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20º ENCONTRO DE RI DEBATE ALTERNATIVAS PARA AUMENTAR O NÚMERO DE CIAS. ABERTAS

MAIOR EVENTO DA ÁREA DE RI ABORDOU QUESTÕES COMO REDUÇÃO DE CUSTOS E PAPEL DA EDUCAÇÃO FINANCEIRA

O futuro do mercado de capitais brasileiro e as propostas para aumentar o número de empresas que abrem capital no país estiveram no centro das discussões da 20ª edição do Encontro Internacional de Relações com Investidores e Mercado de Capitais. O evento deste ano, promovido anualmente pelo IBRI (Instituto Brasileiro de Relações com Investidores) e pela ABRASCA (Associação Brasileira das Companhias Abertas), ocorreu, nos dias 20 e 21 de junho, no WTC Eventos, em São Paulo.

Edmar Prado Lopes Neto, presidente do Conselho de Administração do IBRI, Alfried Plöger, presidente do Conselho Diretor da ABRASCA, e Marcelo Barbosa, presidente da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), participaram da abertura do evento.

Edmar Lopes destacou a necessidade de se criar uma pauta positiva voltada para o futuro, que contemple temas como diversidade, inovações tecnológicas, regulamentação e atuação dos profissionais de Relações com Investidores.

“Estamos certos de que ao longo dessas duas décadas, esse evento contribuiu para o desenvolvimento das companhias. Vamos seguir adiante, formando profissionais e trabalhando para o desenvolvimento do mercado de capitais”, declarou Plöger.

O presidente da ABRASCA ressaltou a simplificação das obrigações de prestação de informação das companhias, como um dos temas de destaque a ser discutido nos dois dias de evento e aproveitou para anunciar a publicação do “14º Anuário Estatístico das Companhias Abertas”. O levantamento mostrou, por exemplo, que as 361 companhias abertas fecharam o ano passado com lucro líquido consolidado de R$ 164,8 bilhões, o que representou alta de 38,5% em relação a 2016.

Estudo do CEMEC (Centro de Estudos de Mercado de Capitais) da FIPE (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) apontou que o mercado de capitais tem potencial para dobrar o número de companhias abertas nos próximos 10 anos. Os pesquisadores Carlos Rocca e Lauro Modesto do CEMEC destacam, porém, que na simulação foi considerada a expectativa de continuidade do ajuste fiscal e outras reformas favoráveis ao ambiente de negócios no novo mandato presidencial.

Marcelo Barbosa, presidente da CVM, destacou o compromisso da autarquia de levar adiante a preparação de um trabalho de revisão de normas para reduzir redundâncias e custos para as companhias de capital aberto.

Barbosa observou que as informações das empresas devem ser “sempre concretas, de enorme qualidade”. Para isso, é preciso ter uma categoria de profissionais “muito bem preparada”, frisou.

Inclusão financeira
Marcelo Barbosa no primeiro painel que teve como tema central: “O futuro do mercado de capitais no Brasil - O que fazer para aumentar o número de companhias abertas?” enfatizou a importância da “inclusão financeira”. Barbosa fez menção a questões culturais e fatores determinantes para se aumentar o número de companhias abertas. O presidente da CVM mencionou entre os fatores culturais o “ainda baixo número” de pessoas físicas participantes do mercado acionário.

O presidente da CVM reforçou o compromisso da autarquia em reduzir os custos de observância e tornar o mercado de capitais mais competitivo.

De acordo com Edmar Prado Lopes Neto, moderador do painel, os profissionais de Relações com Investidores passaram os últimos anos falando da economia brasileira, mas é fundamental voltar a destacar o desenvolvimento das empresas.

Paulo Cezar Aragão, diretor da ABRASCA, ponderou que além de simplificar as regras “é importante diferenciar companhias de portes diferentes”. Ele sugeriu para as companhias que se iniciam no mercado de capitais que o tratamento regulatório seja menos complexo. “É preciso tornar o acesso mais convidativo”, opinou Aragão. Edmar Lopes reforçou que o mercado de acesso “é um desafio de décadas”.

“Há 25 anos, já havia preocupação com o tema, ou seja, o número de empresas listadas”, apontou Ary Oswaldo Mattos Filho, sócio do Mattos Filho Advogados. Mattos Filho fez uma análise do mercado de capitais e das ofertas públicas nos últimos 12 anos. Segundo ele, as ofertas primárias e secundárias não acompanham o desenvolvimento da economia brasileira, com exceção de 2007, “que foi um ano atípico”, acrescentou.

“O mercado se concentrou nas macroempresas e se esqueceu das pequenas. As macroempresas migram para a Bolsa de Nova York via ADR’s (do inglês American Depositary Receipts)”, disse.
 
Para Gilson Finkelsztain, presidente da B3 (Brasil, Bolsa, Balcão), é preciso manter a disciplina fiscal e buscar aumentar o número de companhias abertas. “Os setores de private equity e de venture capital têm papel relevante para trazer novas empresas para o mercado”, concluiu o presidente da B3.
 
Papel dos Conselhos de Administração
O papel do Conselho de Administração e a criação de valor para os acionistas foi tema do segundo painel “Board Level e a criação de valor para os acionistas”, que contou com cases de empresas de diferentes setores da economia e foi moderado por Alexsandro Broedel, diretor de Finanças e Relações com Investidores do Itaú Unibanco.

Durante o debate, Luciano Siani Pires, diretor de Finanças e Relações com Investidores da Vale, falou da importância que teve o Conselho na recuperação da confiança dos investidores, no auge da crise de 2014 e 2015. A Vale possui mais de 200 mil acionistas.

“Sofremos muito em 2014 e 2015. Hoje, voltamos a ser a empresa mais negociada no IBovespa. Não preciso falar nada como estava o Brasil em 2015. O Conselho de Administração teve papel fundamental e contribuiu para o sucesso da jornada”, observou.

Pires atribui ainda ao Conselho de Administração a ida da empresa ao Novo Mercado da B3 no ano passado, ajudando na valorização dos papéis da companhia.

O executivo da Vale observou que o Conselho de Administração tem “muito poder sobre a criação de valor, uma vez que passa por suas mãos decisões importantes da companhia, como investimentos e aquisições, além da escolha da diretoria da empresa”.

Osvaldo Burgos Schirmer, presidente do Conselho de Administração da rede de Lojas Renner, destacou a importância do diálogo dos conselheiros com a área de Relações com Investidores. “O Conselho de Administração deve entender o papel da área de Relações com Investidores, que é ao mesmo tempo a voz e o ouvido da empresa no mercado”, assinalou. O executivo disse que a empresa procura diversificar o Conselho, abrindo espaço especialmente para mulheres. “No Conselho de Administração da Renner composto por oito membros, há duas mulheres”, relatou.
 
O futuro de RI e a Governança Corporativa
“Reportem as notícias ruins para o Conselho de Administração e participem das reuniões com os conselheiros, pois assim estarão exercendo seu papel de RI”, disse José Roberto Pacheco, diretor de Relações com Investidores da OdontoPrev, conselheiro de Administração do IBRI e moderador do terceiro painel “O futuro de Relações com Investidores e a Governança Corporativa”.

Carlos Marinelli, CEO do Grupo Fleury, relatou que a empresa tem Conselho de Administração desde 1998, antes mesmo de ser uma empresa de capital aberto, inclusive com membros independentes.

Quando foi convidado para se tornar CEO da empresa, Marinelli disse que quis conhecer todas as práticas de governança da companhia. “A empresa procura sempre melhores práticas de governança”, destacou. Para ele, as melhores práticas de transparência e governança propiciam o desenvolvimento do mercado de capitais e da economia.

Fabricio Bloisi, presidente da Movile, contou a história da empresa que iniciou em uma garagem com duas pessoas e cresceu mais de 300%. Hoje, o grupo é dividido em mais de 10 negócios diferentes, dos quais o iFood faz parte. Bloisi salientou a importância da inovação e tecnologia para o desenvolvimento das empresas no mercado.

Rafael Mendes Gomes, diretor de Governança e Conformidade da Petrobras, destacou a importância dos Comitês Técnicos para apoiar as decisões e a interação da área de RI com o Conselho de Administração.

Estratégia de Crescimento e Valuation
Marc Goedhart, especialista sênior da McKinsey & Company, afirmou que aspectos da governança ambiental e social estarão cada vez mais presentes na hora de agregar valor para as empresas no longo prazo. Goedhart realizou palestra “Estratégia de crescimento e valuation”, moderada por Antonio Castro, diretor da ABRASCA. Goedhart destacou a importância de o investidor ter facilidade em acompanhar o histórico das informações da companhia e procurar obter uma previsão de desempenho.

Simplificação de prestação de informações
A simplificação das informações, o término da multiplicação de atos e, principalmente, o fim da obrigação de as empresas de capital aberto divulgarem suas informações financeiras em Diário Oficial foram as principais reivindicações durante o quarto painel que discutiu a “Simplificação das Obrigações de Prestação de Informações das Companhias”, moderado por Eduardo Lucano, presidente executivo da ABRASCA.

Roberto Dias Carneiro, sócio do escritório BMA (Barbosa, Müssnich, Aragão Advogados), ressaltou que hoje existem diversas outras formas de comunicação com os acionistas, como o próprio site da companhia, a página da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e os jornais de grande circulação. Ele argumentou que a publicação em Diário Oficial é “um peso que onera, principalmente, empresas de menor porte”.

Eduardo Lucano também salientou sobre a importância da redução de custos e flexibilização de regras para ampliar o número de companhias abertas no mercado de capitais brasileiro.

Tiago Isaac, superintendente de Relações com Empresas na B3 (Brasil, Bolsa, Balcão), citou o exemplo “positivo da criação do voto a distância, como medida simplificadora e que teve impacto direto sobre os custos dos investidores”.
 
Enrique Pessoa, diretor da Donnelley Financial Solutions, disse que o voto a distância facilitou a participação de acionistas nas Assembleias, principalmente de estrangeiros.

Pesquisa IBRI-Deloitte
O painel 5 “Pesquisa IBRI-Deloitte - Amadurecimento em meio à crise: Reestruturação empresarial e comunicação com investidores” foi moderado por Guilherme Setubal, presidente da Diretoria Executiva do IBRI e contou com a apresentação de Luis Vasco, sócio da Deloitte.

O estudo detectou que os profissionais de RI no Brasil estão mais maduros para enfrentar situações provenientes de uma economia adversa. “A atividade de RI está cada vez mais conectada com a gestão de riscos da companhia”, apontou Setubal.

“Percebemos um amadurecimento quando analisamos as estratégias empresariais de sobrevivência em meio a períodos de incerteza econômica”, declarou Vasco.

MiFID II - Mudanças no Buy Side: impactos e desafios para o RI
O impacto que a MiFID II (Markets in Financial Instruments Directive ou, em português, Diretiva dos Mercados de Instrumentos Financeiros) trará ao mercado de capitais brasileiro foi o tema central do painel 6 “MiFID II – Mudanças no buy side, impactos e desafios para o RI”, que foi moderado por Luis Almeida, especialista em MiFID II da Thomson Reuters.

A principal percepção dos presentes é de que as empresas ainda não conseguem dimensionar o tamanho do impacto da regulamentação europeia e se resultará em mais custos para as companhias de capital aberto. A regulamentação estabelece que full-service brokers deverão precificar separadamente os serviços prestados (diferenciando corretagem - pela execução de ordens - dos serviços de pesquisa e atendimento, por exemplo).

Daniela Bretthauer, diretora de Relações com Investidores do Grupo Carrefour e conselheira de Administração do IBRI, apresentou pesquisa, demonstrando que ainda não é “claro o impacto da MiFID II nas apresentações das empresas realizadas na Europa neste ano”. Segundo o levantamento, os entrevistados se dividiram entre não ter notado diferença e apenas sentir falta de alguns analistas e gestores de fundos de investimento. Daniela acrescentou, também, que essa foi a percepção da rede de supermercados francesa Carrefour, que participou de conferências na Europa e nos Estados Unidos este ano.

Valder Nogueira, Head of Equity Research (Brazil) do Banco Santander, disse que a nova regulamentação traz uma necessidade de se aproximar mais do investidor.

Karen Bodner, especialista sênior de Inteligência de Mercado e Estratégia da área de DRs (Depositary Receipts) do BNY Mellon, comentou que para reduzir custos pode haver uma transformação do mercado. Karen afirmou que, na Europa, apesar do pouco tempo em que o MiFID II está em vigor, dois grandes brokers já anunciaram uma fusão.

Joaquim de Oliveira, sócio das Áreas de Financiamento, Bancário, Mercado de Capitais, Fusões e Aquisições e Private Equity do escritório Cescon, Barrieu, Flesch & Barreto Advogados, ressaltou que “não é só uma questão de destacar pontos positivos ou negativos da medida. Temos que ter uma atenção a esse tipo de regulamentação, já que devemos começar a sentir os impactos a médio prazo”. Segundo ele, o conjunto de mudanças afetará o analista buy-side e destacou a importância de se seguir uma série de regras de transparência, de conflito de interesses e de controles internos.

RI High Tech necessita utilizar o tempo com estratégia
“Não tem como fugir do digital”, afirmou Rodrigo Maia, gerente de Relações com Investidores da Gerdau, presidente da Comissão de Mercado de Capitais da ABRASCA, diretor-adjunto da Regional São Paulo do IBRI, que moderou o painel 7 “RI High Tech - Novas Ferramentas”.

PH Zabisky, CEO da MZ, salientou que “histórico não é sinônimo de perpetuidade”. Ele afirmou que a área de Relações com Investidores deve utilizar com mais frequencia “big data e inteligência artificial”. Ele observou que cada vez mais os trabalhos repetitivos serão automatizados.

João Victor Visconde, executivo de vendas da Looqbox, reforçou a ideia de que os profissionais de Relações com Investidores precisam utilizar seu tempo de forma estratégica. O objetivo das novas ferramentas tecnológicas é facilitar a “busca e análise de informações nas empresas”, concluiu.

Jornalismo econômico e mercado de capitais
A relação entre Imprensa e os profissionais de Relações com Investidores foi o foco de debate do painel 8: “Jornalismo econômico e o mercado de capitais” do 20º Encontro de RI e Mercado de Capitais.

Ronnie Nogueira, publisher e diretor editorial da Revista RI, chamou atenção para o papel dos profissionais de Relações com Investidores “na criação de pontes entre a empresa e o mercado, o que inclui os jornalistas”.

“Há uma falta de compreensão do papel da Imprensa”, afirmou Simone Azevedo, fundadora e editora executiva da revista Capital Aberto. De acordo com a jornalista, ruídos de comunicação podem ocorrer se as fontes enxergarem a Imprensa como um canal “para se divulgar informações de balanços ou novos produtos de forma menos onerosa do que se contratar anúncios”. Segundo Simone Azevedo, a Imprensa tem papel fundamental de “traduzir e utilizar o senso crítico para avaliar a importância das informações para os leitores”.

Geraldo Samor, fundador do Brazil Journal, disse que existe barreira entre a Imprensa e a fonte. “A política de comunicação das empresas erra pelo conservadorismo”, frisou.

Nelson Niero, editor do jornal Valor Econômico, disse que “uma cobertura ruim de mercado de capitais é devastadora. O jornalismo econômico e o mercado de capitais caminham juntos e dependem da democracia. A relação jornalista-fonte precisa ser baseada na confiança”.

Diversidade de gênero nos Conselhos de Administração
Diego Barreto, conselheiro do IBRI e diretor Financeiro e Legal da Ingresso Rápido, destacou a importância das mulheres nos Conselhos de Administração para o mundo dos negócios. Barreto moderou o painel 9: “Diversidade de Gênero - HeForShe - Moda ou transformação?”. “Se você não acha importante ter mulheres no Conselho de Administração, você está cometendo um erro”, ressaltou Barreto.

Ruy Shiozawa, CEO da Great Place to Work Brasil, disse que “a diversidade é boa para as pessoas, para os negócios e para a sociedade”. Ele fez menção a estudo da McKinsey que identificou que a média de retorno sobre o patrimônio líquido (recursos próprios) das empresas com mulheres no Comitê Executivo foi 44% superior a outras sem a presença feminina.

Para Juliana Rozenbaum, conselheira de Administração da Arezzo, da Duratex e da rede Lojas Renner, “mais importante que ser mulher, é ter um ponto de vista diferente”.

Palestra de encerramento
O economista Persio Arida realizou palestra de encerramento do 20º Encontro Internacional de Relações com Investidores e Mercado de Capitais. Arida considera que “a situação atual do Brasil é preocupante; a recuperação é lenta e a economia está perdendo o vigor”. “O cenário internacional está se revertendo, especialmente com as intervenções protecionistas do presidente dos Estados Unidos Donald Trump”, observou.

“As respostas do nosso sistema político tendem a ser ruins”, declarou. Arida salientou a necessidade das reformas fiscal e da previdência para a retomada econômica.

O economista mencionou a importância de se atrair capital estrangeiro para ampliar investimentos na economia brasileira. Em sua opinião, o próximo presidente da República precisa utilizar bem o capital político, “pois isso faz toda a diferença”.

A sessão de encerramento foi realizada por Alfried Plöger, presidente do Conselho Diretor da ABRASCA, e Edmar Prado Lopes Neto, presidente do Conselho de Administração do IBRI. Edmar Lopes enfatizou a diversidade de temas debatidos durante o Encontro. Alfried Plöger destacou a importância de reduzir custos, flexibilizar regras para aumentar o número de companhias abertas.

O evento foi patrocinado pelas empresas: B3 (Brasil, Bolsa, Balcão); BMA - Barbosa, Müssnich, Aragão Advogados; BNY Mellon; Bradesco; Bridge Comunicação com Investidores; Cescon, Barrieu, Flesch & Barreto Advogados; Datev Sinfopac; Deloitte; Diligent; Donnelley Financial Solutions; Greenberg Traurig; Itaú Unibanco; MZ Group; Petrobras; RIWeb; Sabesp; S&P Global; TheMediaGroup; Thomson Reuters; e Valor Econômico.


Continua...