Orquestra Societária

ENTREVISTA: BIAGIO F. GIANNETTI

Desafios de um mundo sustentável: da ciência à realidade corporativa
A vida organiza-se e adapta-se de acordo com os recursos naturais disponíveis e depende de condições físicas e químicas favoráveis. Há décadas a ciência publica estudos sobre a necessidade de alternativas sustentáveis para o Planeta, cujos recursos não renováveis estão ameaçados. As produções agrícolas e industriais surgiram de uma forma muito agressiva, destruindo florestas, arando enormes campos e extraindo minerais, independente do impacto destas ações, para produzirem bens e disponibilizarem serviços. A humanidade se beneficiou com esses produtos e serviços? A qual custo? E o Planeta? Como medir os benefícios alcançados e os custos envolvidos?

O professor Biagio F. Giannetti é mestre (1989) e doutor (1dsxe994) em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP). Ministra aulas desde 1987 e é professor titular na Universidade Paulista (UNIP), onde em 1992 iniciou como professor adjunto III. Desde então, ocupou o cargo de coordenador do curso de graduação em Engenharia e, atualmente, exerce os cargos de docente do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção (níveis de Mestrado, Doutorado e Pós-Doutorado) e de coordenador do Laboratório de Produção e Meio Ambiente (LaProMA).

É líder de Grupo de Pesquisa cadastrado no CNPq desde 1995 e seus projetos têm auxílio financeiro, especialmente, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Desde 2016 é professor visitante da School of Environment, Beijing Normal University, no âmbito do National High-end Foreign Experts Recruitment Program in China. Fundador do Workshop Internacional sobre Avanços em Produção Mais Limpa (http://www.advancesincleanerproduction.net) e da Rede Avanços em Produção Mais Limpa, e Co-fundador da Mesa Redonda Paulista em Produção Mais Limpa.

Possui mais de 300 trabalhos publicados - incluindo livros, artigos e palestras - que tratam de Produção e Meio Ambiente. Em Scopus, o seu índice h é 28 e o índice i10 no Google Acadêmico é 70. É editor associado dos periódicos Journal of Environmental Accounting and Management e Frontiers in Energy Research, da Nova Science Publisher e da revista INGE CUC. Membro do Comitê de Padronização Footprint Global Network, do National Pollution Prevention Roundtable e da International Society for the Advancement of Emergy Research, e Diretor do Centro Global do Advances in Cleaner Production Network. ​Integra o corpo científico dos periódicos Journal of Cleaner Production e Urban Resource Management.

Em tempos de pandemia, e não poderia ser diferente, a entrevista com o Prof. Biagio F. Giannetti foi realizada virtualmente, durante uma agradável hora, ao longo da qual ele pode compartilhar seus profundos conhecimentos, estudos e projetos dedicados a um tema global tão relevante: Sustentabilidade. Acompanhe a entrevista.

RI: Nosso Planeta tem recursos ambientais finitos. Eis a pergunta clássica que emerge das primeiras discussões sobre sustentabilidade: o crescimento econômico também tem limites?

Biagio Giannetti: Começando pelo nosso Planeta, sim, ele tem recursos não renováveis, finitos, com limites físicos. E esses limites são determinados pelas leis da natureza, que orquestram os vários ecossistemas existentes, que compõem a biosfera. As teorias econômicas e o crescimento econômico não são naturais, são pensamentos e realizações humanas. Eles não se limitam à observação empírica de fenômenos da natureza, mas também emergem do sistema capitalista, desde os seus primórdios. Passaram a existir com os comerciantes que, por meio de seus negócios, circularam pelo continente europeu e ali criaram grandes cidades, bem como instituições, como os bancos e várias outras, para protegerem e defenderem suas riquezas e propriedades. E foram além-mar, sofisticaram as relações comerciais, intensificaram a produção de bens e desencadearam a Revolução Industrial, com a produção de bens em série. Criações e realizações humanas têm algumas características, das quais aqui destacamos duas. A primeira é que elas são dinâmicas, resultado do desenvolvimento e evolução do pensamento e das ações humanas. A segunda característica é que essas realizações dependem da confiança das pessoas em seus pressupostos. Quando novos desafios emergem, pressupostos antigos são desafiados e pode ser necessário mudar. Este é o caso que estamos tratando neste artigo, pois o Planeta exige mudanças no nosso pensamento e modus operandi, que garantam o desenvolvimento sustentável.

RI: O senhor quer dizer que o crescimento econômico é importante, mas o uso adequado e equilibrado dos recursos, sejam eles renováveis ou não renováveis, é fundamental. Isso é possível considerando os processos produtivos atuais?

Biagio Giannetti: Não há separação entre o mundo empresarial e o meio ambiente. Desde os anos 70, se constata que o Planeta está seguindo em direção ao esgotamento de seus recursos não renováveis e ao comprometimento de seus recursos renováveis. Se ele tem limites físicos, e se o crescimento econômico ameaça esses limites, pode parecer lógico afirmar que os processos produtivos terão que ser repensados, para que gerações futuras usufruam também dos benefícios do consumo de produtos e serviços, e não simplesmente arquem com o ônus causado pelas gerações pregressas. Como resolver os problemas já existentes? O clima e o ciclo de chuvas são essenciais. A mudança climática está desestabilizando nossa sociedade. Cidades estão expostas a extremos – estiagens excessivas, chuvas intensas, inundações, aquecimentos e resfriamentos.

Pode-se pensar em várias alternativas e uma das mais importantes é colocar efetivamente em prática o conceito de desmaterialização da economia, isto é, baseado em uso inteligente de insumos naturais, soluções tecnológicas e a prática de alternativas renováveis, que respeitem o meio ambiente, ou, pelo menos, minimizem os impactos nocivos ao mesmo. A desmaterialização da economia é uma das alternativas resultantes da preocupação com a preservação ambiental. Adotá-la não significa que a humanidade deixará de produzir e utilizar produtos industrializados, ou não usufruirá de serviços, que utilizam recursos naturais. É uma das respostas para o desenvolvimento sustentável de atividades econômicas baseadas na educação ambiental, compartilhamento do conhecimento dos prejuízos do uso abusivo dos recursos naturais do Planeta Terra e investimentos em soluções renováveis, dentre outros. Naturalmente, o caminho para a desmaterialização da economia não é exatamente simples, pois satisfazer as necessidades de consumidores, gerar riquezas sem agredir o meio ambiente não é tão fácil e imediato, requer mudança de paradigma, transição de uma sociedade consumista, em que o desperdício faz parte de seu cotidiano, para uma sociedade consciente, que busca soluções alternativas, sustentáveis, com uso intensivo de tecnologia.

RI: Quais dificuldades o senhor vislumbra para atingir a desmaterialização da economia?

Biagio Giannetti: As construções humanas, conforme dito, são baseadas em confiança. Novos negócios criam expectativas de ganhos futuros. Investidores poderão acreditar nesses negócios, investir recursos e esperar recompensas. Se, contudo, os retornos não aparecerem, os novos negócios criados, em seu conjunto, não terão passado de bolhas. E temos visto algumas bolhas estourarem na economia mundial, com grandes perdas econômicas e, ademais, perda de confiança de quem investe. A desmaterialização da economia não está livre do risco de bolhas. Entretanto, é uma alternativa importante, face ao esgotamento dos limites naturais planetários. Ao mesmo tempo, ainda há diversas perguntas sem resposta, pois estamos em um processo de conhecimento, de entendimento sobre como poderemos concomitantemente preservar concomitantemente o Planeta e manter as atividades econômicas pujantes. Assim sendo, é fundamental dialogar muito, fazer bons diagnósticos, criar alternativas, investir na ciência e tecnologia. Ao mesmo tempo, o ponto de partida disso tudo é reconhecer os problemas, estudá-los e colocar em prática alternativas para minimizá-los. Aliás, a pandemia COVID-19 tem criado novos problemas e precisamos enfrentá-los também. Alguns dos quais, relacionados à questão ambiental.

RI: Sobre a pandemia COVID-19, como ela pode estar associada a questões ambientais?

Biagio Giannetti: É preciso ter em mente que as pandemias resultam das nossas relações com o meio ambiente, da forma como a vida dita civilizada impacta o meio ambiente e desequilibra a natureza. E uma pandemia, genericamente falando, pode criar problemas novos e agravar aqueles existentes. Exemplificamos com o caso da fronteira EUA-México: há uma forte pressão nessa fronteira, muito maior do que aquela que já existia. Em função da pandemia COVID-19, mais pessoas não conseguem se sustentar com o pouco que conseguiam obter com as suas atividades econômicas. Isso agrava ainda mais a instabilidade. É um fenômeno social com pressão econômica. Outra consideração a fazer é que as pandemias mudam o modo como vivemos. Doravante, teremos que tomar cuidados antes inexistentes e conviver com algumas barreiras sanitárias. Após a ocorrência dos atentados de 11 de setembro de 2001 nos EUA, os aeroportos criaram novos protocolos e todos nós, que por vezes circulamos entre países, tivemos que conviver com esses novos procedimentos de segurança. Assim tende a ser com a COVID-19. Aliás, as empresas também terão que criar seus protocolos. Poderão ser afetados, por exemplo, procedimentos de contratação de pessoas, de distribuição física de pessoas, de controle da saúde nas organizações. Como será a realidade prática dos trabalhos presencial e à distância, o chamado tele-trabalho? Como cuidar dos colaboradores, de sua saúde física e mental? Se as pandemias resultam do modo como nos relacionamos com o meio ambiente, e se elas impactam tanto os negócios, é pertinente indagar: é realmente possível segregar os debates econômico e ambiental? É possível tratar as atividades econômicas e a natureza como coisas estanques entre si? A nosso ver, isso não faz sentido. Um aspecto adicional que destacamos nas pandemias, e que também vale para o meio ambiente, é a prevenção. Assim como os especialistas em saúde pública procuraram incentivar a precaução, melhorando suas recomendações de boas práticas à medida que o conhecimento sobre o problema avança, os especialistas em meio ambiente também procuraram adotar uma atitude prudente. Por essa razão, as regras legais vigentes prevêem diferentes percentuais de preservação ambiental para distintos biomas: para aqueles mais vulneráveis (a exemplo da Amazônia), aumentam-se os percentuais de áreas a preservar. Não sabemos se são suficientes os percentuais exigidos por lei, mas pelo menos existe a precaução de se manter áreas preservadas.

RI: O senhor mencionou que as métricas são fundamentais para avaliação do desenvolvimento sustentável e vão além das dimensões econômica, social e ambiental. Quais são estas métricas e o que elas abrangem?

Biagio Giannetti: Quando as dimensões econômica, social e ambiental foram introduzidas, pretendia-se traduzir para as empresas e demais organizações o sentido prático da expressão desenvolvimento sustentável, disseminada globalmente pelo famoso Relatório Brundtland, publicado nos anos oitenta. Mas somos críticos em relação à limitação a essas três dimensões, pois acreditamos que não cumprem integralmente esse papel de clarificar em nível suficiente o que precisa ser feito. Desenvolvemos um artigo que discorre sobre oito cenários que vinculam sustentabilidade, felicidade e produtividade. O caminho para cada uma dessas possibilidades dependerá das atitudes dos tomadores de decisão, do comprometimento da sociedade em busca de um mundo desenvolvido e sustentável e, portanto, medido por – pegada ecológica, produtividade e felicidade. Essas três métricas nos parecem mais concretas, no sentido de informarem com maior clareza como atingir do desenvolvimento sustentável no contexto organizacional e ao dito chão de fábrica. A primeira variável, pegada ecológica, mede se o consumo é adequado à biocapacidade do Planeta, de modo que se preservem os recursos não renováveis e se garanta que a utilização dos recursos renováveis respeitará a capacidade de regeneração. A segunda variável é a produtividade das empresas, associada à melhoria dos processos produtivos e de trabalho e ao combate ao desperdício. E a terceira é o nível de felicidade das pessoas, que são condições externas (fora da organização) e internas de trabalho que, quando existem, tornam a vida melhor. Este conjunto de métricas faz mais sentido, pois aproxima mais as organizações e pessoas do conceito de desenvolvimento sustentável.

RI: Não poderá soar estranha, para muitos empreendedores, a ideia de que eles precisam pensar na felicidade das pessoas?

Biagio Giannetti: Houve grande avanço desde o taylorismo-fordismo e muito já se caminhou no sentido de entender que as pessoas e suas necessidades são importantes para as empresas e demais organizações. Acreditamos que isso dependerá de comunicação, de explicar aos citados empreendedores que não se está pedindo a eles para fazerem algo despropositado. A explicação a ser dada é: “você quer mais produtividade e melhor desempenho econômico? É preciso haver condições para que isso ocorra, dentro e fora do limite de seu negócio”. Boa parte dessas condições nem estará em mãos de quem empreende; ao estado, por exemplo, haverá o que demandar, de modo legítimo. Com as relações sociais fluindo naturalmente, as pessoas conseguem ser felizes.

RI: Existe um grande – por vezes, abissal – desequilíbrio social mundial e em nosso País. Reduzir esse desequilíbrio e trazer os mais vulneráveis ao consumo, algo absolutamente justo, não pressionaria mais o meio ambiente?

Biagio Giannetti: De fato, a redução do desequilíbrio social é algo imprescindível. A Organização das Nações Unidas (ONU) contempla na agenda 2030, 17 objetivos de desenvolvimento sustentável, sendo o primeiro, erradicação da pobreza, o segundo, fome zero e agricultura sustentável e o quarto, educação com qualidade. A redução da desigualdade pode pressionar o Planeta? Sim, mas depende de como isso seja colocado em prática. A boa notícia é que há muito o que fazer, palavras como educação e conhecimento são imprescindíveis. Para termos um mundo sustentável, o mínimo satisfatório requerido é atingir os três objetivos citados anteriormente. A desigualdade social é gigantesca, de proporções planetária – erradicá-la é também uma solução para o problema ambiental – a população carente tem que ser incluída e ter suas necessidades vitais atendidas. Se isso for feito com inteligência, com educação, políticas públicas adequadas, as desigualdades reduzidas trabalharão em prol do meio ambiente. O investimento em educação de pessoas economicamente vulneráveis agrega grande retorno à sociedade. Este é um dado que não pode ser desconsiderado, em função do seu potencial de impacto positivo ao futuro do Planeta. Bem orientadas em questões técnicas e com apoio do estado, das empresas e da sociedade, as pessoas beneficiadas pela educação serão, também, guardiãs do Planeta. E este terá gerações futuras cada vez mais conscientes.

RI: Consideramos interessante o seu pensamento sobre a relação benefício-custo do investimento nas mulheres. Mas não precisamos de todos, homens e mulheres, na luta pelo Planeta?

Biagio Giannetti: Precisamos de toda a ajuda possível, tanto de mulheres quanto de homens. Todos devem ser incentivados a ajudar a preservar o nosso Planeta. Mas não podemos deixar de reconhecer a elevada relação benefício-custo do investimento nas mulheres, lembrando que as mulheres humildes podem fazer a diferença, se forem apoiadas. Esta não é uma questão ideológica, mas uma constatação técnica, baseada em estudos, fatos e dados. Um outro ponto que consideramos muito importante sobre as mulheres nas organizações é que muitas costumam abordar problemas complexos de modo mais cuidadoso. Em vários contextos, é mais inteligente parecer que se está perdendo uma batalha do que sacrificar combatentes valiosos, a fim de demonstrar poder – e um poder que já se detém. Na visão de longo prazo, coerente com o conceito de sustentabilidade, produtividade e felicidade são quesitos importantes para um desempenho financeiro superior. Aproveitamos para sugerir aos leitores da Revista RI que prestem atenção no modo de comunicação de uma conhecida empresária do setor de varejo, que se destaca pela administração de seu negócio e, mais recentemente, pela proposta de ajudar a acelerar a vacinação do povo brasileiro, face à pandemia COVID. É uma comunicação objetiva, compreensível para o conjunto dos brasileiros e, ao mesmo tempo, com uma qualidade feminina que não pode deixar de ser enaltecida (o professor se refere à senhora Luiza Trajano).

RI: Consideremos as economias materializada e desmaterializada, supondo-se sua coexistência. Como desenvolvê-las de modo profissional e ambientalmente correto?

Biagio Giannetti: Primeiramente, ressaltamos a importância da precaução nas questões de meio ambiente, quaisquer que sejam as atividades econômicas. E de atuação baseada em critérios científicos e em métricas adequadas. O que se mede, se administra e se aprimora. São necessários bons termômetros, indicadores que orientem as tomadas de decisões visando o desenvolvimento sustentável. Há alguns anos, o ilustre ecologista norte-americano Howard Thomas Odum desenvolveu uma metodologia de contabilidade ambiental muito importante, denominada emergia. O que é emergia? Pedimos licença aos leitores da Revista RI para explicar brevemente essa metodologia científica. Trata-se de uma metodologia que traduz cada produto ou serviço em uma certa quantidade de energia, medida em “joules equivalentes de energia solar”. A energia solar é onipresente em nosso Planeta (lembrando que ao seu lado, coexistem as energias das marés e geotérmica, mas sem a onipresença solar). Referenciar itens físicos à energia que vem do sol cria muitas possibilidades de estudos e análises, abre um vasto campo de pesquisas científicas nessa direção, com vários desdobramentos de ordem prática. Focalizemos um objeto qualquer próximo de nós. Sua existência envolve várias etapas, da extração dos minerais, que o compõem, passando pelo processo produtivo, até sua chegada ao consumidor. Nesse percurso, energia solar foi empregada. Um objeto X poderá ter uma emergia de 100 joules, um objeto Y, de 1.000 joules, e assim por diante. No exemplo dado, o objeto Y demandou 10 vezes mais energia solar equivalente para chegar até nós do que o objeto X, o que significa que ele demandou mais “esforço” da natureza para que isso ocorresse. Como a emergia ajuda a ciência e as empresas? No primeiro caso, por meio da construção de modelos que ajudam a melhor compreender processos naturais. Quando trabalhamos com o conceito de emergia, estamos tratando todos os itens físicos do ambiente à nossa volta em uma mesma base científica e analítica. A emergia nos ajuda a compreender a biosfera e seus processos hierárquicos e é uma valiosa ferramenta de sustentabilidade. Já no caso das empresas, a emergia pode ser transposta ao uso prático de variadas maneiras, favorecendo recomendações para tornar processos produtivos mais eficientes, a comparação entre alternativas tecnológicas de produção de bens e serviços, a criação de certificações ambientais e muito mais. Estamos tratando aqui de desdobramentos práticos, que temos vivenciado em nosso trabalho com empresas, tornando processos produtivos menos dispendiosos e ambientalmente melhores, com benefícios concretos para o Planeta e para a sociedade como um todo.

RI: Aproveitando esta oportunidade para fazer uma provocação, indagamos: qual é o seu pensamento sobre o consumo de carnes, principalmente bovinas? Não seria antiecológico, por demandar extensas áreas e muita água para que se chegue aos produtos finais?

Biagio Giannetti: Nossa visão vai além do consumo de um determinado produto, carne ou outros tipos de alimentos; é baseada no que consideramos que seja melhor para o Planeta e no conceito de emergia. A dieta deve considerar o estilo de vida e se adaptar a diversas variáveis, como recursos locais e culturais. Como exemplo citamos: os alimentos consumidos são locais? Sua produção é sustentável? Limita-se à capacidade de regeneração? O problema é consumir alimentos fora de época e da região, que vem de lugares “lontanos”. Comparemos uma laranja cuja produção esteja próxima de nós com outra laranja produzida do outro lado do mundo. Qual das duas terá maior emergia? Qual terá maior custo ambiental? Qual deveríamos consumir? Em linhas gerais, acreditamos que o consumo de itens produzidos em local mais próximo de onde estamos tende a ser ambientalmente melhor para o Planeta. É uma questão de emergia. E em tese, o preço deveria ser menor, para produtos idênticos, se pensarmos em custos de transporte, importação e outros. Um segundo ponto relevante é que a produção do item que estamos considerando seja realmente sustentável, isto é, que ela não se inviabilize fisicamente em algum ponto do futuro, seja por esgotamento, seja por outro motivo. Por fim, ressaltamos a importância da conscientização dos cidadãos em suas decisões de consumo. Para isso, é necessário que exista educação e conhecimento, retomando aqui duas palavras que utilizamos em respostas anteriores.

RI: A questão acima gera discussões apaixonadas. Em tempo, a liderança necessária para que exista uma economia materializada e desmaterializada, profundamente educativa e baseada em conhecimento cabe aos estados nacionais? Às empresas e outras organizações?

Biagio Giannetti: Acreditamos que é preciso vislumbrar uma espécie de orquestra, similar à Orquestra Societária desta coluna –, em que todos, representantes do estado, das empresas e cidadãos possam ser, a um só tempo, maestros, músicos e audiência, trabalhando de forma conjunta e apreciando os resultados do trabalho realizado também de forma conjunta. A democracia representativa é importante, mas precisamos também de democracia participativa, com diálogo permanente, quando se pensa em meio ambiente. E lembramos que não existem receitas prontas, mesmo que a humanidade hoje disponha de ferramentas que nos permitam caminhar na direção certa.

Por fim, nesta entrevista com o professor Biagio F. Giannetti, tratamos do conceito de emergia, mas é importante destacarmos que o diálogo e o debate construtivo são fundamentais para que existam sinergias e soluções para os grandes desafios que o Planeta enfrenta para se manter sustentável.

Cida Hess
é economista e contadora, especialista em finanças e estratégia, mestre em contábeis pela PUC SP, doutoranda pela UNIP/SP em Engenharia de Produção - e tem atuado como executiva e consultora de organizações.
cidahessparanhos@gmail.com

Mônica Brandão
é engenheira, especialista em finanças e estratégia, mestre em administração pela PUC Minas e tem atuado como executiva e conselheira de organizações e como professora.
mbran2015@gmail.com


Continua...