Gestão de Risco

GOVERNANÇA EM TEMPOS DESAFIADORES

No atual momento e contexto da economia global não existe espaço para erros e apetites não gerenciados para tomada de riscos por parte das empresas, sociedades e famílias. Neste sentido, gostaria de começar este artigo com uma máxima que não canso de repetir: “Não podemos governar novos tempos sem a presença de novas práticas”.

Estamos frente ao advento da era cognitiva ou da capacidade analítica massiva de dados através da inteligência artificial avançada, o que humanamente seria impossível por melhor que fossem as equipes, uma era onde máquinas programam máquinas e interagem com dispositivos diversos. Softwares entram velozes arrasando tudo, transformando modelos de negócios e organizações, fechando CNPJs, e abrindo novos, transformando a arena da competição, onde cada vez mais a profusão de dados em escalas nunca antes vistas, geram informação e o conhecimento que se tornam a nova moeda de alto valor corrente.

Muitas das profissões que conhecemos estão fadadas à extinção, outras se transformarão e novas surgirão, e isto em um breve espaço de tempo, resultando na transformação de modelos. Estruturas de governança, também passarão pelo processo de transformação em suas atividades. Vejamos a atividade de auditoria, que passa a ser contínua, acrescida por monitoramento contínuo empoderados por capacidades analíticas da massa crítica e crescente de dados, cada vez mais inseridas na realidade corporativa. E não podemos sequer supor que isto seja coisa de outro mundo, ficção científica ou práticas apenas para organizações avançadas de primeira economia. Enquanto tentamos entender sua existência ou justificarmos a aplicação, ou não, desta tendência sobre nossa realidade, corremos o risco de sermos arrastados em um verdadeiro turbilhão transformador. Bem vindos à era da cognição!

As mudanças sociais e econômicas tornam-se cada vez mais aceleradas e passam a exigir um redesenho do plano de negócios, sua gestão e governança. Não se trata mais apenas de feeling de empresário, nem de suposições baseadas apenas em modelos e vivências passadas. Nosso atual contexto exige metodologias e tecnologias, ciência e técnicas de gestão, assessoramento necessário e melhores, e adaptativas práticas de governança corporativa, gestão de riscos e programas efetivos de compliance orientados à integridade e resiliência organizacionais, que assegurem a passagem pelo teste do tempo.

Além dos riscos inerentes ao crescimento da capacidade digital global, sua adoção ou não, também crescem, ou transformam-se, os riscos corporativos e societários através de conflitos com capacidade de destruir valor das organizações. Mas sistematizar ou automatizar a não-conformidade de processos corporativos passa a ser apenas acelerar a possibilidade de fraude e antecipar o caos em direção à extinção.

Governança, Risco e Compliance
GRC (Governança, Risco e Compliance) é o conjunto integrado de capacidades, processos e soluções analíticas que permitem uma organização alcançar confiavelmente seu objetivos (Governança), abordando simultaneamente a incerteza (Gestão de Riscos) e agindo com integridade (Compliance) de forma sistêmica, através da obtenção de informações de qualidade para a tomada de decisões em tempo real possibilitando o aumento de performance com os riscos inerentes gerenciados. O resultado disso é o que chamamos de desempenho por princípios.

Falta de governança, gestão de riscos e compliance nas dimensões da empresa, gera danos à reputação, má alocação de recursos diversos, perda de eficiência, inovação e produtividade, sanções administrativas, pecuniárias e criminais, cassação de licenças e autorizações, graves conflitos de interesse que destroem valor.

Segundo Andrew Newton (chairman do Integrity and Ethics Committee Securities Institute, UK e adjunct instructor do Business Ethics and Corporate Social Responsibility): “Se você pensa que compliance é caro, tente o não compliance”.

Não seria então simples e lógico dizer: “Se pensamos que governança e gestão de riscos são caros, experimentemos então o não GRC”.

É ..., assim deveria, mas parece não ser. Os últimos e recentes fatos no Brasil, demostram isso com muita força.

Em tempos atuais, as práticas de governança devem evoluir no sentido de avançar como um elemento efetivamente mais ativo junto as mudanças sociais, econômicas e tecnológicas que impactam as indústrias, organizações e famílias, sendo uma política essencial de resiliência organizacional que permitam as gerações serem bem sucedidas na passagem pelo teste do tempo.

Temos visto nos últimos anos de forma exaustiva, em diversos veículos de mídia, como a corrupção amparada por práticas equivocadas ou inexistentes de governança e ausência de processos de GRC, levaram a deteriorização substancial de valor organizacional de sociedades, famílias e o País, impactando internacionalmente na imagem e reputação de uma nação, o que sem dúvida demandará algum tempo para ser recuperado, retirando de algumas gerações um dos bens mais valiosos: o tempo. Em outros casos as perdas de vidas que não retornam jamais.

Parecia que de alguma forma tínhamos alguma boa governança, mas na realidade não, e isto perfeitamente demonstrou-se nos últimos anos. E, justamente sobre a essência e a aparência, o ser e o parecer ser da governança corporativa no Brasil, será o tema discutido no 17º Congresso Internacional de Governança Corporativa do IBGC, que abordará a existência ou não da governança nas empresas brasileiras, e se existente, sua eficiência, se são ou serão suficientes suas práticas no atual contexto de nosso país. E ainda, se sua instituição impactará na performance e resiliência organizacionais, como evoluirão suas práticas em um ambiente cada vez mais disruptivo, desafiador e complexo nas relações corporativas, societárias e familiares.

Sem dúvidas a disruptividade e a complexidade promovidas pela inovação transformacional apresentam um grande desafio materializado na realidade que apresenta seus impactos nas sociedades, economias, nas relações interpessoais e de negócios.

Processos integrados de GRC suportados por soluções tecnológicas integradas com capacidades cognitivas e analíticas passarão a ser fator de criação de valor na gestão e governança para novos ambientes de negócios, inferindo de forma direta e confiável na produtividade e relações de mercado, promovendo um confiável ambiente de negócios através da performance corporativa com integridade e riscos gerenciados suportados por auditoria e monitoramento contínuos.

A criação e preservação efetiva de valor à sociedade e demais partes interessadas, são algumas das principais tarefas de administradores e líderes empresariais, passar a entender para onde vai toda a complexidade e desafios dos avanços globais, seus impactos e sorte de riscos, estratégicos e operacionais, advindos destes novos tempos, passa a ser fundamental na promoção de condições íntegras de resiliência organizacional.

Ética verdadeira, confiança, inovação tecnológica e ciência serão valores primordiais na condução de negócios e organizações nos novos tempos, principalmente no Brasil. E qual será o papel da governança neste novo contexto? O elemento primordial que aglutine e integre esta complexidade de forma íntegra.

Senão vejamos, qual a ciência tem o real poder da rápida e profunda transformação? Que ciência transformou efetivamente as ciências biomédicas, o sistema financeiro, a indústria e o comércio? Qual a ciência vem transformando o ambiente de negócios e suas relações comerciais, comportamentos sociais, enfim o mundo em que vivemos? A resposta é simples: a informação e suas poderosas e transformadoras tecnologias.

Mudanças da sociedade vêm impactando profundamente a vida de companhias e famílias, suas estruturas de gestão e modelos de negócios, que são constantemente desafiados a evoluir, para poderem acompanhar as transformações providas pela inovações científicas destes tempos desafiadores de transformações aceleradas.

E neste cenário, necessitaremos de práticas de GRC suportadas por processos inteligentes e analíticos de amplo espectro e integrados, executados em tempo real tratando de forma contínua riscos diversos que ameaçam e impactam a continuidade de negócios e resiliência organizacional, propiciando assim relações seguras de confiança, que possam ir além do âmbito de frias regulações locais e globais, propiciando um ambiente de integridade promovido a partir da conscientização patrocinada em “tone-at-the-top” que passe a permear toda a organização na vontade efetiva e expressa de ser íntegro, e não apenas parecer ser.

São vindouros breves e novos tempos em que empresas e famílias com processos evolucionários de GRC incutidos na forma como se fazem negócios, irão sobressair muito bem. E se assim agirem, de forma íntegra e ética, integrando a estratégia com uma proposta de valor social, serão um grande exemplo de organização ao mercado e a sociedade.

O mundo não é mais o mesmo que há 5 anos, e amanhã será diferente. E qual será o papel da governança neste contexto em constante transformação?

Afinal o mundo se transforma muito rápido e modelos falhos e ultrapassados vêm sucumbindo, nos mostrando diariamente que, sem abandonarmos o que realmente deu certo no passado mas adaptado-se às transformações, não poderemos governar novos tempos sem novas práticas de governança.

Vladimir Barcellos Bidniuk
é partner advisor da VBnK TrustStream; consultor em GRC, Governança Corporativa, Societária, Familiar e Digital; e conselheiro de Governança Corporativa no COPEMI – FIERGS.
vlad.bidniuk@gmail.com


Continua...