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NÃO HÁ “E” E “S” SEM “G

Tenho recebido muitos convites para falar sobre a importância do ESG e a evolução do tema nas organizações brasileiras. Atendo com entusiasmo cada um desses convites. Falar sobre assunto tão importante é sempre uma oportunidade de lembrar os princípios da governança. E gosto de destacar que o planejamento e execução de uma agenda completa, com temas ambientais e sociais dependem de um compromisso robusto das organizações com as boas práticas de governança corporativa.

E a governança ampliou seu foco para englobar diversos stakeholders, o que demandou dos agentes de governança corporativa maior cuidado no processo de planejamento estratégico e de tomada de decisão. Cada vez mais, desafios sociais e ambientais globais, regionais e locais influenciam a atuação das organizações, afetando sua estratégia, cadeia de valor, com impactos na sua reputação e no valor econômico de longo prazo. Mudanças climáticas, a ampliação da desigualdade social e inovações tecnológicas, entre outros fatores, têm imposto transformações na vida das organizações. Tais circunstâncias impõem a necessidade de uma visão ampliada do papel das organizações e o seu impacto na sociedade e no meio ambiente.

O trecho acima, que poderia ser resultado de uma dessas reflexões atuais, é, na verdade, parte das premissas adotadas na elaboração da 5ª edição do Código de Melhores Práticas de Governança Corporativa, editado pelo IBGC em 2015. Lá se vão pelo menos seis anos. Chama a atenção muitas vezes comentários de que os aspectos sociais e ambientais ganharam destaque nas agendas e discussões, enquanto a governança corporativa estaria ocupando papel secundário. Isso não é verdade.

Para quem tem acompanhado as demandas da sociedade, é muito claro que, sem transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa, que são os princípios básicos da governança corporativa, o compromisso com o meio ambiente e a sociedade não se sustentam.

O princípio da transparência consiste na disponibilização das informações exigidas por leis e regulamentos, mas não é só isso. A organização precisa praticar diariamente a intenção de ser transparente e isso significa que a pauta vai além dos dados de desempenho econômico-financeiro. Já o princípio da prestação de contas pressupõe que os agentes de governança prestem contas de forma clara, compreensível e tempestiva e atuem com diligência.

Na área ambiental, por exemplo, é crescente a demanda por informações sobre compromissos com a gestão das emissões de gases de efeito estufa, o consumo de recursos naturais, a produção e o descarte adequado de resíduos. É possível tratar desses temas sem transparência e prestação de contas?

A equidade caracteriza-se pelo tratamento justo e isonômico de todas as partes interessadas. Questões como diversidade e inclusão, qualidade de vida dos colaboradores e segurança no trabalho são alguns temas incluídos no S(ocial) que também são endereçados por esse princípio da governança. Isso sem falar no princípio da responsabilidade corporativa, que engloba boas práticas de gestão que sejam sustentáveis no curto, médio e longo prazo, a redução das externalidades negativas e aumento das positivas.

Em resumo, os princípios que hoje consideramos essenciais para garantir que a agenda ESG se torne realidade nas organizações sempre estiveram presentes na prática da boa governança.

Vale ressaltar que as transformações que estamos vivendo criam novos desafios e sem dúvida uma complexidade maior. É fundamental que todos os agentes de governança atuem de forma integrada e que o conselho assuma o protagonismo no direcionamento das organizações e na mudança cultural necessária.

Porém, esses princípios básicos integram e sustentam o que tanto se fala hoje sobre ESG.

Com base nesses princípios e valores, simples e atuais, volto à mensagem inicial. A governança corporativa não é apenas importante no acrônimo ESG.

Não há “E” e “S” sem “G”. É simples assim.


Leila Loria
é presidente do Conselho de Administração do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC).
comunicacao@ibgc.org.br


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