RI

“ESTÁ CADA VEZ MAIS FÁCIL SER RI...”

Há que se buscar a valorização da profissão de RI para que o Diretor de Relações com Investidores deixe de ser um cargo acumulado por um executivo (geralmente CEO ou CFO) e passe a contar com dedicação exclusiva.

Proximidade com a alta gestão, boa remuneração, área que só gera despesas, agenda cheia de viagens (principalmente ao exterior), participação em eventos, muitas reuniões, o departamento que apenas cobra as informações e só trabalha mesmo a cada três meses. Esses são alguns dos “clichês” aplicados aos departamentos de relações com investidores por outras áreas, na maioria dos casos, em empresas mais recentemente listadas na Bolsa de Valores. Mas também há relatos similares em empresas tradicionais, com largo histórico no mercado de capitais.

Se fosse em uma conversa informal, o bordão “sabe de nada, inocente” teria um momento perfeito para ser empregado.

Não há duvidas que, nos últimos dez anos, a atividade e a profissão de relações com investidores registrou avanços significativos, acompanhando a evolução do mercado de capitais brasileiro. Deixou de ser uma atividade “amplamente desconhecida” para se tornar “vagamente conhecida” - ao menos no meio financeiro. Contribuíram para isso, de forma significativa, o boom de abertura de capitais em 2006 e 2007, a grande e importante atuação do IBRI - Instituto Brasileiro de Relações com Investidores, e a Revista RI - com mais de 16 anos de edições mensais ininterruptas.

O crescimento da demanda por profissionais no mercado, frente às novas empresas listadas em Bolsa, teve duplo efeito. Por um lado, foram alocados na função em algumas companhias profissionais de outras áreas que não tinham na época qualquer experiência ou mesmo noções das atividades de relações com investidores. Isso levou a algumas falhas no atendimento de obrigações básicas – ou não tão básicas, alguns tropeços na divulgação de informações, e mesmo a contratações de serviços não plenamente adequados.

Por outro lado, especialmente à medida que as falhas ocorriam, percebeu-se que o foco na capacitação, formação e valorização do profissional eram fundamentais no desenvolvimento da atividade. Também contribuíram algumas companhias que foram muito competentes na elaboração de seus programas de relações com investidores, além de contarmos no País com grandes profissionais que hoje se tornaram referência para os iniciantes (não serão citados nomes para não incorrer em injustiça, eventualmente, esquecendo um ou outro nome).

Porém, nem tudo são flores, principalmente, se considerarmos os anos de 2013 e 2014 (talvez 2012 já tenham dado sinais disso). Não se pode afirmar, com convicção, mas não seria fantasioso supor que o crescimento da demanda levou ao movimento mais básico da economia: demanda maior que a oferta resulta em aumento dos preços, neste caso, da remuneração. Quem não se lembra da “dança das cadeiras” entre 2006 e 2007? Talvez isso tenha sido o catalisador de um movimento observado no período citado. Procurando ser mais claro: sem exigir muito esforço, para quem está há mais de cinco anos no mercado é fácil se lembrar de, no mínimo, três profissionais com larga experiência que estão fora do mercado no momento. Em sua maioria, profissionais sêniores, com reconhecida competência.

Ou seja, o “movimento” a que se refere o parágrafo anterior é o de companhias abertas, ou prestes a abrirem o capital, recorrerem à profissionais sem experiência, muitas vezes buscando internamente nas áreas de planejamento, marketing, tesouraria, finanças e mesmo no jurídico, o profissional para assumir as funções de RI. Mais uma vez, apenas para não ocorrer em mal entendimento, é preciso esclarecer que não se afirma aqui que tais profissionais são inaptos para a função. Muito pelo contrário, como a atividade de RI é multifuncional, já que é preciso possuir (ou acumular) habilidades em marketing, finanças, direito, idiomas, redação, além de muito jogo de cintura, permite a atuação de profissionais com as mais variadas formações.


Continua...