Criação de Valor

GOVERNANÇA CORPORATIVA UMA VISÃO SOBRE COOPERATIVISMO & CRIAÇÃO DE VALOR

Este artigo resgata algumas ideias expostas no trabalho científico desenvolvido por Roberto Gonzalez para o Colóquio de Sustentabilidade, apresentado em 2013 na 18ª Conferência da Aliança Cooperativa Internacional das Américas (ACI). O trabalho propôs uma articulação entre o tema da governança corporativa e os fundamentos do cooperativismo. Diante dessa articulação, reforço que os sólidos princípios empresariais devem ser adaptados ao mundo do cooperativismo para que essas ferramentas efetivamente gerem valor.

O tema Governança Corporativa nasce mais na esteira do ativismo do que precisamente na academia. Acionistas, na década de 90, se atentaram para a necessidade de novas regras que os protegessem dos abusos da diretoria executiva das empresas, da inércia de conselhos de administração e das omissões das auditorias externas. O conceito de Governança surgiu a partir deste momento, a fim de solucionar questões em que o proprietário (acionista) ou cooperado (no caso de cooperativa), delega a um agente especializado (administrador) o poder de decisão sobre sua propriedade, porém os interesses do gestor nem sempre estão alinhados com os do proprietário ou cooperado, resultando em um conflito.

Nesse sentido, a Governança Corporativa alinha interesses e se apresenta como a guardiã da longevidade das instituições, independentemente do papel desenvolvido pelos indivíduos. Constrói-se, assim, uma proteção ao empreendimento, garantindo uma visão ampla sobre o negócio com foco no longo prazo e na manutenção do interesse múltiplo.

Do ponto de vista das cooperativas, é essencial a promoção dos sete princípios do cooperativismo (adesão voluntária e livre; gestão democrática; participação econômica dos membros; autonomia e independência; educação, formação e informação; cooperação e interesse pela comunidade), que possuem boa correlação com os da governança corporativa (transparência, prestação de contas, equidade e responsabilidade corporativa).

Conforme Roberto Gonzalez expõe no mesmo artigo, a aplicação de uma governança eficaz nas cooperativas traz uma série de benefícios tanto aos envolvidos quanto ao segmento, pois fortalece o espírito cooperativista.

Boa representatividade, participação, direção estratégica e gestão executiva, somados a controles e fiscalização eficazes, dão segurança ao sistema como um todo, fazem avançar a regulação inteligente e promove a imagem dos cooperados.

Este segmento tem apresentado crescimento e mudança de perfil. De acordo com a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), órgão máximo de representação das cooperativas no Brasil, existem mais de 6.600 cooperativas em todo o país, com cerca de 9 milhões de associados, abrangendo 13 ramos de atividade. Em termos de tamanho e presença, o segmento é muito importante para a economia. Logo, assim como as empresas, devem aprimorar constantemente suas instâncias decisórias.

Diante deste cenário, a demanda se volta à importância da governança corporativa para as cooperativas – o que se pode chamar de governança cooperativa, aplicada em suas atividades à realidade desse segmento. Ainda segundo Roberto Gonzalez em uma cooperativa deveria haver as funções do diretor executivo, do secretário do conselho e do presidente do conselho, sem acumulo de funções. Também precisaria haver comitês e políticas eficazes. Além disso, necessita da efetiva participação dos cooperados e de um fluxo de informações de qualidade e acessível a todos. Uma cooperativa deve, enfim, conservar padrões éticos e valores, a fim de atender as necessidades socioeconômicas dos membros, clientes e outros públicos estratégicos.

Assim como nas empresas, o desafio da governança ainda está em educar os cooperados, ou acionistas, para que se envolvam mais na gestão de suas cooperativas, ou empresas. Boa governança também depende da vontade de todos os agentes, ainda que tenha nascido da necessidade de se garantir o sucesso econômico do empreendimento.
 

Rafael S. Mingone
é sócio-diretor da TMG Estratégia, consultoria em governança
corporativa e professor da Trevisan Escola de Negócios.
rafael@tmgestrategia.com.br
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