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Entrevista

JOÃO DORIA, PREFEITO DE SÃO PAULO PERSONALIDADE DO ANO 2017

João Doria foi eleito em 2016, prefeito da cidade de São Paulo com 53,29% dos votos, tendo sido o primeiro candidato a vencer no primeiro turno na capital paulista desde 1992. Em quatro meses de gestão, contando com altos índices de aprovação – e atuando também como um legítimo "profissional de Relações com Investidores (RI)" - já realizou duas importantes viagens "roadshows" internacionais - aos Emirados Árabes e Coreia do Sul - para apresentar à potenciais investidores estrangeiros oportunidades de negócios na capital paulista por meio de privatizações, concessões e parcerias público-privadas e investimentos diretos. No Brasil, também busca sensibilizar a comunidade empresarial e investidores sobre potenciais negócios e parcerias.

João Agripino da Costa Doria Junior, ou simplesmente João Doria, 59 anos, empresário, jornalista, publicitário e, agora, prefeito de São Paulo - filiado ao PSDB, é fundador e presidente (licenciado) do Grupo Doria, que reúne seis empresas, entre elas, o LIDE - Grupo de Líderes Empresariais, agência de promoção de eventos fundada em 2003, que conta com empresários de 1.700 empresas nacionais e multinacionais associadas (representando 52% do PIB privado do Brasil), que tem o objetivo de discutir temas econômicos e políticos de interesse nacional; defender a ética, os princípios democráticos e a eficiência de gestão e sensibilizar o setor privado para programas comunitários, com prioridade para educação e formação profissional, entre outros.

De 1983 à 1986, João Doria atuou como Secretário Municipal de Turismo e presidente de Paulistur, sob a gestão do prefeito de São Paulo Mário Covas. Em 1984, participou da organização da campanha "Diretas Já" a pedido do então governador de São Paulo André Franco Montoro. De 1986 à 1988, foi presidente da Embratur e do Conselho Nacional de Turismo. Em 2001, ingressou no PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira e, em 2007, liderou o movimento cívico "Cansei" pelos direitos dos brasileiros em meio ao escândalo político do "Mensalão". De 1979 à 1982, foi diretor de Comunicação da Rede Bandeirantes de Televisão e, de 1981 à 1983, professor de Marketing da Fundação Armando Álvares Penteado, em São Paulo. Foi também fundador e vice-presidente da São Paulo Convention & Visitors Bureau. Também foi apresentador de dois programas de televisão: "Show Business" na TV Bandeirantes, e "Face a Face", na BandNews. De 2010 à 2011, apresentou o reality show "O Aprendiz". Em 2012, pelo quarto ano consecutivo, Doria foi nomeado uma das 100 pessoas mais influentes do Brasil e do mundo pela revista IstoÉ. Em 2014, foi eleito um dos 100 líderes mais respeitáveis ​​do Brasil pela empresa européia Merco.

O estreito diálogo de Doria com setor privado já vem rendendo frutos, na forma de doações à Prefeitura, o que inclui carros e motos para a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), assim como medicamentos e atendimento médico para a população. É tudo muito inovador em uma gestão municipal, o que tem gerado controvérsias. Mas um fato não pode ser ignorado, João Doria tem chamado atenção. Se autodefinindo como um gestor, e não um político, destaca que a experiência que teve na área empresarial pode fazer a diferença na sua atuação na esfera pública.

No dia 15 de maio, Doria fará uma palestra para empresários e investidores internacionais no Harvard Club, em Nova York, sobre o tema: "Cenário político brasileiro: uma guinada para a centro-direita?", em Conferência organizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). E, no dia seguinte (16/05), será homenageado pela Brazilian American Chamber of Commerce como "Personalidade do Ano 2017" (Person of the Year), em cerimônia de gala que ocorrerá no Museu de História Natural, da cidade de Nova York.

A premiação "Person of the Year", organizada anualmente, desde 1970, pela Câmara de Comércio Brasileiro-Americana, homenageia dois destacados líderes (um brasileiro e um norte-americano) que tenham contribuído para o estreitamento de laços entre as duas nações. A cada ano, mais de 800 líderes da comunidade internacional das áreas de negócios, finanças e diplomáticas se reúnem em Nova York, nesta já tradicional cerimônia, para prestar tributo aos laureados. Pelo lado americano, o homenageado será Thomas A. Shannon, Jr., secretário-geral das Relações Exteriores do Departamento de Estado norte-americano. Este ano, o evento contará com a apresentação do lendário empresário e ex-prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, que Doria afirma ser uma inspiração para ele.

Acompanhe a seguir, a entrevista exclusiva concedida por João Doria à Revista RI. 

RI: O senhor se define como um gestor, e não um político. Se por um lado há muitos que consideram isso positivo porque indica que com uma boa gestão as coisas irão funcionar de forma eficiente e célere, por outro lado, considerações negativas indicam que a adminis­tração pública é totalmente diferente, pressupõe o diálogo, atendimento às neces­sidades e respeito aos direitos dos cida­dãos, ou seja, a con­strução de políticas públicas é bem mais complexa. Qual é a sua avaliação sobre isso? Qual é o real significado de ser um gestor? Como o sen­hor se preparou para assumir a função de prefeito?

João Doria: Me preparei com a minha vida de empresário e empreendedor, e que agora eu coloco em prática no setor público brasileiro, como prefeito da cidade de São Paulo. Ser um bom gestor no setor privado pode ser um parâmetro para ser um bom gestor no setor público. Evidentemente que há diferenças do ponto de vista de aplicação de tarefas e práticas, mas o sentido, o objetivo, e a qualidade do que se faz são iguais. É preciso apenas levar em conta que a prioridade no setor público será sempre para os mais pobres e os mais humildes.
 
RI: Um dos ícones entre os profissionais de Relações com Investi­dores (RI), o já fal­ecido Silvio Guerra, que esteve por muit­os anos à frente da área de RI da Locali­za, conte­mplado com diversos prêmios por sua atuação nessa área, defe­ndia que as Prefeitu­ras - a maioria com recursos escassos pa­ra assegurar serviços aos cidadãos, orça­mentos deficitários ou necessitando de repasses da União para sobreviverem – teriam que atrair investi­mentos privados. Para isso, as administr­ações municipais deveriam contar com profission­ais de Relações com Investidores (RI), a exemplo do que acon­tece em diversos países desenvolvidos. O senhor busca atrair investimentos para a cidade de São Paulo e tem feito o papel de "um verdadeiro profissional de RI". O senhor já pensou em ter um profissional ou uma equipe dedi­cada exclusivamente à atividade de RI na Prefeitura, divulg­ando e esclarecendo as oportunidades para o mercado, invest­idores, mídia espec­ializada e etc.?

João Doria: Nós já temos. O nosso secretário de Desestatização e Parcerias, Wilson Poit, é um empresário, um empreendedor, veio do setor privado e está dedicado ao amplo programa de privatização e parcerias público-privadas que estamos realizando de forma pioneira na cidade de São Paulo. Wilson Poit dedica integralmente o seu tempo para viabilizar esse programa de desestatização junto ao setor privado, com a participação, inclusive, de leilões na bolsa de valores.
 
RI: De que maneira se darão os leilões? Como a Prefeitura prete­nde dar transparência aos processos? Qual a sua avaliação sobre a governança do poder público mun­icipal? Há efetivame­nte uma estrutura de governança?

João Doria: Há essa preocupação sim, inclusive, empresas de consultoria foram contratadas, sem custo para a Prefeitura, entre as quais, eu destaco a Falconi e a McKinsey, que estão assessorando o trabalho do secretário Wilson Poit para o Programa Municipal de Desestatização. Tenho absoluta confiança que essa transparência e eficiência serão mantidas, lembrando ainda que os leilões serão feitos na B3 (ex-BM&F Bovespa), a maior bolsa de valores da América Latina.

RI: A Câmara Municipal já aprovou em primei­ra votação, com 34 votos a favor e 9 con­tra, o projeto de lei que altera a estru­tura da SP Negócios e cria a SP Parceria­s, que será responsá­vel pelos projetos de desestatização na cidade. Na sua visão, esse projeto passa­rá com tranquilidade pela segunda votação ou poderão surgir entraves pelo caminh­o? O que a Prefeitura está fazendo para facilitar esse proce­sso? E o que poderá aconte­cer caso o projeto seja reprovado?

João Doria: Esse projeto não será reprovado. Temos plena confiança da aprovação por parte da Câmara Legislativa da cidade de São Paulo.

RI: Quais vantagens que o programa de desestatização tr­ará à população? Há críticos em relação a esse tema que afir­mam, por exemplo, que a população perderá bens públicos...O que acontecerá de fato?

João Doria: O maior bem público que a população pode ter é seu bem-estar, é ter saúde, educação, trabalho e oportunidade de vida. O que adianta a população ser dona de algo que não é dela, que ela não desfruta, que não reproduz benefícios nem para ela, nem para seus filhos nem para as novas gerações: rigorosamente nada. Servir ao público é dar oportunidade de vida, de estudo, de preparo, de trabalho, de evolução na vida, de ter autonomia e ter a sua própria cidadania. Isso sim é uma política pública realista, moderna e transformadora.

RI: A Prefeitura tem noç­ão do impacto do Mer­cado de Capitais na economia paulista? Quantificar esse impa­cto não seria import­ante para que esse Mercado possa se torn­ar um eixo estratégi­co de ação para a Prefeitura?

João Doria: Será relevante, mas não nesse momento. O Brasil ainda vive, infelizmente, o final de um processo recessivo. Muito em breve, ainda neste ano de 2017, será possível fazer um levantamento mais preciso do potencial desse mercado. Principalmente a partir de 2018 teremos mais condições e vamos fazê-lo.
 
RI: Como prefeito de São Paulo, a sua prime­ira viagem internaci­onal foi aos Emirados Árabes, onde passou por Dubai, Abu Dha­bi e Doha e se reuniu com representantes de grandes fundos de investimento e emp­resários e apresentou 55 projetos de pri­vatizações, concessõ­es ou Parcerias Públ­ico-Privadas (PPPs). Como foi essa exper­iência? Qual a recep­tividade? Qual o perfil de inv­estidor que o senhor está buscando no ex­terior: fundos soberanos, fundos de inve­stimentos, fundos de pensão...? Os gestores desses fundos manifestaram interesse em investir na cidade de São Pa­ulo?

João Doria: A receptividade foi muito boa até porque a imagem do Brasil começa a melhorar e a perspectiva para novos investimentos também. Embora os investimentos ainda não tenham se materializado, tanto a viagem aos Emirados Árabes, ao Catar, quanto a viagem à Coreia do Sul demonstraram forte potencial de oportunidades para a cidade de São Paulo, seja através do programa de privatização assim como de investimentos diretos em diferentes setores da economia, especialmente, nas áreas imobiliária, construção civil, tecnologia, serviços e comércio.
 
RI: Em referência a viagem a Se­ul, capital da Coreia do Sul, com foco em PPPs nas áreas de educação e saúde. Qu­ais os planos da Pre­feitura nesse sentid­o, ou seja, potencia­is oportunidades? O senhor dialogou com quais empresas e/ou in­stituições sul corea­nas?

João Doria: Entramos em contato com os dois maiores fundos de investimentos, assim como com os dois maiores bancos privados e as três maiores empresas privadas da Coreia do Sul. Onde realizamos reuniões com seus respectivos boards. Todos se mostraram bastante motivados em relação à São Paulo e com perspectivas de médio e longo prazo. No caso das empresas que já possuem atividadesem São Paulo - Samsung, LG e Hyundai, demonstraram interesse de voltarem a investir na expansão dos seus negócios aqui. Assim como, existe a possibilidade de novos investidores - como bancos e fundos de investimentos.
 
RI: Em outra frente, a Prefeitura recebeu mais de R$ 270 milhões em doações de empr­esas, o que inclui medicamentos, materia­is escolares, automó­veis e motocicletas, entre outros. Há tr­ansparência em relaç­ão a essas doações? Essa área também é alvo de críticas que avaliam que as compa­nhias têm feito doaç­ões porque buscam al­guma contrapartida ou vantagem da Prefei­tura...Qual é o real interesse dessas em­presas?

João Doria: O interesse dessas empresas é o de serem empresas cidadãs. Esse é o apelo que eu tenho feito, para que compreendam a importância do gesto solidário, sobretudo, junto às comunidades que mais precisam de apoio e suporte para que o Brasil possa mudar. Caso contrário, poderemos ter um grave arrependimento em 2018, com a volta do populismo, das mentiras e das promessas de um futuro melhor para essa população. O Brasil não precisa mais de promessas, precisa de atitudes, iniciativas, exemplos reais, verdadeiros, e transparentes de transformação.

RI: O Brasil vive em um momento de reformas profundas em suas estruturas políticas e econômicas. Hoje se aborda questões como reforma trabalhista e política, algo impensável há alguns anos atrás. Pensando em cenários, gostaria de saber o que o senhor vislumbra em três cenários: avanço das reformas, não avanço das reformas e reformas menores do que o defendido pe­la equipe econômica?

João Doria: As reformas são fundamentais para o presente e, sobretudo, para o futuro do País. Se as reformas não forem feitas agora, o futuro do Brasil estará comprometido, infelizmente.

RI: O senhor tem planos mais ambiciosos na política? Pretende di­sputar eleições em 2018 - seja para gove­rnador do Estado de São Paulo ou até para pre­sidência da República?

João Doria: O que pretendo é ser um bom prefeito da cidade de São Paulo e cumprir o mandato para o qual fui eleito. Meu objetivo é exercer com eficiência e inovação a gestão da Prefeitura da maior cidade brasileira.

RI: O senhor está sendo homenageado pela Brazilian American Chamber of Commerce como "Personalidade do Ano 2017". O que isso representa para o senhor?

João Doria: Representa um parâmetro, um incentivo e uma referência. Participei de mais de dez jantares dessa tradicional premiação, onde assisti e aplaudi empreendedores e personalidades brasileiras que receberam essa importante homenagem em Nova York. Nunca havia me imaginado no palco recebendo esse prêmio. É uma honraria que me deixa feliz, entusiasmado e que eu o dedico ao meu pai - João Dória -, que comigo esteve tantas vezes nesse evento, e ao Edson de Godoy Bueno, um grande empreendedor e empresário brasileiro, que foi um grande incentivador de toda minha vida empresarial.


Continua...