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Opinião

GUERRA RÚSSIA X UCRÂNIA: O IMPACTO NO MERCADO DE CAPITAIS BRASILEIRO

O impacto da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, iniciada em 24/02/22 sobre o mercado de capitais brasileiro, dependerá muito do tempo que o conflito irá durar. Neste período que já dura o conflito, vimos as commodities terem elevações significativas, por conta do risco de desabastecimento. Isto ocorre principalmente naquelas em que estes países são grandes produtores e exportadores. No caso russo, temos o petróleo, metais preciosos, fertilizantes, cevada e o trigo. O Brasil é grande comprador da Rússia de fertilizantes (especialmente nitrogenados e potássicos) e exportador de soja, aves e café, em volumes não muito significativos. No caso ucraniano, o comércio exterior do Brasil com aquele país é reduzido.

Todavia, a corrente de comércio entre estes países não retrata o impacto das dificuldades que serão trazidas para o Brasil. A Rússia é grande exportadora também de trigo, cevada e gás natural. O Brasil é dependente de importações de trigo e cevada. Apesar de importar de outros países geograficamente mais próximos, o desequilíbrio entre a oferta e a demanda já fez os preços subirem significativamente. Os preços das commodities já vinham num processo de elevação muitos meses antes do conflito, decorrentes das baixas taxas de juros e da elevada liquidez mundial, e aceleraram a alta depois do início do conflito.

Com a alta das commodities e da inflação nestes países, os governos dos países europeus e dos Estados Unidos, entre outros, já iniciaram uma elevação das taxas de juros primárias e a promover a redução da liquidez de suas economias. Com isto, a tendência dos gestores de recursos mundiais, inclusive dos brasileiros, será de redirecionar parte dos recursos investidos em ações para renda fixa.

Desta forma, a perspectiva de desempenho dos principais índices para as Bolsas mundiais e para a B3 em 2022 deverá ser de queda. A B3 teve forte ingresso de capital estrangeiro nos três primeiros meses de 2022 (até 24/03/22), cerca de R$ 81 bilhões. Com isto, a B3 teve um desempenho melhor do que as estrangeiras, nestes primeiros meses de 2022. Esta diferença de desempenho pode ser explicada pelo fato da taxa de juros no Brasil ter iniciado sua elevação a partir de 03/2021, enquanto os Bancos Centrais dos Estados Unidos e principais países da Europa começaram a elevação com maior intensidade um ano depois, ou seja, a partir de 03/2022.

 Além disto, o Índice Bovespa teve péssimo desempenho em 2021, ao contrário das principais Bolsas mundiais, cujos índices operaram em alta, conforme quadro a seguir:

BOLSA VARIAÇÃO DOS ÍNDICES VARIAÇÃO DOS ÍNDICES (Últimos 12 meses)
  2021 ATÉ 27/03/22
Brasil (Índice Bovespa) -11,9% +3,7%
Nova York (Dow Jones) +18,9% +5,4%
Frankfurt (Dax) +15,8% -3,0%
Londres (Ftse) +14,6% +10,9%
Japão (Nikkei) +4,9% -3,5%
China (Shangai) +4,8% -6,0%
*Rússia (RTSI) +15,0% -42,8%

A partir do conflito, as previsões de alta da inflação e da taxa Selic no Brasil em 2022 começaram a se deslocar para cima, em função da guerra. A inflação da faixa de 5,25% para 7% e a taxa Selic de 12,25% para 13%.

Com isto, o mercado brasileiro de ações deve se tornar bastante seletivo neste ano, brindando setores defensivos, como Energia Elétrica, Água/Saneamento, Telecomunicações, setores ligados as necessidades básicas da população, o agribusiness e as grandes corporações do setor financeiro.

 Outra observação é que a valorização acumulada do Real frente ao Dólar em 2022 atingiu 17,5% até o dia 27/03, o que torna interessante para o investidor estrangeiro vender suas ações no Brasil, converter os reais valorizados em mais dólares e remetê-los para seus países de origem. A inflação e juros elevados previstos para 2022 no Brasil, assim como um crescimento pífio do PIB brasileiro da ordem de 0,5%, são outras variáveis ruins. Também as eleições presidenciais em outubro no Brasil são um outro fator de incertezas.

Desta forma, para 2022 a nossa previsão é de que a Bolsa brasileira terá dificuldades em se valorizar, especialmente se comparada a rentabilidade da Bolsa em comparação com aquela oferecida pelos títulos de renda fixa. Quanto as Bolsas mundiais, também não vemos um panorama animador.

Gostaríamos também de destacar que as empresas brasileiras que quiserem abrir seu capital, promovendo o lançamento de suas ações em 2022 deverão enfrentar dificuldades maiores. A quantidade de aberturas de capital deve ser bem menor, e o preço de emissão das ações também, em relação àqueles que ocorreram em 2021. O melhor caminho para as empresas captarem recursos, possivelmente seja a emissão de bonds no exterior, emitir debêntures conversíveis em ações no Brasil, ou ainda buscarem financiamentos em entidades como o BNDES ou IFC do Banco Mundial.

Em 2021 o volume captado pelas empresas abertas com a emissão de ações registradas na CVM foi de R$ 130,7 bilhões e nossa previsão para 2022 é que atinjam cerca de R$ 80 bilhões, a não ser que haja a venda ou privatização de estatais de grande porte, o que pode elevar este volume.

Harold Thau (CNPI)
é sócio fundador da TÉCNICA, empresa de análise registrada na APIMEC. Administrador de Empresas e Pós-graduado pela FGV, Membro do Conselho da APIMEC BRASIL, Ex-Presidente da APIMEC-SP.
harold@tecnicaassessoria.com.br

 
 
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