Finanças Sustentáveis

ASG: O NOVO NORMAL

A integração de aspectos Ambientais, Sociais e de Governança caminha para se tornar o novo normal na decisão de investimentos.

A mudança climática vem cobrar respostas em relação às múltiplas crises que atravessaram as últimas décadas sem soluções, resultantes de um modelo de desenvolvimento que ignora os limites planetários e fracassou em gerar bem-estar para as pessoas.

Essa mensagem que ecoa há pelo menos duas décadas nas discussões sobre sustentabilidade, agora está na boca de investidores que começam a se dar conta de que ações prejudiciais à sociedade também prejudicam os negócios e destroem valor para os acionistas.

Essas foram palavras do próprio CEO da BlackRock, Larry Fink, maior investidor institucional do mundo, que em sua carta anual às empresas investidas destacou a sustentabilidade como novo padrão de investimento e anunciou o compromisso da firma de integrar aspectos ambientais, sociais e de governança integralmente à gestão dos portfólios e ativos até o final de 2020.

Para alcançar esse compromisso, os investidores precisam contar com informação o que vem sendo objeto de trabalho de organizações que construíram e aprimoraram por meio do diálogo com múltiplos stakeholders normas para transparência em aspectos ambientais, sociais e de governança.

Em se tratando de riscos climáticos, apontados com maior ênfase na carta, eles já são foco dos indicadores econômicos da GRI – Global Reporting Initiative desde a sua primeira geração de normas para o relato de sustentabilidade lançada nos anos 2000. Hoje, são mais de 8.000 em âmbito global, sendo mais de 400 apenas no Brasil, reportando informações segundo as normas da GRI.

Para os negócios, as mudanças climáticas envolvem riscos e oportunidades além do carbono e da energia, incluindo direitos humanos, restrições de recursos, biodiversidade e muitos outros. A GRI ajuda as organizações a entender as conexões entre mudanças climáticas e outros desafios de sustentabilidade e, assim, têm contribuído para integrar riscos físicos, legais e sociais relacionados às mudanças climáticas à gestão dos negócios. Esse exercício está em linha com as recomendações da Força-Tarefa de Divulgação Sobre Informação Financeira Relacionada a Mudanças Climáticas (do inglês, TCFD), do Financial Stability Board.

Essas normas para o relato de sustentabilidade já consolidadas proporcionam a disponibilização de informação consistente e comparável das empresas, aspectos que são fundamentais para a tomada de decisão. As informações dos relatos de sustentabilidade com base nas normas GRI alimentam plataformas de informação para investidores como a Bloomberg e são consideradas em ratings e índices para tomada de decisão de investidores.

Apesar de já haver uma massa crítica de empresas relatando suas informações ambientais, sociais e de governança, faltava ainda um sinal claro de que as decisões de investimento de fato são tomadas com base nessas informações com o mesmo peso em que são considerados aspectos financeiros.

Cabe agora aos investidores debruçarem-se sobre essas informações disponíveis e engajarem as empresas para transformação dos seus modelos de negócios de modo que não apenas minimizem seus impactos negativos, mas gerem benefícios para a sociedade e o ambiente. Além de gerar insights para adequar a gestão a esses novos tempos, o exercício de relato de sustentabilidade também tem papel fundamental para gerar informações de qualidade para a tomada de decisão de investimentos, considerando aspectos ambientais, sociais e de governança.

Olaf Brugman
é superintendente de Sustentabilidade da Sicredi, membro do Conselho de Administração da Global Reporting Initiative (GRI).
olaf_brugman@sicredi.com.br


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