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24º ENCONTRO DE RI DEBATE COMUNICAÇÃO, ESG & DIGITALIZAÇÃO

A edição do 24º Encontro Internacional de Relações com Investidores e Mercado de Capitais - maior evento de RI da América Latina - realizado pelo IBRI e pela ABRASCA destacou o papel do profissional de Relações com Investidores em momentos de crise, a importância da comunicação e temas ESG.

“O Encontro de RI tornou-se primordial para os profissionais de Relações com Investidores e todos os interessados em se aprofundar nas novidades e perspectivas do mercado de capitais. A cada ano a organização do evento busca proporcionar ricos debates sobre temas atuais e com a participação de renomados profissionais que agregam conhecimento, experiência e suas vivências”, destacou Geraldo Soares, Presidente do Conselho de Administração do IBRI, na abertura da 24ª edição do Encontro Internacional de Relações com Investidores e Mercado de Capitais, ao lado de Pablo Cesário, Presidente Executivo da ABRASCA; e João Pedro Nascimento, Presidente da CVM (Comissão de Valores Mobiliários).

O evento que é promovido pelo IBRI (Instituto Brasileiro de Relações com Investidores) e pela ABRASCA (Associação Brasileira das Companhias Abertas) aconteceu, em 26 e 27 de junho de 2023, no Teatro B32, em São Paulo, e contou com a presença de mais de 700 pessoas. “A edição deste ano é muito especial para nós, pois marca o retorno do Encontro em formato 100% presencial e no agradável B32 da Faria Lima”, enfatizou Geraldo Soares.

“Neste ano, gostaria de chamar atenção para três temas que terão grande destaque no nosso Encontro de RI e se desdobrarão em diferentes painéis: a comunicação, ESG e digitalização”, antecipou o Presidente do Conselho de Administração do IBRI.

Pablo Cesário, Presidente Executivo da ABRASCA, disse que o Encontro de RI é uma das tradições do mercado. “Espero que esta iniciativa continue por muitos anos”, comentou.

“Se este é o principal mecanismo de prosperidade, como inserimos mais pessoas neste mercado?”, questionou Cesário ao mencionar a importância de pessoas da periferia também se beneficiarem do mercado de capitais. Antes de finalizar sua fala, Pablo Cesário demonstrou otimismo com a popularização do mercado.

Prestação de contas
João Pedro Nascimento, Presidente da CVM, exaltou a parceria entre o IBRI e a ABRASCA e afirmou que o Encontro de RI e Mercado de Capitais é uma oportunidade para a autarquia prestar contas ao mercado. Prestes a iniciar o segundo ano de seu mandato, João Pedro Nascimento destacou pontos da agenda executiva como financiamento da autarquia, pessoas e tecnologia.

Painel 1: Ações da CVM para 2023/2024
O primeiro painel do evento foi moderado por Geraldo Soares, Presidente do Conselho de Administração do IBRI, e contou com palestras de João Pedro Nascimento, Presidente da CVM, e Antonio Carlos Berwanger, Superintendente de Desenvolvimento de Mercado da CVM. “O IBRI tem 25 anos e o primeiro convênio que fizemos foi com a CVM”, lembrou Geraldo Soares.

O objetivo do painel foi discutir a agenda da CVM, quais são os focos da autarquia, a atuação do regulador, “tudo ajuda muito o profissional de Relações com Investidores a se preparar”, complementou Geraldo Soares.

No início da apresentação, João Pedro Nascimento e Antonio Carlos Berwanger falaram sobre as normas já editadas. “O Marco Regulatório dos Assessores de Investimento (Resolução CVM nº 178 e nº 179) revolucionou a indústria de intermediários, com o fim da exclusividade e outras modernizações”, declarou o Presidente da CVM. “Os assessores de investimento do mercado de capitais estão em cada canto do país. E a CVM entende que o mercado de capitais pode ser uma ferramenta poderosa para diminuir desigualdades”, declarou João Pedro Nascimento.

O Marco Regulatório dos Fundos de Investimento (Resolução CVM nº 175) promoveu consolidação de 39 normas e modernizou a regulação dos fundos no Brasil, disse o Presidente da CVM.

João Pedro Nascimento afirmou que é preciso olhar dois pontos na questão de influenciadores: “é preciso ver se eles não estão invadindo o perímetro de outros profissionais regulados como, por exemplo, os analistas do mercado de capitais”. O presidente da CVM observou que o segundo ponto “é que deve haver um acompanhamento entre a influência exercida e as operações do mercado”.

Durante o painel, o presidente da autarquia anunciou que há mais aprimoramentos regulatórios a caminho — como a revisão das regras sobre Assembleias Digitais e Voto a Distância (Resolução CVM nº 81) e sobre OPA - Oferta Pública de Aquisição (Resolução CVM nº 85), além da criação de regras sobre Portabilidade em Fundos e do Parecer de Orientação sobre a SAF (Sociedade Anônima do Futebol) no mercado de capitais.

Ao ser questionado por Geraldo Soares se o ESG (do inglês, Environmental, Social and Governance; em português, ASG – Ambiental, Social e Governança) é um caminho sem volta, Antonio Carlos Berwanger foi enfático ao dizer: “Sim, vejo isso como um caminho sem volta. Estão ocorrendo muitas discussões em Brasília sobre taxonomia”. De acordo com o superintendente da CVM, “o driver é mais forte fora do Brasil, mas por mais que não tenhamos uma predominância dos temas ligados aos temas ESG aqui no país, em mercados lá fora já é uma realidade e logo mais vai chegar aqui. As companhias são indutoras dessas práticas”.

João Pedro Nascimento acrescentou: “as pessoas têm que perceber que os aspectos Ambiental, Social e de Governança são capazes de agregar valor. A população está mais consciente e isso se aplica aos valores mobiliários”. “O futuro é verde e digital”, concluiu o Presidente da CVM.

Painel 2: A gestão da comunicação em empresas com múltiplas áreas de RI

“No Brasil existem poucas empresas holdings e cada vez mais estão se constituindo empresas desse tipo e o que queremos discutir neste painel é a gestão da comunicação em empresas com múltiplas áreas de Relações com Investidores”, declarou Geraldo Soares, moderador do segundo painel.

Participaram como palestrantes do debate: Alfredo Egydio Setubal, Diretor-Presidente e Diretor de Relações com Investidores da Itaúsa; e Paulo Caffarelli, CEO da Holding Financeira do Grupo Simpar. Soares perguntou aos participantes do painel como a cultura da prestação de contas, transparência, gestão de riscos e RI da holding contribui nas empresas investidas e como esse processo interfere se alguma empresa investida possui uma cultura própria de Governança Corporativa e RI.

“Ter uma holding é, de fato, diferente de se ter uma empresa operacional. Fui Relações com Investidores do Itaú Unibanco por muitos anos e realmente a dinâmica é bastante diferente. No nosso caso, a holding é pura, não temos nenhuma atividade operacional, são participações em empresas que investimos, algumas somos co-controladores, outras temos acordos de acionistas com alguns vetos e limitações que temos direito, mas não temos nenhuma atividade operacional diretamente ligada às atividades da holding”, explicou Alfredo Setubal.

Ele mencionou que no portfólio de investimento da holding há empresas abertas e fechadas. “Pessoalmente gosto do modelo de empresa aberta, pois tem mais transparência, há prestação de contas, a empresa é obrigada a divulgar balanço, tem auditoria, tem comitês e comissões. Na Itaúsa, além de darmos credibilidade e apoio financeiro, o nosso papel mais importante é na Governança Corporativa”, frisou.

Setubal enfatizou que na governança há uma atuação firme e previamente discutida, pois sempre nos investimentos existe um acordo de acionistas. “Então, a governança é tudo, principalmente nas empresas onde somos minoritários”, acrescentou.

Para Paulo Caffarelli, a holding tem o papel de acompanhar a execução do plano de negócios das suas participadas e “isso vale tanto para as empresas de capital aberto quanto para as de capital fechado”. Ele reforçou que é muito importante respeitar a independência das empresas controladas, principalmente sob a ótica do acionista minoritário. “No aspecto da governança, a holding é a guardiã dos valores e da cultura da empresa”, declarou.

Caffarelli disse que “no Grupo Simpar, há três empresas de capital aberto e mais cinco empresas de capital fechado. Dentro desse processo de a holding ser a guardiã da cultura e dos valores, nós nos baseamos em seis princípios que são: clientes, gente, simplicidade, atitude de dono, sustentabilidade e lucro”.

Os palestrantes também abordaram temas como quando uma empresa da holding é de capital fechado e vai se tornar uma empresa de capital aberto, especialmente no que diz respeito às práticas de governança; e também discorreram sobre a atuação do profissional de Relações com Investidores em diferentes empresas com negócios diversos. “Se já é difícil ser RI de uma companhia, de uma holding a complexidade aumenta muito”, observou Geraldo Soares.

Caffarelli afirmou que o profissional da holding tem que orquestrar esse processo, sempre respeitando a independência das empresas, “mas acredito que facilita muito uma conversa dos representantes da holding com os demais profissionais das empresas, pois é preciso ser uníssono”.

Alfredo Setubal concordou que há muita complexidade nesse processo, inclusive comentou que os analistas e gestores de portfólio fazem “double check” (dupla checagem) das informações, por exemplo com o profissional de RI de uma das empresas controladas e, em seguida, com a holding para verificar se as informações estão alinhadas.

Antes de finalizar o painel, Geraldo Soares disse que a Comissão Organizadora do Encontro de Relações com Investidores decidiu fazer um reconhecimento a um profissional que fez grande contribuição para o mercado de capitais brasileiro, para o IBRI e para ABRASCA. “A Comissão discutiu sobre quem fez imensas contribuições ao desenvolvimento do nosso mercado de capitais e da profissão de Relações com Investidores e das companhias abertas. Este ano, por unanimidade, a Comissão decidiu oferecer um prêmio de reconhecimento a Alfredo Setubal, por tudo que ele fez para o mercado de capitais brasileiro”, anunciou Geraldo Soares ao presentear o homenageado com uma placa de prata.

Ao agradecer a homenagem, Setubal enfatizou a relevância de se participar de entidades de classe: “é muito importante dedicar tempo a isso e ajudar a construir o mercado. Tive a felicidade de participar de vários momentos do IBRI, da ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) e da antiga ANBID (Associação Nacional dos Bancos de Investimento).Fui um grande incentivador da autorregulação da ANBIMA. Fico muito grato e surpreso pelo reconhecimento. Faço RI com prazer e acredito que é um aprendizado contínuo”, finalizou.

Painel 3: O que o investidor espera do RI
O terceiro painel teve como tema “O que o investidor espera do RI”. Renata Oliva Battiferro, Vice-Presidente do Conselho de Administração do IBRI e Investor Relations General Manager da Gerdau, foi a moderadora do terceiro painel, que teve como debatedores: Robert Van Dijk, CEO da empresa de gestão de investimentos Principal Financial Group do Brasil; Thiago Duarte, Head de Research do Banco BTG Pactual; e Felipe Paiva, Diretor de Relacionamento com Clientes & Pessoas Físicas da B3 (Brasil, Bolsa, Balcão).

 “Sabemos que a área de RI é responsável pela comunicação da empresa com o mercado e o bom relacionamento entre todos os stakeholders acaba sendo fundamental no dia a dia de Relações com Investidores. Nosso objetivo acaba sendo estruturar um canal oficial de comunicação entre a empresa e o mercado: analistas, investidores e demais stakeholders. Transparência e coerência são pontos primordiais numa área de RI”, declarou Renata Oliva Battiferro.

Na primeira pergunta aos palestrantes, Renata Oliva quis saber como se dá a interação deles com o profissional de Relações com Investidores, visto que cada um tem públicos distintos. “O que vocês esperam da área de RI, o que falta e o que vocês vislumbram de interação para a área”, destacou.

Felipe Paiva, Diretor da B3, compartilhou suas impressões, especialmente do ponto de vista do investidor pessoa física. De acordo com ele, a nova geração de investidores está crescendo e colocando o patrimônio em diversos tipos de investimentos como caderneta de poupança, mercado acionário, CDB (Certificado de Depósito Bancário), dentre outros. “Temos visto também uma enxurrada de informações de analistas e pessoas com canais no YouTube falando das companhias”, comentou.

Ao falar sobre cenário futuro sobre a expectativa dos acionistas, Paiva acredita que haverá uma simplificação da comunicação. “O papel do RI é levar informação, humanizar a companhia e vejo também o papel do RI como aquele que faz o fortalecimento da marca”, opinou.

“Transparência, clareza, acessibilidade e conhecimento profundo são condições essenciais para que um bom RI possa fazer a interlocução com todos os stakeholders”, disse Robert Van Dijk. “Na verdade, é uma responsabilidade enorme, e, portanto, a figura do RI, a meu ver, está ganhando relevância cada vez maior e só crescerá”, ressaltou.

“Como analista, gosto de pensar que sou o porta-voz das companhias naquilo que elas estão tentando trazer ao mercado, na forma como elas se vendem e contam sua história. E penso na figura do RI como ele sendo o analista de uma empresa só. Cubro quase 30 companhias e divido meu tempo com aquilo que tem de informações públicas que essas companhias disponibilizam”, observou Thiago Duarte.

Para o executivo do BTG Pactual, o RI é “uma figura que faz mais ou menos o mesmo trabalho do analista só que para uma só empresa e com o benefício de estar dentro da companhia”. “O bom trabalho do profissional de Relações com Investidores está justamente na capacidade das pessoas desse departamento de RI de circular dentro da companhia e capturar as informações que são relevantes. Depois acontece a segunda parte do processo, ou seja, interagir ao contar a história da companhia para o mercado”, observou.

Ao falar sobre a interação com o profissional de RI em cenários turbulentos, Thiago Duarte disse que “cresceu exponencialmente a quantidade de ruídos de informação nos últimos anos e é muito importante a capacidade de filtrar o que importa, o que não importa, o que é razoável e, muitas vezes, o que é mentiroso. É parte do desafio”.

Renata Oliva Battiferro lembrou que se intensificou o uso da tecnologia e de redes sociais nos últimos anos. “Como você enxerga a utilização das redes sociais? No caso da área de Relações com Investidores, você acredita que essa quantidade de informações é uma ameaça para área de RI?”, questionou Renata Oliva Battiferro.

Felipe Paiva disse que não é ameaça, e sim a realidade. Ele reforçou a mensagem de que a comunicação deve existir. Segundo ele, o que está mudando ao longo dos anos é a forma. “As mudanças de comportamento das pessoas e as redes sociais têm criado um jeito diferente no comportamento das pessoas. Temos visto o conceito de experiências líquidas, ou seja, o que uma pessoa usa para consumir, transportar e ouvir música procura ter a mesma experiência no mundo de investimentos. Então, com um clique a pessoa pede uma comida, com um clique ela quer começar a investir”, afirmou.

Robert Van Dijk observou que o avanço da tecnologia é inexorável, assim como a velocidade das inovações. “A tecnologia é facilitadora. Nós podemos utilizá-la bem ou mal. Devemos ter a responsabilidade de fazer o uso da tecnologia com a melhor intenção de bem comunicar”, frisou. Segundo ele, hoje em dia as fake news vão tornar a vida mais desafiadora. “Temos que nos valer dos avanços tecnológicos, mas recaímos em um ponto essencial: utilizar a tecnologia para melhor informar com princípios éticos e com a neutralidade que isso exige”, concluiu.

Painel 4: A comunicação em situações de crise
O quarto painel do Encontro de RI foi conduzido por Marco Geovanne Tobias da Silva, Vice-Presidente de Gestão Financeira e de Relações com Investidores do Banco do Brasil, e participação de Salvador Dahan, Especialista em Governança, Riscos e Compliance; e Tereza Kaneta, Sócia do Grupo Brunswick. Dentre os temas abordados, os palestrantes falaram sobre a importância de se ter um plano de crise e o risco reputacional.

“Plano de crise deve conversar com o plano de risco, embora não estejam no mesmo guarda-chuva”, afirmou Salvador Dahan.

Para Tereza Kaneta, “planejamento é tudo. A empresa deve fazer um mapeamento de risco, bem como um plano de contingência. É fundamental na crise que exista o compromisso de ser ético e transparente”.

Marco Geovanne chamou atenção para o papel do profissional de RI dentro da gestão de crise. “O profissional precisa ter coragem de colocar o dedo na ferida, o que significa dizer que precisa trazer para discussão temas sensíveis dentro da companhia”, afirmou Geovanne.

“O RI tem papel fundamental na crise. Vocês são o termômetro do que está acontecendo lá fora. Vocês têm a responsabilidade de trazer mensagens e mostrar caminhos”, observou Salvador Dahan.

Para Tereza Kaneta, rede social é uma coisa que a empresa não pode deixar de considerar no plano de gestão de crise. “Muitas vezes, as redes sociais podem até ser a fonte da crise, mas podem, também, ajudar durante a crise”, observou.

Em sua mensagem final, Salvador Dahan reforçou a importância da transparência. “Não desmereçam o seu público, especialmente em situações de crise. Fornecer informação íntegra ajudará vocês a sair da crise menos afetado”, destacou.

Para Tereza Kaneta, hoje em dia não há desculpa para não se preparar para momentos de turbulência.“Os riscos estão aí, não tem desculpa para não se ter nenhum framework básico. A cultura da ética e da transparência é fundamental”, encerrou Tereza Kaneta.

Pesquisa Deloitte IBRI
Em painel especial foram apresentados os resultados da Pesquisa Deloitte IBRI com o tema “Evolução da agenda ESG: O impacto desta transformação na atividade dos RIs”. Rodrigo Lopes da Luz, Membro do Conselho de Administração do IBRI, moderou o painel, que contou com palestra de Reinaldo Oliari, Sócio de Audit & Assurance da Deloitte.

A agenda ESG (do inglês, Environmental, Social and Governance; em português, ASG – Ambiental, Social e Governança) continua a ter impacto significativo nas responsabilidades dos profissionais de Relações com Investidores e para as empresas do mercado de capitais. Este cenário destaca a importância dos indicadores de boas práticas de governança e de responsabilidade social e ambiental na área. No entanto, de acordo com a pesquisa Deloitte IBRI, apesar da divulgação dos indicadores de governança ocupar o mais alto nível de importância atualmente, na opinião dos entrevistados, a de ações ambientais se tornará igualmente relevante nos próximos dois anos.

O estudo foi realizado com 55 empresas, das quais 30% são listadas em Bolsas de Valores no Brasil ou no exterior. O levantamento mostra, ainda, que a padronização da taxonomia dos indicadores ESG pode colaborar com o processo de comparação das informações divulgadas ao mercado. Também aponta para a necessidade de que as organizações invistam em equipes ou pessoas especializadas em ESG para apoiar seus times de RI. Essa demanda sinaliza a inserção de um novo profissional no futuro do setor, o Controller ESG, responsável por analisar a sinergia entre as informações de responsabilidade Ambiental, Social e de Governança, e financeiro-contábeis, além de apoiar o planejamento estratégico.

“A agenda ESG é reconhecida como um fator impulsionador de oportunidades significativas para as empresas, o que evidencia a disposição das organizações em abordar essa temática não apenas como um requisito regulatório, mas como uma estratégia central para agregar valor aos seus negócios. Consequentemente, o mercado demanda profissionais com habilidades multidisciplinares e com conhecimento aprofundado sobre os indicadores ambientais, sociais e de governança”, afirma Reinaldo Oliari.

Perspectivas e possibilidades no âmbito do mercado de capitais
O estudo identificou as seguintes tendências e expectativas para o mercado de capitais: um aumento significativo nas exigências relacionadas à governança, riscos e controles (80%), a implementação de uma padronização nos relatórios e indicadores ESG (76%), o surgimento de novos canais de comunicação com investidores (47%) e uma maior atenção aos planos de continuidade de negócios (47%).

A jornada de transformação ESG
O crescente envolvimento dos profissionais de Relações com Investidores com temas ESG, indicado por 88% dos respondentes, reflete uma mudança na abordagem das empresas em relação a habilidades e conhecimentos necessários para a implementação de práticas e indicadores Ambientais, Sociais e de Governança. O relatório mostra, por exemplo, que 78% das empresas participantes já discutem questões de responsabilidade ambiental nas reuniões de Conselho de Administração. Assim, a inclusão de especialistas nessa área nas equipes de RI pode contribuir para a criação de valor de forma mais equilibrada e abrangente. De acordo com o relatório, 30% dos entrevistados afirmaram ter um especialista em ESG em sua equipe de RI, enquanto 17% têm planos de contratar um ainda este ano. O cenário também reforça o desafio do profissional de RI, além de avançar em seus conhecimentos multidisciplinares, procurar se especializar cada vez mais em temas e indicadores ESG.

Segundo o relatório da pesquisa Deloitte IBRI, as empresas devem promover avanços significativos na implementação das práticas ESG até 2030. Nesse sentido, as organizações que buscam antecipar essa jornada de transformação estão criando oportunidades para um desempenho aprimorado nos próximos anos. Em relação à importância de incorporar as questões ESG em suas estratégias de negócio, 85% das empresas responderam que planejam fazê-lo por meio da criação de métricas relacionadas ao tema, 65% pela incorporação dos valores ESG à identidade corporativa, 55% têm a intenção de estabelecer um Comitê de Sustentabilidade e 53% desejam promover ações ESG entre os colaboradores.

As empresas estão cada vez mais comprometidas em monitorar os indicadores ESG e devem continuar expandindo suas práticas de divulgação ao mercado, a fim de atender às crescentes expectativas dos stakeholders em relação à sustentabilidade e responsabilidade corporativa. Atualmente, quase todas as empresas respondentes monitoram indicadores ESG – Ambientais, 95% delas; Sociais, 94%; e de Governança, 93%. Dentre os indicadores, os sociais são os mais divulgados ao mercado (por 66% das empresas respondentes). Entre os indicadores específicos incluídos estão os de consumo de energia (83%), o volume de resíduos reciclados/enviados para reutilização (77%), os programas de treinamento para funcionários (82%), a saúde e segurança no trabalho (80%), o Código de Ética e Conduta (90%), o canal de denúncias (82%) e a privacidade de dados (80%).

Ao serem questionados sobre os desafios relacionados ao monitoramento de indicadores ESG e elaboração de relatórios, 61% dos entrevistados destacaram a falta de padronização dos dados como o principal problema, seguido pela escassez de equipe especializada (59%), a ausência de ferramentas para coleta de informações (57%), a dispersão das informações (41%) e a dificuldade em mensurar o impacto financeiro (39%).

A atuação dos profissionais de RI no contexto empresarial brasileiro
A pesquisa revela que, este ano, 30% das empresas testemunharam um aumento na participação do líder de RI (Relações com Investidores) nas decisões estratégicas da organização. Além disso, a pesquisa destaca as habilidades que melhor definem uma liderança de RI bem-sucedida, incluindo a capacidade de comunicar o valor percebido da empresa ao mercado (62%), o conhecimento em Governança (56%), a credibilidade com investidores de longo prazo (54%) e uma compreensão profunda dos indicadores, relatórios e metas relacionados a temas ESG (44%).

Quanto aos profissionais do setor, os principais obstáculos para seu desenvolvimento, apontados pelos respondentes, incluem a necessidade de conhecimento multidisciplinar (76%), a falta de visão estratégica ou planejamento (30%) e a falta de senioridade na articulação interna (26%). Contudo, ao superar esses obstáculos, eles têm a oportunidade de aprimorar suas habilidades de governança e de assumir um papel de destaque ou de maior envolvimento nas questões ESG, e alcançar um amadurecimento na gestão de crises.

“Vocês têm a responsabilidade sobre as informações que são divulgadas para o mercado. Não adianta ter os processos estruturados se a companhia não pratica o que tem no seu Código de Conduta”, disse Reinaldo Oliari.

Comunicação estratégica, avaliação de marca e ferramentas
Devido ao crescimento na participação dos investidores individuais no mercado acionário nos últimos anos, os stakeholders têm desempenhado um papel cada vez mais importante na percepção de valor das empresas – ainda que seja um grupo minoritário, o de Pessoas Físicas foi o que apresentou maior taxa de crescimento, de 17 pontos percentuais, entre 2018-2021, na comparação com 2023. Com isso, as empresas estão valorizando mais a interação em tempo real com os investidores, por meio de conferências on-line e presenciais, além de manterem a divulgação de informações nos canais já estabelecidos, como o website, e-mail e materiais para a Imprensa. Ainda, 96% das organizações têm incorporado princípios ESG nas comunicações.

Por meio da agregação de informações, é possível obter uma visão mais abrangente do perfil dos investidores, ao passo que a análise competitiva assegura que as empresas estejam em sintonia com as melhores práticas e tendências do mercado no que se refere à interação com público-alvo. Atualmente, 8% das organizações já estão utilizando ferramentas de inteligência artificial na área de RI, abrangendo áreas como análise de dados financeiros e de mercado, automação de tarefas repetitivas, chatbots para atendimento aos investidores, monitoramento de mercado e personalização de conteúdo para investidores.

Dentre os meios digitais para avaliar o grau de exposição da marca ao público, os webinars e o acesso direto ao site de RI são as principais maneiras utilizadas pelas organizações.

“A área de RI ainda deve manter-se atenta às ferramentas e soluções tecnológicas que podem apoiar seu dia a dia, tornando os processos mais eficientes. Atualmente, parte das empresas já utiliza ferramentas de inteligência artificial em RI, para atividades como análise de dados, automação de tarefas e atendimento aos investidores. Estes meios proporcionam eficiência, acesso à informação, comunicação efetiva, análise avançada e conformidade. E com isso, capacitando os profissionais a desempenharem um papel estratégico na interação com os investidores e no sucesso da empresa no mercado de capitais”, declarou Rodrigo Lopes da Luz.

O sócio da Deloitte lembrou do papel fundamental do IBRI para a capacitação do profissional de RI e destacou: “a área de RI é cada vez mais acionada; antes ela era apenas comunicada. Hoje, o RI sempre é chamado nas tomadas de decisão”.

“Temos o papel de protagonistas. Se vocês estiverem revisando com o CEO o material a ser divulgado e notarem algo errado, RIs exerçam seu papel e falem”, incentivou Rodrigo Luz.

Metodologia e amostra
A pesquisa “Evolução da agenda ESG: O impacto desta transformação na atividade dos RIs” foi elaborada com base em questionário on-line, entre 27 de abril e 30 de maio de 2023. Participaram do estudo 55 empresas, entre as quais 30% estão listadas em Bolsas de Valores, no Brasil ou no exterior, e 56% têm receita líquida acima de R$ 500 milhões. Entre os respondentes, 80% ocupam cargos executivos, 48% atuam em cargos de Conselho, Relações com Investidores, Relações Institucionais, Governança e Riscos e Sustentabilidade/ESG. Participaram do levantamento empresas dos setores de prestação de serviços (29%), infraestrutura (25%), bens de consumo (18%), agronegócios, alimentos e bebidas (9%) e serviços financeiros. Mais informações: https://www2.deloitte.com/br/pt/pages/audit/articles/pesquisa-ibri.html

Painel 5: ESG - Evolução e Regulamentação
“Vamos falar mais a respeito da regulação sobre ESG neste painel. A temática ESG está sendo cada vez mais discutida e há o desafio jurídico para oferecer mais segurança ao profissional de Relações com Investidores”, destacou Henrique Filizzola, Sócio da Stocche Forbes Advogados e moderador do quinto painel.

Henrique Filizzola fez a apresentação dos palestrantes do painel: Arturo Rodríguez, Senior Market Leader for Ibero-America – IFRS, Ross Kaufman, Sócio do escritório Greenberg Traurig; e Luciana Mares, Sócia do escritório Cescon Barrieu.

Arturo Rodríguez e Ross Kaufman abordaram sobre a regulamentação global e o que está acontecendo nos mercados com relação a essa temática. Luciana Mares discorreu sobre a “Regulamentação CVM e Perspectivas”.

No início de sua palestra, Arturo Rodríguez mencionou a divulgação, em 26 de junho de 2023, das normas inaugurais IFRS S1 e IFRS S2 emitidas pelo ISSB (International Sustainability Standards Board).

A IFRS S1 fornece um conjunto de requisitos de divulgação destinados a permitir que as empresas comuniquem aos investidores os riscos e as oportunidades relacionados à sustentabilidade que enfrentam em curto, médio e longo prazo. A IFRS S2 estabelece divulgações específicas relacionadas ao clima e foi projetada para ser usada com a IFRS S1. Ambas incorporam integralmente as recomendações da Task Force on Climate Related Financial Disclosures, afirmou Arturo Rodríguez.

Para Ross Kaufman, “é muito importante dar disclosure correto, ou seja, apresentar as informações sobre as práticas relacionadas ao tema e realizar a transmissão de forma fiel”.

Ao focar na regulamentação da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), Luciana Mares disse que a regulamentação sobre ESG no Brasil ainda é incipiente e “o que temos de mais robusto é o novo Formulário de Referência”.

A Resolução CVM 59, que altera a Instrução CVM 480, trouxe inovações substanciais sobre o regime informacional de emissores de valores mobiliários. A reforma promoveu a redução do custo de observância para emissores e a maior acessibilidade de informações aos investidores, ao eliminar redundâncias de prestação de informações e simplificar o conteúdo de exigências remanescentes. As mudanças contemplaram redução do custo de observância e previsão de normas de divulgação de informações de caráter ASG (Ambiental, Social e de Governança), concluiu Luciana Mares.

Painel 6: Tendências globais para um RI Digital
O último painel do evento foi moderado por Rodrigo Maia, Coordenador da Comissão de Desenvolvimento Internacional do IBRI, e contou com as palestras de David Duarte, Professor do curso de Ciência de Dados da NOVA IMS; Isabel Ucha, Presidente do Conselho de Administração da Euronext Lisbon; e Jorge Miguel Bravo, Professor e Diretor do curso de Ciência de Dados da NOVA IMS.

 “Foi muito gratificante ter sido o CEO do IBRI, em 2022, pois pude entender as dores dos profissionais de Relações com Investidores e o que podemos fazer para evoluir. Teremos uma conversa com importantes agentes de mudança aqui na Europa. Este é um momento muito especial para o IBRI que busca expandir suas fronteiras e estabelecer um capítulo na Europa, onde essas parcerias se tornarão muito especiais”, destacou Rodrigo Maia no início do sexto painel.

Para Rodrigo Maia, digitalização, globalização e ciência de dados se mostram elementos fundamentais para os profissionais de Relações com Investidores. “A digitalização permite o acesso rápido e eficiente a informações financeiras e corporativas, facilita a tomada de decisões estratégicas e a comunicação com investidores em tempo real. A globalização expande fronteiras, oferece oportunidades de investimentos em mercados internacionais, exigindo dos profissionais de RI uma compreensão abrangente e atualizada das tendências mundiais, das necessidades dos investidores estrangeiros”, declarou.

A ciência de dados possibilita a análise e interpretação de um volume grande de informações, permitindo identificar padrões, tendências, insights valiosos para a formulação de estratégias de comunicação e relacionamento com os investidores, acrescentou Rodrigo Maia.

“Ao dominar essas ferramentas, os profissionais de RI são capazes de se adaptar às demandas em constante evolução do mercado, fortalecendo a reputação das empresas e fornecendo informações relevantes e precisas aos investidores promovendo a transparência e a confiança dos mercados financeiros”, enfatizou Maia.

Isabel Ucha destacou que a Europa é “uma enorme oportunidade de investimento e globalização para empresas brasileiras, mas também para obter financiamento para os seus projetos, crescimento e expansão por meio do mercado de capitais, que é muito desenvolvido e onde se concentra um enorme volume de poupança”.

A Euronext se destaca entre as principais Bolsas de Valores do mundo, sendo infraestrutura líder no mercado de capitais europeu com presença em 15 países e mais de 2.000 empresas listadas, afirmou Isabel Ucha. “Temos empresas large caps listadas, bem como de média e pequenas dimensões”, disse.

O professor Jorge Miguel Bravo comentou como os profissionais de Relações com Investidores podem se preparar para um mundo mais digital e globalizado, cumprindo a função de administrar expectativas e sendo “ponte entre a empresa e o mercado, funcionando em ambas as direções”.

“O que muda num mundo mais digital e globalizado é o potencial para atrair a atenção de um público diverso com expectativas e características distintas. Isso impõe desafios, que são diferentes dos enfrentados pelos profissionais de RI, que se dedicam apenas ao mercado doméstico, observou Jorge Bravo. “A digitalização obriga o RI a desenvolver uma estratégia multicanal, ou seja, além das conference calls, dos roadshows, dos earnings call, websites, os profissionais de RI tenderão a usar de forma crescente os canais digitais”, afirmou.

O professor David Duarte discorreu sobre o ChatGPT e Inteligência Artificial, destacando que um dos pontos de preocupação é a capacidade dessas tecnologias. Segundo ele, é preciso tomar cuidado ao se tomar decisões financeiras baseadas em textos ou informações que foram produzidas por esse tipo de tecnologia, pois eles podem fornecer informações erradas. “É bom ter algum conhecimento de como essas tecnologias funcionam e ter consciência crítica para conseguir avaliar se a informação é válida - ou não - e se vale a pena ser utilizada. Estamos em um momento fascinante da tecnologia e da capacidade do algoritmo”, observou.

Rodrigo Maia finalizou o evento e agradeceu a todos os participantes da 24ª edição do Encontro Internacional de Relações com Investidores e Mercado de Capitais.

O 24º Encontro Internacional de Relações com Investidores e Mercado de Capitais foi patrocinado pelas empresas: B3; Banco do Brasil; blendON; BNY Mellon; Bradesco; BTG Pactual; Cescon Barrieu Advogados; DATEV; Deloitte; Gorila; Greenberg Traurig; Itaú Unibanco; Luz Capital Markets – Printer; NOVA IMS; MZ Group; Petrobras; S&P Global Market Intelligence; Stocche Forbes; TheMediaGroup e Valor Econômico. O evento teve como Parceiros de Mídia: Portal Acionista e Revista RI. Além disso, o evento contou com o apoio institucional das seguintes entidades: ABRAPP; ABVCAP; AMEC; ANBIMA; ANCORD; APIMEC Brasil; CFA Society Brazil; CORECON-SP; FACPCS; IBEF-SP; e IBRACON.

Mais informações: https://www.encontroderi.com.br


Continua...