Fórum Abrasca

CONVERGÊNCIAS DE MÉTRICAS COMO UM ALIADO AO REPORTE ESG

Nos últimos anos, a demanda por informações sobre riscos, oportunidades e as atividades ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês) das empresas aumentou acentuadamente. Acionistas e outras partes interessadas buscam informações ESG que sejam úteis, comparáveis e precisas, o que exige que as empresas estabeleçam controles apropriados para coletar, verificar e divulgar tais informações.

A variedade de fontes potenciais de dados ESG pode representar um desafio para as empresas que tentam implementar uma estrutura de controles e procedimentos de divulgação.

Na prática, as métricas ESG compreendem um vasto conjunto de recomendações de informação a divulgar relacionadas a áreas tão distintas como o propósito, estratégia, composição de conselhos de administração, desempenho ambiental e social, entre outras, e permitem considerar o desempenho dos negócios relativamente à sua performance ambiental, social e de governança.

Capital humano, preservação da natureza, reputação corporativa: esses são aspectos que geram valor financeiro para o negócio e não necessariamente são medidos pelos modelos tradicionais. Compreender e abordar as questões ESG que são mais importantes para o negócio da companhia reduz vulnerabilidades e identifica oportunidades de crescimento. É bom para os negócios, bom para as pessoas e bom para o meio ambiente.

Novos tempos exigem novas métricas e, cada vez mais, o valor gerado pelas empresas transcende questões financeiras tradicionais. Isso porque deve-se levar em consideração também o impacto do negócio na sociedade e o olhar das novas gerações, futuros investidores, para esses impactos.

Esse olhar para o impacto causado pelo negócio pode ser condicionado por vários fatores, dentre eles, inclusive, por acontecimentos naturais que suscitam reflexões importantes, como foi o caso da pandemia – que deu visibilidade para questões como desigualdade social, tratamento de minorias e exploração do meio ambiente, fazendo com que as empresas trouxessem a temática para o debate.

Outros fatores que contribuem para essa mudança de mindset da sociedade e, consequentemente, influenciam na decisão dos investidores em optar por alternativas sustentáveis para aplicação dos seus recursos são os compromissos firmados em acordos globais.

Nestes compromissos, há o comprometimento público dos países signatários para ações que reduzam a degradação do meio ambiente e as desigualdades sociais. O Acordo de Paris de 2015 e as Conferências das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas são exemplos disso.

No ano passado – em sua edição 26ª edição, a COP26, realizada em Glasglow na Escócia –, o Brasil se comprometeu com as seguintes metas: (i) ser carbono neutro até 2050; (ii) reduzir em 50% as emissões de CO2 até 2030; (iii) aderir ao compromisso global de reduzir em 30% as emissões de metano até 2030; (iv) e zerar o desmatamento até 2028.

Importante frisar que essas conferências trazem comprometimentos também do setor privado, visto que muitas empresas participam destes eventos e apresentam propostas de metas a serem alcançadas por elas. Desta forma, esses compromissos públicos influenciam nos investimentos estrangeiros no país em questão, mas também fazem com que o investidor nacional reflita e opte por fazer investimentos em empresas que tenham essas metas já estabelecidas, independentemente do que é firmado pelo governo do seu país.

Assim, para superar os atuais desafios ocasionados por tais fatores e gerar valor no médio e longo prazo, as empresas precisam atuar para tangibilizar suas ações ESG e mensurá-las de forma a agregar valor não só aos seus stakeholders, mas, muitas vezes, também a toda a sociedade.

Para alcançar essa tangibilização de ações ESG, as companhias precisam inseri-las em sua estratégia corporativa. Fato é que o ESG precisa fazer parte do propósito e dos valores da empresa. Neste sentido, é importante ressaltar a importância da liderança neste processo. O conselho de administração de uma empresa deve desempenhar papel fundamental na supervisão dos esforços ESG corporativos, incluindo garantir que ela, a empresa, tenha controles e procedimentos apropriados de divulgação ESG, e que os mesmos estejam plenamente integrados à sua estratégia.

Outrossim, para que haja a integração, é necessária uma correta medição das ações ESG da empresa. No entanto, medir a evolução dessas ações e comparar companhias diferentes não é simples. O desafio está no fato de que cada setor possui características únicas e deve adotar pesos diferentes para diferentes aspectos ESG – uma vez que a relevância de cada indicador varia de acordo para o segmento. Cada setor tem seus riscos e oportunidades que se refletem nos indicadores ESG.

Aumentar a maturidade ESG das empresas vem do entendimento do que é relevante para cada companhia, e onde cada uma delas se encontra nesse processo. Não se trata de algo transversal, e sim único para cada segmento, uma vez que as características e a relevância de cada indicador podem ser radicalmente diferentes.

Após essa identificação de como medir as informações, há outro passo importante: a divulgação dessas informações. No Brasil, nosso regulador, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários), já vem se manifestando quanto ao tema e trouxe, inclusive, uma melhor sistemática de disclosure das informações ESG em sua última audiência pública à reforma do Formulário de Referência (ICVM 480).

Um grande desafio nesta seara é saber o que reportar e como reportar, o que fica evidenciado pela expressão corriqueiramente utilizada “sopa de letrinhas”, famosa por demonstrar a grande variedade de padrões de reporte existentes no mercado. Não ter uma convergência destes questionamentos em um único ou, ao menos, poucos padrões de reporte, gera um alto custo de observância, além do longo tempo demandado para execução de um trabalho que poderia ser otimizado com uma uniformização dessas métricas.

No quesito de reporte financeiro de informações ESG, é importante ressaltar que a Fundação das Normas Internacionais de Contabilidade (IFRS Foundation) deu um passo rumo à criação de padrões internacionais de transparência e registro de informações de sustentabilidade, a começar pelas questões climáticas. A entidade anunciou a formação do Comitê Internacional de Parâmetros de Sustentabilidade (ISSB, na sigla em inglês), visando ao desenvolvimento de uma base global para os mercados financeiros globais.

É nítido que há um caminho longo a ser percorrido e, por isso, a Abrasca vem discutindo o tema em seu Fórum ESG, em parceria com a Amec (Associação dos Investidores do Mercado de Capitais) e a B3 (Bolsa brasileira), cujo principal objetivo é debater a metodologia das mais relevantes métricas de sustentabilidade sob a ótica das empresas e do investidor.

A Abrasca entende que, uma vez que a empresa promova a mensuração de sua sustentabilidade de forma clara e otimizada, esses eixos podem ser integrados ao processo de investimento – e, ainda, contribuir para o valor de mercado da própria organização.

Em outras palavras, os reportes ESG podem ser fatores de criação de valor para as companhias e, por isso, faz-se necessário um melhor entendimento das metodologias e um movimento para unificação dessas métricas.

Eduardo Lucano é presidente executivo da Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca).

Fernanda Claudino é gerente das comissões ESG, Jurídico, Mercado de Capitais e Relações Governamentais da Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca).
abrasca@abrasca.org.br


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