OS DESAFIOS EM ATENDER ÀS EXPECTATIVAS
DOS VARIADOS SUJEITOS ORGANIZACIONAIS
Com a abertura da economia brasileira à participação de empresas externas ocorrida nos anos 90 gerou, como consequência, o aumento da atenção de investidores internacionais no mercado acionário brasileiro. Agregado a esse fato histórico e a uma estabilidade da moeda obtida com o real, o estimulo dado às empresas por novas instituições levou empresas de capital nacional a verem no mercado de capitais, a fonte de capitalização que lhe permitiram efetuar o lançamento de valores mobiliários de forma a atender às suas necessidades de maior competitividade frente a uma realidade globalizada de extrema competição.
Ao fazer esse movimento, por outro lado, muitas companhias abertas ao listar suas ações nas bolsas americanas, se viram obrigadas a adotar normas (internas e externas) impostas por organizações como as da SEC - Securities and Exchange Commission, impondo a adoção de regulações com foco, entre outras exigências, em transparência, divulgação de informações, relacionamento com stakeholders, responsabilidades extraorganizacionais, norteadas pelos princípios de governabilidade, compliance e reputação.
A partir desse novo ambiente normativo imposto por um novo modelo de gestão focado na valorização de ativos estreitamente alinhados com humor, percepções e interpretações de reputação das mais diversas, as empresas brasileiras passaram a vivenciar um novo cenário, mais regulador, normativo, exigente e orientado por comportamentos e diretrizes focadas muito além dos conceitos tradicionais da eficiência administrativa, mas cada vez mais norteados por atributos alinhados estritamente a indicadores de confiança, respeito, justiça, e, principalmente, verdade e honestidade.
O cenário atual e o grande valor do esforço desempenhado por organizações normatizadoras como a CVM, IBRI, IBGC e outras, surgidas a partir daquele momento, no inicio dos anos 2000, tem sido, reconhecidamente, responsável pela disseminação das boas práticas da gestão organizacional e disseminadora - transformadoras da norma de equilíbrio e justiça entre empresas, investidores, sociedade e os demais atores desse mercado.
Muito embora tenhamos avançado na expansão no número de empresas com capital aberto, principalmente após o advento do Novo Mercado (um segmento especial de listagem de ações de companhias que se comprometiam, voluntariamente, a adotar as boas práticas da governança), a participação do Brasil no mercado acionário global, ainda é insignificante e quando comparado ao tamanho de sua economia, conforme dados apresentados por Arthur Mario Pinheiro Machado, autor do Apertis Verbis e membro do Conselho de Administração de diversas companhias de capital aberto brasileiras, apenas 360 empresas encontram-se listadas, sendo que, destas, 10 representam mais de 50% do volume negociado.
Com o fraco desempenho obtido nos dois últimos anos tivemos, como consequência, um forte retrocesso no mercado de capitais, causado por uma política econômica que resultou no fraco desempenho do PIB, mudanças nos marcos regulatórios, o que resultou na queda de 15,5% (2013) do Índice Bovespa principal referencial do mercado brasileiro de ações, um dos piores resultados entre as bolsas de 48 países.
Comparam-se a importância do mercado de capitais para o advento das empresas do setor das TICs e remetendo-nos às recentes ofertas realizadas por players globais como Google, Facebook no mercado acionário norte-americano, alinhado ao volume de empregos gerados por ela e sua representatividade para o capitalismo no século XXI, temos a real noção do que ainda temos a construir. Não apenas no sentido de capacitar as companhias brasileiras - e isso eu falo nas pequenas - a adequarem seus modelos de negócios e suas estratégias com foco nas novas responsabilidades que não apenas àquelas relacionadas à elaboração das estratégias dos “velhos” 4Ps.
O mercado de capital na economia contemporânea é aquele, efetivamente, responsável pela sobrevivência do futuro da humanidade e por conseguir tornar a subsistência dessa humanidade factível dentro de regras e normas que equilibrem a necessidade de crescimento econômico com as demandas responsáveis do ambiente externo.
Nesse sentido o país (e nesse sentido destacam-se os agentes econômicos e políticos) deve assumir a responsabilidade de propiciar e viabilizar um mercado desenvolvido como forma de dispor de um desenvolvimento econômico que não apenas facilite o financiamento dos novos empreendedores e de seus projetos, mas que propicie um ambiente confiável acima de tudo, com regras claras e segurança ao investimento, de forma a promover o progresso e superar os seus desafios históricos.
De um lado a grande demanda futura será dispor de um ambiente favorável, estimulado e preparado, com um mercado de capitais forte e estruturado, amparado por políticas coerentes e de longo prazo. Por outro lado, empresas geridas com extremo profissionalismo, transparência e reputações ilibadas. Esse é o ambiente que países, políticas públicas e povo educado, integrados construíram em economias fortes como Alemanha, Japão, Inglaterra, Estados Unidos, entre outros.
Um ambiente no qual a fragilidade é o grande norte da realidade - representado por políticas instáveis, empresas com discursos de transparência e atitudes incoerentes com a imagem projetada e a falta de proteção aos acionistas, transmitem a ideia de que a instabilidade e a insegurança são o norte para aquele que opta pelo risco absoluto, proporcionado por essa opção, não trazem tranquilidade e nem perspectiva de progresso.
Afinal é a valorização, a liquidez das ações, a coerência, a verdade, o grau de entendimento do atributo de justiça, de responsabilidade das praticas de uma organização que fornecerão o grau de positividade, segurança - concedidos pelos direitos dos acionistas e aos demais atores sociais.
A ausência da obediência às regras que defendem os interesses dos acionistas, os direitos dados à comunidade do entorno, às normas definidas pelas organizações regulatórias do mercado e do Estado (ou seja indicadores contemplados nos atributos de responsabilidade, justiça, verdade e honestidade) irão acarretar no nível de deságio sobre o preço da ação, o que causa desvalorização dos ativos no mercado bem como uma rápida projeção significativa em espiral que leva ao de descrédito e à desconfiança frente aos demais públicos influenciadores da egregora Reputacional.
Apesar desse cenário de crise, alguma luz tem sido apontada pelos especialistas, demonstrando sinais positivos advindos do mercado, principalmente quando se fala de 2016 e que é demonstrada pelos interesses de investidores externos em medias e grandes empresas, principalmente nos setores de logística, varejo farmacêutico, refeições coletivas e mesmo na industria de maquinários.
De acordo com levantamento de expectativas divulgado pelo Centro de Estudos de Private Equity e Venture Capital da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (SP), os fundos de private equity (que compram ações de grandes empresas) e de venture capital (que investem em empresas iniciantes) injetaram cerca de US$ 7,6 bilhões no país ao ano, entre 2010 e 2013, o dobro do volume que entrou no Brasil nos três anos anteriores ao período analisado. Além disso, a pesquisa projeta um aumento de 15% a 20% ao ano do capital comprometido da indústria de private equity e venture capital no país e é essa indústria àquela com plena condição de ajudar o país a voltar a crescer.
Mas, o pior cenário que se pode apresentar é a crise de confiança na capacidade, de um lado, do Governo em equilibrar os riscos e do outro, do próprio cidadão em relação à capacidade da sociedade e do país em superar os enormes desafios, o que redundaria numa expectativa negativa por parte dos investidores.
Mas o país é enorme e nossa característica principal, como povo e empreendedores, é a capacidade de superar crises - nas quais somos mestres - com sorrisos e otimismo. Porem passou o momento de contingenciarmos as dificuldades com o “jeitinho”. O desafio passa, essencialmente, pelo comprometimento, a honestidade e o equilíbrio entre competência e eficácia, responsabilidade individual e coletiva com relação aos desafios que se advêm à nossa frente e essa superação está diretamente alinhada com a nossa capacidade, como gestores em entender as demandas reputacionais dos variados sujeitos por segurança, respeito, honestidade, verdade e resultado, além daqueles extra - relações organizacionais - além, muito além do mercado.
Ana Lucia De Alcântara Oshiro
é Doutora em Ciências da Comunicação, Mestre em Comunicação, Tecnologia e Mercado. Pós-graduada em Marketing. Professora na Universidade Anhembi Morumbi/Laureate International. Diretora da ALA-ATICA - Desenvolvimento Reputacional, Jornalista especializada em economia e tecnologia da informação.
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