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Orquestra Societária

PERFORMANCE DO MERCADO DE CAPITAIS

O que aconteceu em pouco mais de um ano?
A Revista RI tem seguidamente publicado sobre a valorização da adoção das práticas de ESG - Environmental, Social and Governance, causada pela mudança no comportamento dos investidores e consumidores, cada vez mais exigentes com o comprometimento das empresas com a preservação do meio ambiente e a responsabilidade social. Em nosso artigo publicado na RI, edição 247, chamamos a atenção de nossos leitores, com o seguinte questionamento – ESG: Modismo, Sobrevivência ou Conscientização? Com base em pesquisas, opinião de especialistas e em nossa própria interpretação dos fatos, afirmamos no artigo que houve uma evolução sim na aplicação das práticas de ESG e da CSR (Corporate Social Responsability), mas ainda não se configura propriamente em conscientização, indo além do modismo, se aproxima mais da sobrevivência.

Considerando esta breve introdução sobre as práticas de ESG e seu vínculo com a sobrevivência das empresas, extrapolamos nossa análise para a performance do mercado de capitais, desde a deflagração da pandemia COVID-19. Em paralelo, apresentamos aos nossos leitores uma breve retrospectiva da crise do subprime em 2007/2008, oriunda das concessões de crédito hipotecário de alto risco (sem lastro). Este paralelo foi feito para demonstrar o impacto no Market cap dos bancos internacionais versus as perdas imensuráveis devido à COVID-19.

Impactos da crise do subprime em 2007/2008 - falência, redução abrupta do market cap dos bancos internacionais e regulamentação
A crise do subprime iniciada em 2007 nos EUA, com a queda do índice Dow Jones, devido às concessões de crédito hipotecário de alto risco, deflagrou o pior período do capitalismo desde a Grande Depressão de 1929, com a crise econômica de 2007/2008. Dentre muitos acontecimentos, declaração de falência do tradicional banco de investimentos Lehman Brothers e das instituições de crédito Fannie Mae e Freddie Mac, ficou conhecida como o estouro da “bolha imobiliária”. A cascata de falências e quebras de instituições financeiras provocou a maior queda do índice Dow Jones e de bolsas de valores internacionais desde os atentados de 11 de setembro de 2001, causando impactos sem precedentes em diversos países, sendo necessários pacotes de ajuda financeira de bilhões pelo Federal Reserve (FED) para socorrer os bancos e agências.

A regulação do sistema financeiro dos EUA foi decisiva para controlar o mercado de crédito e evitar novos colapsos.

Seu impacto no Brasil foi a queda de mais de 10% da Bolsa de Valores, cujas operações foram interrompidas quando o primeiro pacote de socorro ao setor financeiro foi rejeitado nos EUA.

O resultado da crise do subprime, além dos citados anteriormente, foi a abrupta redução do market cap dos bancos internacionais, com perdas de 45% a 96% (média 71%), conforme demonstrado no quadro a seguir.

Ranking de queda do Market Cap dos bancos internacionais
Por ordem de maior perda (valores em US$/bilhões)

# Banco Market value no trimestre/2007 Market value em janeiro/2009 Queda US$ %
1 RBS 120,0 4,6 -115,4 -96%
2 Citigroup 255,0 19,0 -236,0 -93%
3 Barclays 91,0 7,4 -83,6 -92%
4 Deutsche Bank 76,0 10,3 -65,7 -86%
5 Credit Agricole 67,0 17,0 -50,0 -75%
6 Unicredit 93,0 26,0 -67,0 -72%
7 BNP Paribas 108,0 32,5 -75,5 -70%
8 UBS 116,0 35,0 -81,0 -70%
9 Societe Generale 80,0 26,0 -54,0 -68%
10 Morgan Stanley 49,0 16,0 -33,0 -67%
11 Goldman Sachs 100,0 35,0 -65,0 -65%
12 Credit Suisse 75,0 27,0 -48,0 -64%
13 HSBC 215,0 97,0 -118,0 -55%
14 JP Morgan 165,0 85,0 -80,0 -48%
15 Santander 116,0 64,0 -52,0 -45%
 Total geral 1.726,0 501,8 -1.224,2 -71%

Fonte: JP Morgan (Bloomberg, janeiro/2009) 

Impactos da COVID-19 de2020 a 2021 - pouco mais de um ano: problemas sociais, psíquicos, sanitários e econômico-financeiro
Diferentemente da crise de 2007/2008, os impactos da pandemia COVID-19 extrapolaram, e ainda extrapolam, a dimensão econômico-financeira, com a paralização da economia, e vão, desde os problemas sociais, psíquicos, sanitários, até a limitada capacidade dos governos proverem assistência médica e hospitalar aos infectados, evitando mortes, e vacinas para imunização da população.

Se, por um lado, a crise de 2007/2008 mudou a dimensão dos bancos internacionais e a dinâmica do mercado financeiro, a crise atual transformou, de forma essencial e imprescindível, as relações sociais e econômicas em todas as instâncias, em proporção continental, ultrapassando os limites geográficos.

Relações sociais
Esta crise não fez distinção de raça, gênero, nível socioeconômico e faixa etária, atingiu, e está atingindo, indistintamente, todos, de uma forma ou de outra, direta ou indiretamente.

São milhões de infectados ao redor do mundo, registros de mortes, sequelas, problemas psíquicos (ansiedade e depressão), desemprego, fome e miséria, com variações entre países subdesenvolvidos, em desenvolvimento e desenvolvidos.

A OCDE publicou em recente pesquisa o aumento dos problemas psíquicos. Em todo o mundo, os níveis relatados de ansiedade e depressão aumentaram significativamente, chegando a dobrar em alguns países. Isso foi causado tanto pela própria pandemia - as mortes causadas pelo vírus, medidas rígidas de saúde pública impostas - quanto pela crise econômica que ela desencadeou. Os gráficos a seguir evidenciam o aumento do nível de ansiedade e depressão da população dos países analisados, entre os períodos pré-COVID19 e março/abril de 2020.

Aumento da depressão em % da população
dos países analisados

Aumento da ansiedade em % da população
dos países analisados

Como não há previsão do tempo técnico necessário para que todos estejam imunizados contra a COVID-19, as medidas de segurança contra o vírus continuam rigorosas – distanciamento social, uso de máscaras, higienização constante das mãos e distância de lugares fechados e lotados – o que pode agravar ainda mais a ansiedade e a depressão.

As pessoas estão preocupadas com empregos, finanças e o futuro.
Em outra pesquisa recente da OCDE, 44% das famílias relataram ter pelo menos um integrante, cujo trabalho foi interrompido pela crise - por exemplo, por demissão, dispensa, regime de retenção, redução do horário de trabalho ou licença sem vencimento.

A preocupação com seu próprio bem-estar financeiro, social e econômico e com o de suas famílias se intensificou. Muitos dizem que não conseguiram cobrir as despesas normais, como aluguel, serviços públicos, contas de cartão de crédito, dentre outras.

A falta de perspectiva intensificou a preocupação com os cuidados de longo prazo adequados para seus parentes idosos e se eles próprios terão condições de se aposentar um dia.

O quadro a seguir resume bem estas preocupações, que afligem a população de 25 países pesquisados, integrantes da OCDE:

Aumento da ansiedade em % da população
dos países analisados

Nota: média entre 25 países da OCDE pesquisados.
Fonte: OCDE - Riscos que importam: o longo alcance do COVID-19 (2021)

Muitos não têm certeza se possuem as habilidades e os conhecimentos certos para garantir um emprego de boa qualidade. Esta preocupação está relacionada, em parte, à transformação digital, que as empresas foram obrigadas a concluir, acelerar ou mesmo implantar: utilização massiva de comunicação virtual, trabalho em home office, implantação de novas tecnologias, que automatizam as atividades, possibilitam o trabalho remoto e substituem processos repetitivos executados pelos profissionais por Robotic Process Automation – RPA, o que aumenta ainda mais a angustia em relação às incertezas sobre suas capacidades.

Além do home office, a suspensão das aulas presenciais tirou os alunos da convivência social e determinou sua adaptação ao ensino virtual – online ou off-line, imposição difícil para o ensino infantil e fundamental, pois as crianças são extremamente sociáveis.

Em 2020, 1,5 bilhão de alunos em 188 países/economias foram impedidos de estudar presencialmente devido ao lockdown. Os alunos em todos os lugares se depararam com escolas que abriram em um dia e fecharam no dia seguinte, causando grande interrupção em seu aprendizado normal, forçando a rápida adaptação ao novo normal.

Muitos sistemas de educação ainda estão lutando para atender às novas demandas e estão em constante evolução. A OCDE, em colaboração com a UNESCO, UNICEF e o Banco Mundial, tem monitorado a situação em todos os países e coletado dados sobre como cada sistema está respondendo à crise, desde o fechamento de escolas e aprendizagem remota, a vacinação de professores e retornos graduais às salas de aula.

De acordo com seu levantamento, há uma combinação de providências adotadas ao redor do mundo, desde escolas que permaneceram abertas, sem sistema híbrido de aprendizagem, até as que adotaram 100% de aulas síncronas, outras, pela exigência da especialização (necessidade de aulas em laboratórios, utilização de equipamentos e práticas), mantiveram as aulas presenciais parcialmente e adotaram, para as matérias teóricas, o ensino remoto.

Home office somado ao ensino virtual impõe a necessidade de organização da casa para acomodar todos, com privacidade, equipamentos e conforto mínimo.

Podemos concluir que as relações sociais extrapolam o âmbito profissional e acadêmico e requerem novos acordos de convivência em família e sociedade

Relações econômicas
Assim como a crise de 2007/2008 abalou as bolsas de valores internacionais, atingindo até a do Brasil, a crise atual atingiu a performance do mercado de capitais, com distintas variações entre os setores (positivas e negativas).

Um estudo recente da FGV, referente ao período de 26 de fevereiro de 2020 a 26 de fevereiro de 2021, analisou a performance do mercado de capitais e destacou que o denominador comum de todos os mercados foi o pânico, que atingiu seu ápice em 9 de março do ano passado. A B3, em linha com as bolsas internacionais, acionou o mecanismo de circuit breaker e, naquele dia, o Ibovespa despencou 12,17%, aos 86.067 pontos. Foi a maior queda percentual desde 1998, quando a Rússia decretou moratória. Ocorreram no mês de março seis circuit breaker na bolsa de valores brasileira, que acumulou queda de 43,82%.

De acordo com este estudo da FGV, com acréscimos de pesquisas corporativas e acadêmicas, as melhores performances dos setores da bolsa de valores foram: mineração (+104,67%), siderurgia e metalurgia (+95,35%) e madeira e papel (+68,45%). Em compensação, as maiores baixas setoriais, durante a pandemia, ficaram com os setores de educação (-62%), aviação (-48%), shoppings (-47%) previdência e seguros (-43,93%), exploração de imóveis (-41,51%) e água e saneamento (-38,04%).

Os setores de educação e de shoppings tiveram suas operações fortemente prejudicadas pela pandemia, devido às medidas de restrição de circulação de pessoas e o distanciamento social.

Este estudo da FGV abrangeu a performance das ações ordinárias, negociadas na B3 durante o período em análise, que acumularam, principalmente:

  • Alta de 181,25% a Companhia Siderúrgica Nacional (CSNA3), em seguida, de 117,14% a Vale (VALE3) e de 104,43% a Petrorio (PRIO3), commodities que se beneficiaram com a alta demanda mundial, sobretudo da China, que manteve seu crescimento, apesar da crise.
  • Perda de -62% a Cogna, -48% a Embraer e -47% a BR Malls e de 40% a Yduqs. Banco do Brasil -30% e Bradesco -14%. Com desempenhos bem distintos, as ações foram impactadas tanto por fatores conjunturais como específicos.
  • O pior desempenho no ranking é da empresa de resseguros IRB (-77%), devido às acusações de fraudes praticadas por sua antiga diretoria, de divulgação de falsas informações sobre participação da Berkshire Hathaway, de Warren Buffett, no ressegurador, e quebra de confiança nos gestores com a questão dos balanços estarem contabilizados de forma não correta.

Mesmo com perdas relevantes, o mercado de capitais do Brasil poderá reagir positivamente diante da perspectiva de retomada da economia mundial, com o avanço da vacinação e oferta de mais estímulo pelas grandes economias, o que confirma que boa parte da recuperação da bolsa brasileira será impulsionada pelos investidores internacionais.

Para encerrarmos o artigo, deixamos as seguintes perguntas aos nossos leitores:

1) Quais são suas previsões sobre a recuperação do mercado de capitais?

2) E os planos para os setores em que atuam - retração, cautela, investimentos, transformação digital, admissões, demissões, contração por projetos (de acordo com expertise demandada), geração de caixa, maior captação de recurso, jornada de trabalho híbrida, presencial ou 100% home office, desmobilização, escritório compartilhado, inovação, entre outros?

No próximo artigo, publicaremos o resultado da contribuição de vocês.

Cida Hess
é economista e contadora, especialista em finanças e estratégia, mestre em contábeis pela PUC SP, doutoranda pela UNIP/SP em Engenharia de Produção - e tem atuado como executiva e consultora de organizações.
cidahessparanhos@gmail.com

Mônica Brandão
é engenheira, especialista em finanças e estratégia, mestre em administração pela PUC Minas e tem atuado como executiva e conselheira de organizações e como professora.
mbran2015@gmail.com


Continua...