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Ponto de Vista

PERSPECTIVAS E PROJEÇÕES PARA A ECONOMIA E O MERCADO DE CAPITAIS

Com uma parte substancial de minha vida profissional, que já supera 60 anos, em grande parte dedicada ao mercado, fico me perguntando por quais razões não foi possível ver seu desenvolvimento de forma contínua para que fosse o instrumento dinâmico que entendíamos ser fundamental para o País. Tivemos espasmos de crescimento, mas não uma continuidade que o tornasse um instrumento que fosse usado permanentemente pelas empresas.

Infelizmente, anos recentes têm sido marcados por dificuldades para o nosso país e que obviamente tiveram reflexo no mercado. Ao invés de constatarmos progressos marcantes no seu acesso pelas empresas, estamos em franca regressão.

Fatos e números apresentados a seguir, levantados pelo Centro de Estudos do Instituto IBMEC (CEMEC), infelizmente confirmam essa triste realidade. Verificamos praticamente uma paralização de novos lançamentos (IPOs) e o que assistimos é um número expressivo de companhias abertas fechando seu capital.

É perfeitamente explicável pela relação custo/benefício, como também pelo fato que muitas empresas estão entendendo que os preços que suas ações vêm sendo negociadas no pregão são incompatíveis com o que entendem ser seu valor real. Assim, sua liquidez é utilizada parcialmente na compra de suas próprias ações.

Eis alguns números e fatos:

1. Mercado de capitais e crescimento no Brasil e no mundo

a. Mercado de ações é pequeno e tem caído nos últimos anos; entre 74 países, posição do Brasil em 12/2015:

i. Capitalização de mercado (32,2%) - 53º lugar
ii. Número de empresas listadas (359) - 27º lugar
iii. Valor médio de IPO (2013/2014) US$ 411MM - 5º lugar

2. Do total de 64% da poupança financeira, somente 11,9% está aplicada em títulos de dívida corporativa.

3. Retorno acumulado de julho de 1994 a abril de 2016 (R$ 1.000,00 investidos):

a. BOVESPA - 14.275%
b. CDI - 42.006%

4. Brasileiros investem pouco em renda variável, conforme se constata:

a. Japão: 31%
b. Hong Kong: 29%
c. Inglaterra: 15%
d. EUA: 13%
e. França: 11%
f. China: 5%
g. Índia: 0,70%
h. Brasil: 0,30%

5. Carteira de Investimentos dos Fundos Mútuos (+/- R$ 3 trilhões):

Região Renda Variável Renda Fixa
Brasil 11% 89%
Mundo 40% 60%


6. Mercado de capitais brasileiro: participação no financiamento das empresas é limitada:

a. 70% das empresas abertas são grandes (ROB>R$400MM)
b. Das empresas grandes: somente 7,4% são abertas e 9,0% emitem debêntures e notas promissórias (2009/2015)
c. Mercado de capitais no financiamento do investimento privado é 9,6% (2015); BNDES 11,2% (2015)
d. Participação dos títulos de divida corporativa no financiamento das empresas cresce até 2011 (14,0%) e cai para 11,5% (2015), BNDES 17,8% (2015).

7. Após o ciclo positivo de IPOs de 2006/2007, cai número de empresas listadas na Bovespa:

- 2000: 449 empresas
- 2015: 359 empresas

8. Capitalização do Mercado Bovespa (em % do PIB):

- Crescimento 2000/2008: Chegou a 93,6%
- Crescimento 2009/2015: Caiu para 32,2%

9. Pessoas Físicas – Participação nas negociações (Bovespa):

- Dez/2007: 22,5%
- Nov/2009: Ponto máximo 32,5%
- Dez/2015: Caiu para 17,5%

A crise de confiança, o retrocesso no crescimento, a incerteza política e, principalmente, uma taxa de juros que é um tremendo desincentivo a aplicação de capital a longo prazo, explicam o quadro atual.

É possível que, com a nova equipe econômica que certamente buscará dar um novo ordenamento à economia, possamos esperar, de acordo com as políticas a serem adotadas, uma gradual reversão nas expectativas! Esse seria certamente um fator de grande relevância para que os empresários revisassem seus planos para o restante de 2016 e anos seguintes.

Fica difícil projetar um desempenho diferenciado no crescimento no curto prazo, já que a prioridade será arrumar a casa antes que tenhamos crescimento representativo no PIB, e a prioridade é equacionar a questão fiscal.

No entanto, o mais importante é o retorno do fator confiança e, consequentemente, maior previsibilidade para os agentes econômicos. Os mercados antecipam o futuro e se passam a acreditar que teremos mudanças, agirão de acordo e anteciparão efetivamente o que possa vir pela frente.

Que benefícios e reformas os agentes econômicos gostariam de ver discutidos e implementados?

  • Lançar as bases para o crescimento da Economia.
  • Contas públicas mais transparentes e confiáveis.
  • Recuperação da credibilidade fiscal.
  • Rever incentivos e isenções setoriais.
  • Reafirmação da autonomia do BACEN.
  • Micro reformas para retirar entraves aos negócios e abertura de empresas e maior liberdade para acordos trabalhistas entre patrões e empregados.
  • Reforma Tributária.
  • Reforma da previdência.
  • Maior integração ao mundo globalizado.
  • Aprimorar políticas sociais.

Portanto, são variáveis básicas e a maneira como forem encaminhadas serão determinantes para a volta da confiança.

Quanto ao mercado de capitais, a variável fundamental será o comportamento da inflação As medidas que forem tomadas para colocá-las nos trilhos e baixar dos 7% atuais para o centro da meta, serão de grande relevância para o mercado de capitais, pois implicarão na queda da taxa de juros.

Conforme aprendemos, a inflação ‘é inimiga das aplicações de longo prazo’ e o mercado de ações tem sido fortemente penalizado pela atratividade da renda fixa com rendimentos imbatíveis no curto prazo.

Outro fator importante, principalmente para a Bolsa, será o desdobramento dos casos de corrupção na Petrobrás. Seu epílogo será determinante, pois sua relevância no mercado é conhecida. A situação da Eletrobrás também requer atenção.

Difícil imaginar que num governo provisório algumas reformas estruturais serão aprovadas, e seria melhor esperar o fim do processo de impeachment no Senado.

Qual será o comportamento do investidor estrangeiro nesse contexto? Será determinante e ficará motivado pela mudança de expectativa.

O novo time, tendo o Ministro da Fazenda uma boa experiência no setor financeiro, será sem dúvida fator positivo.

Por isso, olhemos a economia e o mercado em 2016/2017 com uma lente positiva do que possa representar uma nova fase.


Roberto Teixeira da Costa
economista, foi o primeiro presidente da CVM,
e um dos responsáveis pela organização e instalação
da Comissão de Valores Mobiliários no Brasil.
roberto.costa@sulamerica.com.br


Continua...