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Opinião

ANITTA E O NUBANK

Não se pode dizer que a nomeação de Anitta para o Conselho de Administração do Nubank passou em branco. As redes sociais foram turbinadas por debates acadêmicos, comentários racistas, misóginos, defensores e opositores de movimentos sociais, profissionais da área de finanças e profissionais de startups. Uma coisa é certa: o Nubank adotou mais uma vez uma hábil estratégia empresarial ao convidar Larissa de Macedo Machado (Anitta) para o seu Conselho.

O que chocou alguns foi o fato do Nubank ter inovado convidando para o Conselho uma artista. Em geral, as pessoas acham que para ser conselheiro é preciso principalmente ter um diploma. Gilberto Gil, por exemplo, foi um excelente ministro da Cultura e, no entanto, ele não fez Administração Pública. 

Aqui vale a pena destacar alguns pontos. A assembleia de acionistas ou mesmo os sócios de uma empresa convidam em geral pessoas de destaque e senioridade para compor os Conselhos de suas empresas. Querem com isso mostrar aos seus "stakeholders" (sócios, clientes, fornecedores, governo, mundo financeiro, etc) a seriedade e profissionalismo com que conduzem seus negócios e afinidade que procuram ter com seus mercados. No final das contas buscam também a credibilidade de suas organizações junto ao seu público. 

O Nubank acertou no alvo. Ao convidar Anitta, trouxe para junto de si, 54 milhões de admiradores da artista. Este público confia na nova conselheira. O Nubank hoje com 40 milhões de usuários quer escalar e buscar mais usuários da faixa C e D, público sobre o qual Anitta entende.

O que se vê hoje em dia, em nível mundial, é conselheiros de administração com fraca visão estratégica. São conselheiros que gostam, em sua maioria, de olhar pelo espelho retrovisor para acompanhar o desempenho econômico financeiro de suas empresas e são menos dedicados a aspectos de estratégia empresarial. Já o Nubank buscou uma pessoa com forte DNA estratégico, encontrando em Anitta uma expert em como se relacionar com o público-alvo.. Sua vida profissional, sua carreira de sucesso atestam seu profissionalismo e lhe dão todas as credenciais para a posição que lhe foi conferida.

Outro ponto importante a considerar é que um conselheiro não manda numa empresa. Já um Conselho tem autoridade para tanto. As decisões táticas e estratégicas do Conselho são tomadas na maioria das vezes em colegiado ou, no pior dos casos, por voto. Quantas pessoas não estão pensando que Anitta agora é quem dará as grandes orientações à instituição? Não! Anitta dará ideias e falará como o seu público reage a este ou aquela política corporativa. Com isto poderá agregar muito aos negócios e trazer mais valor ao Nubank. Mas qualquer decisão a ser tomada será a do Conselho e não exclusivamente de Anitta.

Um bom Conselho de administração é aquele formado por uma diversidade de talentos. Estes não são obrigados a entender de tudo da empresa. Eles precisam ter, em primeiro lugar, a visão estratégica do mercado, do segmento de atuação, observar os passos dos concorrentes, etc. Não será um enorme desafio para a Anitta adquirir esta sapiência. Outros conhecimentos da área econômica financeira, estratégia empresarial, etc. virão com o tempo. Talvez o mais importante é que ela é formada pela experiência, sensibilidade e convivência com seu público.

Ganha o Nubank em imagem frente a todos os stakeholders. No momento em que assuntos como o ESG (Meio ambiente, Social e Governança) assumem grande relevância no mundo corporativo e na sociedade, ter três mulheres no Conselho é algo exemplar. Ter uma defensora da causa LGBTQ+ é maravilhoso.

Não é difícil prever o crescimento dos negócios e resultados do Nubank a curto prazo. Apesar de seu valor de mercado já ultrapassar U$ 25 bilhões e estar entre as 5 maiores instituições financeiras do Brasil, ainda é considerada uma scale-up com seus 9 anos de vida. Acertaram em cheio os grandes fundos que investiram na instituição.

Recentemente Warren Buffett apostou 500 milhões de dólares no negócio e outros fundos importantes como Sequoia Capital e Tiger Global também. A expansão dos negócios em nível internacional do Nubank e da Anitta correm em paralelo.
Falta um detalhe. Apesar do Nubank ter em seu nome o "bank" (banco), o nome de Anitta não teve que ser aprovado pelo Banco Central pois o Nubank não é um banco. É uma instituição de pagamentos apenas.


Thomas Lanz
é conselheiro de administração certificado pelo IBGC, participando de Conselhos tanto de empresas nacionais como estrangeiras. Formado em economia pela PUC - São Paulo e mestre em administração de empresas pelo INSEAD - França. É certificado pelo FFI (Family Firm Institute) de Boston - EUA.
tlanz.consultores@gmail.com


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