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JORNADA ESG: A IMPORTÂNCIA ESTRATÉGICA DO PAPEL DOS CONSELHEIROS

Como os Conselheiros podem impulsionar a transformação sustentável nas Empresas?
Vivemos em uma era onde o compromisso com práticas de ESG (Ambiental, Social e Governança) tornou-se imprescindível para a sobrevivência das empresas. A crescente consciência em relação à crise ambiental e injustiça social tem influenciado profundamente o comportamento de consumidores, funcionários e investidores, que agora exigem cada vez mais transparência e responsabilidade socioambiental das corporações.

Consumidores estão optando por produtos e serviços de empresas que demonstram uma genuína preocupação com o meio ambiente e a sociedade. Os funcionários querem fazer parte de organizações que valorizam a sustentabilidade e a justiça social. Já os investidores estão cada vez mais direcionando seus investimentos para empresas com altos padrões de ESG, acreditando que estas apresentam menos riscos e têm maior potencial de rentabilidade a longo prazo. A regulamentação também está evoluindo, com órgãos reguladores em todo o mundo exigindo que as empresas sejam mais transparentes sobre suas práticas e desempenho em ESG.

Nesse contexto, os conselheiros consultivos e de administração têm um papel fundamental. Eles são responsáveis pela direção estratégica das empresas e têm o dever de assegurar que as empresas estejam preparadas para essa nova realidade.

Passo 1: Educação e Formação Pessoal
O primeiro passo nessa jornada é a formação e educação pessoal. O conselheiro deve procurar adquirir um sólido entendimento sobre ESG e como este se relaciona com o universo dos negócios. Isso pode envolver a leitura de relatórios, artigos e livros sobre o assunto, participação em seminários e workshops, e até a obtenção de certificações em ESG, como as oferecidas pelo Sustainability Accounting Standards Board (SASB) ou Global Reporting Initiative (GRI), pela ISO ou ABNT.

Além do conhecimento técnico, é crucial que o conselheiro desenvolva uma convicção pessoal sobre a importância do ESG. Essa convicção será a base para defender a adoção de práticas de ESG na empresa. A formação dessa convicção deve ser baseada em um estudo aprofundado e uma compreensão clara dos benefícios do ESG para a empresa e para a sociedade em geral.

Também é fundamental que o conselheiro se familiarize com as legislações e normas relevantes, o guia de boas práticas lançado recentemente pela B3, assim como a Resolução 59 da CVM, que determina que as empresas passem a indicar nos seus formulários de referência dados relacionados a políticas ESG podem ser bons pontos de partida. A norma ABNT PR 2030, que estabelece conceitos, diretrizes e modelo de avaliação e direcionamento para organizações, assim como as normas da ISO, como a ISO 14001 que pode ser utilizada na organização das ações ambientais, a ISO 26000 nas questões sociais e a ISO 37000 na área de governança são também leituras recomendadas.

Passo 2: Conscientização e Convencimento do Conselho, Acionistas e CEO
Uma vez formada a convicção pessoal e adquirido o conhecimento necessário sobre ESG, o próximo passo é sensibilizar e convencer o conselho, os acionistas e o CEO da importância de adotar práticas de ESG. O conselheiro pode fazer isso apresentando os dados mais recentes, tendências e estudos de caso sobre ESG em reuniões do conselho. Se o conselheiro sentir que precisa de apoio para convencer o conselho, ele pode convidar um especialista em ESG para uma reunião do conselho para apresentar uma visão externa e credível sobre a importância do ESG. Este especialista pode ajudar a fortalecer o argumento do conselheiro, apresentando evidências concretas dos benefícios do ESG e das consequências de ignorá-lo.

Passo 3: Diagnóstico ESG
Depois de convencer o conselho, os acionistas e o CEO da importância do ESG, o próximo passo é realizar um diagnóstico ESG da empresa. Dependendo do tamanho e complexidade da empresa, este pode ser um diagnóstico interno simples ou um diagnóstico mais complexo conduzido por uma consultoria externa especializada. Para empresas menores, pode ser suficiente investir na formação de uma equipe interna que poderá então, a seguir, avaliar as práticas atuais da empresa em relação aos padrões de ESG e identificar áreas de melhoria. Esta equipe pode iniciar um programa básico de conscientização e implementação de medidas elementares de ESG. Para empresas maiores e mais complexas, pode ser mais apropriado contratar uma consultoria externa especializada para realizar um diagnóstico ESG completo. Esta consultoria pode ajudar a identificar riscos e oportunidades, fornecer recomendações para melhorias e ajudar a desenvolver uma estratégia de ESG robusta.

Passo 4: Comunicação e Engajamento
Após a conclusão do diagnóstico ESG e o desenvolvimento do plano de ação, é essencial comunicar essas intenções e estratégias a todos os stakeholders. Essa fase de comunicação deve preceder a implementação, pois o sucesso do plano ESG depende fortemente do engajamento e apoio de todas as partes interessadas. Identifique os stakeholders chave - funcionários, clientes, fornecedores, investidores, comunidades locais e reguladores - e desenvolva mensagens adaptadas a cada grupo. Os funcionários podem estar focados em mudanças no ambiente de trabalho, enquanto os investidores podem estar mais interessados em como as práticas ESG impactam a resiliência e o desempenho financeiro da empresa. A comunicação deve ser transparente, consistente e regular, através de relatórios anuais, newsletters, sites corporativos, redes sociais e reuniões. O engajamento ativo dos stakeholders é tão crucial quanto a comunicação. Isso pode ser feito através de workshops, seminários e encontros regulares com cada grupo de stakeholders. A meta é não apenas informar, mas também ouvir, entender suas preocupações e expectativas, e criar um diálogo aberto para garantir que todos estejam alinhados e comprometidos com a estratégia ESG.

Passo 5: Implementação e Monitoramento
Após a comunicação e engajamento dos stakeholders, o próximo passo é implementar o plano de ação ESG. Isso pode envolver a introdução de novas políticas e práticas, a realização de treinamentos, a revisão de processos e a introdução de novas tecnologias. Durante todo o processo de implementação, é crucial monitorar o progresso e ajustar o plano conforme necessário. É importante lembrar que a implementação de práticas ESG é um processo contínuo que requer comprometimento a longo prazo. É recomendável que a empresa utilize indicadores-chave de desempenho (KPIs) para avaliar o progresso em direção aos objetivos de ESG. Esses KPIs devem ser alinhados com os padrões de ESG reconhecidos internacionalmente, como os da Global Reporting Initiative (GRI) ou do Sustainability Accounting Standards Board (SASB). O monitoramento regular desses KPIs permitirá à empresa avaliar a eficácia de suas práticas de ESG e fazer ajustes conforme necessário.

Passo 6: Revisão e Melhoria Contínua
A natureza dinâmica do ambiente de negócios e as rápidas mudanças no cenário ESG exigem uma abordagem de melhoria contínua. Uma vez que as estratégias de ESG estejam implementadas e o monitoramento esteja em andamento, é crucial que o conselheiro incentive a revisão constante das políticas, práticas e resultados. Esta etapa pode envolver a contratação de auditorias externas regulares para garantir a conformidade com as normas ESG e avaliar o desempenho da empresa. As revisões periódicas também devem considerar o feedback dos stakeholders, incluindo funcionários, clientes, investidores e comunidades locais. Ferramentas como pesquisas de opinião, grupos focais e análise de sentimentos nas redes sociais podem ajudar a capturar esse feedback.

Por fim, é importante lembrar que os conselheiros desempenham um papel vital na transformação ESG de uma empresa, não apenas por serem responsáveis pela direção estratégica, mas também por serem os guardiões da sustentabilidade corporativa. Eles têm o poder de influenciar o curso de uma empresa e impulsionar uma mudança significativa em direção à sustentabilidade.

Para desempenhar este papel de forma eficaz, os conselheiros precisam estar bem informados sobre os princípios e práticas de ESG, e devem estar preparados para fazer as perguntas difíceis e tomar decisões estratégicas. Eles devem estar dispostos a desafiar o status quo e promover uma cultura de transparência, responsabilidade e respeito ao meio ambiente e às comunidades em que a empresa opera.

A transição para uma abordagem de negócios mais sustentável não é fácil, mas é necessária. Ao seguir os passos descritos acima e adotar uma postura proativa, os conselheiros podem ajudar a guiar suas empresas em direção a um futuro mais sustentável e, em última análise, mais bem-sucedido. Afinal, uma empresa que adota práticas de ESG não está apenas fazendo a coisa certa para o planeta e para as pessoas, mas também está construindo uma base sólida para o sucesso a longo prazo.


Marcelo Murilo
é co-fundador e VP de Inovação do Grupo Benner, Mentor, Conselheiro, Membro do Board Club e Especialista do Gerson Lehrman Group e da Coleman Research. Fala sobre Inovação, Governança e ESG.
marcelo.murilo@benner.com.br


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