Educação Financeira

FORMANDO SUCESSORES

Quando converso com empresários, frequentemente ouço uma mesma reclamação: a falta de interesse dos filhos pelos negócios. Deve ser muito frustrante dedicar a vida à construção de um negócio e depois não encontrar nos herdeiros pessoas dispostas a perpetuar a obra.

Em um dos tópicos da disciplina de Finanças Pessoais na UFSC apresento aos alunos um quadro que mostra que existem três formas básica que eles terão que escolher para ganhar dinheiro. Poderão escolher ser empregados, autônomos ou empresários. Nos três casos, se tiverem sucesso e bom planejamento poderão se tornar investidores e não precisarão mais vender o seu tempo para ganhar dinheiro.

Alguns alunos afirmam que escolheram determinado curso para seguir os passos do pai ou da mãe, outros, afirmam que escolheram o curso para ficar o mais longe possível da profissão dos pais.

Um filho de empresário me disse que não gostaria de comandar a empresa do pai ou sequer ser empreendedor em outro campo. Ao ser questionado sobre o porquê desta falta de vontade ele elencou inúmeros problemas enfrentados pela empresa do pai e desabafou que era muito aflitivo ver sempre o pai chegar em casa muito cansado e cheio de problemas.

Outra aluna, que é filha de uma empresária, disse que preferia seguir a carreira do pai e ser dentista. Enquanto a mãe sempre chegava cansada em casa, o pai sempre tinha casos interessantes sobre seu dia no consultório para contar. Já o seu colega discordou radicalmente da afirmativa. Ele disse que a mãe, também dentista, tinha uma rotina muito dura, com inúmeros problemas para resolver. Para ele, o bom mesmo é ser funcionário público.

Na verdade, não existe a melhor profissão. Cada uma apresenta desafios, percalços e também várias gratificações. Porém os jovens, que ainda não têm muitas experiências de vida, costumam criar estereótipos profissionais a partir daquilo que escutam e observam dos pais.

Assim, a profissão de dentista é vista por um filho como interessante e desafiadora, enquanto outro a enxerga como estressante e cheia de perigos. Um filho de empresário planeja seguir os passos do pai enquanto outro anseia viver longe das agruras desta profissão.

Claro que não podemos atribuir apenas aos pais a responsabilidade pela escolha da profissão dos filhos. O meio ambiente, os amigos, os parentes, os professores e até mesmo os modismos podem influir. Por isso em uma mesma família um filho pode resolver seguir os passos da mãe ou do pai enquanto outro vai por um caminho completamente diferente.

Muitos empresários passam longo tempo trabalhando em suas empresas. Fazem o planejamento estratégico dos seus negócios e cuidam dos funcionários, pois sabem que sem bons funcionários nenhuma empresa pode progredir. Mas podem acabar esquecendo que, um dia, seus filhos é que poderão ser os executivos da empresa. E esse dia em geral chega mais rápido do que se imagina.

Despertar o interesse dos filhos também requer tempo, dedicação e planejamento. Evidentemente, não defendo que os pais obriguem os filhos a seguirem seus passos. Muitos pais sequer desejam que isso aconteça. Mas se um pai quiser que seu filho um dia continue sua obra, deve mostrar a ele como sua atividade é interessante e precisa evitar focar apenas nos problemas.

Muitos pais que trabalham muito tentam compensar a ausência com presentes e facilidades. Esse comportamento só faz com que os filhos associem a felicidade ao consumo. Esse tipo de educação cria adultos com muitas dificuldades em controlar as finanças pessoais. Famílias ricas há muitas gerações dedicam vasto tempo à educação dos filhos, pois sabem que desta educação depende o futuro dos negócios.

Se você tem filho e quer motivá-lo a seguir sua profissão ou a assumir seus negócios, deve se preocupar com isto desde a mais tenra idade. Que tal vencer o cansaço e o desânimo em um dia difícil e escolher a melhor parte do dia para contar aos seus filhos?

O que acha de descrever a ele como foi interessante e desafiador conquistar seu último negócio? Que tal contar aos seus filhos como tudo começou? Será que seu filho não vai gostar de ouvir as histórias dos esforços que você fez para ter sucesso em sua profissão?

Saiba que você é o herói do seu filho. Mas por um tempo incrivelmente curto, que passa extremamente rápido. Normalmente aos 12 anos, ou até antes, os filhos já começam a enxergar os defeitos dos progenitores. Depois dessa idade, não tarda para que comecem a discordar dos pais para formar a própria personalidade.

Para a maioria dos pais, a melhor oportunidade para educar os filhos coincide com a fase em que se é mais exigido na profissão. Os inúmeros compromissos profissionais e sociais podem preencher todo o seu tempo se você esquecer de alocar uma parte de sua vida para o principal investimento, que é criar os filhos.

O trabalho árduo é uma forma de evitar as dificuldades financeiras. Limitações na conta bancária podem ter forte impacto nas possibilidades de cumprir com as exigências monetárias para a educação de um filho na sociedade moderna. Mas, particularmente, penso que nenhum sucesso profissional ou material compensa o fracasso na educação dos filhos.

Formar futuros líderes empresariais, médicos, dentistas, artista, trabalhadores, operários, políticos, professores e empreendedores, é o maior dever de uma família e do estado. Este é o melhor investimento que conheço.

Jurandir Sell Macedo
é doutor em Finanças Comportamentais, com pós-doutorado em Psicologia Cognitiva pela Université Libre de Bruxelles (ULB) e professor de Finanças Pessoais da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
jurandir@edufinanceira.org.br


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