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Ponto de Vista

BRASIL PÓS CRISE DO CORONAVIRUS

Uma das poucas certezas que temos nesse grande momento de dúvidas é que essa inédita crise que estamos vivendo será superada. Provavelmente será uma melhora gradual até atingirmos o novo normal. Não arriscaria falar em prazos, mas farei algumas previsões do que aprenderemos da triste convivência com essa pandemia.

Na realidade, não temos referencial para nos basearmos, pois a situação que estamos vivendo não tem precedentes. A única a certeza é que teremos substanciais mudanças num horizonte de alguns meses, até anos.

Vamos às possíveis consequências:

  1. A globalização e o globalismo serão muito afetados. Os países ficarão mais fechados, o que terá um impacto sobre a circulação de capitais. 
  2. As cadeias de suprimentos entre países serão repensadas. Na medida do possível, os países irão buscar uma verticalização interna desde que tenham viabilidade. Não podendo, terão que buscar mais de um fornecedor externo. 
  3. O fluxo de viajantes levará algum tempo para que as pessoas readquiram confiança para suas viagens de turismo. As viagens de negócios também serão afetadas, já que cada vez mais as videoconferências substituirão os contatos diretos. Do nosso ponto de vista de consumidor, será que num surto nacionalista daremos preferência a produtos brasileiros, restaurantes de bairro brasileiros, férias no Brasil? Outra consequência será uma sensível depreciação do valor dos imóveis em grandes capitais como Nova Iorque, Londres, Paris, Madri e Barcelona que se valorizaram espetacularmente. Isso sem falar da sua liquidez. 
  4. Dentro dessa mesma linha de raciocínio, também haverá um aumento substancial do trabalho remoto, evitando deslocamentos de funcionários das empresas,o que as tornará mais eficientes, fazendo o trabalho da residência de seus funcionários. Também os conference calls, e vídeo conferências entre empresas, serão mais utilizados.  
  5. Consequentemente, haverá menor movimentação de pessoas o que aliviará o sistema de transportes e, principalmente, o uso de automóveis. 
  6. Um subproduto favorável será a melhoria do ar nas grandes cidades, devido a diminuição da poluição. 
  7. Hábitos de consumo pessoal serão afetados, o que favorecerá a utilização da internet, acelerando o que já vinha acontecendo, e que resultará na alteração do nosso quotidiano. 
  8. Questões sanitárias serão priorizadas e os hospitais serão favorecidos por investimentos para poder cumprir sua nobre missão com mais recursos e ampliação de serviços. Estímulo à contratação de funcionários especializados para melhor equipar os hospitais. 
  9. Os investimentos públicos e privados deverão favorecer os segmentos de saneamento e habitação. Está cada vez mais evidente que a população mais prejudicada não dispõem de água e de condições mínimas de higiene, devido , entre outros fatores, a deficiência habitacional. 
  10. Tema migratório - cada vez mais os imigrantes terão maiores dificuldade de encontrar abrigos em outros países. Os controles de fronteira se tornarão mais rígidos e a xenofobia aumentará. 
  11. Passada a crise, no campo internacional, as relações com os Estados Unidos e China, novamente viverá tempos muito difíceis, transcendendo a questão comercial, particularmente se houver uma recessão mundial, o que muitos acreditam será inevitável. A se confirmar esse cenário de dificuldades, nossa relação com esses países será submetida a grande stress, pois teremos que manter um relacionamento comercial importante com ambos os países. 
  12. Mercado de capitais - voltará ao perfil conservados do investidor brasileiro. Infelizmente, a volta das aplicações para Bolsa e participação em IPO’s sofrerá um retrocesso, devido ao impacto do coronavirus, aqui e nos demais mercados. Lamentamos, pois as conquistas alcançadas até o momento em 2019, com investidores nacionais voltando ao mercado, principalmente pessoas físicas, levará algum tempo para que possam recuperar suas perdas. 
  13. O ‘day after’ da pandemia e seus efeitos sobre os necessários gastos governamentais implicarão em forte impacto sobre o déficit público, necessário para cobrir os gastos com saúde e manutenção de empregos. Provavelmente o Governo terá que lançar mão de aumento na tributação de impostos no segmento de alta renda ; impostos sobre heranças e patrimônios, entre outros. 

Terminaria com uma visão positiva, pois creio que essa pandemia nos colocou diante de uma nova situação de solidariedade entre as pessoas e novos sentimentos de auxílio àqueles mais necessitados, como vem acontecendo no mundo e nas grandes cidades. A força da união estará presente e seremos menos individualistas e não mais indiferentes às desigualdades sociais.

Não podemos deixar de reconhecer o fortalecimento dos valores familiares resultantes desta crise. 

Roberto Teixeira da Costa
é economista, e conselheiro emérito do Centro Brasileiro de Relações Internacionais e do Conselho Empresarial da América Latina. Recentemente publicou o livro “Valeu a pena: passado, presente e futuro do Mercado de Capitais.
teixeiradacostaroberto@gmail.com


Continua...