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Sustentabilidade

O QUE FALTA PARA ASSEGURAR A SUSTENTABILIDADE?

Lançado em 2005 o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) objetiva ser uma ferramenta para análise comparativa da performance das empresas listadas na Bolsa de Valores sob o aspecto da sustentabilidade corporativa, baseada em eficiência econômica, equilíbrio ambiental, justiça social e governança corporativa.

Também amplia o entendimento sobre empresas e grupos comprometidos com a sustentabilidade, diferenciando-os em termos de qualidade, nível de compromisso com o desenvolvimento sustentável, equidade, transparência e prestação de contas, natureza do produto, além do desempenho empresarial nas dimensões econômico-financeira, social, ambiental e de mudanças climáticas.

Tragédia
Face à grande tragédia ambiental recentemente ocorrida, a Samarco publicou um comunicado na homepage do seu site, como segue:

“SAMARCO INFORMA: Diante do rompimento das barragens de Fundão e de Santarém, na unidade industrial de Germano, localizada nos municípios de Mariana e Ouro Preto, em Minas Gerais, identificada na tarde do dia 5 de novembro, a Samarco informa que está mobilizando todos os esforços necessários para priorizar o atendimento aos atingidos pelo acidente e mitigar os danos ambientais”.

Segundo seu CEO a forte preocupação no momento é a integridade das pessoas e do meio ambiente. Além disso, segundo a empresa a última fiscalização nas barragens ocorreu em Jul/2015 com indicação do órgão competente de que estavam em totais condições de segurança.

Noticiada nos principais meios de comunicação, a tragédia foi considerada uma avalanche equivalente ao volume de 10 Lagoas Rodrigo de Freitas (RJ) que se abateu sobre 300 casas e desfigurou não só a arquitetura, mas a vida e a memória de quem morava ali. A seguir os números da tragédia.

Samarco
Fundada em 1977, a Samarco é uma empresa brasileira de mineração, de capital fechado, controlada meio-a-meio por: BHP Billiton Brasil Ltda. e Vale S.A. Contando com a força de 6 mil empregos diretos e indiretos, a empresa é uma das líderes da mineração mundial na produção de pelotas de minério de ferro, fabricadas a partir da transformação de minerais de baixo teor em um produto nobre, de alto valor agregado, e comercializado para a indústria siderúrgica mundial. A Samarco é uma empresa exportadora, que figura há anos entre as maiores do país, tendo ocupado, em 2014, a 10ª posição, de acordo com o MDIC. As vendas de pelotas de minério de ferro e finos abrangem mercados como Américas, Oriente Médio, Ásia e Europa, em 19 países. Desde o 1º semestre de 2014, a capacidade nominal produtiva caminha para o patamar de 30,5 milhões de toneladas anuais.

Desde 2005 a Samarco publica seu RAS (Relatório Anual de Sustentabilidade – http://bit.ly/1PxV939). Em 2014, pela primeira vez, o RAS foi publicado seguindo a versão G4 das diretrizes da Global Reporting Initiative (GRI), um padrão de relato mais moderno, objetivo e com foco nos principais temas materiais, revistos e definidos após consulta aos seus públicos de relacionamento. Para conferir maior foco à comunicação, a Samarco optou pela adesão à opção De Acordo – Essencial das diretrizes GRI G4, relatando ao menos um indicador por aspecto material. A verificação externa do RAS foi feita pela PWC Auditores Independentes.

Segundo a Samarco a questão ambiental é um tema levado muito a sério e que permeia todas as atividades da empresa, sendo fundamental nas discussões sobre novos projetos, estratégias e investimentos. Além disso, as ações de meio ambiente não são definidas de dentro para fora. As decisões são participativas e envolvem a sociedade, já que os melhores resultados nesse setor são conseguidos a partir da conscientização mútua. Enfatizado em sua Missão, a empresa acredita que somente com a utilização racional e consciente dos recursos naturais e a adoção de cuidados ambientais em todas as suas atividades seja possível caminhar rumo ao desenvolvimento sustentável.

A Samarco foi a primeira empresa de minério de ferro do mundo a receber a certificação ISO 14001 para todas as etapas do processo produtivo. O Sistema de Gestão Ambiental é um compromisso da empresa em minimizar, cada vez mais, os impactos ambientais de suas atividades. Além disso, permite que as áreas internas acompanhem essa evolução.

Reportando-nos ao ISE, atualmente sua carteira teórica possui 50 ações de 40 companhias, cujas três maiores participações somam 33,6% por: Vale (dona de 50% da Samarco), BRF e Cielo. O valor de mercado atual da carteira do ISE é de R$984bilhões e seu crescimento desde a sua criação em 2005 foi de 169%. Veja o gráfico a seguir:

Evolução do Valor de Mercado das Companhias do ISE – Nov/2005 a Set/2015 
Evolução do Valor de Mercado das Companhias do ISE – Nov/2005 a Set/2015. Fonte: BM&FBovespa
Fonte: BM&FBovespa

Em tese, podemos afirmar que não foram poucos os cuidados e as preocupações da Bovespa e da própria Samarco em atender aos interesses de seus stakeholders, em particular aqueles relacionados à Responsabilidade Ambiental e Social.

Surge então a questão: O que falta para assegurar a sustentabilidade numa situação semelhante à ocorrida com a Samarco e que poderia estar também acontecendo neste momento com algumas das 40 companhias que fazem parte do ISE?

  • Um sistema eficiente de contingência e de alerta de riscos, diferente de telefones ou mesmo sirenes?
  • Uma postura mais rígida de intolerância à riscos em localidades que vivem à sombra de reservatórios de rejeitos industriais?
  • Uma governança corporativa mais responsável com maior consciência dos acionistas, conselheiros, gestores e funcionários para os riscos ambientais?
  • A revisão da Lei 12.334 que criou em 2010 a Política Nacional de Segurança de Barragens que consta ser falha na definição de instrumentos de alerta em casos de emergência?

Luiz Guilherme Dias
é sócio-diretor da SABE Consultores, Consultor de Empresas e Conselheiro Certificado.
lg.dias@sabe.com.br


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