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Estamos vivendo um problema de saúde pública que não é novo. O Coronavírus ficou conhecido desde os anos 60 e sua característica principal, de acordo com os especialistas de saúde, é a infecção respiratória manifestada de diversas formas leves ou graves. Existem hipóteses de que a origem do contágio esteja nos animais, notadamente o morcego. A Organização Mundial da Saúde informou que um animal é provavelmente o transmissor da COVID-19, denominação atribuída ao novo coronavírus.
Analisando os coronavírus anteriores, não temos conhecimento de qualquer um que tenha sido causa de movimentos sistêmicos de baixa acentuados nos Mercados como o atual. Ao contrário, o SARS (Severe Acute Respiratory Syndrome) teve sua ação forte a partir de 2002 quando as Bolsas estavam saindo da recessão provocada pelo estouro da bolha da Internet em 2000 e experimentaram um período de alta expressivo em todo o mundo, inclusive no Brasil, até 2008, quando ocorreu a pandemia econômica da subprime.
Em 2012, tivemos o MERS (Middle East Respiratory Syndrome) com uma taxa de letalidade que chegou a 30%. Mais uma vez não houve impacto nos Mercados Globais impactos, apesar da queda do preço das commodities. Diferentemente, O Brasil sofreu forte impacto pela combinação de queda no preço das commodities e corrupção - mensalão + lava-jato.
O vírus Ebola teve taxa de letalidade muito maior, chegando a mais de 80%, mas não provocou qualquer movimento sistêmico profundo. As Bolsas Mundiais continuavam em sua tendência de alta de longo prazo.
Porque este Novo Coronavírus provocou um movimento tão forte tendo uma taxa de letalidade tão baixa. É verdade que a de acordo entre Arábia Saudita e Rússia contribuiu para essa redução da oferta do petróleo, criando um clima (não ambiental) ainda mais pesado para a forte desaceleração econômica com risco de recessão econômica global.
O que parece estar diferenciando este vírus dos demais é a alta taxa de contágio em uma Era Global, em que a Internet está reduzindo drasticamente o tempo de comunicação, em uma Era Global em que as doenças contagiosas têm elevada velocidade de propagação, em uma Era Global em que as forças econômicas estão em processo de mudança profunda com a ascensão da China.
No âmbito político, surgem autoridades denominando estes Coronavírus de “vírus chinês”, de “vírus do oriente médio”. O nome do vírus Ebola vem do Rio Ebola. Morcego, camelo ou o gato civeta estão na relação dos animais citados como incubadores e transmissores. Nessa linha de ação, a ordem científica será identificar “qual animal desarrumou a economia do mundo inteiro. As previsões econômicas naturalmente têm sido sombrias, pois o pânico nos força a pensar o pior.
Falando do Novo Coronavírus, as orientações à população tem sido:
São Mudanças de paradigmas sociais profundos, que devem resultar em novas lições de convivência entre pessoas e países, pois as experiências passadas estão mostrando que outras endemias, epidemias e pandemias virão.
Entretanto, mesmo essa situação não é nova. Se voltarmos no tempo,há 100 anos atrás, com o surgimento da Gripe Espanhola, que não é espanhola (existem histórias de que tenha surgido em campos de treinamento americano). Ela assim foi batizada porque foi a Espanha, que era neutra na 1ª Guerra,foi o primeiro país a divulgar para o mundo a existência de uma provável epidemia, que chegando ao Brasil vitimando o recém eleito Presidente da República Rodrigues Alves.
A leitura do Estadão de 21/10/1918 vai mostrar que quase todas as recomendações para o COVID-19 eram também recomendações para a Gripe Espanhola, para o qual também não havia vacina. Ela matou mais de 1% da população mundial, no período 1918-1919, acima de 20 milhões de pessoas. A bolsa de Nova York já vinha caindo desde 1916, meados da 1ª guerra mundial e continuou até 1921. Vale destacar que no período crítico da Gripe, de agosto de 1918 a maio de 1919, a Bolsa subiu 16%.
Podemos assim sugerir não haver evidências de relação causal entre pandemias e movimentos “Bear Market” ou de forte correção secundária. Se existisse essa relação o comportamento foi inverso, dando sinais de que este movimento deverá ser limitado no tempo, ressaltando que a história não necessariamente se repete.
Voltando às recomendações da saúde pública, a simples providência “lavar as mãos”, recomendada por Nostradamus, no século XVI, continua mais complexa do que imaginamos, especialmente para países como o Brasil, que continua com o acesso à água e esgoto. Segundo o CNI:
De acordo com o FGV/IBRE, o Índice de Gini no Brasil em março de 2019 era de 0,6257, revelando a rigidez dos padrões de desigualdades sociais. Nesse sentido é natural que o nível de habitações precárias tenha se elevado no período de recessão 2015-2017. O déficit habitacional estimado pela Fundação João Pinheiro para 2015 foi de 6,4 milhões de unidades, dos quais 79% se concentra em famílias de baixa renda. 87,7% do déficit habitacional quantitativo está localizado nas áreas urbanas. São problemas sociais sérios, mas também são oportunidades de investimentos.
Assim antes de procurar o animal culpado desta tragédia econômica global que estamos vivendo, devemos antes perguntar se a degradação ambiental histórica não tenha sido o fator gerador do consumo de animais exóticos. A China proibiu de forma definitiva o seu consumo. Essa medida poderá gerar transformações importantes nas relações entre economia, meio ambiente e sociedade, mas é preciso que todos os países, que adotam essa prática, sigam esse caminho. E para que esses animais se mantenham em seu habitat, terá de haver uma política de regeneração do meio ambiente, que também necessita de recursos e compromissos políticos e o caminho a ser seguido deve ser o dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – ODS.
Dessa forma, deve haver o compromisso de que o meio ambiente seja integrado de fato às Políticas Públicas.Não é desejável que tenhamos um meio ambiente limpo às custas da paralização da economia, mas não é desejável um crescimento econômico que não se sustente do ponto de vista social e ambiental. O equilíbrio é a chave do sucesso.
Nesse sentido, as questões ASG devem estar na base dos fundamentos de decisão de investimentos e os ODS devem estar na base das políticas públicas e privadas de desenvolvimento.
O COVID-19 está atingindo em cheio a população idosa, que está sendo obrigada a ficar longe do convívio social. A sociedade fez a opção pela aceleração das taxas de longevidade. Bem isso tem custo. A Gripe Espanhola e o Novo Coronavírus curiosamente orientaram igualmente para o cuidado especial com os idosos.
Considerando-se todos os elementos colocados, podemos dizer que:
Quando os mercados se comportam com movimentos abruptos insustentáveis revela não raro que estão se descolando da economia real tornando as expectativas mais difusas impactando negativamente até aqueles investidores que fundamentam suas decisões em padrões ESG e políticas públicas baseadas nos ODS.
Temos de entender que em qualquer negócio, os fatores ambientais são condições iniciais do processo, pois eles são finitos, os objetivos sociais devem ser pautados pelo que é possível ser entregue à sociedade, mas respeitando os princípios da igualdade e oportunidades. Os objetivos econômicos devem ser alcançados respeitando-se o objetivo social e a condicionante ambiental. A governança pública e privada é a chave para a combinação dos objetivos e condicionantes. Assim podemos chegar ao equilíbrio.
Em síntese, ODS são revelam os objetivos e metas e as ESG definem a estrutura de riscos. Esse ambiente tem de comandar o mercado de capitais e não andar a reboque. De outra forma, será dizer que a solução do problema está em buscar o morcego que mordeu o dromedário ou gato civeta que virou sopa ou foi comido por um indivíduo que por pobreza, fome ou cultura acaba sendo contaminado por um vírus que acaba provocando uma desordem social e econômica de sérias proporções.
O mundo tem hoje mais de 7,2 bilhões de habitantes 4 vezes mais do que em 1920, 1,9 bilhões. A expectativa de vida dobrou na “média global” desde a Gripe Espanhola.
O que esperar no futuro?
Nota: Este artigo expressa a opinião do autor.
Eduardo Werneck
é vice presidente da Apimec Nacional e special advisor da Resultante.
eduardo.werneck@apimec.com.br