Estratégia Corporativa

OPEN STRATEGY: O CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO PERDE PODER COM A OPEN STRATEGY?

DILEMAS, RISCOS E BENEFÍCIOS DA ESTRATÉGIA ABERTA
A Comissão Temática de Estratégia do IBGC, da qual faço parte, selecionou “Open Strategy” como tema central para estudos e produção de conteúdo em 2023. A abordagem da Estratégia Aberta permite que o Pensamento Estratégico receba contribuições de diversos stakeholders e que seja influenciado por perspectivas originadas em diferentes níveis da organização e externamente.

A adoção da Open Strategy não implica necessariamente em perda de poder do Conselho de Administração. Embora a estratégia aberta envolva maior participação e colaboração das partes interessadas, o CA ainda desempenha um papel crucial na definição da visão estratégica, na supervisão e na tomada de decisões estratégicas. O Conselho pode atuar como facilitador e guardião do processo, assegurando que os princípios da estratégia aberta sejam respeitados e que os interesses da organização sejam protegidos. O conselho pode estabelecer diretrizes, definir os limites e orientar a implementação da estratégia aberta.

Além disso, o Conselho de Administração continua responsável por avaliar os riscos, monitorar o desempenho estratégico, tomar decisões estratégicas importantes e garantir a conformidade com regulamentos e requisitos legais. Essas responsabilidades fundamentais não são diminuídas pela adoção da Open Strategy.

Ao adotar uma abordagem de estratégia aberta em contraste com a estratégia tradicional, fechada, um conselho de administração deve demonstrar uma visão clara e compartilhada sobre os benefícios e os desafios vindouros, além de enfatizar a importância da transparência, colaboração e inovação para a organização. O conselho deve fomentar ativamente o envolvimento das partes interessadas relevantes, como clientes, fornecedores e a comunidade, na formulação da estratégia aberta. Isso pode ser feito por meio de consultas, parcerias estratégicas e diálogos abertos.

É fundamental incentivar e promover uma cultura de colaboração em toda a organização, estimulando a participação ativa dos funcionários na formulação e implementação da estratégia, incluindo a criação de canais de comunicação abertos e o estímulo à troca de ideias e feedback. É necessário criar um ambiente propício à inovação, encorajando o pensamento criativo e o desenvolvimento de novas ideias. O conselho deve identificar as competências necessárias para implementar com sucesso a estratégia aberta e garantir que a organização tenha as habilidades e o conhecimento adequados, investindo no desenvolvimento dos funcionários, se necessário.

Um grande desafio para o Conselho é promover a transparência em relação aos objetivos, planos e resultados estratégicos, a fim de garantir que todas as partes interessadas tenham acesso a eles. É preciso realizar uma análise cuidadosa dos riscos associados à estratégia aberta, bem como das oportunidades que ela apresenta. As decisões devem ser informadas, considerando o equilíbrio entre riscos e recompensas. Para isso, devem ser estabelecidos mecanismos de monitoramento contínuo para avaliar a eficácia da estratégia aberta, definindo indicadores-chave de desempenho e revisando regularmente os resultados estratégicos para ajustar e adaptar a estratégia com base no feedback e nas mudanças no ambiente de negócios.

Em alguns casos, será necessário buscar ajuda externa de especialistas em tecnologia. A adoção de uma estratégia aberta envolve investimentos em tecnologia, capacitação de pessoal e desenvolvimento de parcerias. Se esses investimentos não gerarem os resultados esperados, a empresa pode enfrentar riscos financeiros, como aumento de custos sem retorno adequado.

O sucesso desse engajamento, que promove a diversidade de conhecimentos, experiências e insights, depende do contexto do ambiente de negócios. Uma cultura organizacional aberta, que valoriza a colaboração, a transparência e a diversidade de ideias, é essencial para o florescimento da Estratégia Aberta. Além disso, uma estrutura organizacional simplificada e uma comunicação transparente facilitam os momentos de tomada de decisões descentralizada. O conselho deve se esforçar para comunicar de forma clara e consistente a estratégia aberta e seus objetivos para todas as partes interessadas, garantindo que a mensagem seja compreendida e que haja oportunidades para esclarecer dúvidas e obter feedback.

O grau de conectividade com outras empresas favorece a troca de informações e a colaboração efetiva. Por outro lado, a mudança para uma estratégia aberta pode encontrar resistência interna na cultura organizacional, e a falta de engajamento, especialmente dos funcionários em níveis mais altos, pode dificultar a implementação bem-sucedida da Open Strategy e impactar negativamente os resultados.

Também devemos considerar dilemas, como o equilíbrio entre abertura e controle. Determinar quais partes do processo de desenvolvimento estratégico se beneficiam mais da abertura e quais devem ser mantidas fechadas é essencial. Outro desafio é aproveitar a diversidade de ideias e insights provenientes da abertura, sem perder velocidade e flexibilidade durante a ideação e síntese de diretrizes estratégicas. Também é crucial considerar o grau de transparência que será fornecido à demanda por mais informações estratégicas por parte dos funcionários e de agentes externos à empresa. O Conselho terá influência sobre a calibração desses fatores.

Em relação aos benefícios, a estratégia aberta antecipa a compreensão de mudanças no setor, aumenta a diversidade de alternativas durante a ideação das diretrizes estratégicas, melhora a qualidade do Plano Estratégico, acelera e torna a comunicação da estratégia mais eficaz e incentiva um maior comprometimento dos colaboradores de todos os níveis com a execução da estratégia.

No entanto, as empresas que tentam implantar uma estratégia aberta, mas não obtêm sucesso nos resultados, estão expostas a diversos riscos. Por exemplo, a transparência pode comprometer a competitividade, a confidencialidade pode ser comprometida e comportamentos destrutivos por parte dos stakeholders são possíveis desafios a serem enfrentados. O insucesso na implementação da estratégia aberta pode prejudicar a reputação da empresa perante seus stakeholders. Isso pode levar à perda de confiança, danos à imagem da marca e impacto negativo nas relações com clientes, fornecedores e parceiros de negócios. Além disso, se uma empresa não consegue adotar uma estratégia aberta de forma eficaz, corre o risco de ficar para trás em relação aos concorrentes que estão abraçando a inovação e a colaboração, resultando em perda de participação de mercado, redução da vantagem competitiva e dificuldade em acompanhar as mudanças do setor.

Outro ponto no radar do Conselho incluem a identificação das partes do Pensamento Estratégico que mais se beneficiam da abertura e aquelas que são melhor mantidas fechadas – determinar quais aspectos podem ser abertos para obter perspectivas externas valiosas e quais exigem confidencialidade é fundamental para equilibrar transparência e controle.

Em resumo, embora a Estratégia Aberta promova maior participação e colaboração de colaboradores internos e agentes externos, o Conselho de Administração ainda desempenhará um papel essencial na governança e no direcionamento estratégico da organização.


Alexandre Oliveira, PhD, CCA
é Conselheiro de Administração com foco em Estratégias e Riscos da Transformação Digital. Membro da Comissão de Estratégia do IBGC, da Agroven (Smart Money for AgTechs) e CEO da Cebralog Consultoria. Doutor em IA nas Decisões Corporativas (Unicamp), pós-graduado Negócios Digitais (MIT) e em Finanças (Unicamp). Mestre em Supply Chain (Cranfield University).
oliveira.a@cebralog.com


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