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PESQUISA IBRI-DELOITTE: REESTRUTURAÇÃO EMPRESARIAL E COMUNICAÇÃO COM INVESTIDORES

Apesar do momento de incertezas no mercado, representantes de empresas brasileiras demonstram otimismo para o futuro próximo. Foi o que detectou a pesquisa “Reestruturação empresarial e comunicação com investidores: Amadurecimento em meio à crise”, uma parceria do IBRI com a Deloitte.

Os resultados do levantamento foram divulgados durante o 20º Encontro Internacional de Relações com Investidores e Mercado de Capitais, mostrando que 92% dos representantes das empresas entrevistadas acreditam em aumento da receita líquida até 2020.

Guilherme Setubal, diretor-presidente do IBRI, observa que “muitas indústrias estão com capacidade ociosa atualmente, o que permite atender a uma eventual retomada da economia sem necessidade de aumentar os investimentos a curto prazo”.

A pesquisa ouviu 224 profissionais, sendo 167 das áreas de finanças, controladoria, contabilidade e novos negócios; 35 de Relações com Investidores; 18 de gestão de fundos, carteiras de investimento e de reorganização de empresas; e 4 juízes.

Fizeram parte ainda do levantamento 167 empresas de diferentes portes, setores de atividade e níveis de maturidade. Cerca de 80% possuem mais de 15 anos de operação; 34% possuem capital estrangeiro; e 35% registram faturamento de até R$ 100 milhões. Os setores com mais representatividade na amostra são comércio, serviços de tecnologia da informação e agronegócio.

O levantamento foi realizado entre os meses de abril e maio de 2018, antes da greve dos caminhoneiros, do aumento da volatilidade do mercado com o noticiário político local, e do acirramento da guerra comercial entre China e Estados Unidos. “As empresas devem ficar mais cautelosas”, enfatiza Setubal.

Renegociação de dívidas
Os representantes das empresas que participaram do estudo entendem que a reestruturação (estratégica, operacional ou financeira) pode ser uma das principais ações para manter as empresas ativas, além de considerarem a negociação de contratos e dívidas como forma de sobreviver à crise.

“Percebemos um amadurecimento na postura das empresas quando analisamos as suas estratégias de sobrevivência em meio a períodos de instabilidade econômica. Hoje, é visível que as companhias já fazem uso de diversas práticas para se manterem competitivas no mercado, como a reorganização de suas operações e reestruturação de suas dívidas”, comenta Luis Vasco, sócio-líder da área de Reestruturação Empresarial da Deloitte.

Entre os anos de 2015 e 2017, 59% das empresas ampliaram o movimento de renegociação de dívida com seus clientes. A pesquisa ainda sinalizou que 57% acreditam que essas negociações devem crescer ao longo dos próximos dois anos. O levantamento demonstra, porém, que 97% das empresas consultadas não venderam sua carteira de clientes inadimplentes.

A negociação com fornecedores também entrou na linha de frente das companhias. Entre o período de 2015 e 2017, 44% das empresas entrevistadas aumentaram a renegociação de contratos com fornecedores. Já a negociação com as instituições financeiras foi intensificada por 27%.

Segundo a Deloitte, ainda para o intervalo de 2018 a 2020, os representantes das empresas consultadas têm a expectativa de reduzir o endividamento.

“A crise é um período de grande aprendizado para as empresas. Não conheço nenhuma companhia que não tenha feito alguma reestruturação interna, que não olhou e questionou seus modelos de negócios”, declarou Setubal.

Guilherme Setubal apontou os esforços, principalmente na gestão financeira e de custos. “A crise fez com que muitas empresas refletissem sobre suas estruturas de custos e fizessem ajustes”, afirmou.

Estratégias em tempos de incertezas
O cenário difícil dos últimos anos revelou-se um desafio para os profissionais de Relações com Investidores, que têm o papel de reportar ao mercado de que modo a recessão afetou os resultados das companhias.

A análise do período 2015-2017 mostra um profissional de RI que prioriza o desafio de melhorar a percepção do valor da empresa para o acionista. O RI atual também está preocupado com a reestruturação de sua própria área e com o acúmulo de funções, além de garantir que o feedback das partes interessadas seja endereçado para a organização.

“Os profissionais de RI (Relações com Investidores) estão mais atentos em comunicar de maneira transparente e objetiva as informações sobre suas empresas com os públicos de interesse. A atividade de RI está cada vez mais conectada com a gestão de riscos da companhia”, declarou Setubal.

No que se refere às perspectivas de curto prazo (2018 a 2020), a tarefa de melhorar a percepção do valor da empresa para o acionista continuará sendo a prioridade para a área de RI.

“O grande desafio do RI durante a crise foi melhorar sua comunicação com o mercado. Ele tem um papel até maior agora que é explicar esse novo modelo de negócios dentro das companhias, contar tudo o que foi feito durante a crise, e como as empresas estão preparando os próximos passos”, assinalou Setubal.

Há, contudo, algumas diferenças entre as prioridades do profissional de RI quando confrontadas com as dos investidores. Destaca-se, como exemplo, que “captar a percepção do mercado e repassar para a Alta Administração” foi a terceira opção entre 2015 e 2017 na ordem de importância do profissional de RI. Já na visão dos investidores, a questão é apenas a sexta prioridade. Outra diferença está em “ampliar a cobertura de analistas” – quinta prioridade dos investidores e nona para os RIs. Como ponto similar está a “melhoria da percepção do valor da empresa para o acionista”, principal prioridade tanto para investidores quanto para RI’s para o período de 2018 a 2020.

Para o levantamento, participaram 35 profissionais de RI, a maioria em cargos de gerente e diretor, predominantemente de empresas de capital nacional, com sede administrativa na região Sudeste e de setores diversificados – atividades financeiras, holdings, fundos de gestão, serviços de transporte e logística, siderurgia e metalurgia, entre outros.

A visão dos investidores
Apesar de um contexto delicado, a crise pode trazer aprendizados importantes. Para a maioria dos investidores entrevistados, a queda da atividade econômica brasileira registrada nos últimos três anos e outros fatores negativos trouxeram pelo menos um efeito positivo: o amadurecimento das empresas brasileiras.

Para enfrentar o período adverso, as organizações tiveram de aprimorar sua Governança Corporativa e realizar ações de transparência com o mercado, entre outras iniciativas que devem contribuir para uma postura mais preparada, quando a economia voltar a crescer.

Fizeram parte do estudo 18 administradores de fundos e carteiras de investimento, em sua maioria gerentes, superintendentes, diretores e presidentes; três quartos dos entrevistados desse grupo administram pelo menos R$ 1 bilhão em ativos.

Lei das Falências
Em vigor desde 2005, a Lei de Recuperação de Empresas e Falências completou 13 anos em 2018 e sua promulgação culminou na criação de varas especializadas em falências e recuperações judiciais no âmbito do Poder Judiciário, fator apontado pelo mercado como de extrema importância para processos bem-sucedidos. A crise impulsionou o número de falências e recuperações judiciais em curso, com base em dados dos últimos quatro anos analisados pela Serasa Experian.

Juízes, investidores, instituições financeiras e empresas participantes do estudo ressaltaram que, apesar de ser um instrumento importante e que evoluiu ao longo dos últimos 13 anos, a RJ (Recuperação Judicial) ainda é vista como último recurso pelas empresas. Embora culturalmente o empresário brasileiro relute a entrar com o pedido de recuperação, os juízes entrevistados para a pesquisa apontaram que há diversos casos bem-sucedidos de RJs, com planos de recuperação que atendem às demandas das diversas partes interessadas envolvidas no processo; bem como de empresas, antes insolventes, que adquirem grandes chances de retornarem ao mercado em melhores posições.

Mais informações: www.ibri.com.br/Upload/Arquivos/enquete/4032_Pesquisa_IBRI-Deloitte_Reestruturacao_empresarial_e_comunicacao_com_investidores.pdf


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