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Investimento Sustentável

MELHOR QUE FILANTROPIA, ESG É INVESTIR NO QUE ACREDITAMOS

Muitos ainda confundem ESG com filantropia, mas definitivamente ESG não é filantropia. ESG é a jornada para a empresa gerar retorno de maneira responsável, com respeito ao planeta, a todas as pessoas e animais.

Você estaria satisfeito em diariamente trabalhar em algo que degrada o planeta, explora as pessoas, não respeita as diferenças e os animais? Provavelmente não. Você precisa gerar sua renda para o sustento da sua família, mas não está disposto a se sujeitar a qualquer trabalho para obtê-la.

Por que nos nossos investimentos agimos de forma diferente? Temos uma tendência comportamental de valorizar o presente e descontar o futuro. Temos também considerar que os efeitos das mudanças climáticas, danos sociais e outras questões ESG são menos tangíveis para os investidores e são difíceis de quantificar porque vários pequenos fatores podem somar um problema em grande escala.

Felizmente a preocupação com questões sociais e ambientais estão cada vez mais presentes no nosso dia a dia e a geração do milênio e a geração Z irão forçar a revolução ESG com seus hábitos de consumo e forma de investir.

A empresa que não conseguir produzir retorno sem agredir o planeta e com responsabilidade social não irá sobreviver. A sociedade e investidores estão cada vez mais exigentes e não aceitam empresas que apenas busquem o lucro, sem se preocupar com as suas externalidades negativas.

Em relação aos seus investimentos, não se preocupe, exigir responsabilidade das empresas não significa maneira alguma abrir mão de retorno, pelo contrário, investir com responsabilidade é uma maneira de criar valor.

O valor da empresa é uma relação entre a expectativa de geração de caixa da empresa e o risco. As empresas com melhores práticas ESG resultam em menor risco sistemático. Esta relação já foi identificada em várias pesquisas, como a publicada no artigo “Foundations of ESG Investing: How ESG Affects Equity Valuation, Risk, and Performance”.

A redução no risco sistemático é um reflexo da reação dos investidores a redução do risco de reputação e do risco regulatório. O risco reputacional pode afugentar clientes, colaboradores e financiadores e prejudicar demais os negócios da empresa, implicando em maiores custos e perda de receita. A aplicação de ações de responsabilidade social corporativa são fundamentais para mitigação de reputação e riscos ambientais, sociais, de governança corporativa.

Além do risco reputacional, o ESG prepara a empresa para se adaptar à futuras mudanças regulatórias. As empresas com práticas ESG possuem maior resiliência a mudanças no ambiente político e regulatório e assim estão menos sujeitas a taxações e multas, o que significa uma relevante diminuição do impacto de intervenções legais.

Estas importantes reduções nos riscos reputacionais e regulatórios é percebida pelos investidores e credores que aceitarão um menor prêmio de risco pelos seus investimentos nestas empresas, reduzindo assim tanto o custo de capital próprio, como o custo de capital de terceiros, o que irá impactar num menor Custo Médio Ponderado de Capital (WACC) e assim valorizará a empresa.

Mas a valorização da empresa não se dá apenas pela redução do risco e consequentemente do custo de capital. As empresas com melhores práticas ESG também apresentam enorme potencial para incrementar seus fluxos de caixa futuros.

Os consumidores estão cada vez mais dispostos a pagar mais por produtos responsáveis e que contribuam para a preservação do planeta. O'Rourke & Ringer identificaram que um grande número de consumidores está disposto a pagar um pouco mais por produtos responsáveis, esta preferência é ainda maior entre as novas gerações (millennials e a geração Z) que valorizam os produtos desenhados de forma circular, de maneira que aproveitem resíduos e que não gerem resíduos no processo produtivo são mais valorizados.

As empresas que quiserem vender para esse público precisarão ser ESG, e as empresas ESG vão ter mais receitas e com melhores margens bruta já que conseguem agregar valor aos seus produtos e serviços.

Além disso, a integração da sustentabilidade nas tomadas de decisão pode ajudar a reduzir despesas operacionais como o custo do carbono, da água, energia e de outras matérias-primas. Segundo o relatório Buying into a more sustainable value chain da McKinsey, fortes credenciais ESG reduzem os custos em 5% a 10%, já que essas empresas se concentram na eficiência operacional e na redução de resíduos.

Com menores custos operacionais, a empresa irá melhorar suas margens operacionais e sua geração de caixa, o que leva a uma valorização da empresa.

Como podemos observar, empresas responsáveis, comprometida com a sustentabilidade do planeta e preocupada com causas sociais irão vender cada vez mais e agregar valor ao seu produto e reduzir custos, o que irá contribuir para uma maior performance e consequentemente para a criação de valor.

Estes não são os únicos caminhos que levam a empresa a aumentar o fluxo de caixa e reduzir risco através do ESG. As empresas com práticas responsáveis, com respeito aos colaboradores e a diversidade proporciona um ambiente em que os colaboradores sejam mais produtivos e impacte positivamente na performance da empresa.

Um bom ambiente de trabalho e com práticas que dê orgulho aos funcionários cria um efeito positivo entre todos os colaboradores, o que resulta em pessoas mais felizes e engajadas, reduzindo assim a rotatividade dos funcionários e atraindo talentos.

Estes são importantes aspectos que claramente mostram que o ESG não é um custo para a empresa e nem uma forma de caridade, o ESG é uma forma de criar valor, com responsabilidade, respeitando o planeta, pessoas e animais. O lucro é bem-vindo e desejado, mas não a qualquer custo. Empresas que não se preocupam em entregar um planeta melhor para as próximas gerações não servem para nos fornecer produtos que precisamos, e nem para receber nossa força de trabalho ou investimentos.


Roberto Frota Decourt
é doutor em administração pela UFRGS, professor de finanças no Programa de doutorado da Unisinos. Conselheiro fiscal certificado pelo IBGC, atuando como membro titular do Conselho Fiscal da Lojas Renner. Certificado em ESG pelo CFA Institute. 
rfdecourt@unisinos.br 


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