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O PAPEL DAS ORGANIZAÇÕES NO COMBATE ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

A ocorrência de fenômenos climáticos mais acentuados e contundentes, como as recentes enchentes no Rio Grande do Sul e os temporais no Litoral Norte paulista no início de 2023, não deixam mais dúvidas quanto à necessidade de ações concretas para conter o aquecimento global e de adaptação às mudanças climáticas. Nesse sentido, por mais que sejam imprescindíveis a mobilização e políticas eficazes dos governos, não haverá solução sem o forte engajamento das empresas em projetos de economia verde, transformação energética e produção mais sustentável.

Assim, além de medidas de conscientização e responsabilidade no âmbito da governança corporativa, a atenção dos investidores, conselheiros e líderes empresariais a essas questões ambientais é decisiva para que a multiplicação de negócios sustentáveis viabilize a preservação ambiental em sinergia com a inclusão social de milhões de pessoas no Brasil e no mundo.

Afinal, a capacidade do planeta de se regenerar é limitada e está diminuindo à medida que o consumo de recursos naturais se exacerba para atender às necessidades da sociedade contemporânea. É preciso preservar os recursos naturais ainda existentes, conciliando a atividade econômica com a conservação de florestas, mananciais hídricos e toda a biodiversidade.

O Brasil é um celeiro de oportunidades de investimentos em projetos desse gênero, considerando a grandeza e exuberância de seus biomas e ecossistemas, a extensão de sua costa marítima e seus rios – e é crucial protegê-los, mas com um olhar que contemple a sustentabilidade ambiental e o progresso econômico das comunidades.

Uma das regiões prioritárias para o desenvolvimento de projetos com essas características é a Amazônia. Com o intuito de demonstrar seu potencial e demandas quanto a investimentos em negócios verdes geradores de renda, empregos e inclusão, o Chapter Zero Brazil, representado em nosso país pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), está promovendo a Vivência Samaúma, que proporcionará aos participantes uma conexão direta com a floresta, para que conheçam potenciais economias e modelos de negócios mais sustentáveis. A programação, de 6 a 10 de junho, em Manaus (AM), abrangerá visitas a comunidades indígenas e ribeirinhas, visando conhecer seus saberes e modo de vida, visitas a entidades e projetos locais, aulas e workshops com especialistas, encontros com famílias empresárias e com startups de impacto.

O Chapter Zero é parte da Climate Governance Initiative (CGI), no âmbito do Fórum Econômico Mundial. Criada no ano de 2019, como desdobramento de um grupo de trabalho do fórum, a CGI consiste em uma rede global de organizações independentes, os chapters ou capítulos. Assim, enquanto Chapter Zero Brazil, o IBGC tem como foco incentivar que conselheiros e conselheiras de administração levem aos seus boards as temáticas relacionadas ao desafio das mudanças climáticas – e a Vivência Samaúma surge nesse contexto, buscando promover reflexões sobre a necessária transformação regenerativa, proporcionando uma visão profunda da Amazônia de hoje e a do amanhã.

Cabe frisar que o futuro da região amazônica passa, necessariamente, pela tecnologia como aliada da biodiversidade, startups e negócios de impacto socioambiental, empresas familiares, cadeias produtivas sustentáveis, serviços ecossistêmicos, bionegócios e claro, boas práticas de governança corporativa. São oportunidades de negócios que mantêm a floresta em pé e as comunidades prósperas, com respeito à sua cultura e modo de vida.

Todo esse potencial é corroborado pelo Estudo de Boas Práticas Empresariais na Amazônia, realizado pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). O trabalho alerta que muitas das atividades econômicas desenvolvidas na região seguem uma lógica obsoleta, baseada no desmatamento, incluindo atividades que operam à margem da legalidade. Por isso, a agenda ESG (ambiental, social e governança) é fundamental, de modo que as empresas comecem a perceber a importância de não só tentar minimizar riscos e impactos sociais e ambientais, mas, sobretudo, gerar impactos positivos para as pessoas e o planeta.

Com isso, o estudo demonstra que os negócios são parte importante das soluções voltadas a mitigar as crises enfrentadas pela humanidade em decorrência das mudanças climáticas, perda da biodiversidade e desigualdade social. E indica que, nos próximos anos, as empresas deverão ser protagonistas na construção de um novo modelo de desenvolvimento, que será o grande diferencial do nosso país na economia global.

Alguns exemplos concretos de como isso é possível foram mapeados em trabalho do Instituto Escolhas, intitulado Assistência técnica para a bioeconomia na Amazônia: dos desafios à solução, que aborda a castanha-do-brasil, cacau, açaí, andiroba e pirarucu. Identificou-se que a oferta de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) qualificada e direcionada às demandas do produtor é um dos principais gargalos para a consolidação de cadeias de valor, a transição para sistemas produtivos que promovam a conservação e a regeneração dos ecossistemas e o combate à pobreza em áreas rurais.

Para viabilizar o êxito dessas metas são necessárias ações como a devida gestão administrativo-financeira, melhor mapeamento de áreas produtivas, estudos de mercado, desenvolvimento de técnicas e boas práticas, governança adequada, processos de regularização no Cadastro Ambiental Rural (CAR), fundiária e de agroindústrias, planos de manejo e licenciamento. Também é preciso implementar o acesso a mercados e às aquisições do setor público, precificação dos produtos, negociação de compra e venda, fortalecimento das marcas e desenvolvimento de planos de negócios. São essenciais, ainda, recursos para custeio e investimentos em diversas etapas da produção. Ou seja, há amplas oportunidades.

Diante da grandeza dos desafios e da urgência do engajamento das empresas na agenda ESG, o IBGC realiza a pesquisa Board scorecard: a atuação dos conselhos frente aos impactos climáticos e à estratégia net zero. O objetivo é analisar como esses colegiados, tanto os de administração quanto os consultivos, têm abordado o tema.

Na segunda edição do estudo, divulgada no final de 2023, notou-se progresso de 8,1 pontos percentuais quanto à adoção de medidas de curto e de longo prazo alinhadas aos planos de redução de emissões de gases de efeito estufa: em 2022, 58,6% dos entrevistados reportaram não haver providências nesse sentido, com esse percentual caindo para 50,5% este ano.

Além disso, pouco mais da metade dos respondentes (55,1%) indicaram que os membros do conselho entendem as implicações das mudanças climáticas, e somente 39,3% sinalizaram ser uma prática pautar a questão pelo menos quatro vezes ao ano na agenda do colegiado, tendo objetivos claros para a discussão, além de dados e informações robustos. Ademais, 50,5% revelaram que o conselho não estabeleceu a meta net zero para a emissão de gases de efeito estufa, nem está alinhado ao compromisso de limitar o aumento da temperatura global a 1,5 grau Celsius. O percentual foi o mesmo para as respostas sobre medidas de curto e de médio prazo para a redução das emissões. Para 53,3%, o colegiado não considera a questão climática nas decisões de investimento, nem faz uso de uma ferramenta de quantificação, como a de precificação de carbono.

Esses dados da pesquisa – que contou com a participação de 107 respondentes, dentre conselheiros de administração, consultivos, fiscais e diretores-executivos – aliados a acontecimentos como as recentes tragédias ambientais que atingiram o país, evidenciam: é necessário um avanço mais rápido e acentuado do engajamento do universo empresarial no combate às mudanças climáticas.

Sandra Morales e Gabriela Blanchet
são, respectivamente, gerente de Impacto Socioambiental do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC); e coordenadora e embaixadora da iniciativa de governança climática (Climate Governance Initiative – Chapter Zero Brazil) do Fórum Econômico Mundial, hospedada no Instituto Brasileiro de Governança Corporativa - IBGC.
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