Entrevista

JEAN LEROY, PRESIDENTE EXECUTIVO DO IBRI

Jean Leroy é o primeiro Presidente Executivo do IBRI - Instituto Brasileiro de Relações com Investidores com dedicação exclusiva. Por ter ampla experiência no exterior, Leroy pretende internacionalizar o Instituto e mudar a comunicação realizando mais eventos on-line. E no 24º Encontro Internacional de Relações com Investidores e Mercado de Capitais atualizar as informações do universo do RI e ampliar ainda mais o networking entre os associados. Nesta entrevista exclusiva, destaca a importância crescente de temas como Tecnologia, Comunicação e ESG no Encontro de RI, no mercado de capitais e na busca incessante do IBRI por gerar conhecimento e agregar valor aos seus associados.

Leroy é graduado em Administração de Empresas, com MBA em Marketing. Foi executivo corporativo em instituições financeiras nos anos 1990 até começar a sua trajetória como RI no Banco Bradesco. A jornada culminou com a sua promoção ao cargo de Diretor de Relações com o Mercado, em que somava as atribuições de Relações com Investidores com as de Responsabilidade Socioambiental.

Posteriormente, foi Diretor-Gerente e membro do Conselho de Administração do Banco Bradesco Europa. Ao retornar ao Brasil, assumiu a área de RI da Cielo. A ligação com o IBRI começou em 1998. Alguns anos depois, exerceu a Vice-Presidência do capítulo IBRI-São Paulo. A seguir, acompanhe a entrevista.

RI: Para iniciar, conte um pouco de sua trajetória profissional até assumir, em janeiro de 2023, a presidência executiva do IBRI como o primeiro CEO com dedicação exclusiva ao Instituto. 

Jean Leroy: Eu tenho carreira bancária. Trabalhei por mais de 25 anos em bancos. Comecei como trainee no Banco Francês e Brasileiro, no Rio de Janeiro, e fui evoluindo na carreira. No início dos anos 1990, eu trabalhava como Gerente de Contas Corporativas e como as empresas estavam saindo do Rio e se mudando para São Paulo, segui este movimento. Em decorrência dos idiomas que eu falo, no começo trabalhei mais com empresas multinacionais. Trabalhei com empresas de pequeno porte, médio e, em seguida, de grande porte. Foi então que passei a atuar em setores, como químico e farmacêutico. Essas empresas de grande porte, multinacionais, principalmente as alemãs, francesas e suíças, eu atendia na época em que estava no BCN (Banco de Crédito Nacional) e atuava como Gerente de Contas Corporate. Quando o Bradesco comprou o BCN, ao final de 1997, abriu-se uma oportunidade profissional única: trabalhar na área de RI (Relações com Investidores). A minha entrada na área de RI ocorreu por ter uma carreira estruturada em bancos, visto que eu entendia de balanço, projeções, entre outros temas correlatos, mas, também, por falar vários idiomas – francês, alemão, inglês e um pouco de espanhol. Entrei no Bradesco e fui trabalhar na Cidade de Deus, em Osasco (SP). Fiquei por lá e depois com a criação do Departamento de Relações com o Mercado (DRM) fui para a Avenida Paulista, na sede do antigo Banco Mercantil de São Paulo, que havia sido comprado pelo Bradesco. O mercado bancário estava em plena consolidação, principalmente pelas iniciativas do Bradesco e do Banco Itaú. Com este movimento, participei de mais de 50 aquisições de bancos, corretoras, empresas de asset management e seguradoras. Nos últimos cinco anos, como RI do Bradesco, além da área de Relações com Investidores, eu também passei a gerenciar a área de Responsabilidade Socioambiental, que hoje se chama ESG (do inglês, Environmental, Social & Governance, em português, Ambiental, Social e Governança). Foi um trabalho muito legal. Depois fui convidado pelo Luiz Carlos Trabuco Cappi, na época CEO do Bradesco, para assumir o Banco Bradesco, em Luxemburgo, que era uma junção do Banco Mercantil de São Paulo e da agência do Banespa (Banco do Estado de São Paulo), que tinha sido vendida para o Bradesco. Era desafiador, uma vez que eu tinha que fazer a gestão de um banco com as culturas de três instituições diferentes. Havia pessoas do Banco Mercantil de São Paulo, do Banespa e do Bradesco, sendo 20 funcionários de sete nacionalidades diferentes.

RI: O IBRI tem uma história de 25 anos, denotando uma entidade forte e sólida no mercado de capitais. Quais são as metas traçadas para o seu mandato e como os associados - sejam efetivos ou colaboradores - podem contribuir para o desenvolvimento do Instituto?

Jean Leroy: Na verdade, já conheço o IBRI há muito tempo. Tenho muita experiência na profissão de Relações com Investidores no Bradesco e na Cielo, onde trabalhei depois do meu retorno ao Brasil. Tenho também essa aptidão para business development, ou seja, de fazer crescer negócios. Para o IBRI, fiz um plano que foi aprovado pelo Conselho de Administração. Nesse plano, há coisas que queremos fazer melhor, que queremos fazer diferente e existem atividades que não eram realizadas e que agora vamos fazer. Entendo que o propósito do IBRI seja de fornecer conhecimento ao profissional de RI. Havia a Comissão de Desenvolvimento Profissional, que é a essência do Instituto, que acabei mudando o nome para Comissão de Educação e Inovação, pois o trabalho do RI está cada vez mais sendo auxiliado por ferramentas tecnológicas. A Comissão Técnica já existia e permaneceu, assim como a Comissão de ESG. Finalmente, foi criada uma Comissão de Desenvolvimento Internacional. A nossa ideia é não somente aumentar o escopo do IBRI dentro do Brasil, com mais RIs, como também com outros IBRIs fora do Brasil, fazendo parcerias como a que temos com a entidade norte-americana NIRI (National Investor Relations Institute). Então, queremos fazer mais do mesmo, só que melhor com uma “pegada” mais atualizada em relação à tecnologia, com uma linguagem diferente e para isso contratamos uma empresa de marketing digital para trabalhar as mídias sociais do Instituto. Outro pilar importante da nossa estratégia é de ampliar o ecossistema que já temos, que são parcerias com a B3 (Brasil, Bolsa, Balcão), CVM (Comissão de Valores Mobiliários), APIMEC Brasil (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais do Brasil), ABRASCA (Associação Brasileira das Companhias Abertas), AMEC (Associação de Investidores no Mercado de Capitais), IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa), entre outras. Resumindo, queremos agregar valor para o RI com uma educação melhor, mais atualizada, cobrindo, também, temas como o ESG.

RI: Quais são os números atuais de associados efetivos e colaboradores, assim como de patrocinadores - e qual é sua expectativa para cada um deles ao final da sua gestão?

Jean Leroy: Temos que diferenciar nosso escopo, ou seja, o que chamamos de associados são pessoas físicas e os colaboradores são as empresas. Em termos de associados, acabamos de ultrapassar a marca de 400 profissionais. Com relação aos colaboradores, as maiores empresas do Brasil apoiam financeiramente o IBRI e são mais de 30. No âmbito dos profissionais de Relações com Investidores, estimamos que existam mais de 1.500 profissionais no Brasil não só de empresas de capital aberto, mas também de capital fechado, fundos imobiliários, fundos de private equity, entre outros. Queremos agora trazer empresas de fora do país que desejam apoiar o trabalho realizado pelo Instituto.

RI: Como o IBRI sob a sua gestão pretende potencializar os Programas de RI de companhias abertas e fechadas? O Instituto tem planos de expandir buscando novos associados em companhias não listadas?

Jean Leroy: Esta é a pergunta de um milhão de dólares, pois este é o grande desafio do IBRI, que é crescer e ter o tamanho que deveria possuir em função da importância da profissão de Relações com Investidores. Temos o escopo de trazer uma verdadeira jornada de educação para o RI, que está começando na carreira, o RI que está no meio de carreira e aquele que já está muito preparado. Porém, também, temos aquelas pessoas que não são Relações com Investidores e são projetadas para oportunidades dentro das áreas de RI e que chegam, às vezes, sem entender bem qual é o objetivo do trabalho no dia a dia. Nessa jornada de conhecimento, promovemos educação a distância, webinars, eventos e tem uma parte de grande destaque para o desenvolvimento e a formação do profissional de RI que é o Projeto de Mentoring, em que você tem experientes profissionais de RI oferecendo mentoria para pessoas que estão com vontade de crescer na profissão. Como mencionei, existem mais de 1.500 profissionais de RI no Brasil, e não apenas de capital aberto. Por meio da nossa jornada de conhecimento e treinamento poderemos endereçar as demandas de cada tipo de público-alvo e, com isso, trazer mais profissionais para se associarem ao IBRI.

RI: Há planos de expandir o Instituto internacionalmente?

Jean Leroy: Sim. Temos uma sorte muito grande, uma vez que Rodrigo Maia, ex-CEO do IBRI, está em Portugal fazendo um Doutorado em Data Science e é o coordenador da nossa Comissão de Desenvolvimento Internacional. Então, já temos uma pessoa altamente preparada e comprometida com a profissão de RI fora do Brasil. Como o Rodrigo está baseado em Lisboa, ele tem buscado oportunidades para o IBRI crescer. Pelo fato de eu ter trabalhado na Europa, mais especificamente em Luxemburgo, no centro da Europa Ocidental, eu conheço muitas pessoas e tenho diversos contatos em Bolsas de Valores, em escritórios de auditoria, consultorias e empresas. Acredito que conseguiremos angariar mais interesse no IBRI e mais associados e colaboradores na Europa. Para outras regiões, deveremos alinhar uma estratégia com o nosso Conselho de Administração para ampliarmos o nosso Instituto geograficamente pelo mundo.

RI: O IBRI tem vários convênios já firmados com outras entidades, incluindo a B3 e a CVM. Como é o relacionamento com essas entidades? A ideia seria aprofundar e/ou aumentar?

Jean Leroy: Sim. Nós temos, eu diria, uma dúzia de parcerias com entidades do mercado de capitais, por exemplo, entidades reguladoras como a CVM; a B3, que é o local da negociação; uma entidade que olha para os analistas do mercado de capitais, como é o caso da APIMEC Brasil; que olha para os investidores, como a AMEC; que olha para as companhias abertas, como a ABRASCA; e que foca na Governança Corporativa, como o IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa). Nós queremos aumentar esse escopo, inclusive, nós temos convênio com o NIRI (National Investor Relations Institute). Pretendo participar da Conferência Internacional do NIRI deste ano, para acompanhar mais sobre as tendências de RI, fazer networking e, assim, aumentar as oportunidades.

RI: Como é o relacionamento entre o Conselho de Administração e o CEO do IBRI?

Jean Leroy: Diria que não poderia ser melhor, uma vez que já atuei como Relações com Investidores e entendo muito bem a necessidade do RI. Todos do Conselho atuam ou já atuaram como Relações com Investidores. Então, são pessoas que falam a mesma linguagem. Este é o denominador comum. Alguns deles, como o Geraldo Soares, presidente do Conselho de Administração do IBRI, eu já conheço há muitos anos. Isso ajuda muito. Eu sei da importância do CEO e do Conselho caminharem juntos, então, queria muito que isso acontecesse. Tanto o Conselho tem em mim uma contraparte interessada e parceira, como, tenho do lado deles pessoas que gostam da profissão, do IBRI e que querem fazer com que o bem comum seja maior ainda. Acho que, nesse sentido, é um trabalho de parceria.

RI: Com base em sua vasta experiência em diversas empresas, o que o investidor espera do profissional de Relações com Investidores? E o que não pode faltar nesse relacionamento?

Jean Leroy: Antes de mais nada, acho que o mercado espera um relacionamento naqueles pilares que são a base do profissional de Relações com Investidores, ou seja, ser uma pessoa isenta, equânime e que trate com rapidez os assuntos que mais interessam aos analistas. O investidor espera do RI informação, celeridade, seriedade e constância de informação. Uma empresa que se comunica quando está tudo bem e quando não está. Nesse sentido, os investidores esperam criar um relacionamento de confiança, assim como a empresa espera ter com os analistas, e os analistas com os profissionais de Relações com Investidores. Uma parceria entre analista, empresa e profissional de RI é o que permite uma melhor avaliação da empresa. Quando não há essa parceria, é gerada uma desconfiança. Em momentos de disruptura nessa relação, a análise acaba ficando um pouco prejudicada, uma vez que o analista vai ficar ainda mais na defensiva do que ele precisa para avaliar uma empresa. Ele vai avaliar ainda mais com critério e, talvez, até com certa desconfiança aquilo que a empresa projeta. A confiança é a alma do negócio e ela é muito difícil de se estabelecer e muito fácil de se destruir. O RI deve construir seu relacionamento com todos os públicos em momentos de alta e de baixa.

RI: Como o profissional de RI deve gerir a comunicação da companhia com o mercado, uma vez que precisa se relacionar com diversos públicos com conhecimentos variados sobre a empresa e o negócio?

Jean Leroy: Hoje em dia, o RI utiliza diversas ferramentas tecnológicas. A possibilidade de não dar uma informação de maneira equânime é cada vez menor, visto que você aciona uma estrutura tecnológica que já divulga para todos ao mesmo tempo. Acho que o mercado espera rapidez nas respostas, principalmente nos tópicos que mais poderiam afetar a análise de projeção futura para o resultado e o preço da ação da empresa. Então, eu diria que tecnologia, rapidez e sensibilidade são fundamentais para o profissional de RI se relacionar com diversos públicos. Além disso, tem que conhecer bem a empresa, entender bem a cabeça do analista e agir de maneira profissional, oferecendo as informações de forma clara. A experiência do profissional é também um fator extremamente importante e faz uma diferença muito grande em uma hora de maior estresse, uma vez que o RI já vivenciou momentos como aquele e consegue transmitir mais calma em função disso.

RI: Há diferença na comunicação entre o investidor institucional e o investidor pessoa física?

Jean Leroy: Se você divulga todas as suas informações pelo site, entendo que isso não acontece. Pode ser que uma pessoa não entenda tanto as informações, mas há pessoas físicas que são investidores altamente preparados. Também existem profissionais de mercado que estão aposentados e entendem muito de análise de empresa. Assim, não é pelo fato de ser uma pessoa física, mas por ter um currículo de aprendizagem grande. Nas instituições, você tem profissionais mais e menos preparados, então, temos que pensar que do outro lado sempre tem alguém qualificado e, por isso, tem que oferecer a informação de forma clara e objetiva. É evidente que, às vezes, quando você lida com certo público é preciso ter uma mensagem mais adaptada ao conhecimento geral do segmento. O que vemos hoje é que a ideia é padronizar a informação e transmitir de forma clara, principalmente, por meio das ferramentas de tecnologia e das mídias digitais.

RI: Qual deve ser a postura do profissional de RI durante as constantes mudanças e incertezas do mercado? O que não pode faltar nessa postura em termos de soft skills e hard skills?

Jean Leroy: No Brasil, a inconstância é uma constante. Então, quando dizemos que o mercado sobe e desce, isso acontece há décadas, ou seja, não é de agora. A relação de confiança tem que ser pautada por equilíbrio e conhecimento profundo no que a empresa quer transmitir. Portanto, o RI tem que ter agilidade, mas, ao mesmo tempo, a informação tem que ser disseminada com qualidade. Em termos de hard skills, é preciso saber toda a parte de análise da empresa, entender muito bem da companhia e do seu setor de atuação, assim como saber o que acontece com seus concorrentes no mundo e, obviamente, ter um alinhamento com a administração para que a mensagem seja passada de maneira equânime. No que diz respeito às soft skills, a pessoa deve ser comunicativa, ter poder de síntese e saber como transmitir as informações. Nisso, acho que o RI tem um papel muito interessante, uma vez que é um generalista especializado. Ele tem que entender a linguagem do investidor e precisa se adaptar à cultura da companhia, além de ter uma percepção das oportunidades que podem surgir. Por exemplo, dependendo do tipo de crise, você pode mostrar a sua empresa de uma maneira um pouco diferente e isso estimula o interesse por parte dos investidores em geral.

RI: Quais serão os tópicos da 24ª edição do Encontro Internacional de Relações com Investidores e Mercado de Capitais?

Jean Leroy: O Encontro de RI é uma oportunidade para fazer um apanhado de tudo que está acontecendo de mais interessante no universo das Relações com Investidores em termos de tendências e tecnologia. Por outro lado, é um evento especial para se fazer networking. É um aprendizado do que está acontecendo de mais novo e o contato com profissionais de grande experiência e conhecimento com foco diferente, mas todos olhando para a área de RI, sem contar a oportunidade de estreitar relacionamento com pessoas do Brasil e do exterior. Os temas são bem variados, tais como: ações da CVM para 2023 e 2024; a gestão da comunicação em empresas com múltiplas áreas de Relações com Investidores; o que o investidor espera do RI; a Comunicação em situações de crise; ESG evolução e regulamentação; e tendências globais para RI digital. Destaco, também, a divulgação da pesquisa Deloitte IBRI: Evolução da agenda ESG: o valor das ações de responsabilidade no mercado de capitais.

RI: Quais outros eventos o IBRI pretende organizar e/ou apoiar nos próximos anos? Qual a importância desse engajamento?

Jean Leroy: Desde a minha chegada ao IBRI e com o apoio de uma visão mais digitalizada no nosso treinamento, estamos voltados a oferecer webinars e realizando, em média, dois eventos desse tipo por mês. Definimos um lugar fantástico para a realização do Encontro de RI de 2023. Teremos, também, a 4ª edição do Prêmio APIMEC IBRI no final do ano e vários eventos no segundo semestre. No final, a ideia é termos este ano muito mais eventos, que abordem todos os temas dos profissionais de maneira direta e objetiva. É como se o IBRI fosse um “0800-RI”, proporcionando um treinamento tanto para o profissional com menos experiência como para aquele já inserido no mercado ou de outra área. Além disso, o profissional que trabalha em uma empresa fechada e que vai abrir capital poderá usufruir das iniciativas. Ou, por exemplo, aquele RI que é de fundo de investimento e necessite de algum apoio. Ou seja, focar no que os RIs precisam.

RI: Em situações de crise, como o profissional de Relações com Investidores deve atuar?

Jean Leroy: Ele deve atuar de maneira equilibrada. Caso contrário, pode gerar um desequilíbrio nas pessoas. Muitas vezes, isso ocorre, pois mexe com dinheiro das pessoas, com as projeções de um futuro melhor, afeta o investimento para pagar uma faculdade para um filho ou neto. Então, o RI deve apresentar as informações com clareza para que o investidor tome sua decisão da forma mais objetiva possível. Além disso, o RI deve atuar de modo integrado com a administração da empresa. O profissional de Relações com Investidores é um porta-voz. Ele transmite as informações da empresa para o mercado e traz as avaliações dos investidores para a companhia.

RI: Qual foi o maior desafio da sua carreira e como você lidou com ele?

Jean Leroy: É difícil elencar um único desafio, uma vez que ele muda a cada fase da carreira. Quando trabalhei como RI do Bradesco, um grande desafio para mim era conhecer o conglomerado. Eu vinha de uma experiência de instituição bancária, só que o conglomerado Bradesco é banco, seguradora, capitalização, gestão de carteira, custódia, então, eu tinha que me tornar um conhecedor de uma empresa enorme que atua em diversos segmentos do setor financeiro. O meu primeiro grande desafio foi conhecer a empresa em si. Com o passar do tempo, passei a conhecer cada vez mais o Bradesco e, para isso, toda semana eu visitava áreas diferentes. Tive que aprender a linguagem do investidor com suas diferentes nuances. Ou seja, o europeu pensa de uma forma, o norte-americano de outra, e assim por diante. E, como Relações com Investidores, eu tinha que viajar pelo mundo. Não somente precisava lidar com gestores de fundos soberanos do Oriente Médio como visitar investidores pessoas físicas no interior do Brasil. Assim, encontrava com pessoas com traços e culturas diferentes. Outro desafio surgiu em decorrência de todas as aquisições que o Bradesco fez e passar claramente a estratégia destes movimentos. Atuar com Responsabilidade Socioambiental foi outro desafio dentro do modelo de negócios da área de RI. Começou com a participação no Dow Jones Sustainability Index, no ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial) e em uma série de debates com públicos diferentes: clientes, fornecedores, ONGs (Organizações Não Governamentais) e funcionários. Nós debatíamos com diferentes públicos sobre a mesma instituição: Bradesco. Por fim, um evento que me marcou bastante foram os atentados de 11 de setembro de 2001. Participei do Brazil Day em 07 de setembro, em Nova York, e estávamos trabalhando com um banco americano para a emissão da primeira dívida subordinada do mercado brasileiro. Esse banco ficava no prédio World Financial Center ao lado do World Trade Center. As torres eram uma representação da pujança norte-americana, eram emblemáticas e sempre apareciam em séries e filmes. Em seguida, fui para uma conferência em Londres. Na hora do almoço, estava em reunião com muitos investidores e, de repente, os telefones começaram a tocar. Eram pessoas de diversas empresas comunicando o que tinha acontecido. Aquilo me marcou demais. O evento parou e as televisões foram ligadas para que todos pudessem saber o que estava acontecendo. Parecia ser algo que nunca poderia ter acontecido: o símbolo do capitalismo norte-americano sendo atingido em Nova York por aviões. Tudo parou. Todo mundo ficou se olhando. Ninguém entendia nada. Depois de um tempo, deixei o local para caminhar em Londres. Parecia que nada mais fazia sentido. Já vimos crises de vários tipos, desvalorizações cambiais, problemas de gestão de empresas, mas nada que abalasse o setor financeiro no seu símbolo mais forte, que eram as torres gêmeas em Nova York.

RI: Desde quando iniciou sua carreira até o momento, como você analisa a evolução da importância do RI abordar as questões ESG dentro da companhia?

Jean Leroy: No começo, houve a fase do ESG se chamar Responsabilidade Socioambiental. Algumas empresas se engajaram mais do que outras, mas o movimento acabou meio que sendo obrigatório para todos. Então, mesmo que a empresa não acreditasse, ela tinha que se posicionar em termos de responsabilidade socioambiental. Com o passar do tempo, houve uma separação do joio do trigo, ou seja, quem realmente tinha essa vertente e quem não tinha. Por conta disso, foi criado o termo “greenwashing”. E até hoje temos empresas que falam de ESG, umas acreditam muito, outras por questões de regulamentação são obrigadas a fornecer informações para o mercado. Acredito que vivemos num mundo que está passando por tantos problemas no meio ambiente e na área social que obrigatoriamente o tema ESG tem que ser levado na sua vertente maior que é a sustentabilidade em termos gerais. No começo, muitos investidores analisavam as empresas mais em função da governança, mas estamos vivendo um momento onde nunca aconteceram tantos desastres naturais em tão pouco tempo e que são cada vez maiores. Então, acho que estamos em uma fase de maior maturidade, ou seja, é um repensar... e acho que os modelos de negócios das empresas estão sendo revistos. A própria questão da pandemia acelerou os processos de mudanças das corporações, como o trabalho on-line. No caso de Relações com Investidores, por força de um Formulário de Referência ou de um investidor que está mais preocupado com as questões de meio ambiente do que estava no passado, o RI está se tornando cada vez mais um especialista em ESG, uma temática mais natural do que era no passado.

RI: Sob a ótica do ESG, quais números reforçam o engajamento do Instituto rumo ao futuro do mercado de capitais brasileiro?

Jean Leroy: Antes de mais nada, temos a Comissão de ESG, que tem RIs especialistas na temática. A própria Comissão de Valores Mobiliários coloca cada vez mais questões ESG para o RI responder. No segundo semestre, pretendemos fazer um evento de ESG. E estamos trazendo com mais frequência essa questão para a pauta do RI.

RI: Com tanta tecnologia disponível no mercado e a urgência dos investidores e do mercado por informações quase que instantâneas, como o RI deve se adaptar a essa nova realidade e ainda conseguir realizar seu trabalho com transparência e confiança? Quais as estratégias na questão digital?

Jean Leroy: A questão da tecnologia acaba sendo algo que aborda todas as profissões, não só o RI. A minha filha trabalha em um banco americano em Londres. Todos que trabalham nessa instituição financeira precisam ser fluentes no Python, que é uma linguagem de programação, independentemente da área de atuação. Então, não é só porque vai trabalhar na área de tecnologia que precisa saber programar, isso é uma coisa do dia a dia. Quero crer que com a incorporação do tema inovação dentro da Comissão de Educação e Inovação, tendo a participação ativa do Rodrigo Maia que, como eu disse anteriormente, está fazendo Doutorado em Data Science, naturalmente, ele vai trazer mais temas de tecnologia que são importantes para o RI. Adicionalmente, o debate fundamental é o uso da inteligência artificial. Isso é algo que está no dia a dia de todo mundo. A própria legislação está tendo que se acelerar para acompanhar a evolução tecnológica. Temos novas posições saindo da SEC (do inglês, Securities and Exchange Commission), da CVM, a questão, por exemplo, dos influencers e como eles influenciam nas decisões de investimento de pessoas físicas.

RI: Qual é o papel do IBRI nesse cenário de transformação que a área de Relações com Investidores está passando nos últimos anos? Como agregar ainda mais valor para o associado?

Jean Leroy: A nossa ideia é organizar conhecimento de maneira completa para os profissionais de Relações com Investidores. É uma entidade de educação e networking. Procuraremos trazer também conhecimento internacional. Estamos revendo toda a grade de educação do IBRI tanto em termos de cursos on-line como cursos presenciais ou híbridos. Estamos agregando, também, alguns aspectos que não tenham sido bem endereçados. E aí teremos uma percepção maior do valor que o Instituto fornece aos seus associados. Algo que é muito importante falar é a vontade de fazer todo o possível para ter mais inclusão da mulher dentro do trabalho do RI. Temos um grupo chamado “IBRI Mulheres” que foca nessa dinâmica, tendo debates, eventos com executivas do mercado e networking.

RI: Como o primeiro CEO com dedicação exclusiva ao Instituto, o que os associados e a comunidade de RI em geral podem esperar desse mandato, e que, eventualmente, era mais difícil ser viabilizado por CEOs anteriores com dedicação part-time?

Jean Leroy: Temos que ter muito respeito a esses 25 anos do Instituto e a todos os profissionais que colaboraram dentro do Conselho de Administração, da Diretoria Executiva e das Comissões. Não temos a pretensão de revolucionar e sim de fazer um trabalho sério e dedicado sobre as necessidades do profissional de Relações com Investidores. O apoio do Conselho de Administração é fundamental. Os coordenadores de cada Comissão foram muito bem escolhidos, tendo a capacidade técnica, o engajamento e a possibilidade de organizar uma pauta em cada um dos temas que nós temos. E os diretores regionais, que também são imprescindíveis, estão dedicados a fazer com que o IBRI cresça geograficamente. Quero viajar muito este ano pelo Brasil para entender não somente como o IBRI pode ajudar, mas para descobrir o que o mercado espera do Instituto. É um caminho de duas mãos, ou seja, visitar as empresas e entender onde o IBRI poderia estar direcionando melhor e dar retorno mais significativo para o investimento que é feito no apoio ao Instituto.

RI: Para finalizar, após os primeiros 150 dias de sua gestão, quais são as principais forças, fraquezas, ameaças e oportunidades do IBRI?

Jean Leroy: Tento olhar as coisas sempre pela perspectiva do copo cheio. Então, eu diria que, na minha visão, o IBRI tem um potencial fantástico em função de toda sua trajetória de sucesso. Sinto, também, em todas as entidades que o IBRI tem convênio, que há engajamento em fazer o mercado de capitais crescer como um todo. Temos uma série de novos presidentes de entidades, da CVM ou de pessoas com mentalidade muito aberta que querem fazer com que o mercado de capitais cresça. O mercado, o Brasil e o RI são muito dinâmicos. Estamos sempre vendo oportunidades para poder crescer e fazer um trabalho melhor.


Continua...