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Orquestra Societária

COVID 19 & O DESAFIO DA LIDERANÇA RACIONAL E CRIATIVA

Há algumas semanas, uma das autoras deste artigo teve um breve diálogo com um médico com qualificações acadêmicas e profissionais diferenciadas. Durante a consulta, a paciente mencionou sua percepção quanto à gravidade do novo vírus que ora ameaça a humanidade, a COVID 19, e o médico respondeu: “Sim, é grave. Não existe vacina, que pode levar tempo para aparecer. A prevenção que existe no momento é evitar o contágio. As opções de tratamento são limitadas. A velocidade de propagação é preocupante e a situação em alguns países parece crítica.Como nunca foi tão fácil viajar para outros países ou deles receber visitantes, estamos sob grande risco”.

Durante alguns minutos, o aplicado médico se concentrou em alguns exames de saúde a ele levados para fins de diagnóstico. Na sequência, após orientar a paciente sobre os cuidados com a saúde a serem tomados, ele retornou ao tema do vírus: “Sabe de uma coisa? Acredito que a humanidade está passando, acima de tudo, por uma grande experiência espiritual. COVID 19 nos obrigará a pensar sobre muitas coisas, e a evoluir espiritualmente. Bem, cuidemos de nós e de quem pudermos ajudar! Cuide-se, ok?”

A consulta teve que ser encerrada, pois outras pessoas aguardavam atendimento e toda a agenda do consultório encontrava-se atrasada naquela manhã.Mesmo assim, as palavras do ilustre médico fizeram pensar. O que haveria neste singelo diálogo entre uma paciente e seu médico de longa data, que torna tal conversa merecedora de reflexão sobre um tema que ora atormenta a humanidade?

Alguns apontarão as preocupações presentes na fala do especialista: gravidade do vírus,inexistência de vacina e tratamento efetivo, tempo preciso para a ciência criar uma vacina, velocidade de propagação, situação crítica de países,necessidade de cuidados para evitar o contágio e o risco dos brasileiros, em um ambiente globalizado interconectado.Outros mencionarão na fala do clínico o seu final: “COVID 19nos obrigará a pensar sobre muitas coisas e a evoluir espiritualmente”. O que nos chama a atenção é o conjunto da obra: razão e uma percepção fina da realidade, lado a lado, expressas nas palavras do ilustre médico.

O médico em questão, que tem uma clínica concorrida onde é preciso agendar consultas com boa antecedência, é um professor com doutorado em sua especialidade e tem dado contribuições acadêmicas de peso em sua área de conhecimento. Além de clinicar, ele é um pesquisador e um praticante da ciência: um cientista. Sua fala nos faz refletir sobre dois aspectos tratados na obra de um extraordinário pensador alemão, Max Weber: racionalidade e desencantamento.Conforme procuraremos mostrar aos nossos leitores, esses dois conceitos estão estreitamente ligados ao sistema econômico no qual estamos inseridos: o capitalismo. E têm a ver com o tema COVID 19 e com a lógica da Orquestra Societária.

Maximilian Karl Emil Weber (Max Weber) foi um dos três sociólogos cujas ideias são pilares da Sociologia Clássica:Karl Marx, Émile Durkheim e o próprio Weber.Jurista, economista, historiador e sociólogo nascido em Erfurt, Alemanha (21/4/1864-14/6/1920), Weber estudou o capitalismo, as relações sociais e seu entrelaçamento entre esses dois temas entre outras questões. Nesses estudos, os termos racionalidade e desencantamento emergem e ajudam a compreender, segundo a visão do pensador, a evolução do capitalismo e como esse sistema econômico poderia ser fortalecido.

Segundo Gabriel Cohn, professor emérito da Universidade de São Paulo (SP) e sociólogo brasileiro especialista na obra de Max Weber (em entrevista concedida à Fundação Padre Anchieta), o propósito mais profundo de Weber era entender como o estado alemão poderia desempenhar um papel importante no conjunto das nações. Seu foco era a sociedade capitalista, que representava o “horizonte histórico de sua época”, pois ele não vislumbrava outro sistema diferente do capitalismo. Esse propósito conduziu Weber a uma forma de entendimento da sociedade baseada em ações sociais, conforme veremos adiante, e a perceber a racionalidade como fundamental para a consolidação do capitalismo, em termos da criação de um aparato legal ou burocracia que organize a sociedade, de um Estado moderno e organizado.

Em nosso tempo, o pensamento weberiano continua fazendo sentido, mesmo que a sociedade ocidental seja bem diferente daquela que Weber conheceu. O sociólogo faleceu prematuramente aos 56 anos (mesmo para os padrões de longevidade de seu tempo), cerca de dois anos após o término da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), que plantou as sementes da Segunda Guerra (1939-1945). Se Weber tivesse vivido mais tempo, muito mais teria a pesquisar e a refletir sobre economia e sociedade, já que esses dois eventos modificaram significativamente a geopolítica mundial e as várias sociedades nacionais ao redor do Planeta. Parte significativa de sua obra somente foi publicada postumamente.

As ideias de Max Weber sobre o capitalismo serão melhor compreendidas pelos nossos leitores se precedidas de uma breve contextualização histórica.Para fins didáticos, a História da humanidade está dividida pelos historiadores em cinco grandes períodos. A criação da escrita assinala o final da Pré-história (até cerca de 4.000 a. C.) e o início da Idade Antiga (4.000 a. C. – 476),um período de florescimento de civilizações e povos importantes como egípcios mesopotâmicos, hititas, fenícios, hebreus, persas, chineses, gregos e romanos. A deposição do último imperador romano Rômulo Augusto pelos hérulos (um povo germânico), no ano 476, marca, por sua vez, a transição para a Idade Média (476 – 1453).

Na Idade Média, o legado deixado por vários filósofos gregos, como Aristóteles, Sócrates, Arquimedes, Euclides e outros foi ignorado, em prol do dogmatismo religioso imposto pela Igreja Católica daquele tempo. Especialmente no intervalo conhecido como Baixa Idade Média, compreendido entre os séculos XI e XV, reprimiu-se e reduziu-se o pensamento racional humano, muito presente na filosofia da Idade Antiga, a dogmas baseados na fé sem reflexão. A Igreja exerceu grande controle sobre a civilização ocidental, tornando-se muito poderosa. Pode-se dizer que essa época representou o auge do dogmatismo mítico no Ocidente, que atrasou em séculos o desenvolvimento intelectual dos seres humanos.

Entretanto, a História é dinâmica e o tempo não para. Mesmo na Idade Média, fatos importantes contribuíram para mudar o status quo adiante e reconfigurar a realidade, na Idade Moderna (1453 – 1789). Em meados do século XIV, isto é, ainda na Idade Média, um movimento econômico e artístico importante emergiu: cidades como Veneza, Florença, Gênova e a própria Roma, com recursos gerados pelo mercantilismo, receberam investimentos em arquitetura, escultura, pintura e outras áreas, cujos resultados ainda hoje são patrimônio cultural e turístico da Itália. Esse movimento corresponde aos primórdios do Renascimento, que viria a crescer de modo impressionante em séculos seguintes.

Outro evento com raízes na Idade Média corresponde ao descontentamento de vários públicos com a Igreja, que, além de deter grande poder político e econômico, afastou-se das premissas religiosas das primeiras gerações de cristãos. Apesar da perseguição brutal dos primeiros tempos aos cristãos, com o tempo, líderes romanos abraçaram o catolicismo e o Estado o adotou como religião oficial. O poder da Igreja e o seu afastamento em relação às crenças cristãs originais conduziram a desconfortos tanto entre líderes da elite econômica e política quanto entre outros segmentos sociais daquele tempo. As regras religiosas então ditadas cerceavam o pensamento e a livre iniciativa; ademais, o imposto pago pelo povo à Igreja – o dízimo –, tornou-a a entidade mais rica da Europa Ocidental.Ainda hoje suntuosas igrejas na Europa atestam como muitos recursos financeiros foram gastos em sua edificação.

Considerada por vários historiadores anglo-saxônicos como marco inicial da Idade Moderna, apesar das controvérsias, a conquista de Constantinopla pelos turcos otomanos, ocorrida no ano de 1453, foi sucedida por vários eventos, que reconfiguraram o panorama europeu.O Renascimento cresceu e terminou por conquistar vários países da Europa. Um de seus principais pilares era o pensamento racional ou racionalidade e a razão passou a ser considerada por diversos intelectuais europeus como caminho único para o conhecimento, sobrepondo-se à fé sem reflexão. O Renascimento foi marcado pelo retorno à filosofia grega e ao estudo crítico das ideias de filósofos como Aristóteles (frequentemente considerado como pai da lógica), Platão, Sócrates, Arquimedes, Euclides e outros, sem influências do cristianismo e visando racionalidade, questionamento e a busca pela verdade.

Um segundo evento muito relevante para a mudança do panorama da Europa Ocidental foi a Reforma Protestante, que reside no cerne das mudanças ocorridas. Tal movimento confrontou o dogmatismo vivenciado na Idade Média, criando uma nova forma de pensar a religiosidade, segundo a qual a salvação de uma alma não residiria nas indulgências pagas à Igreja, mas em trabalhar duramente, de forma racionalizada, previsível e baseada em calculabilidade, para acumular capital, mostrando-se merecedor perante Deus. A Reforma Protestante da Idade Moderna libertou energias reprimidas pelo catolicismo da Idade Média, incentivando a livre iniciativa e deflagrando o crescimento do capitalismo.

Outros dois eventos fortemente associados ao pensamento racional ou racionalidade foram as Revoluções Científica (do século XVI ao XVII) e Industrial (1760 a algum momento entre 1820 e 1840), ambas iniciadas na Idade Moderna. A primeira reconheceu o empirismo e a experimentação científica como caminhos para a demonstração de hipóteses de estudo. Quanto à segunda, esta constituiu-se em um movimento de substituição da produção baseada no trabalho artesanal por aquela baseada no uso de máquinas, que resultou nas primeiras indústrias.

Em continuidade ao movimento incessante da História, a queda da Bastilha, ocorrida em 1789, marcou o início da Idade Contemporânea, que perdura em nosso tempo. É nessa etapa que Max Weber procura explicar a emergência do capitalismo, as relações sociais e o entrelaçamento entre ambos, entre outras questões. E desenvolve os termos racionalidade e desencantamento.Mas antes de focalizarmos Weber e suas ideias, completemos nossas breves considerações sobre a Idade Contemporânea, marcada por grandes e muitos eventos. Sem pretender entediar os nossos leitores, apresentamos a seguir uma pequena seleção de fatos históricos, não exaustiva:

De 1789 ao século XIX

  • Revolução Francesa (1789 – 1799) e a “igualdade dos homens perante a lei”;
  • Era Napoleônica, associada à liderança de Napoleão Bonaparte (1799 – 1815);
  • Independência das 13 colônias inglesas na América do Norte (4/7/1776);
  • Colonização da Ásia e África por europeus, em busca de matérias primas para a indústria, com legados sofríveis para a região ou país colonizado (século XIX);
  • Primeiros movimentos de trabalhadores e emergência conceitual do marxismo de Friedrich Engels e Karl Marx (século XIX).

Século XX

  • Primeira Guerra Mundial (1914-1918), que plantou as bases da Segunda Guerra;
  • Revoluções Comunistas na Rússia (1917) e na China (1948 – 1952);
  • Crise econômica de 1929;
  • Segunda Guerra Mundial (1939-1945);
  • Criação da Organização das Nações Unidas – ONU (1945);
  • Guerra Fria entre os EUA e a URSS, envolvendo países alinhados às duas superpotências (1945 – 1991);
  • Guerra do Vietnã (1/11/1955 – 30/4/1975);
  • Primeiros passos do homem na Lua, o que foi viabilizado pelos EUA (21/6/1969);
  • Maior intensidade na globalização, iniciada com as grandes navegações, na Idade Moderna e elevada a um patamar de grande conectividade (a partir dos anos oitenta);
  • Emergência de um movimento pela sustentabilidade, com base nos esforços da ONU, deflagrado a partir dos anos setenta pela Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, na Suécia (1972);
  • Emergência de um movimento pela governança corporativa, a partir dos EUA, na Califórnia, iniciado por grandes investidores institucionais, em função de escândalos corporativos; o movimento se disseminou pelo Planeta (1984 em diante);
  • Queda do Muro de Berlim (9/11/1989);
  • Emergência da China como uma das grandes forças econômicas potenciais do mundo (especialmente a partir dos anos noventa); e,
  • Criação da União Europeia (1/11/1993).

Século XXI

  • Ataques terroristas em New York, que criaram forte comoção mundial (11/9/2001).
  • Lei Sarbanes-Oxley nos EUA, em função de escândalos corporativos (30/6/2002);
  • Crise econômica a partir do sistema financeiro dos EUA, no segmento subprime (2008);
  • Primavera Árabe ocorrida em países do Oriente Médio e do Norte da África, para denunciar a repressão política ali existente (2010);
  • Occupy Wall Street, movimento ocorrido em várias cidades dos EUA, em protesto contra a desigualdade e o grande poder de corporações, especialmente financeiras, sobre o governo desse País; o movimento se expandiu para outras cidades no mundo (2011);
  • Reaproximação entre os EUA e Cuba, no governo Barak Obama (2014);
  • Movimentos de refugiados de países como a Síria e outros, em fuga contra guerras, o que não se via desde a Segunda Guerra Mundial (2015);
  • Decisão do povo britânico de se retirar da União Europeia – brexit (2016);
  • Governo Trump nos EUA, com a reversão de algumas realizações do governo Obama.
  • Decretação da pandemia COVID 19 (2020, em curso).

No que tange ao tema tecnologia e considerando conjuntamente as Idades Moderna e Contemporânea,mencionam-se, de modo não exaustivo, as máquinas a vapor, o telégrafo, a locomotiva, o fonógrafo, a fotografia, a lâmpada incandescente, o radar, o avião, o submarino, o cinescópio,o rádio, o telefone, a televisão, o computador, o satélite, a internet, o smartphone, as vacinas e tratamentos para várias doenças e muito mais.

Uma vez apresentada essa breve retrospectiva (esperando não ter tornada a leitura deste artigo enfadonha), consideremos a visão de Max Weber: para ele o capitalismo está relacionado à Reforma Protestante, forte impulsionador desse sistema econômico, com base nas ideias de Martinho Lutero e, principalmente, de João Calvino. Na lógica calvinista, as pessoas a serem salvas por Deus já teriam sido por Ele previamente escolhidas. Mesmo assim, o homem crente em Deus, incerto sobre ter sido ou não um dos escolhidos, deve lutar diligentemente pela salvação de sua alma. Como? Deixando de pagar indulgências à Igreja, tratando o dinheiro de forma desvinculada de estruturas religiosas, trabalhando racional, disciplinadamente, sem desperdícios, e acumulando capital. A busca de acumulação de capital reside no cerne da lógica capitalista.

De acordo com Weber, esse novo modo de pensar, baseado em forte racionalidade no trabalho e no trato do dinheiro, com previsibilidade e calculabilidade, teve grande influência sobre o capitalismo, nos primórdios desse sistema. Ressalta-se que Weber colidiu com aqueles que defendiam que o pensamento econômico precedia a visão religiosa, entendendo que isso pudesse ocorrer, o oposto também se verificaria, já que o mundo é complexo.

No que concerne, especificamente, aos vocábulos racionalidade e desencantamento, associados às ideias de Weber sobre capitalismo e sociedade, os tópicos a seguir buscam resumir o pensamento weberiano:

  1. Os indivíduos devem ser vistos com olhar social, isto é, considerando suas interações com os demais. Assim, é preciso considerar as ações sociais dos indivíduos, isto é, aquelas que envolvem outros seres humanos.Nem toda ação é social. Comer um sanduíche em uma via pública é uma ação individual, mas oferecê-lo a alguém que tem fome é uma ação social.
  2. Ações sociais podem ser categorizadas em quatro tipos: i) baseadas nas tradições e costumes, como cumprimentar alguém; ii) baseadas em emoções, positivas ou negativas, como expressar alegria ou contrariedade pela chegada de alguém; iii) baseadas em valores e princípios que os seres humanos absorvem ao longo de suas existências, refletidos, por exemplo, no ato de devolver uma carteira com dinheiro ao proprietário que a perdeu; e, iv) racionais, baseadas em algum objetivo ou finalidade, como adquirir um imóvel.
  3. Em comunidades, as ações sociais tradicionais e afetivas são aquelas mais pertinentes, em função do menor número de pessoas e de sua proximidade. Já na sociedade, contexto mais amplo em que as interações entre os indivíduos se revestem de maior complexidade e têm maior potencial de conflito, as ações baseadas em valores e, muito especialmente, as ações racionais são aquelas que fazem maior sentido.
  4. A racionalidade ou racionalização da vida social por meio de leis e outras regras emerge em vista da necessidade de simplificar as interações que ocorrem no contexto da sociedade, padronizando-se regras e criando-se impessoalidade, mitigando os riscos de conflitos. Quanto mais complexa a sociedade se torna, mais leis e outras regras exigirá e, portanto, maior nível de racionalidade. Quanto mais a sociedade avança, mais ela se racionaliza.
  5. A consequência da racionalização é a redução ou eliminação do encanto em relação a várias crenças mágicas, em seres e eventos sobrenaturais, forças do além e outras que colidem com a ideia de racionalidade.A redução do encanto com o mundo mágico constitui-se no desencantamento, o qual enfraquece as religiões, com destaque para o catolicismo da Idade Média. O desencantamento pode ser comparado ao exemplo da árvore que, ao invés de ser admirada em sua beleza, passa a ser considerada como objeto de utilidade para seres humanos.

Max Weber associa, portanto, aspectos dos indivíduos que modelam seus relacionamentos (as tradições nas quais ele acredita, suas emoções, valores e objetivos) ao nível de complexidade do contexto no qual ele vive (comunidade ou sociedade). E como a complexidade aumenta com a vida em sociedade, é preciso aumentar a racionalidade e seus instrumentos – leis e outras normas –, visando mitigar os riscos de conflitos nas interações sociais e, consequentemente, de perdas econômicas decorrentes desses conflitos, quando se adere a um sistema capitalista com a forte crença na busca da salvação da alma e na acumulação de capital.

Segundo o professor Gabriel Cohn (na mesma entrevista à Fundação Padre Anchieta antes citada), para Weber, sem racionalidade e previsibilidade, não seria possível um capitalismo forte, com empresas lucrativas. Ele ainda observa que Weber também se preocupou com a criatividade e a inovação, já que a racionalidade e a burocracia podem inibi-la. O Estado, na visão de Weber, deve contar com um aparato administrativo eficiente, capaz de formular e implementar políticas públicas e de forma dinâmica, sem engessar a criatividade. Permitindo, portanto,racionalidade e criatividade. Elas não são antagônicas, afinal, mas complementares.

Como o histórico anterior e as ideias de Max Weber aqui expostas (entre muitas outras, pois ele foi profícuo em seus estudos) nos ajudam a compreender os desafios que a COVID 19 impõe à humanidade?Primeiramente, a História demonstra o assombroso desenvolvimento intelectual e material registrado principalmente na Idade Contemporânea, conforme mostram os fatos. Abraçar o pensamento racional e a racionalidade fez muita diferença na caminhada dos seres humanos.Entretanto, a racionalidade não foi a única grande responsável por tal diferença.O abandono do excesso de dogmas parece ter libertado poderosas forças humanas criativas, muito inspiradas.Nesse contexto de racionalidade e criatividade, o pensamento humano evoluiu, subiu de patamar.

Diante do exposto, podemos dizer que a voz de Max Weber, quase 100 anos após o seu falecimento, se eleva do passado para nos dizer: senhores, usem sua racionalidade, mas usem também suas potencialidades criativas! Esses e outros atributos intangíveis dos seres humanos são imprescindíveis para lidar com os desafios do nosso tempo, como a forte desigualdade social existente no Planeta, a destruição em curso do meio ambiente, diversas guerras e vários outros itens que as sociedades e economias, mesmo gerando muito conhecimento e riqueza material, ainda não conseguiram resolver. E em meio a tantos desafios, ora emerge a COVID 19.

Ao mesmo tempo, a História e a voz de Weber também parecem enviar uma mensagem aos líderes das organizações, neste momento crítico em que vivemos uma espécie de Terceira Guerra Mundial, contra um inimigo invisível aos olhos humanos: acreditem! A humanidade tem sobrevivido a muitos percalços ao longo do tempo! Usem sua racionalidade e criatividade!De que maneira?Nossa resposta, inspirada pela Orquestra Societária, é: por meio de uma gestão de crise (parte integrante da gestão de riscos, mais ampla) racionalizada e participativa, bem como do forte estímulo à criatividade para enfrentar uma realidade nunca vivida – não em uma aldeia tão globalizada e interconectada. Racionalidade e criatividade são elementos que devem estar presentes em um Modelo de Gestão Sustentável (MGS), permeando todos os seus fundamentos.

Com base nas considerações até aqui apresentadas – e indo além das empresas e demais organizações da economia –, atrevemo-nos a afirmar que ambos, racionalidade e encantamento são necessários aos seres humanos. Não o encantamento pautado pelo excesso de dogmatismo e falta de reflexão da Idade Média, tratado por Weber, mas aquele mais elevado, que leva as pessoas a acreditarem que, sim, é possível vencer desafios, por meio da religiosidade que não oprime, mas liberta (independentemente da crença religiosa), bem como pela crença na força criativa do ser humano e em suas percepções subjetivas. Por construção, seres humanos são racionais, criativos, perceptivos e muito mais.

Finalizamos este artigo retornando à fala do gentil e dedicado médico mencionado no início, que é, a um só tempo, racional, quando ele cita os aspectos que tornam a COVID 19 algo muito preocupante, e encantada, quando percebe a necessidade de os seres humanos aprenderem algo importante com as dificuldades criadas pelo novo vírus. Racionalidade e encantamento convivem lado a lado em nossas vidas e em nossas mentes.Nossos leitores concordam? 

Cida Hess
é economista e contadora, especialista em finanças e estratégia, mestre em contábeis pela PUC SP, doutoranda pela UNIP/SP em Engenharia de Produção - e tem atuado como executiva e consultora de organizações.
cidahessparanhos@gmail.com

Mônica Brandão
é engenheira, especialista em finanças e estratégia, mestre em administração pela PUC Minas e tem atuado como executiva e conselheira de organizações e como professora.
mbran2015@gmail.com


Continua...