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18º ENCONTRO NACIONAL DE RI

O 18º Encontro Nacional objetiva debater temas de grande relevância, pertinentes aos profissionais de Relações com os Investidores (RI), cujo escopo de trabalho foi consideravelmente ampliado nos últimos anos. O profissional de RI tem hoje a importante missão de transmitir, com clareza e objetividade, o que está acontecendo tanto dentro quanto fora de sua empresa”, ressaltou Edmar Prado Lopes, presidente do Conselho de Administração do IBRI, na abertura da 18ª edição do Encontro Nacional de RI e Mercado de Capitais.

O evento foi promovido nos dias 28 e 29 de junho de 2016, em São Paulo, no auditório da Fecomercio, pelo IBRI (Instituto Brasileiro de Relações com Investidores) e pela ABRASCA (Associação Brasileira das Companhias Abertas). Tendo como tema principal “A gestão de crise e de risco”, a abertura do evento foi realizada por Edmar Prado Lopes, que destacou a importância do Encontro Nacional para a divulgação de novas e melhores práticas, bem como para o entendimento do que está ocorrendo no mercado. Antonio Castro, presidente da ABRASCA e Pablo Renteria, diretor da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), também, participaram da abertura do evento. Prado lembrou a necessidade do profissional de RI estar sempre atento às mudanças do mercado e manter-se sempre bem informado.

Antonio Castro, presidente da ABRASCA, comentou a importância dos temas abordados no evento. “Gestão de crise e de riscos e a importância da comunicação e da adoção das melhores práticas são temas bastante atuais e de grande valia para o dia a dia do mercado de capitais”, declarou.

Pablo Renteria, diretor da CVM, ressaltou, também, a qualidade da programação e pontuou a importância e a urgência de se discutir questões como melhores práticas em comunicação, ética nos negócios, a evolução do profissional de RI e de seu papel, bem como a gestão de riscos e crises. “É comum ouvirmos que o mercado está parado, mas isso, para os profissionais de Relações com os Investidores, não é exatamente verdadeiro. Acredito que nunca vivemos uma época em que a comunicação do RI com seus públicos de interesse tenha sido tão necessária”, concluiu.

Gestão de crise e risco
“Quando se fala em comunicação hoje é importante tomar cuidado com o que se transmite, pois rapidamente adquire uma enorme proporção e também pode ocorrer uma reação adversa”, alertou Laércio Cosentino, presidente da TOTVS, no primeiro painel: “A gestão de crise e de riso com a interação de profissionais do Comitê de Auditoria e Mercado em geral com os profissionais de Relações com Investidores”.

O painel foi moderado por Edmar Prado Lopes e discutiu como as empresas estão lidando com a crise. Participaram também do painel: Pablo Renteria e Walter Schalka, presidente da Suzano Papel e Celulose. Edmar Prado lembrou que seja em uma crise localizada ou como a que o Brasil enfrenta a comunicação é fundamental. Schalka da Suzano citou três pontos: transparência (interna e externa), velocidade e abrangência. Segundo ele, não se pode mais esconder a realidade do que acontece na empresa. Além disso, a companhia tem que estar preparada para dar respostas com velocidade e com abrangência.

Cosentino lembrou que hoje o mundo está conectado e a empresa tem a obrigação de fornecer suas mensagens de forma mais clara, direta e objetiva, pois não se tem controle sobre as respostas. “Por meio da conexão, conseguimos resolver nossos problemas”, acrescentou.

Ao serem questionados sobre como estão lidando com a atual crise econômica, os executivos compartilharam suas experiências. “Um ponto que temos desenvolvido é a capacidade de acompanhamento da evolução do mercado, inclusive temos comitês internos de monitoramento”, explicou Pablo Renteria. A autarquia busca avançar na pauta regulatória. “Também devemos assegurar neste momento de crise, que o mercado continue funcionando”, concluiu.

Walter Schalka enfatizou ser preciso pensar em soluções para os problemas crônicos que estamos vivendo no Brasil. Ele comentou que em momentos de crise é fácil confundir governança corporativa com burocracia. Há pessoas acreditando que a burocracia diminui o risco, “mas isso não é verdade”, observou.

Laércio Cosentino, presidente da TOTVS, acrescentou que o principal ativo da companhia é o capital humano e “são as pessoas que vão buscar os caminhos para solucionar os problemas nos períodos de crise”.

Os desdobramentos da Operação Lava Jato e o impacto para a atividade de RI
“Não se pode pensar em si próprio sem pensar no Judiciário”, destacou Joaquim Falcão, jurista, no segundo painel do evento. Na ocasião, Falcão mencionou a ascensão do Poder Judiciário na economia e lembrou que o século passado ficou conhecido pela opção do mundo pela democracia.

“Este é o século de saber se a escolha será implementada, ou não”, acrescentou o jurista. Ele acredita que os problemas que o Brasil enfrenta hoje não são exclusividade do país, ou seja, existem problemas de corrupção também em outras nações. Joaquim Falcão enfatizou que o Judiciário brasileiro está funcionando. Para o jurista, quando se fala na Operação Lava Jato o que está em jogo não é o combate à corrupção e sim o tipo de ambiente econômico que se quer: competitivo ou corrompido. Falcão acredita que o Judiciário vai ampliar sua atuação.

O Painel 2: Desdobramentos institucionais e o impacto na atividade de RI”, foi moderado por Ricardo Rosanova Garcia, vice-presidente do IBRI e gerente de RI da Helbor, e também contou com a participação de Carlos Primo Braga, Professor Associado da Fundação Dom Cabral e Professor Visitante da IMD Business School.

Ricardo Garcia chamou atenção para a importância dos profissionais de RI debaterem temas que antes não faziam parte de seu escopo.

“Você tem que acreditar na sua marca e na marca do seu país. Infelizmente a marca do Brasil não está boa, mas temos que lutar para melhorá-la”, chamou atenção o Prof. Carlos Braga. Em sua visão as empresas devem ter seus planos, mas é preciso ter flexibilidade para se adaptar às mudanças. Para Braga, a credibilidade é um aspecto fundamental, especialmente com relação à capacidade do país de mostrar que suas ações serão implementadas, principalmente com referência a reformas fiscais.

O papel do RI para criar mais valor para a companhia
Tim Koller, Corporate Finance Expert Partner da McKinsey & Company, encerrou o primeiro dia do evento com palestra sobre “Visão estratégica do profissional de Relações com Investidores em relação ao valor da empresa, atuação proativa do RI na interlocução com o mercado com visão de longo prazo”. André Luiz Gonçalves, vice-presidente do Conselho de Administração do IBRI e gerente geral de Relações com Investidores da Fibria, moderou a palestra.

Koller ressaltou que os objetivos dos profissionais de Relações com Investidores vão além de aumentar o preço da ação. Dentre os objetivos de RI, ele apontou: reunir opiniões dos investidores que interessam, desenvolver um grupo de acionistas de apoio, e se preparar para potenciais atividades de ativismo.

De acordo com Koller, o RI deve entender o valor da companhia e seus direcionamentos, pois é possível criar o mesmo valor com diferentes combinações de crescimento e ROI (do inglês Return On Investment, ou retorno sobre investimento).

Koller comentou ser preciso demonstrar que a estratégia da companhia e as aspirações são fundamentadas em um profundo entendimento da força competitiva e a dinâmica do mercado que a empresa pertence.

Tim Koller também destacou a importância de se utilizar exemplos concretos para demonstrar o valor adicionado. “O papel do profissional de Relações com Investidores é explicar a estratégia da empresa”, concluiu.

Necessidades e expectativas das empresas de capital aberto
O segundo dia do evento (29/06/2016) foi iniciado pelo painel: “Empresas de Capital Fechado - Necessidades de Capital e Expectativas”, que debateu o atual cenário macroeconômico e político brasileiro e a importância da transparência e da governança para o crescimento das companhias de capital fechado.

“Nos últimos anos, o país tem apresentado ciclos de variação econômica e política muito curtos, o que invariavelmente dificulta a realização de um planejamento eficiente em longo prazo”, afirmou Joaquim de Oliveira, sócio das áreas de Fusões e Aquisições, Bancário e Financiamentos, Private Equity e Mercado de Capitais do escritório Souza, Cescon, Barrieu & Flesch Advogados. É um processo bastante relevante a efetivação de práticas de governança nas companhias de capital fechado, afirmou. “Quando se abre o capital, tem-se acesso a recursos de longo prazo, mas sem a pressão por retorno mais imediato, além da opção por ampliar a captação de recursos e maior poder de barganha com as instituições bancárias”, destacou Thomas Brull, membro do Conselho de Administração da Aegea Saneamento e Participações S.A. No entanto, Brull lembrou que essa “vantagem” traz consigo a necessidade de muito mais disciplina na gestão dos ativos da empresa, bem como mais qualidade e clareza na prestação de contas.

Sidney Chameh, diretor da DGF Investimentos, ressaltou a governança e o compartilhamento de informações como aspectos essenciais à sobrevivência de uma empresa em um mercado tão instável e, ao mesmo tempo, competitivo como o brasileiro. “Diariamente, vemos dificuldades como falta de infraestrutura, problemas com legislação, falta de perspectiva. Ou seja, aspectos que tornam o planejamento das companhias cada vez mais difícil e, por isso, imprescindível. Quem consegue sobreviver neste mercado, apesar de todas as adversidades, é um grande vencedor”, afirmou.

Embora essas adversidades possam ser vistas, em um primeiro momento, sob um viés negativo, Thiago Pimenta, headhunter da Flow Executive Finders, alertou para a necessidade de os profissionais de RI estarem sempre atentos às oportunidades que podem surgir. “É inegável que o país está passando por um período bastante turbulento, que mistura instabilidade política e econômica, redução das taxas de confiança, companhias perdendo market share (participação no mercado), falta de liquidez, entre outros aspectos. No entanto, este também é um momento que oferece muito aprendizado para os que estiverem atentos e dispostos a aprender e crescer com as dificuldades”, ponderou Pimenta.

A mesma visão é compartilhada por Joaquim de Oliveira, sócio de escritório Souza, Cescon, Barrieu & Flesch Advogados. “As últimas duas décadas foram marcadas por intensas transformações, representando avanço significativo no tocante a questões regulatórias e ao próprio mercado. Acredito que, mesmo diante de um cenário tão conturbado como o atual, haja ambiente propício às empresas menores de capital fechado”, afirmou Joaquim de Oliveira.

Thiago Pimenta, da FLOW Executive Finders, destacou ainda que o momento também é muito adequado para as empresas buscarem construir equipes de alto desempenho, uma vez que muitos profissionais altamente capacitados estão disponíveis no mercado ou em busca de novos desafios profissionais.

O assunto foi reforçado pelo discurso dos demais participantes do painel, que reforçaram a necessidade de as empresas reterem talentos no mercado nacional. Com a atual crise, muitas companhias estão abrindo mão de seus profissionais, que passam a buscar alternativas no mercado internacional. Para os palestrantes, existe uma onda de pessimismo tomando conta de todos, e isso impede que se vejam as possibilidades que podem surgir a partir da crise, dificultando a visualização de ”saídas” e soluções.

“Esses períodos conturbados quase sempre são seguidos pelo desejo de sair do país em busca de oportunidades. Essa decisão mostra, do ponto de vista das companhias e do mercado, de modo geral, a perda de talentos; porém, representa oportunidades para aqueles profissionais que optam por ficar”, afirmou Pimenta.

Outro aspecto debatido foi a necessidade de o profissional de Relações com Investidores adotar uma nova atribuição, que é se comunicar não apenas com os investidores, mas também com todos os demais públicos da companhia. “O profissional de Relações com Investidores tem, por princípio, a necessidade de estar informado sobre todos os aspectos relevantes de sua empresa, e isso envolve não apenas temas de cunho financeiro”, disse Joaquim de Oliveira. “Os RI também poderiam se comunicar com o mercado, transcendendo a noção de mercado financeiro e ampliando sua atuação e representatividade”, concluiu Thiago Pimenta.

Companhias precisam dar mais atenção às estratégias de comunicação
Os ciclos econômicos estão cada vez mais curtos, e isso faz com que o período entre o nascimento e o declínio de uma empresa também seja mais curto em cada década. “Tudo sugere que esse movimento deva continuar nos próximos anos ou décadas, por conta da tecnologia, que tem provocado transformações e discussões cada vez mais intensas, e da sociedade, que tem mudado com uma velocidade muito grande. Isso faz, por consequência, com que as empresas tenham dificuldade de adaptação frente a esse novo cenário”, afirmou Diego Barreto, membro do conselho de Administração do IBRI e diretor financeiro da Suzano Papel e Celulose, na abertura do painel 4: “Comunicação Estratégica e o papel do profissional de RI”.

Esse aspecto é interessante quando se discute estratégia, uma vez que as empresas ainda tendem a ignorar a discussão da crise durante tal processo. “Você assume que uma disruptura no seu modelo de negócio pode acontecer, mas você se esquece de assumir a discussão de crise. Existe um atraso considerável dos executivos e dos acionistas das companhias em relação à identificação desse aspecto”, ponderou Diego Barreto.

Para Caio Túlio Costa, jornalista e ex-ombudsman, tudo está em crise. “O Brasil está vivendo uma crise política, econômica, social e moral. Temos disrupturas acontecendo em praticamente todos os setores, de uma maneira ou de outra. Temos disrupturas visíveis, como a que o Uber traz ao mercado de táxi; que o WhatsApp traz para o setor de telefonia. E essa transformação para a era digital é um dos elementos fundadores da crise”, afirmou.

Segundo Caio Túlio Costa, as companhias, independentemente de seu segmento, que não quiserem sucumbir ao novo mercado que está nascendo terão a missão de “matar” seu atual modelo de negócio e recriá-lo, alinhando-o às novas necessidades e demandas do mercado e da sociedade. “Estamos vendo isso acontecer na indústria de comunicação. Se os meios de comunicação não estiverem dispostos a criar um novo modelo de negócio para substituir o atual, eles estarão fadados ao fracasso, pois a ‘cabeça’ das pessoas mudou. Não se pode manter o status quo”, afirmou.

Além da crise já mencionada, vive-se ainda uma crise geracional, que tem relação com a forma geral de se obter conhecimento. Há algum tempo, o conhecimento era baseado nos livros. Hoje, o conhecimento se disseminar por diversas fontes, como música, internet, cinema, games, teatro, Netflix, entre outros, e não está restrita apenas à relação texto-imagem.

Quem está no comando das empresas hoje em dia, em grande medida, pertence a uma geração um pouco mais velha e, portanto, analógica. Isso tende a inibir o entendimento do que está acontecendo. “É essencial que essa geração aprenda essa nova forma de adquirir conhecimentos e também de interagir com a nova geração, já familiarizada com esses recursos. Também é necessário compreender que quem é analógico não será digital, por uma série de fatores comportamentais, mas pode - e deve - ser um meio-termo”, observou o jornalista Caio Túlio Costa.

De acordo com Diego Barreto, do ponto de vista corporativo, ainda há preconceito com as mídias sociais, por exemplo. “As empresas precisam compreender que a exposição é relevante e impacta quem tem acesso a esses meios. Essa exposição exige sabedoria para quem se apresenta, além de uma nova percepção do mundo e de como essa ferramenta é ‘poderosa’”.

Segundo Roger Oey, especialista sênior em Renda Variável da Bloomberg, o mundo evoluiu muito nos últimos anos, mas no âmbito corporativo “a sensação é de que estamos vivendo em modo analógico, uma vez que os processos ainda são arcaicos”. Oey comentou que temos à disposição diversos aplicativos e modernidades, mas quase nada disso é, de fato, aplicado no dia a dia profissional. Um exemplo disso, destacou Oey, é a utilização dos aplicativos Word e Excel, da Microsoft, há mais de duas décadas.

Um aspecto que demanda atenção e mudanças urgentes no tocante à gestão de crise é a preparação para eventuais mudanças. Apesar de se falar tanto neste tipo de gerenciamento, os palestrantes deixaram claro que ainda existe muita falha quanto a isso. “Em momentos de crise, não adianta reagir se você não estiver preparado”, declarou Oey.

“A governança corporativa é outro aspecto que se apresenta como crítico, uma vez que empresas fechadas não têm, grosso modo, o mesmo cuidado com essa questão que uma companhia aberta, que deve fazer prestação de contas para os investidores. Em outras palavras, isso significa que cada ação deve ser fruto de planejamento com fim específico. É preciso que se faça um exercício para visualizar de onde pode vir a crise, que se esteja preparado para o que virá – independentemente do que virá –, saber o que se deve - ou não fazer - em período de crise”, afirmou Caio Túlio Costa.

De acordo com os palestrantes, estar preparado é listar as possibilidades de erros e de problemas que podem vir tanto do mercado quanto de seus concorrentes, de modo a ter condições de lidar com essas situações com segurança. Também é saber a quem se pode recorrer, como auditores e consultores, por exemplo, que possam ajudar no processo de gerenciamento de crise. “Trata-se de normatizar os procedimentos”, resumiu Costa.


Como agir em momentos de crises

• O profissional de RI deve ter papel relevante no processo, não se limitando à comunicação com investidores. Ele deve estar apto a planejar o passo a passo em casos de crise.

• Os comunicados por escrito tendem a ser impessoais, portanto, é preciso demonstrar simpatia em relação aos seus públicos.

• É necessário acalmar os investidores, mas sempre com empatia, de modo a não gerar reações contrárias por parte da mídia e da sociedade.

• Jamais minimizar os problemas e os impactos negativos que podem trazer para a sociedade. O efeito dessa ação pode ser ainda mais grave para a companhia.

• Nunca mentir sobre o ocorrido.

• É preciso ter habilidade para lidar com problemas; jamais se esconder e evitar falar a respeito, mas também não se manifestar sem que haja uma estratégia desenvolvida.

• A comunicação deve ser sempre ajustada ao perfil dos clientes, de modo a evitar ruídos e desentendimentos..

Fonte
: palestrantes


Retomada do mercado de capitais

“A perspectiva é que com a diminuição das incertezas políticas haja a retomada econômica, sobretudo a partir de 2019, e o mercado de capitais volte a crescer”, destacou Juan Jensen, economista e sócio da 4E Consultoria, no painel 5: “Atual ambiente econômico e mercado de capitais”. O painel foi moderado por Antonio Castro, presidente da ABRASCA, e analisou as consequências dos principais acontecimentos políticos e econômicos no mercado de capitais local. Castro destacou as altas taxas de desemprego e ressaltou que não será fácil sair da crise.

Jensen lembrou que há muita incerteza e dúvida sobre a política. “No entanto, a equipe econômica é homogênea e composta de estrelas”, observou. Ele observou que os economistas não têm dúvidas que a equipe econômica vai encaminhar as medidas que devem ser realizadas para a retomada da economia. Mas a dúvida que paira é se haverá articulação no Congresso para aprová-las.

Segundo Jensen, os indicadores de emprego e renda devem demorar para melhorar, mas a confiança deve ser retomada em breve. Antonio Castro lembrou que nos últimos cinco anos há “grande dificuldade das empresas para obterem investimentos”.

Nuno da Silva, diretor de DRs (Depositary Receipts) para América Latina do BNY Mellon, apresentou os resultados do estudo “Insights into North American Investors' Views of Corporate Access". Ele comentou que os profissionais de Relações com Investidores devem engajar o presidente da companhia nas apresentações para investidores. Para Nuno da Silva, começa-se a constatar que o dinheiro está voltando para o Brasil. “Há muitos investidores com perspectivas de longo prazo e que vão apostar no país, mas eles serão mais seletivos”, enfatizou.

Sobre a política monetária, Juan Jensen disse que o Banco Central tem sinalizado de forma incomum que não há espaço para flexibilização. “Esperamos que a taxa básica de juros (Selic) vá caindo gradualmente de 14,25% até 11,50% ao ano ao final do primeiro semestre de 2017. Com relação à política fiscal, o economista disse que “o problema é grande e está longe de ser resolvido”.

Melhores práticas de comunicação na área de RI
Os gestores do fundo norueguês Norges Bank Investment Management
foram os palestrantes sobre “Melhores Práticas de Comunicação na área de RI e os Fatores ESG (Environmental, Social and Governance)”. A palestra foi moderada por Carlos Lazar, membro do Conselho de Administração do IBRI e diretor de Relações com Investidores da Kroton Educacional. O fundo soberano da Noruega é o maior do mundo. Hugo Sanders, Head of Corporate Access do Norges Bank Investment Management, fez a apresentação do fundo da Noruega que investe em nove mil companhias no mundo inteiro, inclusive em empresas brasileiras.

Carlos Lazar questionou se haveria diferenças no processo de avaliação de empresas sediadas em países desenvolvidos e em emergentes.

“Avaliamos os riscos ligados aos aspectos conjunturais, de governança corporativa, além de olhar a legislação local e o tratamento aos acionistas”, afirmou Sanders. Riscos com a prática de corrupção, além do desrespeito a direitos humanos e com o meio ambiente também estão na lista de temas observados pelo fundo Norges, frisou.

Sobre gestão de crise, Hugo Sanders afirmou que os profissionais de Relações com Investidores desempenham papel de grande importância e é preciso que façam o diagnóstico da crise e realizem o planejamento estratégico para as mudanças. Uma dica do executivo é a prática de se realizar simulações sobre cenários de curto, médio e longo prazos. “Quando a crise acontece o profissional de RI tem que estar na liderança e comunicar a todos a mesma mensagem. Queremos entender as consequências para a empresa no curto, médio e longo prazo”, declarou Sanders. Transparência, honestidade e consistência nas informações são fundamentais, observou.

Segundo ele, os melhores profissionais de Relações com Investidores são aqueles que aparecem perante os investidores. “Na Europa, os RI’s procuram prestar contas e se não possuem as informações solicitadas de imediato, buscam as respostas e disponibilizam para os investidores”, mencionou. Os gestores do fundo soberano da Noruega estão sempre atentos também a questões regulatórias de 78 países, que sediam as nove mil empresas investidas, como informou Benjamin Colton, Active Ownership do Norges Bank Investment Management. “Crises podem ser oportunidades para reformas e também melhoria na governança”, acrescentou Colton.

“Ser transparente faz toda a diferença no final do dia”, complementou Carlos Lazar, conselheiro de Administração do IBRI. Sobre as melhores práticas de RI os executivos noruegueses citaram: antecipação, ou seja, colocar-se no lugar de quem está investindo e fazer as perguntas que os investidores fariam, isso significa saber bem os números da empresa; ser consistente na mensagem sobre a estratégia da companhia, sempre relacionando os indicadores e metas a partir de séries históricas; não passar a ideia de que está escondendo algo, pois isso tem repercussão negativa na comunidade de investidores.

“Tenha sempre perguntas novas na ponta da língua”, sugeriu Sanders. Evitar fornecer metas pouco factíveis e não fechar o canal de interação com os administradores foram outras dicas de boas práticas mencionadas pelos representantes do maior fundo soberano do mundo. Os gestores do fundo norueguês reforçaram, também, a ideia de que os membros do board precisam entender a importância da governança corporativa.

Crise, corrupção e ética nos negócios
Como seria o mundo se você não existisse? Um lugar melhor ou pior? Com esses dois questionamentos, Deltan Dallagnol, procurador da República no Ministério Público Federal e Coordenador da Força-Tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba (PR), iniciou sua palestra de encerramento do 18º Encontro Nacional de Relações com Investidores e Mercado de Capitais com o tema: “Tempos de crise, corrupção e ética nos negócios”. A palestra foi moderada por Júlio Bueno, sócio com atuação na área de Projetos de Infraestrutura, Direito da Construção e Contratos de Engenharia da Pinheiro Neto Advogados.

Para o procurador, ética e lucro nos negócios não são itens excludentes. Ao contrário, ambos podem muito bem convergir, desde que sejam respeitados limites éticos para a obtenção do resultado positivo. “Existe uma clara relação entre Índices de Corrupção x Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) e social. Os países com menos corrupção são aqueles que apresentam os melhores índices de saúde, educação e renda per capita. Isso significa que quanto menos corrupção existir, melhores serão as condições econômicas do país”, destacou Dallagnol.

“Quando se relaciona corrupção x competitividade das empresas de um determinado país no cenário global, quanto menos corrupto no país, mais competitivas serão as suas empresas no cenário global. Isso é claro, porque a corrupção aumenta os riscos, gerando um componente de imprevisibilidade. Ninguém sabe o quanto vai se perder se aquela empresa em que se investe estiver potencialmente relacionada à corrupção. Isso mostra o quanto é importante que se debata a questão da ética, uma vez que o problema de corrupção em determinadas empresas do setor acaba afetando não apenas as próprias companhias, mas também as companhias corretas que estão naquele mesmo setor”, pontuou o procurador.

Para o coordenador da Força-Tarefa da Lava Jato, o que causa problemas na economia é a corrupção, o que reforça a relação corrupção x desenvolvimento econômico e social. “É comum ouvirmos pessoas dizendo que gostariam de sair do Brasil, como forma de tentar escapar da crise econômica e moral que o país enfrenta. Mas não adianta se iludir: ainda que a pessoa saia do Brasil, o Brasil não sairá de dentro dela”.

Seja morando fora ou dentro do Brasil, o que todos querem é um país melhor e que respeite os direitos da sociedade, no qual não existam buracos da corrupção pelos quais escorre o dinheiro que deveria ser destinado à saúde, à educação, aos investimentos em infraestrutura ou aos investimentos produtivos. “Todos queremos viver em um país em que o sistema político gere representatividade. Nós estamos cansados de ouvir que quem está em Brasília não nos representa. Ao mesmo tempo, paradoxalmente, nós ficamos estáticos, esperando heróis que nos salvem, enquanto nos colocamos como vítimas da história”, declarou o procurador.

“Precisamos deixar de ser vítimas do nosso passado para sermos autores da nossa história, senhores do nosso destino. Se queremos uma sociedade melhor, precisamos de um país mais ético. Acredito que o Brasil tenha, sim, saída, e que ela não é pela porta do aeroporto”. No tocante à ética, a situação dos brasileiros não é das melhores. Vivemos aquilo que se chama de “apagão ético”, afirmou.

Dallagnol citou dados de uma pesquisa do Ibope sobre o perfil ético dos profissionais das corporações brasileiras, que apontou que 61% das pessoas consideram, sob determinadas circunstâncias, usar atalhos antiéticos ou ilícitos, enquanto 52% dos entrevistados revelaram permissividade com suborno, ou seja, que aceitariam receber suborno como funcionário da empresa a depender da situação.

Agora, não relacionado ao campo empresarial, mas seguindo para um contexto maior, essa mesma pesquisa mostrou um paradoxo da opinião pública no tocante à corrupção e à ética. O estudo concluiu que o eleitorado sistematicamente indica repúdio aos atos ilícitos atribuídos à classe política brasileira, mas se enxerga razoavelmente honesto ao mesmo tempo em que pratica ou aceita uma diversidade de transgressões da lei no seu cotidiano.

“O fato social sobre o qual essa pesquisa se debruçou pode ser retratado em situações do cotidiano, como uma pessoa que estaciona em local errado; alguém que é pego dirigindo embriagado; uma ligação clandestina de internet ou de TV a cabo; desvio de energia elétrica; compra CDs e DVDs piratas, entre outras atitudes ilegais, e que se senta diante da televisão para assistir ao telejornal e questiona ‘de onde sai tanto político safado?”. O que existe, na realidade, é um sistema político que favorece a corrupção. “Há ainda um problema maior, de uma cultura mais ampla e tolerante com a corrupção”, ressaltou o procurador.

Voltando aos dados da pesquisa do Ibope, quando se pergunta se conhecem alguém que tenha fingido doença para não trabalhar, 50% responderam positivamente; 34% das pessoas conhecem alguém que sonegou tributos; 26% conhecem quem furtou em supermercado; 22% conhecem alguém que obteve benefício indevido do governo; 24% conhecem quem fraudou o seguro-saúde; 19% conhecem quem fraudou o seguro de automóvel; 41% dos entrevistados votariam em alguém em troca de emprego; 38% votariam em alguém em troca de favor; e 75% fazem ou fariam 1 de 13 atos de corrupção listados na pesquisa.

Com base nos dados da ONG Transparência Internacional, o Brasil não é um bom país no tocante à corrupção, ocupando atualmente a 76ª posição no ranking. “A nossa nota é 38, quando a nota mínima aceitável é 5 – estamos no vermelho no combate à corrupção e na busca pela ética e pela honestidade”, disparou Deltan Dallagnol.

Embora esse ranking diga respeito à corrupção governamental, esta e a ética nos negócios são duas faces da mesma moeda, uma vez na corrupção tem quem recebe, mas também tem quem pague. “Nós não podemos esquecer que a corrupção no Brasil não é um problema partidário nem desse ou daquele governo; ela ocorre desde longa data”, observou.

Segundo estudiosos, apenas na década de 1990 foram registrados 88 escândalos de corrupção apenas na área federal. Foi nessa década que surgiu, por exemplo, o escândalo dos “anões do orçamento”, em que houve deputado justificando o vasto patrimônio alegando ter sido premiado pela loteria mais de cem vezes. Recentemente, outro político afirmou ter ganho na loteria 14 vezes em 12 meses.

Para concluir a análise sobre o apagão ético, o coordenador da Força-Tarefa da Lava Jato comentou brevemente o caso da Petrobras. “O que nós descobrimos foi que empresários pagavam propina para agentes públicos e agentes políticos. Intermediando esses pagamentos, existiam lavadores de dinheiro profissionais, como Alberto Yousseff. Essas pessoas faziam com que o dinheiro, de uma ponta, destinada à propina, chegasse à outra ponta com aparência de dinheiro limpo. Do lado das empresas, identificamos que várias delas adotaram a corrupção como modelo de negócio. Uma dessas empresas investigada chegou a ter dentro dela um setor específico para gerenciar o pagamento de propina. Mais do que isso, as empresas passaram a adotar a corrupção como regra do jogo, chegando-se ao ponto de sequer se saber porque estavam pagando, pois não se tinha em vista um benefício concreto. Esse dinheiro funcionava como um tipo de crédito político”, comentou.

Um fator interessante destacado foi o fato de a corrupção ir ainda mais além. “Os americanos usam a expressão slippery slope (ladeira escorregadia) para explicar casos em que quem ultrapassa o limite da ética para corromper agentes externos em benefício da empresa, também vai corromper em malefício da empresa”, disse Dallagnol.

O que a Força-Tarefa identificou no caso da Petrobras foi que diversos executivos e funcionários recebiam parte da propina paga de volta. Ou seja, mesmo pagando a propina em benefício da empresa, havia uma maximização do valor para que alguém pudesse receber a diferença de volta.

“Como explicar tudo isso? Não existe uma explicação única, mas certamente existem alguns fatores que contribuem muito com essa realidade, como a existência de uma cultura de ética de conveniência e uma política falha, com uma série de desincentivos a práticas honestas e estímulo a práticas corruptas. Se o foco está no resultado, serão feitos quaisquer negócios para se alcançar o objetivo, seja licito ou ilícito, desde que seja em benefício daquele que está agindo, ainda que seja em prejuízo de toda a sociedade”, afirmou Dallagnol.

Somente se pode dizer que algo é belo ou feio, certo ou errado, moral ou imoral, se há um referencial que possibilite tal julgamento. Segundo o procurador, o problema é que vivemos em um período de relativização de princípios e valores e de quebra de paradigmas ou referenciais éticos.

Dallagnol afirmou que, em sua vida, ele adota a teoria de Kant, de cunho humanista, que diz que se você não puder contar o que você fez e como você fez, porque ficaria com vergonha, isso está errado. “Mas, independentemente da teoria que se adote, é preciso que as discussões sobre ética e moral sejam aprofundadas e, a partir daí, seguir um caminho que não seja da ética da conveniência”, ressaltou.

O procurador Deltan Dallagnol fez uma ressalva quanto à racionalização, que é revestir uma ação incorreta com uma capa de boa justificativa. “Você racionaliza quando busca se justificar quanto a conduta. Um exemplo simples é um cônjuge dizer ao outro que não quer que ele coma uma sobremesa sob a alegação de que doce em excesso faz mal à saúde, quando, na realidade, sua ação objetiva manter o parceiro dentro de um padrão estético aceito pela sociedade”, observou.

Na Lava-Jato foram identificados diversos exemplos de racionalização. “Havia um executivo que conversaria conosco, explicando o que fez, o que aconteceu, mas ele se recusava a falar que pagou propina a um funcionário público. Segundo ele, o pagamento efetuado era uma ‘comissão’ merecida pelo funcionário em razão de algo que ele fez. Outros empresários se recusavam a utilizar a palavra cartel; falavam que o que existia era um ‘pacto de não agressão’”, mencionou o coordenador da força-tarefa.

Deltan Dallagnol afirmou que a operação Lava-Jato não tem o poder de acabar com a corrupção no país, como muitas pessoas acreditam ou, ao menos, desejam. “A função da operação é tratar um tumor que apareceu no país. O problema é que enquanto estamos cuidando de um, vários outros tumores estão surgindo. No caso do Mensalão, por exemplo, muitos acreditavam que ele seria uma virada de página do país, mas não foi. Quando o Mensalão estava sendo processado, vários outros escândalos, inclusive a Lava-Jato, estavam acontecendo e outros ainda não tinham sido descobertos”, lembrou o procurador.

Segundo ele, se nós queremos mudar a realidade, podemos usar a Lava Jato como forma de aumentar a esperança, como uma alavanca, mas precisamos mudar as condições que favorecem a corrupção em nosso país. “A Lava Jato representa um momento de força institucional, a força da nossa democracia, demonstrando que nossas instituições são fortes. Agora se nós queremos que nossa democracia melhore, precisamos de representatividade política e de reformas”, declarou.

Medidas contra a corrupção
Dallagnol ressaltou que são necessárias reformas mais profundas para reduzir os estímulos à corrupção e citou a importância de aprovar a proposta que reúne as dez medidas contra a corrupção elaboradas pelo MPF (Ministério Público Federal) e que foram enviadas ao Congresso Nacional com o apoio de mais de 2 milhões de assinaturas. Dallagnol solicitou apoio para a campanha de 10 medidas contra a corrupção (http://www.dezmedidas.mpf. mp.br/), que endurece penas para crimes cometidos por agentes públicos dos três Poderes.

“Muitos parlamentares se movimentaram para que esse projeto tramite de modo célere e seja aprovado. Foi criada uma frente parlamentar, para aprovação das medidas, com mais de 200 parlamentares. Nossa convicção é de que esse projeto vai caminhar e, com apoio da sociedade, será aprovado”, disse. Entre as medidas propostas está o aumento de penas para crimes relacionados com a corrupção e a criminalização das doações não declaradas em campanhas eleitorais. O 18º Encontro Nacional de Relações com Investidores e Mercado de Capitais terminou com o público (mais de 500 participantes do evento) aplaudindo com entusiasmo, demoradamente, e de pé a apresentação de Deltan Dallagnol, coordenador da Força-Tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba.

O Encontro Nacional foi patrocinado pelas empresas: BM&FBOVESPA, Bloomberg, BNY Mellon, Bradesco, Chorus Call, Crowe Horwath, Deloitte, Diligent, Itaú Unibanco, MZ BoardVantage, RIWeb, RR Donnelley, Sabesp, Saint Paul Editora, Souza Cescon, SulAmérica, TheMediaGroup, Valor Econômico e Wittel.


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