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Finanças

ERROS DOS INVESTIDORES: CILADA EMOCIONAL

São várias as razões que podem levar alguém a perder dinheiro no mercado de ações. Turbulências inesperadas da bolsa, excesso de confiança, visão de curto prazo, baixa diversificação da carteira... Mas, quando se trata de prejuízos, é comum que tenham sido motivados por fatores emocionais. “O maior inimigo do investidor é ele mesmo. A maioria toma decisões ruins, movida pelos instintos e emoções. É seu comportamento e suas decisões que condicionam o retorno das suas aplicações”, explica Jay Mooreland, fundador do “The Emotional Investor”, um programa que fornece educação e ferramentas financeiras relacionadas à influências da psicologia sobre decisões de investimento.

Portanto, entender como funciona o cérebro e aprender a dominar as emoções podem ajudar o investidor a melhorar seu desempenho. “Controlar a ganância e o medo é o segredo”, destaca Jurandir Macedo, doutor em Finanças Comportamentais e pioneiro da área no Brasil.

Embora a ciência das finanças comportamentais ainda esteja engatinhando, ela começou ganhar notoriedade no começo dos anos 2000 quando os psicólogos israelenses Daniel Kahneman e Amos Tversky ganharam o Prêmio Nobel de Economia. De acordo com os pesquisadores, as atitudes aparentemente racionais dos investidores envolvem uma série de "atalhos mentais", armadilhas colocadas pelo cérebro que, inconscientemente, têm impacto na hora de escolher uma aplicação ou manter determinado ativo na carteira. Também conhecidos como "vieses", esses atalhos da mente podem levar os investidores ao erro sem que eles percebam.

A seguir, a Revista RI apresenta os 10 fenômenos comportamentais mais comuns que podem prejudicar um investidor. A lista foi elaborada com a ajuda de Wesley Mendes, professor e pesquisador do Instituto de Finanças da FGV.

1. Viés da representatividade
A mente assume que coisas que compartilham características são necessariamente iguais. É o julgamento baseado em estereótipos. “Esse viés faz com que os investidores comprem mais ações que representem qualidades desejáveis, confundindo boas companhias com bons investimentos”.

2. Dissonância cognitiva
Consiste no estado mental inconsistente que provoca a tendência a ignorar, rejeitar ou minimizar qualquer informação que conflite com crenças pessoais. “Muitas vezes, investidores podem relembrar suas performances passadas tão boas quanto realmente foram”.

3. Viés da familiaridade
Este enviesamento leva as pessoas a investir a maior parte de seu dinheiro em ações que são conhecidas por eles, em vez de em um portfólio diversificado adequadamente. Acontece, por exemplo, quando o investidor decide apostar em papéis da companhia na qual trabalha.

4. Humor e otimismo
Pessoas em estado de bom humor tendem a fazer julgamentos mais otimistas que pessoas em estado de mau humor, quando tendem a serem mais críticos no processamento de informações. “Em estado de bom humor, os investidores tendem a comprar ações (ou fazer investimentos) sem conduzir a sua adequada analise, podendo arrepender-se depois”.

5. Excesso de confiança
Esse viés de julgamento está intrinsecamente associado ao humor e ao otimismo. Investidores tendem a ser excessivamente confiantes acerca de suas habilidades para completar satisfatoriamente tarefas difíceis. “Investidores acreditam que seu conhecimento é mais acurado do que realmente é, e suas previsões são mais precisas. Isso pode ter como consequência a tomada excessiva de risco”.

6. Efeito dotação
As pessoas não dão maior valor às coisas que elas possuem, tanto quanto sofreriam pela dor associada a ter de dá-los. Ou seja, a perda é mais significativa do que o ganho. Esse efeito faz com que o investidor mantenha os investimentos que ele já possui, postergando a venda ou a decisão de compra, levando à perda de boas oportunidades.

7. Viés do status quo
Também chamado de inércia, consiste pela escolha de não fazer nada diferente, manter a situação atual, por comodismo ou preguiça. A decisão de protelar uma decisão de investimento torna-se mais frequente quando existem muitas alternativas disponíveis. Segundo o professor da FGV, um bom exemplo é a procrastinação de iniciar as contribuições para um fundo de previdência.

8. Ancoragem
Ocorre quando as pessoas fixam um preço para algo, e avaliam as coisas a partir desse tal valor. “A escolha da mente por um ponto de referência (ou âncora) é importante porque determina se o investidor sente prazer ao obter um ganho ou dor pela experiência de uma perda”. As projeções feitas com base no comportamento passado são um exemplo dessas âncoras. Se um papel é vendido a R$ 20 numa oferta inicial de ações, esse é o valor que servirá como âncora para o investidor. Caso a cotação caia, a tendência é de ele considerar o papel barato, avaliando que o preço inicial é o preço justo da companhia.

9. Lei dos pequenos números
As pessoas vêem padrões em dados que são aleatórios e, em seguida, fazem previsões sobre o futuro, com base nesses supostos padrões percebidos. “Muitas pessoas não acreditam que o mercado de ações é aleatório. Assim, elas tendem a assumir que, existindo tendência de preço de uma ação, isso vai se manter”.

10. Contabilidade mental
Trata-se de um processo para medir facilmente o progresso em direção a um objetivo. Mas, a contabilidade mental frequentemente nos induz a erros, quando passamos a considerar os significados das trocas e não seus valores financeiros. Ela é um jeito enviesado e deformado de lidar com o dinheiro, que não corresponde à realidade.

Segundo Jurandir Macedo, apenas conhecer uma armadilha mental não significa que estamos livres delas. Para melhorar a forma como tomamos decisões é fundamental anotar os motivos pelos quais decidimos, em determinado momento, comprar ou vender um ativo ou decidir por um gestor e não por outro. “Anotando as decisões, podemos reavaliar no futuro e aprender com nossos acertos e erros do passado. Se deixarmos sem anotação, no futuro o cérebro vai achar ‘desculpas’ que minimizem nossos erros e maximizem nossos acertos”, explica.

Hábito financeiro dos brasileiros
Com o objetivo de entender o comportamento financeiro dos brasileiros, o instituto de pesquisa Ilumeo, em parceria com a Ricam Consultoria, realizou um levantamento e constatou que ainda há muito despreparo quando o assunto é finanças.

Confira abaixo os 4 principais erros financeiros que a maioria dos brasileiros comete sem perceber:
1. Falta de planejamento
Comportamentos cotidianos simples que impactam diretamente a saúde financeira das pessoas ainda são um entrave para muitos entrevistados. Ao contrário do que indicam especialistas, apenas 32% das pessoas anotam todos os seus gastos. Já 36% anotam somente as maiores compras e 32% nunca anotam nenhum de seus gastos. Por outro lado, a pesquisa revelou que 69% das pessoas gostariam de anotar suas despesas para ter maior controle no dia a dia. “Como existe uma distância grande entre intenção e comportamento, quanto mais fácil e intuitivo for o processo de anotação, com ajuda de aplicativos, lembretes no celular, entre outros, mais tendem a crescer as práticas conscientes sobre os próprios gastos”, diz Otávio Freire, diretor da Ilumeo.

2. Orçamento doméstico
Apesar de 88% dos entrevistados casados declararem que conversam com os parceiros sobre finanças familiares, 71% consideram que a organização de orçamento da casa é centralizada em apenas uma pessoa. Outro ponto interessante sobre os casais é que nem todos eles têm o mesmo plano em relação ao que fazer com o dinheiro que sobra no fim do mês. Mais de 24% acreditam que os planos do parceiro para o dinheiro extra são diferentes dos seus e 13% dizem não saber quais são os planos do parceiro. Já 63% dos casados acreditam que têm os mesmos planos que os parceiros para uso do recurso que sobrou.

3. Rentabilidade X Segurança
A poupança é disparada a forma de investimento mais conhecida (95%), seguida pela previdência privada (66%). Apesar de 59% comentarem que já ouviram falar sobre o mercado de ações, apenas 3% declararam já ter investido neste mercado. “As pessoas abrem mão de rentabilidades mais altas em função da familiaridade e segurança da poupança. Ao longo do tempo, esta escolha acaba reduzindo muito o valor dos investimentos”, comenta Ricardo Amorim, da Ricam Consultoria.

4. Falta de educação financeira
43% dos entrevistados declaram nunca terem ouvido dicas ou orientações sobre educação financeira. Entre aqueles que já ouviram alguma dica, televisão (48%) e sites (28%) são meios considerados relevantes.


Continua...