Educação Financeira

REDUÇÃO DA JORNADA DE TRABALHO

Sexta-feira mei dia, pode olhar aí! Você já sabe, quem fez... fez, quem não fez não faz mais!”. Com esse bordão, toda sexta-feira precisamente ao meio-dia, o empresário mineiro Henrique Costa Ferreira, conhecido como Henrique Maderite, convida seus mais de 1,1 milhão de seguidores no Instagram a aderirem ao ócio.

O que começou como uma brincadeira de um bebedor de cerveja de sorriso largo que mandava vídeos para seus amigos às sextas-feiras se transformou em uma empresa de 12 funcionários e mais de 15 grandes clientes. Hoje, por trás da aparente boa vida do influenciador, existe uma sólida estratégia de negócios que foi sendo construída na medida que o sucesso crescia.

Em 1932, no olho do furacão da Grande Depressão, no artigo “Economic Possibilities for our Grandchildren”, o economista John Maynard Keynes previa que atualmente estaríamos trabalhando apenas 15 horas semanais, o que definitivamente não aconteceu.

Keynes se opunha a economistas clássicos como Karl Marx, David Ricardo e Adam Smith que consideravam que o trabalho era a única fonte de valor. Para esses autores, os empresários não renunciariam a horas de trabalho dos seus empregados, pois elas eram consideradas uma das chaves para elevar a produtividade e o lucro.

Keynes não refutava de forma direta a afirmação de que horas trabalhadas eram fonte de valor, porém ele considerava que, com o aumento da produtividade, atualmente estaríamos conseguindo atender todas nossas necessidades. O crescimento econômico nos 90 anos após a publicação do artigo foi bastante além do previsto, porém Keynes não previu que nossas demandas cresceriam em um ritmo muito maior do que a própria produtividade.

Como queremos consumir cada vez mais, na maior parte do mundo continuamos trabalhando mais de 40 horas semanais. Estranhamente, quase como regra, quem tem os mais elevados rendimentos trabalha mais.

O bilionário Elon Musk disse em entrevista ao New York Times que chegou em alguns momentos a trabalhar 120 horas por semana. Disse também que esse ritmo de trabalho é insano, entretanto considerou que 80 horas semanais é bastante administrável.

Dois professores de Harvard, Michael Porter e Nitin Nohria, publicaram em 2006 um estudo sobre a quantidade de trabalho de executivos. A conclusão foi de que os pesquisados trabalhavam em média 62,5 horas por semana, das quais 4 horas eram durante os finais de semana. Outro dado surpreendente: mesmo durante as férias, em 70% dos dias, eles continuaram trabalhando 3,9 horas diárias.

Nada indica que o panorama tenha se alterado drasticamente desde então. Com todos os instrumentos de trabalho remoto que adentraram com força na rotina de executivos durante a pandemia, a percepção é que a quantidade de horas trabalhadas tenha até aumentado. Com todos os mecanismos de comunicação instantânea que existem atualmente, fica bastante difícil delimitar o que é trabalho e o que é descanso ou lazer.

É contra essa exacerbação da quantidade de trabalho dos executivos que a voz de Henrique Maderite se levanta. Talvez essa seja uma das explicações para o enorme sucesso do empresário nas redes sociais. De forma leve e divertida, ele traz para a discussão um tema maduro e que interessa muitas pessoas, que é a redução da jornada de trabalho dos executivos. Se ele mandasse os mesmos vídeos convidando para parar de trabalhar na terça-feira, talvez fosse tomado como um vagabundo, o que definitivamente o empresário da construção civil nunca foi.

Estudos de redução da jornada de trabalho não param de ser feitos no mundo. A Suécia, por exemplo, vem fazendo experimentos em que é cortado todo um dia de trabalho na semana.

Em 2016, em alguns escritórios municipais da cidade de Reykjavik, na Islândia, cortou-se semanalmente metade de um dia de trabalho de empregados de tempo integral. O experimento mostrou que tanto os custos quanto a produtividade continuaram iguais, mesmo com os trabalhadores passando menos tempo no escritório.

Até no Japão, que tem uma cultura focada em muitas horas de trabalho, algumas empresas vêm adotando práticas como a chamada "segundas brilhantes", nas quais os empregados podem chegar mais tarde ao trabalho uma segunda-feira por mês. Há também as “sextas premium”, que permitem que trabalhadores saiam às 15h na última sexta-feira do mês.

O desequilíbrio entre trabalho e vida pessoal costuma cobrar um preço muito elevado no longo prazo. Prejudicar a saúde física e emocional, não ver os filhos crescerem e dedicar pouco tempo aos relacionamentos em busca de mais sucesso e realizações são questões que precisam ser consideradas com seriedade.

Warren Buffett, quando dá conselhos a adultos jovens, frequentemente menciona a fábula do gênio da lâmpada. Ele diz aos estudantes para imaginarem que um gênio apareceu e que poderia dar a cada um o carro dos seus sonhos. Porém, existe apenas uma condição, o carro dos sonhos será o último carro que cada um deles terá em suas vidas.

Então o Mago de Omaha diz aos alunos que essa é a exata posição de todos eles quando se trata da mente e do corpo. Quando a expectativa de vida passava pouco dos 40 ou 50 anos, podíamos abusar do uso desse fantástico recurso que a natureza nos deu.

Como atualmente nossa expectativa de vida chega a quase 80 anos, é fundamental preservar nossa saúde física e mental. Pode ser um enorme bônus viver muito, gozando de saúde física e mental, de bons relacionamentos com família e amigos. Porém, viver muito, com um físico dilacerado e sem bons relacionamentos, pode ser um ônus difícil de suportar.

E você como está levando sua vida? Acha que já encontrou o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal? Se ainda não, é bom agir rápido, pois a vida passa. 

Jurandir Sell Macedo
é doutor em Finanças Comportamentais, com pós-doutorado em Psicologia Cognitiva pela Université Libre de Bruxelles (ULB) e professor de Finanças Pessoais da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
jurandir@edufinanceira.org.br


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