Mercado de Capitais

ENTRADA NO MERCADO DE CAPITAIS

Recentemente, nós recebemos uma consulta de um grupo de empreendedores interessados em identificar alternativas de captação de recursos. Eles estavam preocupados com as suas limitações frente a maior demanda que o projeto apresentava, conforme o seu plano de negócios. O desafio era compor uma estrutura de capitais suficiente para financiar os investimentos do negócio no curto, médio e longo prazos. O tamanho do negócio era pequeno, porém, com enorme potencial de crescimento. Por isso, a dinâmica da evolução dos capitais: próprios e de terceiros, exigia uma estratégia de captação que poderia ser viabilizada através dos instrumentos financeiros que o mercado de capitais oferece para essas demandas.

Identificamos, também, que apesar de possuírem um planejamento bem estruturado em termos de operação e administração, o negócio estava negligenciando os aspectos básicos de uma boa gestão corporativa, até mesmo para abrigar, eventualmente, novos investidores.

Nossa experiência ao atender a consulta desse grupo, somou-se a outras semelhantes que atendemos também nos últimos 8 meses. E, isso, não é por acaso. Estamos identificando um crescente interesse por parte de pequenos, médios e grandes empresários para conhecer, familiarizar-se e assumir estratégias de capitais focadas no mercado de capitais, seja por emissões de títulos de dívida (ou crédito) ou por emissão de títulos patrimoniais (ações). Afinal, o mercado de capitais oferece oportunidades de estruturação das fontes de capitais próprios e de terceiros, com objetivos de médios e longos prazos de permanência desses recursos dentro da operação da empresa.

Este artigo, portanto, propõe apresentar alguns aspectos comuns que preocupavam e, ainda, preocupam os empresários e empreendedores no que se refere ao seu relacionamento e da empresa com os agentes do mercado de capitais: instituições financeiras, investidores e fundos.

Inicialmente, exploramos alguns aspectos relativos a custos de capitais versus riscos do negócio. Isso possibilitou o início da estruturação de capitais. Normalmente, a estratégia é a de emissão de títulos de dívida. E, por ser uma emissão pública com característica de valores mobiliários, a empresa experimenta uma etapa importante para o seu desenvolvimento corporativo. A abertura de capital, sem necessidade de ser listada na bolsa de valores (não há cotação).

Nesta fase, surgem as primeiras especificidades que o convívio com o mercado de capitais apresenta, dentre outras, merece destaque, a forma estruturada de comunicação com os agentes que estão financiando a emissão desses títulos, a prestação de contas nesse mercado é essencial para um convívio duradouro. É, para os empresários e empreendedores um período de aculturamento entre gestores e agentes de mercado, bastante oportuno para a empresa e para o mercado, pois, é de se esperar que as dívidas sejam pagas e/ou renovadas de acordo com os interesses das partes. As regras, os instrumentos de proteção, e a remuneração, são claras.

Como resultados do processo de aculturamento, associado a um eventual crescimento da demanda por fontes permanentes de recurso; e ainda, pelo fato da empresa ser de capital aberto, o seu caminho natural é o de tornar-se uma companhia listada na bolsa de valores, com ações valorizadas pelo mercado de acordo com a performance atingida e das suas perspectivas futuras de resultados e crescimento.

A abertura do capital para novos investidores, portanto, deve ser uma estratégia de estruturação de capitais, onde se balanceia capital de terceiros e próprio de acordo com a capacidade de remuneração dos respectivos capitais que a empresa é capaz de assumir, afinal é custo para a empresa.

O IPO (Initial Public Offering) é um momento de extrema relevância para o negócio. Além dos recursos novos que capitalizam o caixa da empresa, uma série de novos compromissos irá compor um novo processo de aculturamento dos acionistas e gestores da empresa, agora aberta aos novos investidores.

Novamente, a prestação de contas surge com muita força, quase um mantra. O modelo de governança adotada pela empresa, sem exageros, irá contribuir fortemente para o sucesso ou o fracasso da permanência da empresa num mercado exigente, como o de capitais.

É, nesta fase que se inicia na empresa a implantação da governança corporativa ou se aprimoram as práticas para aquelas que já possuem uma governança. Por exemplo: os sócios acostumados a se reunirem e decidirem informalmente, sem ata. Estes terão que se habituar com uma nova realidade. Temos certeza que a Governança trará o profissionalismo para a evolução empresarial, tão necessário, para a longevidade dos fluxos capitais e, requerido pelos principais agentes investidores.

Outra importante etapa para o desenvolvimento da governança na empresa e do próprio empresário, é o treinamento sobre Mercado de Capitais, com suas alternativas, inclusive, de Governança Corporativa para PME&G empresas. As informações, apesar de básicas, são suficientes para os sócios decidirem a melhor alternativa para acessar o mercado de capitais, e a adoção das melhores práticas de governança.

Exemplificando, apresentamos um processo fundamental para o bom funcionamento da relação societária, o contrato e o estatuto social: inicialmente, se deve constituir o estatuto social, quando de um novo negócio. Ou, promover uma alteração do Contrato para Estatuto Social. E, se necessário, adequar o Estatuto Social a nova realidade da empresa, agora como capital aberto. Neste processo, é decidido entre os sócios quem será o CEO (Chief Executive Officer). Vale destacar que, durante o treinamento, alertamos para o fato de que pode ser mais interessante para o desenvolvimento do empreendimento a contratação de um CEO profissional, do que eleger um acionista para essa função executiva. Neste mesmo processo de eleição é escolhido o Presidente do Conselho (Chairman), este, normalmente, é um acionista. Tanto o CEO como o Chairman, participam da seleção do escritório de advocacia, assessoria contábil, auditoria externa independente, entre outras fornecedoras de serviços, necessárias para garantir um elevado nível de confiança e credibilidade nas práticas da gestão e divulgação das informações corporativas.

Sabemos que a decisão inicial de atuar no mercado de capitais é só da empresa, porém, a sua efetiva participação não depende exclusivamente dela. Mas, de um conjunto de iniciativas que reúnem, também, os agentes que possuem interesse na empresa (stakeholders). Nesse sentido, nossos esforços, estão direcionados para construir um elo entre o órgão corporativo e seus stakeholders para funcionarem como se fosse uma única entidade.

Outra questão que merece todo o cuidado é a decisão de quem será o DRI – Diretor de Relações com Investidores. Essa diretoria é estratégica, principalmente, para o fortalecimento do relacionamento da empresa com os seus stakeholders. Geralmente, o sócio responsável pelo financeiro assume essa função, porém, nem sempre isso acontece, o que se espera é que o executivo responsável tenha desenvoltura suficiente para atender as exigências dessa atividade dentro empresa, por vezes é recomendável a contratação de um profissional de mercado.

A definição da verba destinada a área de RI e de um plano estratégico para sua atuação é fundamental neste momento, o maior sucesso da operação no mercado de capitais depende disso.

A implantação de um conselho de administração é outra etapa necessária para a governança corporativa. Nesse processo, a empresa e os acionistas, têm que se preparar para a seleção dos conselheiros independentes que farão parte do Conselho de Administração desta empresa. Nesta etapa, nós realizamos em conjunto com a alta liderança a determinação das qualificações desejadas dos futuros conselheiros.

Os próximos passos, como por exemplo; a implantação de uma secretaria de governança e de segurança de rede para circulação de informações de conteúdo restrito, dependerão do sucesso das etapas anteriores, e eventuais ajustes que se fizerem necessárias.

Esperamos que este artigo estimule a curiosidade por parte dos empresários e empreendedores sobre as possibilidades que o mercado de capitais oferece, principalmente, quando inspirados pelas boas práticas da governança corporativa.

De nossa parte, que venham os 150 mil pontos!!!

Roberto Sousa Gonzalez
é diretor da Bússola Governança - Consultoria & Treinamento, que é partner da Ibluezone - sua companhia de negócios.
roberto@ibluezone.com.br

Francisco D`Orto Neto
é sócio da RSKA Capital Investimentos e Negócios
francisco.dorto@rskacapital.com


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