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Opinião

CAPITALISMO SOLIDÁRIO

A pandemia do Coronavírus despertou entre destacados economistas, do Brasil e do exterior, um sentimento de solidariedade que estava afastado das suas preocupações de desenvolvimento econômico sustentado.

Há alguns anos publiquei no jornal Valor Econômico um artigo também intitulado: “Capitalismo Solidário”, que em síntese, dizia que o sucesso futuro do capitalismo dependeria de uma melhor forma de distribuição do lucro, entre os fatores de produção responsáveis pela geração da riqueza dos investimentos feitos pelas empresas: do capital humano, do capital financeiro e do capital ambiental, ou recursos naturais.

Na atual crise, além dos cuidados necessários para evitar a propagação da doença, economistas recomendam a transferência de recursos para a população desassistida que mora nas ruas, para o gigantesco número de trabalhadores informais, para micro e pequenas empresas, além de apoiarem as medidas de antecipação de benefícios previdenciários e de linhas de crédito pelos bancos governamentais para empresas de maior porte anunciadas pelo governo. Tudo em nome de um espírito de solidariedade que achava-se esquecido.

O apoio ao capitalismo solidário, que pode ser chamado de outros nomes, é a única forma de darmos continuidade ao modelo econômico que teve mais sucesso, desde a revolução industrial, proporcionando um crescimento econômico mundial, nos dois últimos séculos, jamais visto na história da humanidade. É verdade que a forma injusta de distribuição dos lucros privilegiou os detentores do capital financeiro gerando a necessidade de sua correção.

Mas no Brasil temos que olhar também para a enorme distância da remuneração entre funcionários públicos e dos trabalhadores do setor privado. É hora de uma participação solidária dessa categoria, aceitando uma redução temporária em seus benefícios, para reduzir o impacto fiscal das medidas anunciadas.

Como dizia Winston Churchill, há quase cem anos: “O grande problema do capitalismo é que ele concentra a riqueza na mão de poucos, mas é muito melhor do que o socialismo que distribui a pobreza para todos”.

No ano passado o Codemec - Comitê para o Desenvolvimento do Mercado de Capitais realizou com a FGV-IBRE o fórum: Desafios do Capitalismo, com importante participação de autoridades, professores, economistas e empresários para debater esse tema. Voltaremos a realizar conjuntamente, em agosto, um outro fórum para debatermos o tema: ”Educação, Habitação e Produtividade” que se não for enfrentado com um espírito de solidariedade às populações de baixa renda, não resolveremos o problema da educação das crianças que moram nas favelas e outras comunidades.

Como diz o ditado popular “Educação vem do berço”. Como educar crianças que não têm creches e escolas de tempo integral morando em casas onde muitas vezes dormem com toda a família em um único cômodo em ambientes sem abastecimento de água, esgoto, limpeza de lixo e segurança. Que muitas vezes têm como sua única refeição a merenda escolar.

Espero que a luta contra o Coronavírus incendeie o espírito de solidariedade e possamos encontrar o caminho do Capitalismo Solidário e da Educação e Habitação para atendermos as necessidades dos milhões de brasileiros desassistidos. 

Thomás Tosta de Sá
é presidente do CODEMEC - Comitê para o Desenvolvimento do Mercado de Capitais, ex-presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e diretor da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA).
thomas@codemec.org.br


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