Governança Corporativa

RI & GOVERNANÇA

Estão contados os dias em que as demonstrações financeiras de uma companhia eram suficientes para que investidores fizessem suas decisões de investimento. Além de saber se uma companhia dá lucro ou prejuízo, o investidor moderno quer saber dos bastidores que geraram esse resultado. Uma pesquisa, intitulada: “Tomorrow’s investment rules: global survey of institutional investors on non-financial performance”- realizada pela EY (Ernst & Young) junto a 163 investidores institucionais, revela que para 89% deles, informações não-financeiras foram essenciais em pelo menos uma decisão de investimento nos últimos 12 meses.

Muitos departamentos de relações com investidores (RI), porém, não estão bem preparados para lidar com questões “extra-financeiras” e pecam também ao não transmitir informações vindas do mercado financeiro para a alta diretoria da empresa. Isso de deve, muitas vezes, ao fato de que departamentos de RI estão “super-especializados” em finanças, e falta justamente a função de comunicação que eles naturalmente deveriam exercer.

A função de RI é tão velha quanto as companhias abertas, mas, segundo o National Investor Relations Institute (NIRI), o equivalente ao Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (IBRI) nos Estados Unidos, a especialização dessa função começa a acontecer durante a década de 1950 naquele país. Com o rápido aumento de renda da classe média norte-americana durante esse período, companhias abertas começaram a competir entre si por investidores. A inovadora nessa área foi a General Electric, que, em 1953, sob a liderança de Ralph Cordiner, contratou profissionais do ramo de relações públicas para melhor entender quem eram seus investidores e como melhor se comunicar com eles. Mas, pouco depois, outras companhias fizeram o mesmo.

Já na década de 1970, com a crescente influência de investidores institucionais e com o avanço na área de finanças tanto em termos teóricos quanto tecnológicos, criou-se uma demanda por um maior conhecimento financeiro na área de RI. Assim, os profissionais do ramo, que até então vinham da área de comunicação social, passaram a vir da área de contabilidade e finanças. Ironicamente, ao mesmo tempo em que os departamentos de RI deixavam de lado sua especialização em comunicação, criava-se uma necessidade ainda maior de comunicação. Investidores institucionais, demandavam maior atenção. E além de divulgar informações para a grande mídia, o trabalho de RI passava também a ser voltado a diálogos individuais com grandes investidores. Com essa nova dinâmica, ficou claro que os departamentos de RI precisavam não só de fornecer informações, mas também de escutar a opinião dos investidores.

Até hoje, porém, muitas companhias não têm mecanismos formais para captar e processar a opinião de seus investidores. Institutos de RI pelo mundo todo enfatizam a importância dessa função de receptor de informações. Em seu “Guia de RI”, o IBRI reconhece que a comunicação com os investidores deve acontecer por uma via dupla de informações:

Cabe ao profissional de RI atuar simultaneamente em dois sentidos: levando informações da companhia para seus públicos estratégicos e trazendo para a empresa o necessário retorno que irá mostrar as demandas e necessidades desses públicos.”


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