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PERSPECTIVAS PARA A ECONOMIA E O MERCADO DE CAPITAIS EM 2015

Certamente o exercício de fazer projeções no Brasil tem sido extremamente difícil e poucos, muito poucos, tem acertado ou mesmo chegado próximo do que posteriormente se constatou. Num ano de transição como o que temos pela frente, se torna ainda mais difícil.

As projeções sobre o comportamento da economia como as que vem sendo divulgadas pelo Boletim Focus estão longe de serem animadoras e não faltam boas razões para os analistas que semanalmente fornecem seus números para o BACEN.

Como a experiência nos ensinou, o comportamento da economia está fortemente influenciado pelas expectativas dos agentes econômicos. O ano de 2014 foi frustrante sob o aspecto das projeções sobre o crescimento da economia que foram sendo periodicamente revisadas para baixo à medida que o ano evoluiu, chegando mesmo a termos dois trimestres negativos. Número do último trimestre apontaram uma modesta reversão.

É possível que, com uma nova equipe econômica que buscará um novo ordenamento à economia, possamos esperar que, de acordo com as políticas a serem adotadas, uma gradual reversão nas expectativas. Esse seria certamente um fator da maior relevância para que os empresários revissem seus planos para 2015 e anos seguintes. Obviamente, a não ser por aspectos meramente estatísticos, pois passar de 0 a 2% é um senhor crescimento, fica difícil projetar um desempenho muito diferenciado, já que a prioridade será arrumar a casa que tenhamos crescimento representativo no PIB.

No entanto, o mais importante é o retorno do fator confiança e de maior previsibilidade para os agentes econômicos. Os mercados antecipam o futuro e se passam a acreditar que as coisas possam mudar, vão agir de acordo e se antecipar efetivamente para beneficiar-se do que possa vir pela frente.

Quais os benefícios e reformas que os agentes econômicos gostariam de ver discutidas?
  1. Lançar as bases para o crescimento da Economia.
  2. Contas públicas mais transparentes e confiáveis.
  3. Recuperação da credibilidade fiscal.
  4. Rever incentivos e isenções setoriais.
  5. Reafirmação da autonomia do BACEN.
  6. Micro reformas para retirar entraves aos negócios e abertura de empresas.
  7. Reforma Tributária.
  8. Assegurar energia suficiente, reformulando políticas no setor.
  9. Maior integração ao mundo globalizado.
  10. Aprimorar políticas sociais.
Portanto, essas variáveis chave e o seu encaminhamento serão os fatores determinantes.

Quanto ao mercado de capitais, creio que uma variável importante será o do comportamento da inflação. As medidas que forem tomadas para colocá-la nos trilhos e baixar dos 6% atuais para o centro da meta, será de grande relevância para o mercado de capitais.

A elevação das taxas de juros a curto prazo vai desencorajar os investimentos de longo prazo e terá como consequência continuarmos sob a preferência das aplicações de curto prazo e favorecendo os investimentos financeiros de emissão do Governo e do setor privado.

Como aprendemos, a inflação “é uma inimiga das aplicações de longo prazo” e o mercado de ações tem sido fortemente penalizado.

Outro fator determinante, principalmente para a Bolsa, será o desdobramento dos casos de corrupção na Petrobrás. O seu epílogo será determinante, pois sua relevância no mercado é conhecida.

Qual será o comportamento do investidor estrangeiro nesse contexto? Será determinante e ficará motivado pela mudança de expectativa.

O novo time, tendo o Ministro da Fazenda uma boa experiência na área de administração de ativos é sem dúvida fator positivo.

Por isso, olhemos a economia e o mercado em 2015 com uma lente positiva e que pode representar uma nova fase. 

Roberto Teixeira da Costa
economista, foi o primeiro presidente da CVM,
e um dos responsáveis pela organização e instalação
da Comissão de Valores Mobiliários no Brasil.
roberto.costa@sulamerica.com.br
Continua...