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IBGC Comunica

REMUNERAÇÃO DOS ADMINISTRADORES EM UMA CONJUNTURA DE INCERTEZAS

A 8ª edição da pesquisa Remuneração dos Administradores, do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), recentemente divulgada, mostra a influência do cenário econômico na remuneração dos administradores. Seja pelos impactos da Covid-19, desaceleração da economia, inflação ou necessidade de preservação de caixa, os dirigentes tiveram de superar os desafios apresentados para se adaptar aos novos tempos. Diante disso, foi possível observar certa estabilidade nos seus rendimentos, mas é preciso levar em consideração, também, a mudança de critério na forma com que a Comissão de Valores Imobiliários (CVM) requer que as empresas divulguem seus dados. Tornou-se necessário que os valores apresentados sejam líquidos dos encargos de responsabilidade da companhia.

A pesquisa do IBGC analisou informações públicas de 268 empresas de capital aberto listadas em bolsa, considerando as informações mais atuais disponíveis, baseadas nos dados divulgados pelas companhias em seus Formulários de Referência de 2021, referentes à remuneração paga em 2020. Alguns aspectos chamam mais atenção, como a quase estabilidade nos valores pagos, levando-se em consideração que os valores vinham em uma crescente.

Em um ano desafiador, apesar de terem interrompido o movimento de alta, os valores não sofreram queda acentuada. Isso pode indicar uma valorização do papel dos conselhos – que foram bastante demandados nesse período, com um número maior de reuniões para dar celeridade à tomada de decisão e suporte à gestão no enfrentamento da crise – e dos diretores, que precisaram gerir as organizações em um cenário de maior complexidade e desafios.

Para os membros dos conselhos de administração, a remuneração média mensal foi de R$ 46.256 e a máxima, de R$ 529.919. Houve redução de 2,43% nos vencimentos totais médios em relação à 7ª edição do estudo do IBGC, referente ao exercício de 2018 e publicado em 2020. O maior recuo, de 28,35%, ocorreu no Nível 1.

Em contrapartida, observou-se crescimento de 20,35% no âmbito do Novo Mercado (empresas que apresentam o patamar mais elevado de governança corporativa). O aumento registrado talvez possa ser atribuído a um grande número de novas aberturas de capital de empresas nesse segmento, que, para compor seus conselhos, podem ter sido impulsionadas a oferecer ganhos mais atraentes para atrair profissionais.

Quanto aos diretores estatutários, os vencimentos médios mensais foram de R$ 241.697 e o máximo de R$ 2.170.885, com redução de 1,77% na remuneração total média entre 2018 e 2020. Avaliando a distribuição por segmento de listagem, a diminuição mais acentuada, de 10,9%, ocorreu nas empresas Nível 2 da B3. Nas companhias do segmento Bolsa, verificou-se crescimento de 2,18%.

No tocante aos membros dos conselhos fiscais, a remuneração média mensal foi de R$10.160 e a máxima, de R$39.129. Em termos gerais, ocorreu queda de 1,47%. A redução mais expressiva, de 15,51%, verificou-se no Nível 2. No Nível 1, observou-se expansão de 7,36%.

A remuneração totalmente fixa prevalece para o conselho em 81,3% dos casos, ante 77% na pesquisa anterior. Para os diretores, quase 39% das organizações pagam remuneração fixa e variável; 40% utilizam a combinação de fixa, variável e baseada em ações; e apenas 18,3% faz uso apenas de remuneração fixa. Outro detalhe que chama atenção é em relação às proporções: quando o conselheiro recebe algum tipo de remuneração variável, esta representa pouco mais de 30% do total recebido. Na diretoria, esse valor corresponde a cerca de 50% do total.

Um aspecto interessante dos resultados é que os presidentes de conselhos recebem, em geral, 1,9 vez mais do que a média paga aos demais membros (considerando a mediana, que é menos impactada pelos valores extremos da amostra). Os diretores-presidentes/CEOs costumam ganhar 2,2 vezes mais do que os outros executivos (também considerando a mediana). Em ambos os casos, o maior número de atividades desempenhadas e maiores responsabilidades podem justificar os ganhos mais elevados. No entanto, proporções muito elevadas podem sinalizar pontos de atenção, e acionistas e investidores devem buscar entender se há justificativas plausíveis para disparidades tão grandes na remuneração entre os participantes de um mesmo órgão ou se há algum problema de governança que precisa ser equacionado.

Pelo lado da empresa, a remuneração dos administradores precisa ser não apenas um mecanismo de atração, engajamento e retenção de bons profissionais, mas também um caminho para o alinhamento dos seus interesses com os da companhia. Pelo lado dos administradores, ela precisa recompensar suas capacidades, dedicação de tempo, custo de oportunidade e riscos assumidos. Conhecer as práticas adotadas pelo mercado e por seus pares ajuda acionistas, investidores e os próprios administradores a estarem informados e a serem ainda mais diligentes no processo de discussão desse assunto tão relevante.

Luiz Martha
é gerente de Pesquisa e Conteúdo do (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC).
comunicacao@ibgc.org.br


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