Opinião

AS DIRETRIZES SUSTENTÁVEIS NO MERCADO DE CAPITAIS E A NOVA VISÃO ECONÔMICA GLOBAL

Desenvolvimento econômico e sustentabilidade não são antagônicos. Apesar de a visão contrária ter permeado praticamente toda a expansão econômica do século XX e início do XXI, o processo empírico tem mostrado que é razoável a compreensão de que essas duas importantes visões se tornem una, em um método que tem como premissa a expansão econômica atrelada às visões socioambientais, como defendido pela primeira vez em junho de 1972 na Conferência de Estocolmo.

Dentro desse cenário, algumas companhias que englobam o mercado de capitais têm evoluído no que se refere à importância do desenvolvimento socioeconômico sustentável, com um novo olhar para essas questões, o que reflete a consistência do papel social que o segmento adquiriu e vem adquirindo ao longo dos anos. 

Há, contudo, um grande desafio que deve ser observado, de forma que os impactos positivos dessas iniciativas figurem consistentemente nas demonstrações contábeis financeiras: a necessidade de uma integração completa entre essas esferas, isto é, da demonstração contábil com a sustentabilidade.

O Conselho Internacional de Relato Integrado, que surgiu com o propósito de integrar a demonstração contábil com informações não financeiras, especialmente o GRI, acabou gerando um atraso ao criar um “novo” relatório com seis capitais (ao invés de integrar o que já existia), o que impossibilitou que os posicionamentos ora em voga pudessem ter sido realizados no mínimo, uma década antes, o que, em certa medida, significou um atraso considerável nas discussões. 

No entanto, em junho último, foi realizada a emissão do primeiro IFRS Sustainability Disclosure Standards, o qual trouxe uma linha de base global de divulgações relacionadas à sustentabilidade para os mercados de capitais. 

Com a incorporação recente do SASB pelo ISSB, em toda a análise foram inseridos indicadores dos 77 setores divididos em 11 macros setores. O CBPS que é a representação do ISSB no Brasil decidiu trabalhar primeiramente em 4 macro setores, a saber: saúde, financeiro, energia e de saneamento, todo o trabalho tem o objetivo de termos no mercado uma padronização única internacional, uma vez que o ISSB faz parte da IFRS Foundation, ou seja, está integrado com a questão da contabilidade. Dividido em duas esferas, ambos os Padrões são baseados em recomendações da Força-Tarefa sobre Divulgações Financeiras Relacionadas ao Clima (TCFD). 

O IFRS S1 trouxe a determinação de que as empresas comuniquem oportunidades de sustentabilidade e os riscos e que enfrentam do curto ao longo prazo. O IFRS S2 estabelece divulgações específicas relacionadas ao clima e foi desenvolvido para ser usado com o IFRS S1. A emissão desses Padrões é apenas o ponto de partida e os requisitos são projetados para garantir que as empresas forneçam aos investidores informações relevantes para a tomada de decisões. Aqui outra questão relevante, apesar das informações serem para uso de todo e qualquer público, o alvo são os investidores. 

Além dos investimentos socioambientais contínuos e de uma significativa mudança na forma de atuação da corporação, a integração desses conceitos resultará em uma etapa nova, incorporando de forma única os referidos conceitos nos processos-chave da empresa, os quais se tornarão essenciais para a compreensão do mercado no que tange à respectiva companhia. 

O debate hoje é ter indicadores mais críveis, sendo relevante conhecer o processo de governança econômica, social e ambiental da organização, e toda essa estrutura organizacional possibilitará a integração da informação contábil - que já é válida -, com os dados não financeiros, ou pré-financeiros ou ainda sustentáveis, tendo como objetivo a adequação e consequente redução dos prazos de divulgação da informação socioambiental, adequando-os aos da informação contábil.

Tal mudança possibilitará que o mercado financeiro tenha acesso às informações de forma rápida e ainda mais confiável e, dessa forma, poderá fazer a conta no valuation, bem como fazer a conta no risco da organização, de forma a identificar com clareza se o preço de cada ação é justo, para saber se irá comprar ou vender.

Investir neste processo e pensar de forma social e ambientalmente responsável já fazem parte das análises atuais. Se antes poucos estavam adeptos a compreender a inovação e o avanço que essa significativa medida representava, hoje são os próprios investidores que procuram essas informações, de tal modo que os relatórios, não só os anuais mais os trimestrais também, se tornaram ferramentas indispensáveis para a avaliação da saúde das companhias. 

Roberto Gonzalez 
é consultor de governança corporativa e EESG.
roberto.gonzalez@uol.com.br 


Continua...