Educação Financeira

A DIFÍCIL ARTE DE DECIDIR

Quando é preciso tomar uma decisão importante, como você se sente? Estimulado ou apavorado? Contente ou amedrontado? As pessoas deveriam comemorar com alegria o fato de poder ter escolhas. Receber propostas de outros empregos, estar solteiro e ter dois pretendentes interessados – poder fazer escolhas não é ótimo?

Você deve concordar que ter oportunidade de escolher é muito melhor do que não ter opções. Mas quando estamos diante da necessidade de tomar uma decisão entre diferentes alternativas, costumamos “travar”. Escolher tende a ser um processo sofrido e, por isso, pode ser que a pessoa envolvida acabe querendo se livrar rapidamente da situação.

Quanto mais importante for a escolha, mais difícil é o processo de decisão. O medo de cometer um erro é capaz de nos paralisar. Ao decidir entre dois pretendentes a namorado, pode ser que o interessado pense que, no futuro, o preterido venha ser uma pessoa muito melhor do que aquele que será escolhido.

Se tivermos a oportunidade de trocar de emprego, podemos ficar amedrontados com a possibilidade de não nos adaptarmos no novo local de trabalho e de acabarmos ficando sem emprego nenhum. Segundo os psicólogos que estudam os processos de decisão, o medo de constatar o erro no futuro é maior do que o medo das próprias consequências do erro.

Por esta razão, costumamos procurar por ajuda externa quando estamos diante de uma decisão importante. Quando uma jovem tem dois pretendentes batendo a sua porta, pode pedir ajuda a uma amiga. Ela provavelmente supõe que a amiga não conhece a fundo nenhum dos dois, caso contrário, não estaria pedindo a opinião. Assim, ela acaba confiando na opinião de quem supostamente teria menos elementos para decidir do que ela própria.

Quando vamos comprar uma roupa nova, muitas vezes confiamos na opinião do vendedor – que pode estar muito mais interessado na comissão de venda do que na nossa aparência. O mesmo pode ocorrer quando você precisa tomar uma decisão financeira: busca desesperadamente alguém que diga o que fazer, mesmo sabendo que a outra pessoa pode não estar mais capacitada do que você para tomar a decisão.

E porque buscamos ajuda externa? Os psicólogos dizem que procuramos, na verdade, alguém a quem culpar se algo sair errado no futuro. Assim, podemos sofrer as consequências do erro, mas teremos uma válvula de escape para descontar a culpa por aquela decisão. Este processo de culpa não precisa sequer ser explícito. Ele geralmente serve apenas como um consolo interno da própria pessoa arrependida da decisão.

Outras vezes em que precisamos decidir, costumamos procrastinar. Tentamos ganhar tempo, na esperança de que a situação se resolva por si mesma, como uma saída milagrosa.

Esta tendência de evitar decidir também faz com que geralmente permaneçamos na mesma situação em que alguém nos colocou. Isto é chamado de “tendência ao status quo”. Ao receber o plano de aposentadoria aplicado em um fundo moderado, é pouco provável que mudemos a alocação para um plano agressivo ou conservador.

No mercado financeiro, não decidir pode custar caro
O mercado financeiro, é um lugar em que você pode perder muito dinheiro sem fazer absolutamente nada. Muitas pessoas, procrastinam decisões, querendo que alguém as tome por elas ou congelam de medo diante da volatilidade do mercado financeiro.

O medo é um desconforto que geralmente leva os investidores a ficarem paralisados diante dos movimentos do mercado financeiro. É uma preocupação persistente, aflitiva e incômoda. O medo leva a mudanças fisiológicas, altera pressão, respiração, sudorese e causa até tensão muscular intensa. Estado que prejudica a capacidade de análise e decisão dos indivíduos.

Diante do medo de movimentos bruscos do mercado financeiro, alguns investidores buscam “esquecer” dos seus investimentos e ainda falam que para ter sucesso na bolsa de valores é só comprar e esquecer.

Existe uma enorme diferença entre esquecer e acompanhar o mercado diariamente. Para investimentos de longo prazo olhar para a carteira de investimentos uma vez por mês costuma ser suficiente, mas isso não significa que você esqueceu dos seus investimentos.

Investidores não profissionais que tentam acompanhar o mercado constantemente tendem a entrar em pânico, diante de movimentos bruscos do mercado. Quem tem medo percebe muitos riscos, mas muitas vezes congela diante do perigo. Já o pânico é reativo, gera uma pressão urgente para agir. É a típica situação de lutar ou fugir.

A situação de fugir leva os investidores a liquidar suas posições a qualquer preço, mesmo que há alguns meses tenham investido com objetivos de longo prazo. Já a situação de lutar pode levar a situações ainda piores, como tentar vencer o “inimigo” a qualquer custo. São estes investidores que acabam tomando posições alavancadas, arriscando liquidar seus patrimônios conquistados duramente.

O medo e a evolução
Em termos evolutivos, o medo e o pânico foram uma poderosa alavanca para a sobrevivência das espécies e, em particular, da nossa. Para nossos ancestrais, não dar atenção aos sinais de perigo poderia representar ser morto por um predador.

Somos biologicamente induzidos a ter pensamentos de curto prazo, pelos hormônios do estresse que são liberados durante episódios de medo. Estes hormônios nos tornam propensos a lutar ou fugir. Diante do medo, tendemos a ver apenas riscos onde antes enxergávamos oportunidades.

Investidores modernos acabam se comportando diante de uma tela de home broker da mesma forma que nossos ancestrais nas savanas africanas. Acabam ficando hipervigilantes com a possibilidade de perder ainda mais dinheiro depois de uma queda ou de vender antes de uma grande alta de preços.

Para viver em paz com os investimentos é melhor focar em prazos longos e se despreocupar com os movimentos de curto prazo. Porém, infelizmente, a nossa genética não colabora para esta visão distanciada diante dos bruscos movimentos do mercado financeiro.

Claro que especuladores treinados também passam por episódios de medo (e, eventualmente, até de pânico), porém, geralmente controlam muito bem estes sentimentos e conseguem se livrar deles logo após o mercado fechar a cada dia. Já os iniciantes acabam estragando suas noites de sono, pensando no dia seguinte do mercado.

Se as bruscas variações nas cotas dos seu fundo multimercado, no preço dos títulos públicos de longo prazo, ou nas ações está prejudicando sua vida, pense seriamente em mudar seus investimentos para um título público pós-fixado ou um fundo DI. Afinal, como falou Peter Lynch, o lendário gestor da Fidelity, maior empresa de administração de fundos dos Estados Unidos: “se você gastar mais de 14 minutos por ano nervoso com o mercado, então você terá desperdiçado 12 minutos da sua vida”.


Jurandir Sell Macedo
é doutor em Finanças Comportamentais, com pós-doutorado em Psicologia Cognitiva pela Université Libre de Bruxelles (ULB) e professor de Finanças Pessoais da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
jurandir@edufinanceira.org.br


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