o uso das soluções disponíveis, sem que estes possam sequer acompanhar como essa geração soluciona problemas e equaciona as dúvidas, devido à velocidade com que executam suas tarefas. Acreditamos que vocês já tiveram essa experiência em casa.

É muito comum os pais afirmarem que seus filhos são muito inteligentes e já nascem sabendo tudo, pois rapidamente absorvem o conhecimento sobre as ferramentas tecnológicas disponíveis.

Até aqui destacamos somente os aspectos positivos.

No entanto, segmentos clássicos industriais e de prestação de serviços ainda não aproveitaram todo o potencial e benefícios oferecidos pelas ferramentas tecnológicas citadas, para adotarem processos mais avançados em relação àqueles que empregam atualmente.

Além disso, impactos negativos podem ser gerados pelo uso intenso dessas ferramentas nas pessoas, sociedade, meio ambiente e economia. Os quais não foram diagnosticados em sua totalidade, devido ao tempo de uso das mesmas não ser suficiente para que as pesquisas sejam conclusivas.

O que é de domínio público sobre os impactos negativos das tecnologias do mundo contemporâneo? Segue abaixo uma pequena relação, não exaustiva:

1. acesso restrito às camadas mais favorecidas da população, agravando a disparidade entre as classes sociais;

2. substituição da mão-de-obra, muitas vezes especializada, por inteligência artificial, robotic process automation, que traduz o conflito entre a importância do homem e da mulher e das máquinas;

3. poluição do ar, água, geração de calor e poluição sonora, devido aos seus processos produtivos;

4. utilização de recursos não renováveis;

5. descarte inadequado e excessivo de materiais, causando problemas irreversíveis ao meio ambiente, por não serem biodegradáveis;

6. seu uso intensivo causa dependência, depressão, alienação e redução da atenção desde crianças até adultos;

7. além dos danos psicológicos, há danos físicos à saúde da população;

8. adiamento do desenvolvimento de soluções que impeçam os impactos negativos, como a economia circular, fundamental ao tratamento dos resíduos, através da redução, reutilização, recuperação e reciclagem de materiais e energia; e,

9. ausência de definição, implantação e monitoramento de penalidades eficazes pelo governo aos setores públicos e privados, responsáveis por estes impactos negativos.

A partir das informações compartilhadas acima, voltamos à pergunta inicial deste artigo: a evolução da tecnologia gerará benefícios à sociedade e ao meio ambiente?

Desta feita, a resposta parece ser não, já que as novas tecnologias provocam um intenso impacto negativo à sociedade e ao meio ambiente, ainda que agreguem resultados positivos.

Sim e Não: duas respostas coexistentes. Sendo assim, o que é necessário para mudar o jogo e intensificar os benefícios para todos, reduzindo-se substancialmente os efeitos nefastos das tecnologias contemporâneas existentes e daquelas que ainda estão por vir?

A resposta que nos parece fazer mais sentido é: conscientização e implantação de processos produtivos e prestação de serviços que analisem tanto os benefícios, quanto os riscos e impactos negativos. A conscientização é um bom ponto de partida para que as novas soluções sejam muito mais positivas do que negativas.

Como transformar e conscientizar os governos e a sociedade?

Uma forte possibilidade é a da educação ambiental desde a infância, reforçada por pesquisas que demonstrem não só os benefícios, mas também os impactos negativos das variadas tecnologias sobre o meio ambiente e os seres humanos, incentivando-se, desta forma, o crescimento de uma sociedade comprometida com a vida, a saúde e a responsabilidade social.

Entretanto – e conforme argumentam alguns de nossos leitores –, o caminho para a conscientização pode ser mais complexo do que parece e, neste sentido, elaborar e buscar responder a boas perguntas pode ser produtivo, tais como (não exaustivas):

1. Quais são os países mais sustentáveis do mundo e o que eles fazem na prática?

2. Como esses países levam suas organizações à adoção de Modelos de Gestão Sustentáveis (MGS´s), os quais são o cerne das organizações sustentáveis – as Orquestras Societárias?

3. Como a legislação e a regulamentação dos países mais sustentáveis podem contribuir para a conscientização pretendida?

4. Como o enforcement – o cumprimento das regras estabelecidas – dá sua contribuição?

5. Os órgãos governamentais fiscalizam as práticas ambientais com rigor?

6. Quais soluções os cidadãos visualizam para ampliação da consciência de todos?

7. Como equilibrar o trabalho humano e a utilização de tecnologias inteligentes?

Finalizamos, como temos frequentemente procurado fazer, convidando os leitores a participar das nossas reflexões, formulando novas perguntas que enriqueçam a lista acima. Teremos satisfação em receber suas contribuições. 


Cida Hess

é economista e contadora, especialista em finanças e estratégia, mestre em contábeis pela PUC SP, doutoranda pela UNIP/SP em Engenharia de Produção - e tem atuado como executiva e consultora de organizações.
cidahessparanhos@gmail.com

Mônica Brandão
é engenheira, especialista em finanças e estratégia, mestre em administração pela PUC Minas e tem atuado como executiva e conselheira de organizações e como professora.
mbran2015@gmail.com


Continua...