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CONSELHOS PRECISAM ACELERAR A PROMOÇÃO DA DIVERSIDADE

Desde o início da pandemia da Covid-19 não foram poucas as vezes em que os bons resultados em países cujos chefes de estado são mulheres mereceram destaque. E isso certamente não se justifica por aspectos biológicos, mas, sim, porque o fato de terem uma trajetória social e pontos de vista diferentes traz diversidade às decisões.

Ainda que a participação feminina em posições de alta liderança seja pequena, somente 6% dos chefes de estado são mulheres, constatações como esta, especialmente num contexto de crise global, trazem mais foco para a contribuição que a diversidade pode dar ao agregar uma visão complementar seja na gestão pública ou nos negócios.

A diversidade de gênero se tornou realidade em muitas e variadas áreas, mas vem avançado com mais lentidão em áreas como a política e a liderança corporativa, embora não faltem mulheres capacitadas a exercer estas funções. Nas empresas, o que se vê é uma espécie de funil em que a participação feminina vai diminuindo à medida que se avança nos degraus da hierarquia.

A lista deste ano das 500 empresas mais valiosas dos Estados Unidos elaborada pela Fortune, lançada no início de agosto, registrou um recorde no número de mulheres em cargos de liderança. Mas, assim como entre os líderes das nações, elas representam somente 7% dos cargos de comando das grandes empresas americanas.

Quando se avança para os conselhos, a presença feminina praticamente desaparece. É verdade que após anos de iniciativas e, em alguns casos, imposição de cotas, quase todas as empresas no Reino Unido, França, Alemanha, países nórdicos e nos Estados Unidos têm pelo menos uma mulher entre os membros do conselho. Porém, em regra não passam disso. Empresas com mais de uma mulher no conselho são exceções.

No Brasil, só recentemente a presença de mulheres nos conselhos ultrapassou os dois dígitos, chegando a 10,5%, em 2018, de acordo com a edição mais recente do Brasil Board Index publicado no ano passado pela Spencer Stuart. Se considerarmos apenas as titulares, este índice cai para 8,2%.

Ao que tudo indica, a principal barreira ainda é essencialmente cultural. Há um grande contingente de profissionais mulheres muito qualificadas, com experiência e dispostas a atuar em conselhos. Trazer este ponto de vista diferente e complementar para a mesa do conselho é essencial para a sustentabilidade dos negócios frente às novas demandas. É preciso ir além do debate. Se as lideranças empresariais já perceberam o valor da diversidade e muitas empresas assumem o compromisso de praticá-la, o que nos impede de avançar num ritmo mais rápido?

Criado com o objetivo de contribuir para dar mais visibilidade a mulheres capacitadas, ampliando seu network e aproximando-as de lideranças empresariais, o Programa Diversidade em Conselhos, realizado pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), juntamente com B3, International Finance Corporation (IFC), Spencer Stuart e WomenCorporateDirectors (WCD), recebeu quase 800 inscrições para sua quinta edição, que começa em breve. Três vezes mais do que no ano anterior.

O expressivo aumento de interessadas se refletiu também na maior participação de profissionais de estados fora do eixo São Paulo-Rio de Janeiro, com experiência em áreas além da financeira e jurídica, com diferentes formações e faixas etárias. Além dos perfis diversos, todas as inscritas se revelaram muito preparadas e com excelentes competências, o que exigiu ainda maior cuidado no processo de seleção, totalmente independente e criterioso e realizado por uma das mais renomadas consultorias de recrutamento executivo.

Elas se somarão a uma centena de mulheres que participaram das turmas anteriores do programa e que se mantêm engajadas nas ações em prol da causa, criando um ecossistema em torno do objetivo comum de promover a diversidade e incentivar a inclusão. O Programa de Diversidade em Conselhos, cuja organização envolve uma equipe de aproximadamente 80 pessoas, todos colaborando como voluntários, também passou por uma redefinição de sua estrutura e dos processos.

Como afirmou o CEO do fundo de investimento BlackRock, Larry Fink, “conselhos com diversidade de gênero, raça, formação, experiências e formas de pensar possuem percepções mais diversas e amplas”.

A diversidade em todos os níveis das corporações é um dos requisitos de governança que vem influenciando as decisões de investimento e o comportamento dos consumidores. As empresas cada vez mais são demandadas a assumir posição e ter participação ativa em questões que vão muito além das financeiras e operacionais. A forma como endereçam aspectos ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês) tornou-se ponto fundamental para investidores, clientes e a sociedade em geral.

A sociedade está demandando que as empresas tenham um propósito social que esteja inserido em sua estratégia. Não basta o bom desempenho financeiro, é preciso contribuir para o bem-estar e o futuro de todos.


Adriana Muratore
é coordenadora do Programa Diversidade em Conselho.
comunicacao@ibgc.org.br


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