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Enfoque

MERCADO DE CAPITAIS BRASILEIRO: SOLTEM AS AMARRAS!  

O MERCADO DE CAPITAIS É A ÚNICA VIA EFICIENTE DE DESENVOLVIMENTO
ECONÔMICO PARA AS EMPRESAS E, CONSEQUENTEMENTE, PARA O PAÍS. 

Mercados como o da China, Índia, Coréia e Tailândia conseguiram evoluir. No entanto, só conseguiram dar o salto de qualidade, que o Brasil até agora não conseguiu, por que houve um claro entendimento de que é necessária uma visão de longo prazo sustentada por um objetivo único de país. Se quer crescer ou não? Se a resposta for sim devemos combinar que, independentemente de quem esteja segurando o leme ou da situação de mercado, o país não perderá esse foco.

As ações de mudança são dispersas o suficiente para contribuir para o estágio atual em que nos encontramos. Momento esse que, se nos compararmos com o resto do mundo leva a crer que não temos um mercado. Tivemos tempo para isso, porém, como em outras áreas, nossa capacidade de inovar e planejar é grande, mas, de executar, é inversamente proporcional. Se não somos eficientes, como construiremos algo que o seja? Não é de hoje que se fala em mercado de capitais e que as discussões giram em torno dos mesmos problemas.

Talvez ninguém discorde que falta informação, educação e capacitação para dois agentes fundamentais em um processo de evolução como esse: pessoas físicas e pequenas e médias empresas brasileiras. Às pessoas físicas, falta educação financeira. Só que o problema é que faltam outras coisas mais básicas ainda no que diz respeito à educação. Contando a partir de agora, talvez a minha sexta geração esteja tendo o luxo de discutir a inserção de disciplinas como economia, direito e contabilidade no currículo escolar.

A taxa de mortalidade das pequenas e médias empresas no Brasil beira o absurdo. Neste quesito somos campeões em fazer muita coisa e nada ao mesmo tempo. Para começar, cada um que discute o assunto tem um entendimento do que é uma pequena ou média empresa. Cada um desses que discute o assunto traça uma abordagem sem a menor adequação à realidade dos empresários que empregam metade da força de trabalho do Brasil e que representam 99% de nossas empresas. Diversas iniciativas estão desconectadas da realidade e não há soma de esforços práticos que vão garantir uma aproximação madura desse mundo ao único ambiente sustentável de desenvolvimento que um país pode oferecer – o mercado de capitais.

Cabe ao setor público reservar-se da obrigação de regular e fiscalizar. Assim, as condições para quem realmente produz e é eficiente estarão abertas. Ao mercado se atribui a tarefa de criar os caminhos. O delírio regulatório, burocracia e confusão de papéis são grades de ferro que colocam o desenvolvimento em prisão perpétua. Neste mundo não há um país que avançou tendo tamanha irracionalidade política e desorganização como a nossa. Causa a impressão de que estamos sempre tentando descobrir o que aconteceu ontem, o hoje logicamente já foi e, portanto, empurramos uma solução efetiva para o dia seguinte.

Em uma das edições do fórum econômico mundial foi perguntado aos representantes dos BRICs o que eles esperavam do cenário econômico mundial. A China começou dizendo mais ou menos o seguinte: “Há 20 anos traçamos um objetivo e hoje estamos tomando as medidas adequadas para alcançá-lo, enfrentando os problemas encontrados no meio do caminho”. Qual era o nosso objetivo há 20 anos? O que queremos para os próximos 20? Quais problemas enfrentamos até aqui e o que faremos para corrigir o rumo?

Para essas perguntas deveria haver uma única resposta e de conhecimento de todos. Não pode haver ruídos e nem mudança na ordem desses questionamentos. Descobrir um gargalo neste País significa afirmar que já perdemos o bonde. Em carta aberta, o IBMEC (Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais) afirma que “no atual cenário macroeconômico o mercado de capitais adquire importância estratégica para a retomada do investimento e do crescimento da economia brasileira. Existem sólidas razões para isso. A infraestrutura é um dos únicos setores em condições de dar início a uma recuperação do investimento, de vez que tem forte demanda por seus serviços e cuja expansão constitui hoje um movimento essencial para aumentar a produtividade da economia”.

Aliás, não causa estranheza a ninguém que a nossa produtividade caia vertiginosamente na mesma velocidade com que se aumentam os benefícios/salários? Há muita coisa a ser corrigida, mas para não perdermos tempo enxugando gelo, sugiro começarmos a elaborar uma única resposta para as perguntas acima.


Rafael S. Mingone
é sócio-diretor da TMG Estratégia - Consultoria em Governança
Corporativa e professor da Trevisan Escola de Negócios.
rafael@tmgestrategia.com.br


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